A Promessa
CAPÍTULO 33
webnovela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
No capítulo anterior: Noemi e Elimeleque ficam indignados por Malom e Quiliom estarem interessados em sacerdotisas moabitas. Tamires tenta roubar a semente de trigo, mas cai em uma armadilha e fica ensopada de água. Salmon aparece e diz que dali em diante haverá outras armadilhas protegendo o local. No jantar, Noemi explica para Leila os problemas de os filhos se envolverem com Rute e Orfa. A Caravana da Morte continua a agir espalhando o terror. A contragosto, Noemi e Elimeleque se despedem dos filhos, que partem para o templo. Rute e Orfa os recebem, e eles entram.
FADE IN:
CENA 1: EXT. CASA DE SEGISMUNDO – FRENTE – NOITE
Tamires acompanha Segismundo, estão chegando na casa dele.
TAMIRES
Por que não diz de uma vez o que é, Segismundo?
SEGISMUNDO
Você vai já ver, mulher!
TAMIRES
É Tamires!
Segismundo então abre a porta e afasta para que ela entre. Ali na sala, todos os membros da Caravana aguardam ansiosos em volta da mesa repleta de comida. Carnes, ensopados, frutas, queijos, vinhos...
TAMIRES
Uau!... Isso é real mesmo?!
SEGISMUNDO
Totalmente. Vamos, entre... Os homens não aguentam mais esperar.
Segismundo entra e fecha a porta.
TAMIRES
Onde foi que conseguiram tudo isso?!
SEGISMUNDO
Interceptamos, nas redondezas, um casal de irmãos que fugiam da fome em seu vilarejo...
TAMIRES
Garantiu que eles não denunciassem?
SEGISMUNDO
No dia em que dois defuntos levantarem do fundo de precipícios e abrirem a boca eu me preocupo com isso.
Tamires faz que sim e volta a olhar para a mesa repleta.
Com seu tradicional olhar doentio, Besta Louca olha da mesa para Segismundo, aguardando a autorização. Montanha, ao seu lado, idem, porém parece mais aflito. Gael, à exceção de todos, aguarda sentado em um canto.
MONTANHA
Senhor, uma pessoa do meu tamanho não pode esperar muito...
SEGISMUNDO
Claro, claro... E você merece. Vocês todos merecem! Vamos, homens, atacam!
Todos eles se levantam, mas paralisam quando Tamires grita.
TAMIRES
EI!!!
Eles a encaram.
TAMIRES
Como criadora de tudo isso, eu tenho o direito de chegar primeiro à mesa. Segismundo sabe disso.
Os homens olham para o chefe, que, a contragosto, faz que sim. Cheia de si e sem pressa, Tamires pega um prato e o enche com as melhores partes de tudo o que há ali. Em seguida sorri para eles e vai para perto de Gael.
SEGISMUNDO
Vão, vão...
Visivelmente irritados, os homens finalmente atacam a comida. Tamires se senta.
TAMIRES
Olá, Gael.
GAEL
Olá.
Contente, Tamires começa a comer. Gael a observa com sua expressão de sempre.
CENA 2: INT. CASA DE LEILA – LOJA – NOITE
Noemi, aflita, anda de um lado para o outro enquanto Elimeleque tenta consolá-la.
ELIMELEQUE
Meu amor, não fique assim...
NOEMI
Como, Elimeleque? Como?!
ELIMELEQUE
Confie primeiramente em Deus e depois na índole de nossos filhos!
NOEMI
O problema não são eles, mas essas moabitas!
CENA 3: INT. TEMPLO – PÁTIO – NOITE
Guiados por Rute e Orfa, Malom e Quiliom observam admirados a grandiosidade do pátio. Afastado dali, um grande tanque com pequenos barquinhos deslizando sobre as águas conforme a brisa.
MALOM
É um lugar muito belo.
QUILIOM
Formidável.
MALOM
À altura das sacerdotisas.
Elas sorriem e, naturalmente, Rute tende a se aproximar de Malom e Orfa de Quiliom.
Continuam caminhando devagar e fazendo pequenos comentários, e cada vez mais os dois casais vão tomando direções diferentes.
Então um servo, carregando uma bandeja com taças de prata, passa por ali. Mas se distrai ao olhar para os visitantes e acaba por tropeçar e derrubar os objetos. Todos se assustam e olham para ele.
ORFA
(para Quiliom) Ah, que incompetente!... (para o servo) Ficou louco?! Sabe o valor das peças que carregava?!
SERVO
Perdão, minhas senhoras, me perdoem! Eu me distraí, não vi o chão à minha frente--
ORFA
(interrompendo) Talvez chamando um guarda para lhe dar a lição que merece você deixa de se distrair e faz seu serviço direito.
SERVO
Perdão...
MALOM
(para Orfa) Não faça isso!
Orfa então olha para ele; por um tempo, todos fazem o mesmo.
Rute, querendo quebrar o constrangimento, se afasta.
RUTE
Venha.
Malom a segue e eles vão até um banco embaixo de uma árvore, onde se sentam.
ORFA
(para o servo) Limpe tudo e vá.
O servo obedece enquanto Orfa e Quiliom vão para outro banco, a algumas dezenas de metros de Rute e Malom.
RUTE
Você é contra disciplinar servos?
Malom a olha, pensando no que responder.
MALOM
Talvez eu não deva responder... Posso ofendê-la.
RUTE
Não mais do que já ofendeu Orfa.
Malom a encara...
ABERTURA
CENA 4: EXT. TEMPLO – PÁTIO – NOITE
Quiliom olha para Orfa e, um tanto nervoso, se ajeita. Ela, por sua vez, mantém a postura fina.
QUILIOM
Então você é... sacerdotisa.
ORFA
Sim... Já faz muito tempo.
QUILIOM
Muito?... Quanto?
ORFA
Bom, pouco depois que nascemos, Rute e eu fomos trazidas ao templo por nossos pais, como forma de adoração aos deuses.
QUILIOM
Então vocês... são irmãs?
ORFA
(rindo) Não, não... Simplesmente aconteceu que viemos na mesma época. Mas somos como irmãs, sim.
QUILIOM
Mas então não sabem quem são seus pais...
ORFA
Uma vez Rute e eu fomos atrás e descobrimos que já estavam todos mortos, tantos os dela quantos os meus.
QUILIOM
Eu sinto muito...
ORFA
Oh, não se preocupe com isso.
No outro banco, Rute e Malom continuam a conversar.
RUTE
É evidente que você não é adepto da violência.
MALOM
Não mesmo. A não ser quando ela é extremamente necessária.
RUTE
E quanto aos sacrifícios humanos?
MALOM
Uma abominação.
Rute perde as palavras e apenas o encara. Admirada, ela se ajeita no banco, mais de frente para ele.
RUTE
Como “abominação”? Como... Como chegou a esse pensamento?
MALOM
Pela crença em um Deus misericordioso. A violência vai contra os mandamentos de Deus.
RUTE
Deus... Que deus é esse? Mostre-me, por favor!
MALOM
Não é assim que funciona. Ele é invisível.
Por alguns segundos ela o encara... e então ri. Ri...
RUTE
Você é engraçado...
Malom não fica nervoso.
MALOM
Desculpe-me, mas não estou brincando. É a verdade.
Rute para de rir e olha novamente para ele.
RUTE
Certo... E esse Deus tem um nome?
MALOM
Bom, ele é conhecido por alguns... Elohim, Adonai, Jeová... Mas o nome não é o que mais importa.
No outro banco...
QUILIOM
E o que vocês fazem aqui? Vocês têm uma casa?
ORFA
Nós somos sacerdotisas, temos muitas funções. Não tantas como a grande Sacerdotisa Myra, e nada se comparar ao Sumo Sacerdote Faruk, mas somos responsáveis pelas preparações dos santuários para rituais, sacrifícios, auxiliamos nas seleções de novos envolvidos na arte do sacerdócio, temos nossos momentos de orações... Nosso compromisso é trabalhar com os deuses... em função do reino. Portanto, moramos, vivemos aqui.
QUILIOM
Devem ter um dia bem corrido...
ORFA
(sorrindo) Um pouco... Mas vocês comentaram... São hebreus...
QUILIOM
Sim...
ORFA
E por que decidiram vir para Moabe? O que aconteceu?...
QUILIOM
Uma fome gravíssima acometeu nossa terra... Não tivemos escolha a não ser partir... E Moabe é o reino próspero mais próximo de nossa cidade, Belém.
ORFA
Como é que seus deuses deixaram isso acontecer?
QUILIOM
O único Deus castigou nosso povo por imensa corrupção e idolatria.
ORFA
Ah, é verdade... Eu me recordo: os hebreus adoram apenas o Deus invisível.
Quiliom faz que sim.
No banco de Rute e Malom...
RUTE
Eu ainda estou admirada de você não ter esse Deus no bolso para carregar por onde for... Todos os moabitas tem um.
MALOM
Me responda uma coisa... Como você faz quando precisa orar aos deuses?
RUTE
Eu vou até o santuário.
MALOM
Certo. E como é que um soldado ferido em batalha ou então alguém que se acidenta no campo faria para pedir ajuda?
Rute então fica pensativa.
MALOM
Como é que um deus cuja cabeça se quebra pode curar os ossos partidos de seus servos?
Rute tenta falar, mas perde as palavras. Então engole e finalmente fala.
RUTE
Pra vocês hebreus essa tarefa também é impossível, pois se o seu Deus é invisível, não fazem ideia de onde Ele está.
MALOM
Aí é que está o segredo... Ele está em todos os lugares, ao mesmo tempo.
Rute fica admirada... Olha para o lado, refletindo no que ouviu.
Nesse momento, Myra chega ao pátio. Ao percebê-la, Rute e Orfa, cada uma em seu banco, põe-se de pé. Myra se aproxima e fica a uma distância igual das duas. Por respeito, Malom e Quiliom também se levantam.
MYRA
Sacerdotisas...
RUTE
Sim, minha senhora...
MYRA
Preciso que vocês me acompanhem. Vamos fazer uma oração aos deuses com o rei.
ORFA
Certo.
RUTE
Entendido.
MYRA
Esperarei por vocês.
Orfa e Rute viram para seus pares.
ORFA
Preciso ir. Com licença. Tenha uma boa noite, Quiliom.
Quiliom fica sem saber o que dizer.
RUTE
Eu quero encontrá-lo novamente.
Malom sorri.
MALOM
Eu já ia dizer isso.
RUTE
Amanhã.
MALOM
Eu virei.
RUTE
Então até amanhã.
Rute faz uma pequeno aceno com a cabeça e sai. Orfa se afasta de Quiliom.
QUILIOM
Espere.
Ela para e ele se reaproxima dela.
QUILIOM
Eu voltarei para vê-la.
Orfa faz que sim e sai novamente. As duas alcançam Myra e as três vão, com Myra no meio e um pouco à frente.
MYRA
Quem são eles?
ORFA
(olhando para Rute) Sacerdotes hebreus...
MYRA
Hebreus no reino?
RUTE
Recentemente uma pequena família chegou à cidade. E nós queremos aprender mais sobre os deuses de outras nações.
MYRA
É uma intenção muito boa essa de vocês. Mas lembrem-se: jamais devem dar as costas aos nossos deuses.
RUTE
Claro, senhora...
ORFA
Isso está completamente fora de cogitação.
MYRA
Ótimo.
Rute e Orfa se entreolham e as três continuam a andar. IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Rute reflete sobre as coisas que Malom lhe contou, os homens da Caravana começam a fazer gracinhas com Tamires e Elimeleque prepara uma surpresa para Noemi.
Obrigado pelo seu comentário!