BUDAPESTE - CAPÍTULO 22

 

 Budapeste - Capítulo 22

Budapeste – Hungria

Cena 01 – Casa de Barbara – Ext. – Dia.

Uma mulher se aproxima. Barbara percebe a sombra atrás dela e vira-se rapidamente.

Barbara: Quem é você?

Fatima: Olá, Christina. Sou eu, sua mãe, Fatima.

Barbara deixa sua bolsa cair e fica surpresa ao ver Fatima ali.

Fatima: Não está me reconhecendo, filha?

Barbara (furiosa): Não me chame assim, porque você não é a minha mãe. Você é apenas uma mendiga que acha que somente porque me gerou tem algum direito materno sobre mim.

Fatima: Christina...

Barbara: Christina está morta. Meu nome é Barbara e espero que você me chame assim. Como você conseguiu me encontrar aqui? Espera... Agora estou te reconhecendo... Claro! Você é a mulher esquisita que me parou na rua uma vez.

Fatima: Eu não sei que tipo de lavagem cerebral o Domokos e a Gizzela fizeram em você, mas é triste te ver assim, minha filha.

Barbara: Eu já te disse que eu não sou sua filha. Quem você pensa que é pra chegar vinte anos depois como se nada tivesse acontecido?

Fatima: Não tive escolha! Sua avó me expulsou de casa e eu precisava de dinheiro! Seu pai sempre me bateu, então sempre vivia fugindo dele.

Barbara: Não me interessa! Você já exauriu minha paciência. Saia daqui antes que te coloque para ser comida dos meus cães.

Fatima: Escuta aqui, não mereço ser tratada dessa forma! Você tem meu sangue correndo em seu corpo!

Barbara neste momento cospe na cara de Fatima que fica ali paralisada sem reação.

Barbara: Nunca mais ouse dizer isso em voz alta. Você é uma vira-lata e nem tente me comparar a um ser desprezível e podre como você. Tenho nojo e qualquer tipo de aversão ao seu povo.

Fatima (lacrimejando): O que fizeram com você?

Barbara: Eles me deram poder! Poder! Isso é algo que você nunca saberá o que é. Você é uma porca, daquelas do pior tipo que comem restos. Ouça bem, se sonhar que vi você por aqui, eu juro que não medirei esforços para te mandar pra bem longe daqui.

Barbara pega sua bolsa no chão e finalmente abre a porta da casa. Ela fecha a porta na cara de Fatima que está ali paralisada processando toda a informação jogada.

Cena 02 – Angyal Alimentos – Sala presidencial – Int. – Dia.

Emese observa a vista que o edifício proporciona sobre a cidade de Budapeste. Lorenzo está ao seu lado. A secretária entra na sala.

Secretária: Senhora, Emese. Tem um homem aqui fora que quer muito conversar com você. Ele disse que não sai enquanto não falar o que tem a dizer.

Emese: E quem seria?

Secretária: András Kovács.

Emese: O András? Pode pedir para ele entrar.

A Secretária assente e sai. András entra no local e cumprimenta Emese e Lorenzo.

Emese: Sei que eu não tenho sido uma amiga muito boa, András, mas você sabe, minha vida virou de cabeça para baixo.

András: Não, eu imagino. Não precisa se justificar. Eu vim até aqui, porque eu precisava conversar um assunto muito sério com você.

András olha para Lorenzo que permanece estático e Emese parece entender.

Emese: Não precisa se preocupar. Não há nada que eu esconda do Lorenzo.

András: Bem, não sei se você sabe, mas a minha mãe e a sua eram grandes amigas. Viviam grudadas.

Emese: Sim, eu fiquei sabendo, mas aonde você quer chegar?

András: Emese, há alguns dias, eu descobri que minha mãe foi morta no lugar da sua. Não era pra ela estar naquele carro, mas infelizmente aconteceu.

Emese (atordoada): Como é?

András: É, não sei por qual razão queriam matar sua mãe. Mas, eu sei quem matou seus pais, Emese.

Lorenzo: Como você sabe disso?

András: Não posso dizer, mas é uma fonte muito segura.

Emese: E quem matou meus pais, András?

András: Seu tio, Emese, o Domokos, o irmão do seu pai.

Emese parece estar zonza, mas segue firme em sua pose.

Lorenzo: Domokos? Esse nome não me é estranho, Emese. Eu já ouvi a Ilona e a Sebestyénne comentando algo sobre alguém que tinha esse nome, mas não me recordo do que seja.

Emese: András, isso que você está me dizendo é muito sério.

András: Emese, eu tenho certeza disso. E nos últimos dias, eu tomei a decisão de exumar o corpo da minha mãe e para minha surpresa, o corpo dela não estava lá.

Emese: O quê?

András: Emese, algo aconteceu e nós precisamos nos mover o quanto antes. Minha intuição diz que esse Domokos está cada vez mais perto de nós.

Emese: András, se o corpo da sua mãe não estava no caixão, algo aconteceu.

András: É o que a polícia quer descobrir.

Cena 03 – Delegacia – Escritório – Int. – Dia.

Nala está nervosa, andando de um lado para o outro. Severus olha para o painel na parede.

Nala: Isso não está certo, Severus.

Severus: Do que você está falando?

Nala: Tudo parece muito óbvio. Algo me diz que tem algo de errado nessa história toda.

Severus: Você acha que não foi o Konrad quem cometeu o crime?

Nala: Tudo aponta pra ele, mas a questão é que em nenhum momento parece ter erros, sabe?

Severus: Não estou te entendendo, Nala.

Nala: Severus, é muito simples. Parece que o grupo simplesmente cansou das besteiras do Konrad e estão jogando-o na fogueira, porque é mais viável.

Severus: Mas por qual razão eles fariam isso sabendo que se preso, o Konrad poderia entrega-los?

Nala: Não sei... Isso tudo está muito estranho.

Cena 04 – Casa do Senador Fridrich – Escritório – Int. – Dia.

O Senador está sentado em sua poltrona fumando seu charuto. A fumaça paira um pouco no ar. Sua expressão é serena, mas ao mesmo tempo de angústia. Ele acorda do seu transe ao escutar um barulho no chão.

Borbála: Estou colocando todas as minhas roupas, bom, pelo menos as essenciais.

Close em Borbála com duas malas grandes. Fridrich vira-se para ela.

Fridrich: Está indo embora, Borbála?

Borbála: Estou, Fridrich. Irei morar com o Vencel na Áustria. Não há motivos para continuarmos com esse casamento.

Fridrich: Minha vida está acabada e você simplesmente irá me jogar aos leões?

Borbála: Não estou te jogando aos leões! O Vencel precisa de mim. Se eu realmente quisesse te prejudicar, iria agora na polícia contar tudo que eu sei a seu respeito, Fridrich. Esse casamento acabou, não há o que fazer. Eu estava sendo uma verdadeira tola em pensar que por alguma razão poderíamos tentar resolver todas as coisas, mas ainda bem que minha ficha caiu.

Fridrich: Eu não dou um mês para você vir correndo atrás de mim. Sua vida inteira amou dinheiro e agora está tentando ser uma mulher comum?

Borbála: Estou fazendo esse esforço pelo meu filho! Cansei de estar em um casamento fracassado e deixar o meu filho de lado apenas por um capricho capitalista.

Fridrich (ri): Não vai me dizer que agora resolveu virar comunista.

Borbála: O que eu farei a partir de agora, não te diz mais respeito, Fridrich. Até mais.

Borbála carrega suas malas e sai de cena, enquanto Fridrich fica ali pensativo.

Cena 05 – Angyal Alimentos – Sala presidencial – Int. – Dia.

Emese está pensativa e András está mexendo em seu celular. Lorenzo observa todo o movimento do ambiente.

András: O que iremos fazer, Emese?

Emese: Eu tenho que saber o que aconteceu. András, preciso que você consiga uma autorização para fazer a exumação do corpo da minha mãe.

Lorenzo: Emese, isso é loucura.

Emese: Eu sei o que estou fazendo, Lorenzo.

András: Pode deixar, Emese.

Corta para:

Cena 06 – Avenidas de Budapeste – Dia

Konrad está andando vagamente pela avenida. Ele está com um casaco com capuz que cobre todo seu rosto, além de estar de óculos escuro. Ele adentra em uma loja de conveniência.

Cena 07 – Loja de Conveniência – Int. – Dia.

Ele vai até o caixa com alguns produtos. A operadora de caixa empacota tudo.

Operadora: Foram 28 € no total.

Konrad entrega um cartão. A operadora recebe e passa na máquina. O cartão deu recusado.

Operadora: Sinto muito, mas esse cartão foi recusado.

Konrad (se altera): Como assim “recusado”? Não pode ser! Você sabe quantos milhões tem nesse cartão?

Operadora: Provavelmente não o suficiente para pagar a sua conta.

Konrad: Está debochando de mim?

Operadora: Não, só quero que o senhor saia da fila. Há outras pessoas que precisam ser atendidas. Por favor, se retire-se.

Em um ataque de fúria, Konrad pega um bastão ao lado e bate no computador do caixa. Todos ao redor se assustam. Um senhor com uma roupa judaica tenta conter Konrad. Ao perceber, ele empurra o idoso que cai no chão.

Konrad: Como ousa encostar essas patas em mim? Seu rato!

Konrad começa a bater o senhor com o bastão que grita de dor. Algumas pessoas se aproximam e empurram Konrad que sai correndo. O idoso está inconsciente.

Cena 08 – Városliget – Dia.

Eva e Kimerul caminham tranquilamente. Há pessoas fazendo caminhada, crianças correndo e alguns cachorros brincando com o seus donos. Eles sentam-se em um banco.

Eva: Achei estranho você ter me ligado.

Kimerul: Eu precisava conversar com você.     

Eva: Imagino o rumo da conversa.

Kimerul: Então também já deve saber que eu estou interessado no que você tem a dizer sobre. Espero que não esconda nada de mim, Eva.

Eva: Não consigo esconder nada de você, nem se eu quisesse.

Kimerul: Por qual razão você não queria que o András fizesse a exumação do corpo da Anita?

Eva: Kimerul... Eu não sei por onde começar.

Kimerul: Há alguma possibilidade da Anita estar viva, Eva? Me fala! Eu não acho que ela seria capaz de forjar a própria morte e esquecer o filho dela aqui, Eva.

Eva: Kimerul... A Anita... Ela não está viva, sinto muito.

Kimerul: E por que o caixão dela estava vazio? Preciso saber disso!

Eva: Kimerul... O corpo da Anita foi trocado.

Kimerul (indaga): O quê?

Eva: O corpo da Anita está em outro caixão.

Kimerul: Como assim? Por que tiraram o corpo da Anita de lá?

Eva: Kimerul, por favor...

Kimerul: Eva, isso está ficando cada vez mais estranho. O que aconteceu? Me fala! Que lugar é esse que o corpo dela está?

Eva: O corpo dela está no caixão da Melánia.

Neste momento, Kimerul paralisa e parece ficar zonzo. Ele tenta assimilar o que está acontecendo.

CORTA PARA:

Cena 09 – Restaurante – Int. – Dia.

Domokos está sentado à mesa. Há pouco movimento no restaurante. Uma música suave toca de fundo. Barbara se aproxima e ao encontrar o pai, faz uma reverência.

Domokos: Espero que o que tenha a me dizer seja muito importante, Barbara.

Barbara: Eu jamais te tiraria do seu conforto para falar besteiras. Até parece que não me conhece.

Domokos: Nunca se sabe, minha querida. Nunca é tarde para mudar... Mas então, a que devo o convite?

Barbara: A mulher que me deu a luz... Ela descobriu onde moro e foi até lá conversar comigo. Você foi sincero comigo ao dizer que ninguém sabia que eu estava em Budapeste.

Domokos: Imaginei que ela fosse te procurar.

Barbara: Você já sabia que ela estava na cidade?

Domokos: Esbarrei com ela há uns dias.

Barbara: Você não parece preocupado.

Domokos: E por qual motivo eu deveria estar? A Fatima não me interessa, mas você deveria estar preocupada com o seu amiguinho, o Konrad. Soube que ele está fazendo um verdadeiro caos.

Barbara: Aquele idiota tem sido uma pedra no sapato. Tem certeza que eu não posso matá-lo?

Domokos: Criança, você está sendo muito precipitada. Ele está se enforcando sozinho.

Barbara: Mas isso já é demais. Tem sido difícil colocar todas as provas contra ele.

Domokos: Preciso que tenha calma. Ele está bem aonde eu quero.

Barbara: Que é...?

Domokos: A prima dele, a Emese Angyal está me saindo melhor que a encomenda, está querendo nos dar uma dorzinha de cabeça. É uma questão de tempo até o Konrad enlouquecer de vez e querer matar a prima. É exatamente isso que eu quero que ele faça.

Barbara: Eu mesma posso acabar com essa cadela.

Domokos: Deixe o Konrad fazer o que precisa ser feito.

Cena 10 – Városliget – Dia.

Kimerul: Que brincadeira de mau gosto é essa?

Eva: Não é brincadeira nenhuma, Kimerul.

Kimerul: Se o corpo da Anita está no caixão da Melánia, aonde está o corpo da Melánia.

Eva: Kimerul, você ainda não entendeu, não é? A Melánia não está morta.

Kimerul: O que?

Eva: A Melánia forjou a própria morte para escapar do Domokos, o irmão do Kórnel.

Kimerul está pálido.

Cena 11 – Monster Grill – Ext. – Dia

Emese desce do carro. Lorenzo fecha a porta do veículo. Ela retira os óculos do rosto e fica olhando para a fachada. Todos os funcionários estão em frente ao Monster Grill. Eles começam um burburinho ao perceber a presença de Emese.

Lorenzo: Tem certeza que quer fazer isso?

Emese: Absoluta.

Lorenzo faz o sinal para os seguranças que abrem o porta-malas do carro e retiram galões de gasolina. Eles entram dentro do Monster Grill.

Emese (dirige-se aos funcionários): Não se preocupem. Todos vocês não ficarão desempregados. Estão todos contratados para trabalharem na Angyal Alimentos.

Os funcionários parecem não entender.

Cena 12 – Monster Grill – Int. – Dia.

Os seguranças de Emese despejam a gasolina por todo o lugar. A CAM os mostra jogando lentamente por todo o espaço. Eles quebram algumas cadeiras e também rasgam algumas cortinas, fazendo um amontoado no meio do local.    

Cena 13 - Monster Grill – Ext. – Dia

Emese e Lorenzo continuam olhando para a fachada do Monster Grill. Os seguranças surgem

SEGURANÇA 1: Já despejamos a gasolina por todo lugar.

Emese: Ótimo!

Emese mexe em sua bolsa e puxa um isqueiro. Ela se aproxima da entrada do Monster Grill. Ela ascende o isqueiro. Close em seu rosto e também na pequena chama do objeto.

Emese: Konrad, você irá queimar!

Ela joga o isqueiro. O fogo se alastra rapidamente por dentro do Monster Grill. Rapidamente é possível ver as chamas pelas janelas externas. Todos os ex-funcionários ficam em choque.

Cena 14 – Casa do Senador Fridrich – Escritório – Int. – Dia.

Silêncio. A CAM mostra o escritório aparentemente vazio. Lentamente, é mostrado alguns cantos do ambiente. A CAM faz um close brusco no rosto de Fridrich que está morto com um tiro no meio da testa. O sangue sai por sua boca e por detrás de sua cabeça.

O SENADOR FRIDRICH ESTÁ MORTO!

A História não tem conexão real com a realidade. O preconceito e o ódio jamais deverão ser aceitos em qualquer sociedade! Apologia ao Nazismo no Brasil é crime previsto no art. 20, da Lei nº 7.716/89 do Código Penal, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.

DENUNCIE!

Fim do Capítulo 22