Débora
CAPÍTULO 19
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
FADE
IN:
CENA 1: EXT.
BETEL – RUA PRINCIPAL – DIA
Surpresa e confusa, Débora encara
Jaziel, de joelhos, chorando.
DÉBORA
Como assim,
Jaziel?!
JAZIEL
Me deixou,
Débora! Me abandonou! Me chutou como se eu fosse uma raposa maldita!...
DÉBORA
Por quê?!
Apesar dos soluços de choro, Jaziel
tenta se recuperar respirando.
JAZIEL
Por causa dos
meus pais... Sama sempre percebeu que eles não gostam dela... Não bastando tudo
isso, ontem ela ouviu minha mãe brigando comigo... por estar com ela na frente
de casa...
DÉBORA
Oh, meu
Deus... Eu sinto muito!
Débora o abraça...
DÉBORA
Vamos. Eu
te acompanho...
Ela o ajuda a se colocar de pé.
JAZIEL
Me
desculpe... por atrapalhar o seu descanso.
DÉBORA
Não se
preocupe com isso. Vamos.
Os
dois saem devagar.
CENA 2:
EXT. BETEL – RUAS – DIA
Débora e Jaziel estão caminhando
quando percebem uma movimentação diferente em uma rua que cruza aquela.
DÉBORA
O que está
acontecendo?
Eles olham bem.
DÉBORA
Parece ser
na casa de--
JAZIEL
(interrompendo) Sangar.
Preocupada,
ela olha para ele... e de volta para a movimentação. Então vão naquela direção.
CENA 3:
EXT. CASA DE SANGAR – FRENTE – DIA
Uma aglomeração de pessoas agitadas
e faladeiras está formada na frente da casa.
DÉBORA
(paras as
pessoas) Com licença, por favor, o que está acontecendo? O juiz Sangar
está bem?
Mas ninguém consegue se concentrar
em responder, e informações desencontradas vão e vem para todo lado.
DÉBORA
Jaziel,
vamos entrar e ver o que está acontecendo...
Ainda
um tanto abalado, Jaziel faz que sim. Então eles forçam passagem pelo meio do
povo e entram na casa.
CENA 4:
INT. CASA DE SANGAR – SALA – DIA
Ao fecharem a porta, Débora e
Jaziel param. Alguns homens e mulheres curandeiros se apressam em cuidar de
Sangar que, deitado na cama, parece agonizar.
Débora se aflige com o que vê, mas
logo Sangar nota a presença dos dois jovens e, com dificuldade, estica sua mão
na direção de ambos. Os curandeiros ao redor então olham e finalmente os notam.
Entendendo, Débora se aproxima
rápido da cama e Jaziel a segue. Eles se ajoelham e olham preocupados para o
debilitado juiz e líder de Israel. Ao ver a garota ali, ele parece se acalmar e
se concentrar.
SANGAR
(com
dificuldade) Débora...
DÉBORA
Senhor
Sangar...
Débora não sabe o que dizer.
SANGAR
Débora...
Lembre-se... do que eu lhe falei...
Os olhos de Débora começam a se
encher de lágrimas.
DÉBORA
Não...
Sangar leva suas trêmulas mãos às
mãos de Débora e as segura o mais firme que consegue.
SANGAR
Lembre-se
do que lhe falei... E jamais se esqueça... de colocar o nosso Deus... à frente
de suas decisões.
As lágrimas riscam o rosto de
Débora.
DÉBORA
O que o
senhor me disse... Acredito não poder acontecer...
SANGAR
Acontecerá...
se for esse o destino traçado por Deus a você...
Débora começa a chorar. Sangar
então segura as mãos da garota com um pouco mais de firmeza.
SANGAR
Débora...
Ela tenta se recuperar, limpa o
rosto, funga, respira e olha para ele com os olhos vermelhos e marejados.
SANGAR
Enfrentar
tudo... até mesmo a morte... é o destino de um juiz de Israel.
DÉBORA
Senhor
Sangar...
Mas então ela percebe que as mãos
que a seguram começam a se afrouxar... até caírem na cama. Nesse instante, o
rosto de Sangar vira para o lado e seus olhos se fecham como se ele fosse
apenas descansar um pouco.
DÉBORA
Senhor
Sangar!... Senhor Sangar! Juiz Sangar! Juiz Sangar!!!
Percebendo
que ele partiu em definitivo, Débora desaba a chorar. Jaziel a abraça...
CENA 5:
EXT. BETEL – RUAS – DIA
Enquanto vemos o movimentar dos
hebreus nas ruas de Betel em câmera lenta, ouvimos Débora.
DÉBORA
(NAR.)
Os 7 dias
que se seguiram foram de absoluto luto em toda a terra de Israel. Apesar de
Sangar, em seus últimos dias, vir definhando fisicamente e o povo se
corrompendo mais e mais, todos tinham-no como um apoio, uma confiança. Agora, o
que eu mais temia era que acontecesse o mesmo de quando todos os outros juízes
morreram na história de nossa nação: a volta definitiva do povo para a
idolatria. Geralmente, com isso vinha a escravidão por outros povos.
Débora e Éder caminham pela rua.
ÉDER
Essa morte
atrapalhou todos os meus planos. Se nada acontecesse, faltaria apenas 6 dias
para o nosso casamento. Agora vamos ter que esperar muito mais.
DÉBORA
O casamento
pode esperar. Mas Sangar não volta mais.
Éder revira os olhos.
ÉDER
Nossa, às
vezes parece que você coloca essas pessoas de Deus à frente de tudo na
sua vida.
DÉBORA
Não as
pessoas. E sim as coisas de Deus. E é assim mesmo que devemos ser. Não é
necessário sacrificar nossa vida pessoal para amar a Deus sobre todas as coisas.
Cansado, Éder respira fundo.
ÉDER
Vamos nos
concentrar em procurar o ancião Aliã.
DÉBORA
(apontando) Disseram
que ele estaria ali na rua do comércio.
Então
eles tomam a direção e vão.
CENA 6:
INT. CASA DE NAJARA – SALA – DIA
Sentados à mesa, Sísera e Najara
levantam suas taças de madeira cheias de vinho em comemoração.
SÍSERA
Aos bons
tempos!
NAJARA
Aos tempos
que se iniciaram!
Eles riem e tomam um bom gole de
vinho.
NAJARA
Tudo está
em ordem. Nosso plano deu certo, você é o Capitão de Hazor, e em breve o nosso
reino será o mais poderoso de Canaã!
SÍSERA
Para isso,
dominar Israel é essencial. Escravizá-los. Fazê-los trabalhar para nós
incansavelmente, extraindo o melhor daquela terra fértil. E já estou
trabalhando firme para que isso aconteça.
Contente, Najara faz que sim.
NAJARA
Pois
trabalhe com cuidado. Não é agora que pode vacilar com o rei. Porém... preciso
relembrá-lo do favor que lhe pedi, meu filho.
SÍSERA
Oh, sim!
Sísera toma o resto do vinho na
taça.
SÍSERA
O caso do
pai. Fique tranquila, mãe. Verei isso sim.
Satisfeita, Najara faz que sim.
SÍSERA
Mas eu
tenho uma pergunta... Caso a senhora descubra algo sobre o pai... Por exemplo,
que ele tem mesmo um caso com alguma mulher... o que a senhora fará?
Najara é pega de surpresa e tenta
disfarçar o verdadeiro pensamento que passou por sua mente.
NAJARA
Ah, Sísera,
eu não sei... Isso seria terrível, é grave... É difícil saber o que faríamos em
um caso extremo desse... Sinceramente eu não sei. Ainda vou pensar nisso.
Sísera observa a mãe, mas sem
expressão no rosto; não sabe se acredita ou não. Por fim faz que sim com a
cabeça e se levanta.
SÍSERA
Bem, eu já
vou.
Ele a beija e vai para a porta.
NAJARA
Tenha um
bom dia, Sísera.
Ele
sorri e sai. Najara fica ali, pensativa...
CENA 7: EXT.
BETEL – RUAS – DIA
Jaziel está andando pela rua quando
nota Sama ali perto olhando produtos de uma barraca. Ele a olha por alguns
instantes, até que resolve ir até lá.
Sama não nota quando Jaziel chega
ao lado dela.
JAZIEL
Sama... Com
licença.
Ela se assusta um pouco. Ao vê-lo
não fica muito confortável e tenta disfarçar.
SAMA
Jaziel...
Sim?...
JAZIEL
Eu... É
que... eu preciso de uma informação e agora só tenho você de conhecida aqui...
É sobre uma casa... perto da sua. A senhora Mayka, a doceira, é sua vizinha,
não é?...
Sama respira fundo.
SAMA
É... É sim.
5 casas à direita da minha.
JAZIEL
Oh... Sim.
Certo. Ahn, e... não é uma casa com uma pintura avermelhada não, é?
SAMA
Amarelada
nos umbrais da porta.
Jaziel ri desconfortável.
JAZIEL
Claro, como
me confundi... Amarelo. Bom... Então acho que é isso. Eu agradeço, Sama. Você
me ajudou... Shalom.
SAMA
Shalom.
Jaziel se afasta meio sem jeito. Sozinha
e com raiva, Sama parece gritar, mas sem emitir som. Então vira para trás e,
ainda com um resquício de sentimento no olhar, observa o ex-namorado se
afastar. Logo ela também vai embora.
Jaziel
então para e olha para trás: arrasado, vê ela indo embora, cada vez mais
distante.
CENA 8:
INT. CASA DE NIRA – DIA
Jeboão enche de beijos o rosto de Nira.
JEBOÃO
Vou sentir
saudade... Hum... Muita saudade... Já estou morrendo de saudade... Logo
voltarei, minha deusa. Assim que resolver o problema com o cliente.
NIRA
(segurando
o rosto dele com as mãos) Mal posso esperar, meu amante inigualável! Meu
corpo já ferve como óleo fumegante!
JEBOÃO
(sorrindo) Até mais
tarde.
Ele dá um último beijo nela, sai e
fecha a porta. Nira espera, espera, espera... Então abre a porta, coloca a
cabeça para fora, olha para cima e assobia. Logo Debir despenca lá de cima, entra
e fecha a porta.
DEBIR
E então?
NIRA
Jeboão não
percebeu nada. Só ensaquei as principais coisas.
DEBIR
Ótimo.
Podemos sair amanhã mesmo. Porque dessas coisas maiores só precisaremos de uma
ou outra. Depois passamos em alguma cidade e vendemos o colar. Aí estaremos
ricos.
NIRA
Precisamos
sair antes de Jeboão dar as caras.
DEBIR
Não se
preocupe, sairemos com uma boa folga.
Felizes e empolgados, eles se
aproxima e se beijam.
NIRA
(abraçados) Estou tão
feliz que finalmente poderemos ficar juntos...
Debir
sorri e eles trocam outro beijo. Mas logo se soltam e começam a ajeitar suas
coisas.
CENA 9:
EXT. BETEL – RUAS – DIA
Na rua mais movimentada por conta
das barracas, Débora e Éder avistam o ancião Aliã e se aproximam.
DÉBORA
Shalom,
senhor Aliã!
ÉDER
Shalom!
Ao vê-los, o ancião deixa um
produto que olhava e se atenta a eles.
ALIÃ
Oh, mas que
grata surpresa! Shalom, meus filhos! Como estão... apesar de tudo?
ÉDER
Bem...
DÉBORA
Nos
recuperando. Graças ao bom Deus.
Aliã sorri.
ALIÃ
E a que
devo a honra de tal encontro?
ÉDER
Bom, nós
precisamos--
Enquanto Éder explica para Aliã,
Débora nota, em meio ao povo na rua movimentada, Lapidote olhando para ela.
Surpresa, ela o encara. Sereno, ele acena suavemente e ela retribui com um
amigável e discreto sorriso.
Logo ela quebra o contato visual e
presta atenção em Aliã e Éder.
ALIÃ
Ótimo que
vocês queiram ajustar isso, mas é óbvio que a cerimônia terá de ser adiada. A
cidade parou nos últimos 7 dias. Toda Israel parou. Aos poucos voltaremos para
nossa vida normal.
ÉDER
Senhor
ancião, não há mesmo jeito de realizarmos o casamento antes?
ALIÃ
Não.
DÉBORA
É a
tradição.
Éder olha para ela com um amargo
olhar de repreensão e Aliã percebe.
ÉDER
Muito bem.
Que seja em 20 dias, então.
Aliã parece pensar... Débora é mais
rápida.
DÉBORA
Também não
será possível. Será o início das colheitas, e as festas são longas e
indispensáveis.
ALIÃ
Oh, Débora
tem razão!
Visivelmente com raiva, Éder tenta
se controlar olhando apenas para Aliã... Mas não consegue e olha secamente para
a noiva.
ÉDER
(alto) Que parte
você ainda não entendeu?!
DÉBORA
Do que está
falando?
ÉDER
De você se
manter quieta! Calada! Em silêncio!
ALIÃ
Éder...
DÉBORA
Eu apenas o
informei. Não posso conversar com o ancião e com o meu noivo? Sobre o meu
casamento?! Não sou gente?!
Um pouco distante, Lapidote percebe
o tom elevado.
ÉDER
Eu estou
perdendo a paciência com você e está para vir a hora em que vou agir!
DÉBORA
O quê?! O
que é que você vai fazer?! Pretende levantar a mão contra mim?! Pretende me
bater?! Já chegamos a isso antes mesmo do casamento, Éder?!
Com o povo ao redor reparando na
discussão, Éder se incomoda.
ÉDER
Fale baixo.
Aliã está preocupado e aflito.
ÉDER
(apontando
o dedo) Fique quieta.
DÉBORA
Não vou
ficar. Pois antes de isso começar, eu estava conversando normalmente. O
problema é que você não quer aceitar que eu diga nem um A! Nada! Tenho que ser
como o seu animalzinho! Mesmo submissas, nenhuma mulher é calada dessa forma
que você tanto quer! E eu não me calarei dessa forma!
Ocasionalmente Elian passa por ali
perto quando nota a movimentação e fica surpreso por ser a filha e o genro.
ELIAN
(aproximando) O que está
acontecendo aqui?!
ÉDER
(tremendo
de ódio) Por que você simplesmente não obedece e não cala a sua maldita
boca?!
DÉBORA
Porque não!
Não me calarei!
De repente Éder mete uma bofetada
no rosto de Débora! Tanto Elian quanto as pessoas ao redor se assustam. Lapidote
fica revoltado, mas se controla em seu canto. Aliã intervém tentando afastar
Éder de perto dela. Com isso outros ajudam o ancião.
ÉDER
Me soltem,
me soltem! Me larguem, tirem a mão de mim!
As pessoas o soltam, mas ficam
atentas.
ÉDER
É minha
noiva! Sou eu quem resolve, da forma que eu bem entender! E ninguém se mete em
problema de casal!
Elian, um tanto assustado,
permanece olhando para eles. Débora tira a mão da região atingida do rosto e
olha para Éder.
ÉDER
Por que
você tem que ser assim? Intrometida, abusada, pra-frente, querendo saber das
coisas! Quer ser feiticeira, é?! Bruxa?! Depois reclama da idolatria do povo!
Hipócrita!
Débora faz que não com a cabeça.
DÉBORA
Não
acredito que você está dizendo isso, logo para mim, Éder.
Ele aponta o dedo para ela
novamente.
ÉDER
Eu não te
suporto!
DÉBORA
Então o que
é que está segurando o nosso noivado?! Pois você não me suporta e eu também não
te suporto! Eu não te amo, não gosto de você, não sinto o menor sentimento! Foi
tudo arranjado pelo meu pai! Nunca estive de acordo e o que menos quero nessa
vida é que esse casamento aconteça!
Ouvindo tudo isso em público, Éder
fica absolutamente constrangido.
ÉDER
Está claro
agora. Tudo isso é por causa daquele Lapidote, seu namorado de infância.
Lapidote ainda não foi visto por
nenhum deles a não ser Débora, e continua a apenas observá-los.
DÉBORA
Com
Lapidote, sem Lapidote, não faz a menor diferença. Você é um homem insuportável
e desprezível!
Irritado, Éder levanta a mão para
dar outra bofetada, mas Aliã é rápido e o segura.
ALIÃ
Já chega,
Éder!
DÉBORA
(para o
povo ao redor) Alguém aqui apoia que um casamento desse aconteça?!
Alguma mulher aqui está de acordo em ser tratada dessa forma pelo marido, dia
após dia, só que sem ninguém para ver e protege-la?! Algum homem aqui acha que
eu tenho culpa em usar a boca que Deus me deu para participar de uma conversa
que me diz respeito com uma informação relevante?!
A rua para e todos ali ficam em
silêncio, ouvindo-a.
DÉBORA
Não,
ninguém aqui concorda com isso. E eu sei disso porque as pessoas tem compaixão
e bom senso! Então está claro para todos aqui que esse casamento é inviável!
Impossível de se dar certo.
Mais silêncio. Constrangedor
silêncio... Débora, porém, se mantém firme.
ALIÃ
Ela tem
roda a razão. Elian, você que é o pai dela, o que acha?!
Elian fica sem jeito para falar.
Sabe que a situação foi grave, percebe que Débora provavelmente tem o apoio do
povo... Então olha para Aliã.
ELIAN
Sim... Está
cla-claro que não daria certo.
Éder olha para Elian com uma
revolta descomunal, mas esse, desconfortável, não olha o rapaz nos olhos.
ALIÃ
Então é
necessário que qualquer compromisso que haja aqui se desmanche agora mesmo.
ELIAN
(olhando
para o nada) Éder, seu noivado com minha filha... está desfeito.
Algumas pessoas ao redor não deixam
de comemorar. Débora sorri de forma suave e cansada. Éder olha para ela e mais
uma vez aponta o dedo.
ÉDER
Isso... não
ficará assim.
Éder vira, passa trompando nas
pessoas e some. Aliã então se aproxima mais de Débora.
ALIÃ
Você está
bem, filha?
Ela faz que sim.
DÉBORA
Estou sim,
senhor. Foi muita coisa... mas vai passar. E a bofetada... (sorrindo)
não me fez nada.
Estressado, Elian aperta as
têmporas com as pontas dos dedos.
ELIAN
Débora.
Venha. Vamos para casa.
ALIÃ
Vá...
DÉBORA
Agradeço
pela força, senhor. E por ficar ao meu lado. Shalom.
ALIÃ
Não fiz
nada. (sorri) Shalom.
Ela
sorri e sai ao lado de seu pai. O burburinho das pessoas aumenta.
CENA 10: EXT.
CASA DE NIRA – FRENTE – DIA
Em sua casa, que fica em cima da de
Nira, Debir observa Jeboão retornar e entrar na casa da amante.
DEBIR
(murmurando) É a última
vez que esse velho maldito se deita com minha mulher.
Com raiva, Debir volta para dentro.
Na rua ali perto, Sísera e dois
soldados caminham tranquilamente. Sísera olha para todos os lados como se
procurasse o local. Quando identifica, aponta.
SÍSERA
É ali.
Eles se aproximam da casa de Nira.
Chegando, olha a casa, a janela, a porta...
SÍSERA
Fiquem aqui
fora. Guardem a entrada.
Os
dois soldados assumem posição de guardas. Sísera então encara a porta... até
que levanta a perna e a chuta, arrombando-a. A porta abre violentamente até
bater na parede e voltar. Antes de fechar, Sísera entra na casa.
CENA 11:
INT. CASA DE NIRA – DIA
Nira e Jeboão, deitados e aos
beijos, mas ainda vestidos, se assustam e olham para o invasor.
JEBOÃO
Sísera?!
NIRA
Capitão
Sísera?!
Por alguns instantes, parado,
Sísera apenas encara os dois deitados. Então faz que sim... e adentra mais no
quarto.
JEBOÃO
(assustado) Por que
está aqui, Sísera? Digo, isso não é o que parece... Não é o que você está
pensando... Você se enganou!... Na verdade eu é que me enganei...
Enquanto Jeboão, assustado, tenta
se explicar, e Nira, angustiada, mal sabe o que fazer, Sísera caminha devagar e
quieto pelo cômodo, observando tudo, cada objeto que há ali. Parece até estar
pensando longe.
JEBOÃO
Sísera, na
verdade... é o que parece sim. Eu sou homem. Você também... Você sabe como é.
Um casamento... não é o suficiente para nós homens. Nós precisamos de mais,
muito mais!...
Sísera continua aparentemente
indiferente a eles.
JEBOÃO
Eu entendo
que é diferente a forma como um filho enxerga os pais, a mãe... Mas a
realidade da vida é diferente, Sísera.
NIRA
(sussurrando,
aflita) O que o seu filho está fazendo aqui, Jeboão?!
SÍSERA
Calada.
A voz imponente de Sísera assusta ambos
na cama. Ele então vira para eles.
SÍSERA
(para o
pai)
Espere aqui.
Então vira e vai para fora.
JEBOÃO
Sísera,
espere! Espere, vamos conversar!!!
Mas
Sísera vai embora com os soldados. Jeboão, e principalmente Nira, ficam ali
muito angustiados.
CENA 12: INT.
CASA DE TAMAR – SALA – DIA
Elian e Débora chegam em casa.
Tamar está ali na cozinha preparando comida.
ELIAN
Não posso
acreditar que isso aconteceu. Meu dia acabou!
TAMAR
Do que está
falando, Elian?!
ELIAN
A
petulância de sua filha colocou tudo à perder! O noivado dela com Éder está
desfeito!
Tamar paralisa, arregala os olhos e
deixa as coisas caírem na bancada. Então se mexe e se aproxima.
TAMAR
O quê?!
Isso aconteceu mesmo, minha filha?!
DÉBORA
(fazendo
que sim) Sim...
TAMAR
Explique-me...
Conte mais, eu quero entender!
ELIAN
Vocês que
se entendam aí. Vou tomar um banho no rio pra ver se as águas arrancam a
vergonha grudada em meu rosto!
Elian pega uns panos velhos e sai
para fora. Tamar se aproxima mais da filha.
TAMAR
Débora!
Conte-me tudo agora mesmo!
DÉBORA
(contente) Bom,
basicamente, mãe, eu estou livre de Éder! É como se uma montanha saísse de cima
de mim, ah!!!
Surpresa e feliz, Tamar encara
Débora quase não acreditando na notícia; tampa a boca com as mãos.
TAMAR
Débora!...
CENA 13:
INT. CASA DE NIRA – DIA
NIRA
Jeboão,
você precisa ir embora imediatamente!
JEBOÃO
Não, não
tem porque ter medo de Sísera!
NIRA
Jeboão,
confie no que estou dizendo, é melhor você ir embora daqui!
JEBOÃO
Não se
preocupe, Nira! Eu conheço o meu filho. Ele não contará nada a ninguém.
NIRA
Então você
não percebeu o rosto dele, Jeboão. Ele claramente vai denunciar à sua esposa.
E, se não contar, só de haver a possibilidade você deve ir.
Jeboão parece considerar...
NIRA
(empurrando
ele para a saída) Vá, vá logo! Vá para longe daqui e volte só em
outra hora! De preferência em outro dia!
JEBOÃO
Nira--
NIRA
(interrompendo) Vá,
Jeboão! Não perca tempo!
Na porta, Jeboão dá uma última
olhada para ela... e vai embora. Preocupada, Nira respira fundo e escora na
porta. Alguém bate.
NIRA
Já falei para
ir, Jeboão!
DEBIR
(O.S.)
Sou eu.
Nira então abre e Debir entra.
NIRA
Debir!
Debir!... Nós precisamos pegar tudo e partir agora mesmo!
DEBIR
Agora?! Por
quê?!
NIRA
Nós fomos
descobertos. Arrume tudo e vamos.
Nira corre arrumando suas coisas.
DEBIR
Mas Nira...
Eu ainda não arrumei quase nada!
NIRA
Não
importa! Precisamos sair da cidade agora mesmo! Depois a gente se vira e vê
como faz!
Agora
tenso, Debir engole em seco e sai para arrumar suas coisas.
CENA 14:
INT. CASA DE NAJARA – SALA – DIA
Najara fica estupefata com o que
acabou de ouvir de Sísera. Seus olhos encaram o nada com uma clara raiva
crescendo em forma de uma vermelhidão.
NAJARA
Maldito...
Maldito... Maldito....
Sísera observa a mãe. Lágrimas de
ódio começam a surgir nos olhos dela.
NAJARA
Maldito!...
Maldito! Maldito, ordinário, maldito!!! Quero eu mesma olhar nos olhos desse
maldito!
SÍSERA
Acalme-se
antes, mãe.
NAJARA
Estou calma
o suficiente, Sísera! Agora espere lá fora que eu vou pegar minhas coisas.
Ele dá uma olhada nela, que encara
o nada corroendo em ódio, e então sai para fora. Quando a porta se fecha, ela
vai até um baú, pega seu punhal e o esconde nas vestes.
Então
vai pegar suas outras coisas.
CENA 15:
EXT. HAROSETE – RUAS – DIA
Nira e Debir, com as cabeças
cobertas, tentam ir o mais rápido possível em sua carroça e sem chamar a
atenção de ninguém.
Por infelicidade, Jeboão, que
caminha sem rumo, nota os dois e reconhece claramente o rosto de Nira.
JEBOÃO
Mas o que é
isso?...
Ele se aproxima, mas se mantém escondido.
Percebe que a carroça vai na direção da entrada da cidade.
JEBOÃO
Não é
possível...
A
carroça então atravessa o portão e sai para fora. Lá, Debir olha para trás; não
vê nada de estranho. Então bate as rédeas tentando se afastar rapidamente.
CENA 16:
EXT. CASA DE NIRA – FRENTE – DIA
Sísera sai de dentro da casa e
chega ali fora, onde está Najara.
SÍSERA
Não há
mesmo ninguém aqui. Muitas das coisas que eu vi não estão também. Na certa
fugiram recentemente. Vamos à entrada da cidade, ali é possível enxergar longe.
Se não vermos nada, eu mando fechar a cidade e vasculhar casa por casa, canto
por canto. Vamos rápido, mãe.
Sísera
e Najara saem apressados.
CENA 17:
EXT. HAROSETE – ARREDORES – DIA
Debir bate as rédeas e eles
continuam se afastando. Quando estão a algumas dezenas de metros, Jeboão
atravessa o portão e, indignado, grita.
JEBOÃO
NIRA!!!
Nira se assusta.
DEBIR
É Jeboão!
Vou acelerar!
JEBOÃO
Pare e eu
não denuncio sua direção a Sísera!
Nira olha para Debir.
NIRA
Vamos
resolver isso e aí fugimos. Mate-o.
Debir concorda e diminui a carroça
até parar. Jeboão corre até eles.
JEBOÃO
(chegando
ali)
O que está fazendo?! Para onde está indo?! O que significa isso, o que é que
está fazendo com o seu vizinho?!
Jeboão respira ofegante. Nira e
Debir descem da carroça e o encaram.
O que ninguém ali percebe é Sísera
e Najara chegando ao portão da cidade e espiando escondidos. Observam Jeboão
encarando Nira e Debir.
NAJARA
O que é que
está acontecendo aqui?...
Na curiosidade e ódio de Najara,
IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Jeboão se vê encurralado por Nira e Debir de um
lado e Najara e Sísera de outro. E Débora e Lapidote se reaproximam.
Obrigado pelo seu comentário!