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Débora - Capítulo 19


Débora
CAPÍTULO 19

uma novela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

baseada nos capítulos 3 a 5 do livro de Juízes

 No capítulo anterior: Débora diz a Éder que não fará mais o que fez na casa de Sangar. Elian chega em casa revoltadíssimo com Débora. Ao perceber a raiva no semblante da filha, ele a provoca dizendo para ela “colocar para fora”, mas Débora se controla. Éder então diz que “Obediente. Reservada. Quieta” são as qualidades que uma mulher deve ter pra se casar, ao que Elian reitera e completa dizendo que são as qualidades que ele e Éder esperam que ela tenha dali até o resto de seus dias. Tamar diz a Elian que ele não tem moral para falar com Débora daquela maneira, e nem de impedir ela própria de ir falar com a filha. Em conversa com Débora, Tamar diz que elas não podem viver como querem pois são mulheres, não tem a liberdade total que eles têm. Apesar dos lamentos de Débora em se casar com Éder e não com quem realmente ama, Tamar diz que orará para que a filha esqueça Lapidote. Éder conta a Elian que viu Débora com Lapidote. Liderado por Sísera, o exército hazorita para ao avistar o exército amonita no deserto. Baraque agradece a Débora e Jaziel pela ajuda e ela o aconselha a ser discreto ao falar do tesouro; Baraque parte de Betel. Sama chama Jaziel e diz que está terminando o namoro. Os carros de ferro dos hazoritas despedaçam os soldados amonitas, e o restante é morto à espada; o exército avança. Jaziel implora, mas Sama diz que não suporta ser tão malvista e maltratada, e que ela não é boa o suficiente para ele. Apesar da dor de Jaziel, Sama vai embora chorando. Os hazoritas invadem a cidade amonita e destrói a tudo e a todos. Sísera encontra o rei inimigo e se apresenta como “o homem que sobe à imponência das alturas dos montes onde se assentam os reis, olha-os nos olhos e os destrona”. Após matar o velho rei, Sísera diz que Amom agora é território de Hazor. Tamar diz a Elian que sabia que Lapidote havia retornado. Jabim parabeniza Sísera e pede que ele descanse e logo se prepare para atacar Israel. Sísera acata a ordem e sorri misteriosamente.
FADE IN:

CENA 1: EXT. BETEL – RUA PRINCIPAL – DIA
Surpresa e confusa, Débora encara Jaziel, de joelhos, chorando.
DÉBORA
Como assim, Jaziel?!
JAZIEL
Me deixou, Débora! Me abandonou! Me chutou como se eu fosse uma raposa maldita!...
DÉBORA
Por quê?!
Apesar dos soluços de choro, Jaziel tenta se recuperar respirando.
JAZIEL
Por causa dos meus pais... Sama sempre percebeu que eles não gostam dela... Não bastando tudo isso, ontem ela ouviu minha mãe brigando comigo... por estar com ela na frente de casa...
DÉBORA
Oh, meu Deus... Eu sinto muito!
Débora o abraça...
DÉBORA
Vamos. Eu te acompanho...
Ela o ajuda a se colocar de pé.
JAZIEL
Me desculpe... por atrapalhar o seu descanso.
DÉBORA
Não se preocupe com isso. Vamos.
Os dois saem devagar.

CENA 2: EXT. BETEL – RUAS – DIA
Débora e Jaziel estão caminhando quando percebem uma movimentação diferente em uma rua que cruza aquela.
DÉBORA
O que está acontecendo?
Eles olham bem.
DÉBORA
Parece ser na casa de--
JAZIEL
(interrompendo) Sangar.
Preocupada, ela olha para ele... e de volta para a movimentação. Então vão naquela direção.

CENA 3: EXT. CASA DE SANGAR – FRENTE – DIA
Uma aglomeração de pessoas agitadas e faladeiras está formada na frente da casa.
DÉBORA
(paras as pessoas) Com licença, por favor, o que está acontecendo? O juiz Sangar está bem?
Mas ninguém consegue se concentrar em responder, e informações desencontradas vão e vem para todo lado.
DÉBORA
Jaziel, vamos entrar e ver o que está acontecendo...
Ainda um tanto abalado, Jaziel faz que sim. Então eles forçam passagem pelo meio do povo e entram na casa.

CENA 4: INT. CASA DE SANGAR – SALA – DIA
Ao fecharem a porta, Débora e Jaziel param. Alguns homens e mulheres curandeiros se apressam em cuidar de Sangar que, deitado na cama, parece agonizar.
Débora se aflige com o que vê, mas logo Sangar nota a presença dos dois jovens e, com dificuldade, estica sua mão na direção de ambos. Os curandeiros ao redor então olham e finalmente os notam.
Entendendo, Débora se aproxima rápido da cama e Jaziel a segue. Eles se ajoelham e olham preocupados para o debilitado juiz e líder de Israel. Ao ver a garota ali, ele parece se acalmar e se concentrar.
SANGAR
(com dificuldade) Débora...
DÉBORA
Senhor Sangar...
Débora não sabe o que dizer.
SANGAR
Débora... Lembre-se... do que eu lhe falei...
Os olhos de Débora começam a se encher de lágrimas.
DÉBORA
Não...
Sangar leva suas trêmulas mãos às mãos de Débora e as segura o mais firme que consegue.
SANGAR
Lembre-se do que lhe falei... E jamais se esqueça... de colocar o nosso Deus... à frente de suas decisões.
As lágrimas riscam o rosto de Débora.
DÉBORA
O que o senhor me disse... Acredito não poder acontecer...
SANGAR
Acontecerá... se for esse o destino traçado por Deus a você...
Débora começa a chorar. Sangar então segura as mãos da garota com um pouco mais de firmeza.
SANGAR
Débora...
Ela tenta se recuperar, limpa o rosto, funga, respira e olha para ele com os olhos vermelhos e marejados.
SANGAR
Enfrentar tudo... até mesmo a morte... é o destino de um juiz de Israel.
DÉBORA
Senhor Sangar...
Mas então ela percebe que as mãos que a seguram começam a se afrouxar... até caírem na cama. Nesse instante, o rosto de Sangar vira para o lado e seus olhos se fecham como se ele fosse apenas descansar um pouco.
DÉBORA
Senhor Sangar!... Senhor Sangar! Juiz Sangar! Juiz Sangar!!!
Percebendo que ele partiu em definitivo, Débora desaba a chorar. Jaziel a abraça...



CENA 5: EXT. BETEL – RUAS – DIA
Enquanto vemos o movimentar dos hebreus nas ruas de Betel em câmera lenta, ouvimos Débora.
DÉBORA (NAR.)
Os 7 dias que se seguiram foram de absoluto luto em toda a terra de Israel. Apesar de Sangar, em seus últimos dias, vir definhando fisicamente e o povo se corrompendo mais e mais, todos tinham-no como um apoio, uma confiança. Agora, o que eu mais temia era que acontecesse o mesmo de quando todos os outros juízes morreram na história de nossa nação: a volta definitiva do povo para a idolatria. Geralmente, com isso vinha a escravidão por outros povos.
Débora e Éder caminham pela rua.
ÉDER
Essa morte atrapalhou todos os meus planos. Se nada acontecesse, faltaria apenas 6 dias para o nosso casamento. Agora vamos ter que esperar muito mais.
DÉBORA
O casamento pode esperar. Mas Sangar não volta mais.
Éder revira os olhos.
ÉDER
Nossa, às vezes parece que você coloca essas pessoas de Deus à frente de tudo na sua vida.
DÉBORA
Não as pessoas. E sim as coisas de Deus. E é assim mesmo que devemos ser. Não é necessário sacrificar nossa vida pessoal para amar a Deus sobre todas as coisas.
Cansado, Éder respira fundo.
ÉDER
Vamos nos concentrar em procurar o ancião Aliã.
DÉBORA
(apontando) Disseram que ele estaria ali na rua do comércio.
Então eles tomam a direção e vão.

CENA 6: INT. CASA DE NAJARA – SALA – DIA
Sentados à mesa, Sísera e Najara levantam suas taças de madeira cheias de vinho em comemoração.
SÍSERA
Aos bons tempos!
NAJARA
Aos tempos que se iniciaram!
Eles riem e tomam um bom gole de vinho.
NAJARA
Tudo está em ordem. Nosso plano deu certo, você é o Capitão de Hazor, e em breve o nosso reino será o mais poderoso de Canaã!
SÍSERA
Para isso, dominar Israel é essencial. Escravizá-los. Fazê-los trabalhar para nós incansavelmente, extraindo o melhor daquela terra fértil. E já estou trabalhando firme para que isso aconteça.
Contente, Najara faz que sim.
NAJARA
Pois trabalhe com cuidado. Não é agora que pode vacilar com o rei. Porém... preciso relembrá-lo do favor que lhe pedi, meu filho.
SÍSERA
Oh, sim!
Sísera toma o resto do vinho na taça.
SÍSERA
O caso do pai. Fique tranquila, mãe. Verei isso sim.
Satisfeita, Najara faz que sim.
SÍSERA
Mas eu tenho uma pergunta... Caso a senhora descubra algo sobre o pai... Por exemplo, que ele tem mesmo um caso com alguma mulher... o que a senhora fará?
Najara é pega de surpresa e tenta disfarçar o verdadeiro pensamento que passou por sua mente.
NAJARA
Ah, Sísera, eu não sei... Isso seria terrível, é grave... É difícil saber o que faríamos em um caso extremo desse... Sinceramente eu não sei. Ainda vou pensar nisso.
Sísera observa a mãe, mas sem expressão no rosto; não sabe se acredita ou não. Por fim faz que sim com a cabeça e se levanta.
SÍSERA
Bem, eu já vou.
Ele a beija e vai para a porta.
NAJARA
Tenha um bom dia, Sísera.
Ele sorri e sai. Najara fica ali, pensativa...

CENA 7: EXT. BETEL – RUAS – DIA
Jaziel está andando pela rua quando nota Sama ali perto olhando produtos de uma barraca. Ele a olha por alguns instantes, até que resolve ir até lá.
Sama não nota quando Jaziel chega ao lado dela.
JAZIEL
Sama... Com licença.
Ela se assusta um pouco. Ao vê-lo não fica muito confortável e tenta disfarçar.
SAMA
Jaziel... Sim?...
JAZIEL
Eu... É que... eu preciso de uma informação e agora só tenho você de conhecida aqui... É sobre uma casa... perto da sua. A senhora Mayka, a doceira, é sua vizinha, não é?...
Sama respira fundo.
SAMA
É... É sim. 5 casas à direita da minha.
JAZIEL
Oh... Sim. Certo. Ahn, e... não é uma casa com uma pintura avermelhada não, é?
SAMA
Amarelada nos umbrais da porta.
Jaziel ri desconfortável.
JAZIEL
Claro, como me confundi... Amarelo. Bom... Então acho que é isso. Eu agradeço, Sama. Você me ajudou... Shalom.
SAMA
Shalom.
Jaziel se afasta meio sem jeito. Sozinha e com raiva, Sama parece gritar, mas sem emitir som. Então vira para trás e, ainda com um resquício de sentimento no olhar, observa o ex-namorado se afastar. Logo ela também vai embora.
Jaziel então para e olha para trás: arrasado, vê ela indo embora, cada vez mais distante.

CENA 8: INT. CASA DE NIRA – DIA
Jeboão enche de beijos o rosto de Nira.
JEBOÃO
Vou sentir saudade... Hum... Muita saudade... Já estou morrendo de saudade... Logo voltarei, minha deusa. Assim que resolver o problema com o cliente.
NIRA
(segurando o rosto dele com as mãos) Mal posso esperar, meu amante inigualável! Meu corpo já ferve como óleo fumegante!
JEBOÃO
(sorrindo) Até mais tarde.
Ele dá um último beijo nela, sai e fecha a porta. Nira espera, espera, espera... Então abre a porta, coloca a cabeça para fora, olha para cima e assobia. Logo Debir despenca lá de cima, entra e fecha a porta.
DEBIR
E então?
NIRA
Jeboão não percebeu nada. Só ensaquei as principais coisas.
DEBIR
Ótimo. Podemos sair amanhã mesmo. Porque dessas coisas maiores só precisaremos de uma ou outra. Depois passamos em alguma cidade e vendemos o colar. Aí estaremos ricos.
NIRA
Precisamos sair antes de Jeboão dar as caras.
DEBIR
Não se preocupe, sairemos com uma boa folga.
Felizes e empolgados, eles se aproxima e se beijam.
NIRA
(abraçados) Estou tão feliz que finalmente poderemos ficar juntos...
Debir sorri e eles trocam outro beijo. Mas logo se soltam e começam a ajeitar suas coisas.

CENA 9: EXT. BETEL – RUAS – DIA
Na rua mais movimentada por conta das barracas, Débora e Éder avistam o ancião Aliã e se aproximam.
DÉBORA
Shalom, senhor Aliã!
ÉDER
Shalom!
Ao vê-los, o ancião deixa um produto que olhava e se atenta a eles.
ALIÃ
Oh, mas que grata surpresa! Shalom, meus filhos! Como estão... apesar de tudo?
ÉDER
Bem...
DÉBORA
Nos recuperando. Graças ao bom Deus.
Aliã sorri.
ALIÃ
E a que devo a honra de tal encontro?
ÉDER
Bom, nós precisamos--
Enquanto Éder explica para Aliã, Débora nota, em meio ao povo na rua movimentada, Lapidote olhando para ela. Surpresa, ela o encara. Sereno, ele acena suavemente e ela retribui com um amigável e discreto sorriso.
Logo ela quebra o contato visual e presta atenção em Aliã e Éder.
ALIÃ
Ótimo que vocês queiram ajustar isso, mas é óbvio que a cerimônia terá de ser adiada. A cidade parou nos últimos 7 dias. Toda Israel parou. Aos poucos voltaremos para nossa vida normal.
ÉDER
Senhor ancião, não há mesmo jeito de realizarmos o casamento antes?
ALIÃ
Não.
DÉBORA
É a tradição.
Éder olha para ela com um amargo olhar de repreensão e Aliã percebe.
ÉDER
Muito bem. Que seja em 20 dias, então.
Aliã parece pensar... Débora é mais rápida.
DÉBORA
Também não será possível. Será o início das colheitas, e as festas são longas e indispensáveis.
ALIÃ
Oh, Débora tem razão!
Visivelmente com raiva, Éder tenta se controlar olhando apenas para Aliã... Mas não consegue e olha secamente para a noiva.
ÉDER
(alto) Que parte você ainda não entendeu?!
DÉBORA
Do que está falando?
ÉDER
De você se manter quieta! Calada! Em silêncio!
ALIÃ
Éder...
DÉBORA
Eu apenas o informei. Não posso conversar com o ancião e com o meu noivo? Sobre o meu casamento?! Não sou gente?!
Um pouco distante, Lapidote percebe o tom elevado.
ÉDER
Eu estou perdendo a paciência com você e está para vir a hora em que vou agir!
DÉBORA
O quê?! O que é que você vai fazer?! Pretende levantar a mão contra mim?! Pretende me bater?! Já chegamos a isso antes mesmo do casamento, Éder?!
Com o povo ao redor reparando na discussão, Éder se incomoda.
ÉDER
Fale baixo.
Aliã está preocupado e aflito.
ÉDER
(apontando o dedo) Fique quieta.
DÉBORA
Não vou ficar. Pois antes de isso começar, eu estava conversando normalmente. O problema é que você não quer aceitar que eu diga nem um A! Nada! Tenho que ser como o seu animalzinho! Mesmo submissas, nenhuma mulher é calada dessa forma que você tanto quer! E eu não me calarei dessa forma!
Ocasionalmente Elian passa por ali perto quando nota a movimentação e fica surpreso por ser a filha e o genro.
ELIAN
(aproximando) O que está acontecendo aqui?!
ÉDER
(tremendo de ódio) Por que você simplesmente não obedece e não cala a sua maldita boca?!
DÉBORA
Porque não! Não me calarei!
De repente Éder mete uma bofetada no rosto de Débora! Tanto Elian quanto as pessoas ao redor se assustam. Lapidote fica revoltado, mas se controla em seu canto. Aliã intervém tentando afastar Éder de perto dela. Com isso outros ajudam o ancião.
ÉDER
Me soltem, me soltem! Me larguem, tirem a mão de mim!
As pessoas o soltam, mas ficam atentas.
ÉDER
É minha noiva! Sou eu quem resolve, da forma que eu bem entender! E ninguém se mete em problema de casal!
Elian, um tanto assustado, permanece olhando para eles. Débora tira a mão da região atingida do rosto e olha para Éder.
ÉDER
Por que você tem que ser assim? Intrometida, abusada, pra-frente, querendo saber das coisas! Quer ser feiticeira, é?! Bruxa?! Depois reclama da idolatria do povo! Hipócrita!
Débora faz que não com a cabeça.
DÉBORA
Não acredito que você está dizendo isso, logo para mim, Éder.
Ele aponta o dedo para ela novamente.
ÉDER
Eu não te suporto!
DÉBORA
Então o que é que está segurando o nosso noivado?! Pois você não me suporta e eu também não te suporto! Eu não te amo, não gosto de você, não sinto o menor sentimento! Foi tudo arranjado pelo meu pai! Nunca estive de acordo e o que menos quero nessa vida é que esse casamento aconteça!
Ouvindo tudo isso em público, Éder fica absolutamente constrangido.
ÉDER
Está claro agora. Tudo isso é por causa daquele Lapidote, seu namorado de infância.
Lapidote ainda não foi visto por nenhum deles a não ser Débora, e continua a apenas observá-los.
DÉBORA
Com Lapidote, sem Lapidote, não faz a menor diferença. Você é um homem insuportável e desprezível!
Irritado, Éder levanta a mão para dar outra bofetada, mas Aliã é rápido e o segura.
ALIÃ
Já chega, Éder!
DÉBORA
(para o povo ao redor) Alguém aqui apoia que um casamento desse aconteça?! Alguma mulher aqui está de acordo em ser tratada dessa forma pelo marido, dia após dia, só que sem ninguém para ver e protege-la?! Algum homem aqui acha que eu tenho culpa em usar a boca que Deus me deu para participar de uma conversa que me diz respeito com uma informação relevante?!
A rua para e todos ali ficam em silêncio, ouvindo-a.
DÉBORA
Não, ninguém aqui concorda com isso. E eu sei disso porque as pessoas tem compaixão e bom senso! Então está claro para todos aqui que esse casamento é inviável! Impossível de se dar certo.
Mais silêncio. Constrangedor silêncio... Débora, porém, se mantém firme.
ALIÃ
Ela tem roda a razão. Elian, você que é o pai dela, o que acha?!
Elian fica sem jeito para falar. Sabe que a situação foi grave, percebe que Débora provavelmente tem o apoio do povo... Então olha para Aliã.
ELIAN
Sim... Está cla-claro que não daria certo.
Éder olha para Elian com uma revolta descomunal, mas esse, desconfortável, não olha o rapaz nos olhos.
ALIÃ
Então é necessário que qualquer compromisso que haja aqui se desmanche agora mesmo.
ELIAN
(olhando para o nada) Éder, seu noivado com minha filha... está desfeito.
Algumas pessoas ao redor não deixam de comemorar. Débora sorri de forma suave e cansada. Éder olha para ela e mais uma vez aponta o dedo.
ÉDER
Isso... não ficará assim.
Éder vira, passa trompando nas pessoas e some. Aliã então se aproxima mais de Débora.
ALIÃ
Você está bem, filha?
Ela faz que sim.
DÉBORA
Estou sim, senhor. Foi muita coisa... mas vai passar. E a bofetada... (sorrindo) não me fez nada.
Estressado, Elian aperta as têmporas com as pontas dos dedos.
ELIAN
Débora. Venha. Vamos para casa.
ALIÃ
Vá...
DÉBORA
Agradeço pela força, senhor. E por ficar ao meu lado. Shalom.
ALIÃ
Não fiz nada. (sorri) Shalom.
Ela sorri e sai ao lado de seu pai. O burburinho das pessoas aumenta.

CENA 10: EXT. CASA DE NIRA – FRENTE – DIA
Em sua casa, que fica em cima da de Nira, Debir observa Jeboão retornar e entrar na casa da amante.
DEBIR
(murmurando) É a última vez que esse velho maldito se deita com minha mulher.
Com raiva, Debir volta para dentro.
Na rua ali perto, Sísera e dois soldados caminham tranquilamente. Sísera olha para todos os lados como se procurasse o local. Quando identifica, aponta.
SÍSERA
É ali.
Eles se aproximam da casa de Nira. Chegando, olha a casa, a janela, a porta...
SÍSERA
Fiquem aqui fora. Guardem a entrada.
Os dois soldados assumem posição de guardas. Sísera então encara a porta... até que levanta a perna e a chuta, arrombando-a. A porta abre violentamente até bater na parede e voltar. Antes de fechar, Sísera entra na casa.

CENA 11: INT. CASA DE NIRA – DIA
Nira e Jeboão, deitados e aos beijos, mas ainda vestidos, se assustam e olham para o invasor.
JEBOÃO
Sísera?!
NIRA
Capitão Sísera?!
Por alguns instantes, parado, Sísera apenas encara os dois deitados. Então faz que sim... e adentra mais no quarto.
JEBOÃO
(assustado) Por que está aqui, Sísera? Digo, isso não é o que parece... Não é o que você está pensando... Você se enganou!... Na verdade eu é que me enganei...
Enquanto Jeboão, assustado, tenta se explicar, e Nira, angustiada, mal sabe o que fazer, Sísera caminha devagar e quieto pelo cômodo, observando tudo, cada objeto que há ali. Parece até estar pensando longe.
JEBOÃO
Sísera, na verdade... é o que parece sim. Eu sou homem. Você também... Você sabe como é. Um casamento... não é o suficiente para nós homens. Nós precisamos de mais, muito mais!...
Sísera continua aparentemente indiferente a eles.
JEBOÃO
Eu entendo que é diferente a forma como um filho enxerga os pais, a mãe... Mas a realidade da vida é diferente, Sísera.
NIRA
(sussurrando, aflita) O que o seu filho está fazendo aqui, Jeboão?!
SÍSERA
Calada.
A voz imponente de Sísera assusta ambos na cama. Ele então vira para eles.
SÍSERA
(para o pai) Espere aqui.
Então vira e vai para fora.
JEBOÃO
Sísera, espere! Espere, vamos conversar!!!
Mas Sísera vai embora com os soldados. Jeboão, e principalmente Nira, ficam ali muito angustiados.

CENA 12: INT. CASA DE TAMAR – SALA – DIA
Elian e Débora chegam em casa. Tamar está ali na cozinha preparando comida.
ELIAN
Não posso acreditar que isso aconteceu. Meu dia acabou!
TAMAR
Do que está falando, Elian?!
ELIAN
A petulância de sua filha colocou tudo à perder! O noivado dela com Éder está desfeito!
Tamar paralisa, arregala os olhos e deixa as coisas caírem na bancada. Então se mexe e se aproxima.
TAMAR
O quê?! Isso aconteceu mesmo, minha filha?!
DÉBORA
(fazendo que sim) Sim...
TAMAR
Explique-me... Conte mais, eu quero entender!
ELIAN
Vocês que se entendam aí. Vou tomar um banho no rio pra ver se as águas arrancam a vergonha grudada em meu rosto!
Elian pega uns panos velhos e sai para fora. Tamar se aproxima mais da filha.
TAMAR
Débora! Conte-me tudo agora mesmo!
DÉBORA
(contente) Bom, basicamente, mãe, eu estou livre de Éder! É como se uma montanha saísse de cima de mim, ah!!!
Surpresa e feliz, Tamar encara Débora quase não acreditando na notícia; tampa a boca com as mãos.
TAMAR
Débora!...

CENA 13: INT. CASA DE NIRA – DIA
NIRA
Jeboão, você precisa ir embora imediatamente!
JEBOÃO
Não, não tem porque ter medo de Sísera!
NIRA
Jeboão, confie no que estou dizendo, é melhor você ir embora daqui!
JEBOÃO
Não se preocupe, Nira! Eu conheço o meu filho. Ele não contará nada a ninguém.
NIRA
Então você não percebeu o rosto dele, Jeboão. Ele claramente vai denunciar à sua esposa. E, se não contar, só de haver a possibilidade você deve ir.
Jeboão parece considerar...
NIRA
(empurrando ele para a saída) Vá, vá logo! Vá para longe daqui e volte só em outra hora! De preferência em outro dia!
JEBOÃO
Nira--
NIRA
(interrompendo) Vá, Jeboão! Não perca tempo!
Na porta, Jeboão dá uma última olhada para ela... e vai embora. Preocupada, Nira respira fundo e escora na porta. Alguém bate.
NIRA
Já falei para ir, Jeboão!
DEBIR (O.S.)
Sou eu.
Nira então abre e Debir entra.
NIRA
Debir! Debir!... Nós precisamos pegar tudo e partir agora mesmo!
DEBIR
Agora?! Por quê?!
NIRA
Nós fomos descobertos. Arrume tudo e vamos.
Nira corre arrumando suas coisas.
DEBIR
Mas Nira... Eu ainda não arrumei quase nada!
NIRA
Não importa! Precisamos sair da cidade agora mesmo! Depois a gente se vira e vê como faz!
Agora tenso, Debir engole em seco e sai para arrumar suas coisas.

CENA 14: INT. CASA DE NAJARA – SALA – DIA
Najara fica estupefata com o que acabou de ouvir de Sísera. Seus olhos encaram o nada com uma clara raiva crescendo em forma de uma vermelhidão.
NAJARA
Maldito... Maldito... Maldito....
Sísera observa a mãe. Lágrimas de ódio começam a surgir nos olhos dela.
NAJARA
Maldito!... Maldito! Maldito, ordinário, maldito!!! Quero eu mesma olhar nos olhos desse maldito!
SÍSERA
Acalme-se antes, mãe.
NAJARA
Estou calma o suficiente, Sísera! Agora espere lá fora que eu vou pegar minhas coisas.
Ele dá uma olhada nela, que encara o nada corroendo em ódio, e então sai para fora. Quando a porta se fecha, ela vai até um baú, pega seu punhal e o esconde nas vestes.
Então vai pegar suas outras coisas.

CENA 15: EXT. HAROSETE – RUAS – DIA
Nira e Debir, com as cabeças cobertas, tentam ir o mais rápido possível em sua carroça e sem chamar a atenção de ninguém.
Por infelicidade, Jeboão, que caminha sem rumo, nota os dois e reconhece claramente o rosto de Nira.
JEBOÃO
Mas o que é isso?...
Ele se aproxima, mas se mantém escondido. Percebe que a carroça vai na direção da entrada da cidade.
JEBOÃO
Não é possível...
A carroça então atravessa o portão e sai para fora. Lá, Debir olha para trás; não vê nada de estranho. Então bate as rédeas tentando se afastar rapidamente.

CENA 16: EXT. CASA DE NIRA – FRENTE – DIA
Sísera sai de dentro da casa e chega ali fora, onde está Najara.
SÍSERA
Não há mesmo ninguém aqui. Muitas das coisas que eu vi não estão também. Na certa fugiram recentemente. Vamos à entrada da cidade, ali é possível enxergar longe. Se não vermos nada, eu mando fechar a cidade e vasculhar casa por casa, canto por canto. Vamos rápido, mãe.
Sísera e Najara saem apressados.

CENA 17: EXT. HAROSETE – ARREDORES – DIA
Debir bate as rédeas e eles continuam se afastando. Quando estão a algumas dezenas de metros, Jeboão atravessa o portão e, indignado, grita.
JEBOÃO
NIRA!!!
Nira se assusta.
DEBIR
É Jeboão! Vou acelerar!
JEBOÃO
Pare e eu não denuncio sua direção a Sísera!
Nira olha para Debir.
NIRA
Vamos resolver isso e aí fugimos. Mate-o.
Debir concorda e diminui a carroça até parar. Jeboão corre até eles.
JEBOÃO
(chegando ali) O que está fazendo?! Para onde está indo?! O que significa isso, o que é que está fazendo com o seu vizinho?!
Jeboão respira ofegante. Nira e Debir descem da carroça e o encaram.
O que ninguém ali percebe é Sísera e Najara chegando ao portão da cidade e espiando escondidos. Observam Jeboão encarando Nira e Debir.
NAJARA
O que é que está acontecendo aqui?...
Na curiosidade e ódio de Najara, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:

No próximo capítulo: Jeboão se vê encurralado por Nira e Debir de um lado e Najara e Sísera de outro. E Débora e Lapidote se reaproximam.




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