CAPÍTULO 41
(Últimas Semanas)
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Restante do Capítulo 57 + Parte do Capítulo 58 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: INT. CASA DE BOAZ – SALA – NOITE
Boaz está à mesa analisando os relatórios das plantações quando Josias volta da rua.
JOSIAS — Boaz...
Boaz olha para ele.
BOAZ — Sim?...
JOSIAS — Boaz, você se lembra daquela mulher chamada Noemi?... Esposa do primo do seu primo...
BOAZ — Sim, sim, claro... Eles saíram de Belém na mesma ocasião em que chegamos.
JOSIAS — Exatamente.
BOAZ — Tani e ela são grandes amigas. Elas mantém contato por carta.
JOSIAS — Isso. Já faz muito tempo que ela foi embora, não é?
BOAZ — Estamos aqui há 10 anos... Bastante tempo.
JOSIAS — Pois bem. Eu voltei da entrada da cidade... E ela estava lá.
BOAZ — Noemi? Mesmo?!
JOSIAS — Sim, ela voltou para Belém. Está com sua nora, também viúva.
BOAZ — Que coisa... Tani nem comentou nada...
JOSIAS — Ah, se Tani soubesse certamente teria espalhado para nós todos. Ela deve ter vindo sem anunciar.
BOAZ — Poxa, que notícia boa...
Mas seu semblante então muda para pesar.
BOAZ — Pobre Noemi... e sua nora. Ter que voltar sem seus maridos... Principalmente Noemi, que viveu tantos anos aqui com ele. Não sei se lembra, mas Tani demorou a sair do período de luto. Ela e Elimeleque já haviam trabalhado juntos, quando eram jovens, em uma caravana de comerciantes.
JOSIAS — Eu me lembro que ela demorou para se recuperar. Foi pesado para ela receber a notícia por carta.
BOAZ — Eu sou parente de Noemi. Ainda que distante...
JOSIAS — Boaz... Então não seria você o remidor da família?
BOAZ — Não, acredito que não. Neb é o mais próximo da família. Ele é primo de Elimeleque em primeiro grau.
JOSIAS — Neb vai gostar de saber disso. Poder comprar boas terras por um preço justo...
BOAZ — É, mas tem o casamento, também.
JOSIAS — Sim...
BOAZ — Ainda bem que é Neb o remidor. Imagine só, se casar com uma pessoa apenas pela obrigação da lei... Ainda mais alguém como eu, que busca a mulher certa, a mulher preparada por Deus.
JOSIAS — Se você fosse o remidor, não cumpriria com sua obrigação?
BOAZ — É claro que eu cumpriria. A lei é do Senhor. Me casaria e amaria a viúva de todo o meu coração. Mas... se eu pudesse escolher... não faria assim, dessa forma. Ainda bem que há o Neb...
Josias ri.
JOSIAS — Ainda bem.
CENA 2: EXT. CASA DE NOEMI – ARREDORES – NOITE
Com parte do povo ainda as acompanhando, Tani, Noemi e Rute se aproximam da antiga casa de Noemi. Ao ver a residência, um caminhão de nostalgia a atinge e ela chora. Rute e Tani a ajudam a continuar. Elas se aproximam mais. Tani abre a porta com cuidado e Noemi, chorosa, observa. Tani entra na frente.
RUTE — Entre em sua casa, senhora Noemi...
Segurada por Rute, Noemi entra devagar. Observa a tudo com os olhos marejados, mas bem abertos. Tani acende alguns pontos de fogo e Noemi consegue observar a tudo.
TANI — Eu tenho cuidado da casa em todos esses anos, mas nem sempre posso... Ainda mais agora, em época de colheita... Se eu soubesse que viria, Noemi, teria limpado tudo.
Apesar de um pouco de poeira e algumas teias de aranha, a sala vazia está bem conservada para uma casa que passou 10 anos sem habitantes. Rute então fecha a porta.
CENA 3: INT. CASA DE NOEMI – SALA – NOITE
Noemi dá mais alguns passos. Parece hipnotizada pelas paredes, pelos cantos, pela escadaria... Vozes de pessoas, dos filhos, de Elimeleque, de conversas jogadas fora, de risadas, parecem emergir do passado distante... Rute leva Noemi até a mesa.
RUTE — Sente-se, Noemi. A senhora precisa... Caminhamos tanto...
Noemi se senta, respira fundo e continua a observar a tudo.
NOEMI — Estamos acabadas...
Tani volta da cozinha.
TANI — (preocupada) O que está dizendo, Noemi?...
NOEMI — Disse a Rute que estamos acabadas. Não temos nada.
Tani a observa por alguns segundos.
TANI — Darei jeito de ajuda-las.
NOEMI — De jeito nenhum, Tani! Não é justo! Onde que--
TANI — (interrompendo) Imagine que eu deixaria minha amiga sem nada! Vou falar com o senhor Boaz ainda hoje!
NOEMI — Não!
Tani franze o cenho.
NOEMI — Nós vamos nos virar com o que temos.
Rute respira fundo.
RUTE — Senhora Tani... Será que a senhora pode levar Noemi para descansar e respirar em algum lugar tranquilo? Vou tentar organizar nossas coisas, limpar a casa no que der...
TANI — Você não quer ajuda? Eu já estou acostumada a limpar essa casa.
RUTE — Acho que minha sogra precisará da senhora mais do que eu.
TANI — Tudo bem... Vamos, minha amiga.
Noemi olha para Rute.
NOEMI — Deus te abençoe.
RUTE — Amém.
Rute beija a mão de Noemi, que se levanta e sai emocionada e devagar com Tani.
Rute, preocupada com Noemi, olha para os lados, pensando por onde começa.
Nas horas seguintes, Rute limpa a sala, a cozinha, os quartos em cima, organiza as coisas pessoais que elas trouxeram, decora os cômodos com as poucas coisas que elas têm...
Noemi e Tani voltam.
TANI — Nossa, a casa pode não ter muita coisa... Mas está brilhando!
NOEMI — Rute é caprichosa. A casa dela em Moabe era mais limpa que o palácio do rei.
Elas riem.
RUTE — Bom... Eu gostaria agora que nós orássemos. Agradecendo pela viagem, pelos livramentos, por termos chegado bem, em paz...
NOEMI — Isso é mesmo necessário?
Tani aperta os beiços com pesar.
RUTE — (paciente) Sim.
Noemi respira fundo.
NOEMI — Então vamos...
Elas se ajoelham e fecham os olhos. Noemi então respira bem fundo... e abre a boca para começar a orar, mas é interrompida por Rute. Surpresa, Noemi abre os olhos e olha para a nora.
RUTE — Senhor, nosso eterno e bom Deus, Pai Criador dos céus e da Terra!
Rute continua. Noemi não esperava que ela fosse tomar a frente e orar... Então fecha os olhos e escuta a oração de gratidão de Rute.
CENA 4: INT. PALÁCIO – PRISÃO – NOITE
Sozinha na escuridão e umidade de sua cela, Orfa, meio deitada, meio sentada, olha para o alto enquanto ora aos seus deuses. Lágrimas escorrem de seus olhos e riscam seu rosto pálido.
ORFA — Baal, deus dos deuses... Grande e supremo... Absoluto e inigualável Baal... Tenha piedade, ouça a oração dessa tua serva... Já há muito tempo estou aqui... trancafiada, abandonada... injustamente... Tu sabes...
Ela funga muito.
ORFA — Eu te peço apenas que seja como nas histórias a teu respeito... Arranca-me desse lugar... Ou use de sua esperteza para me livrar dessa prisão... Minha alma está angustiada... Não aguento mais sofrer... Não está sendo fácil... Por favor...
Sem forças, Orfa cai de vez e, deitada, chora amargamente.
CENA 5: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
A noite passa... e um novo dia amanhece.
Sentadas à mesa, Noemi e Rute comem pão e frutas.
RUTE — Hum... Eu estava morrendo de fome... Sem falar da saudade desse sabor... E vou falar que o pão daqui é ainda mais delicioso. A textura também, hummm... Que perfeito! Tani foi muito generosa em nos trazer essas porções. Pude presenciar todas as coisas boas que a senhora dizia sobre ela.
NOEMI — É, Rute, mas eu não quero ficar dependendo de ninguém.
RUTE — Senhora... Não seja assim...
Noemi engole em seco.
NOEMI — Desculpe... Vou tentar passar menos a minha amargura para você. Não merece ouvir isso.
Rute então parece se lembrar de algo.
RUTE — Senhora... é isso!...
NOEMI — O que foi, Rute?...
RUTE — O que a senhora me falou sobre os estrangeiros, sobre pegarem as sobras das colheitas...
NOEMI — Hum...
RUTE — É início da colheita de cevada, começa hoje!
NOEMI — Já entendi. Quer que eu vá pegar desses restos, pois a lei é para os estrangeiros e para os necessitados.
RUTE — Não quero que a senhora vá.
Noemi franze o cenho.
RUTE — Deixa-me ir ao campo, e apanharei espigas atrás do trabalhador que me permitir.
Noemi a encara. Sorri minimamente enquanto respira fundo bem devagar.
NOEMI — Vai, minha filha.
Rute, animada, sorri.
CENA 6: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
A Sumo Sacerdotisa Myra, aos pés do trono, fala com o rei Zylom.
MYRA — Meu senhor, eu lhe imploro: não torture Orfa. Ela já foi sacerdotisa, e isso pode afetar a nossa relação com os deuses.
ZYLOM — Do que está falando, Myra?!
MYRA — Eu tive um sonho, e essa foi a minha interpretação. Agredir alguém como ela, ainda que uma ex-sacerdotisa, pode irritar os deuses e comprometer o nosso futuro.
ZYLOM — Myra, diga-me... Você não está inventando isso, está? Teve mesmo esse sonho?
MYRA — Mas é claro que sim, meu rei. Eu não faria isso, mentir... ainda usando os deuses. Com todo o respeito, eu sou a Sumo Sacerdotisa. Sei da importância do cargo que ocupo, soberano.
ZYLOM — Você deve ter interpretado errado o seu sonho. Sua análise deve ter sido puxada pelos seus interesses, mas tudo bem. Todos somos falhos e susceptíveis a tais práticas, não é?
MYRA — Nesse caso, meu senhor, aguarde a chegada dos magos, astrólogos e feiticeiros estrangeiros. Além de poderem interpretar o sonho de vossa majestade, poderão também adivinhar a localização de Rute.
ZYLOM — Até lá pode já ser tarde demais.
Myra engole em seco.
ZYLOM — Se Orfa não disser e os soldados não encontrarem Rute, eu matarei Orfa. Assim, a dívida de prisão das duas estará quitada.
Myra faz que sim suavemente, tentando disfarçar sua desaprovação àquela ideia.
CENA 7: INT. CASA DE BOAZ – SALA – DIA
Tani serve Boaz, que desjejua.
TANI — Está animado para o primeiro dia de colheita, senhor Boaz?
BOAZ — Muito, Tani! Além do que pode imaginar! Até porque esse é um ano ainda mais abençoado por Deus!
TANI — (sorridente) Que maravilha, senhor. Também estou tão alegre... As moças estão muito habilidosas na colheita, já nem precisam de muita orientação minha.
BOAZ — Que o Senhor as abençoe!
TANI — Amém. (pequena pausa) Senhor, me permite levar mais uma porção dessa para Noemi, a minha amiga recém-chegada? Não sei se estão precisando de mais...
BOAZ — Claro, Tani, claro! Leve! Ponha um pouco desse doce também.
TANI — Muito obrigada, senhor.
Tani pega as coisas e sai.
CENA 8: EXT. BELÉM – PLANTAÇÕES DE CEVADA – DIA
Começa a colheita!
Felizes, os trabalhadores se espalham pelos inúmeros campos a perder de vista e começam a colheita da cevada. Em cada mão, a ânsia em sentir a textura das espigas. Em cada cesto, a expectativa prestes a ser atendida. Em cada rosto, a felicidade e a gratidão por uma fartura além do imaginado!
CENA 9: EXT. BELÉM – RUAS – DIA
Rute, segurando um cesto, passa pelos belemitas com um semblante agradável, olhando admirada as simples barracas de vendas, o vai e vem do povo, o modo de vida local. Por fim, ela passa pelo portão e sai para os campos.
CENA 10: EXT. BELÉM – PLANTAÇÕES DE CEVADA – DIA
Rute entra na primeira plantação de cevada. Alguns homens e mulheres, sabendo que ela é a tal nora moabita de Noemi, não se importam em observá-la por um bom tempo. Ela começa a se constranger. Abaixa o olhar e segue, procurando algum trabalhador colhendo para poder segui-lo e apanhar as sobras do chão.
Rute passa por diversos campos de cevada, todos com vários trabalhadores, mas não encontra absolutamente nenhuma espiga caída pelo caminho. No entanto, continua a andar. E o povo, a observá-la.
CENA 11: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – DIA
Pensando ser apenas mais um, Rute adentra os limites do campo de cevada de Boaz. Nesse, dezenas e dezenas de homens e mulheres colhem espigas para todos os lados. E, para sua surpresa, logo nota algumas caídas pelo caminho. Sorri, se aproxima e as pega. Admira-as em sua mão, são formosas... Então coloca-as em seu cesto e continua.
Logo ela nota, perto dali, Josias, que também a nota. Rute então se aproxima devagar. Ao chegar perto dele, olha para baixo.
RUTE — Shalom, meu senhor.
JOSIAS — (sorrindo) Shalom. Rute... é isso? Eu me lembro de você.
Rute, simpática e respeitosa, permanece com o olhar abaixado.
JOSIAS — É a nora de Noemi...
RUTE — Sim. É isso mesmo, senhor.
JOSIAS — Muito bem. Eu me chamo Josias. No que posso ajuda-la, Rute?
RUTE — O senhor é o dono desse campo?
JOSIAS — Não, eu sou apenas o administrador. Ele pertence a um amigo.
RUTE — Como sabe, senhor, eu sou moabita. Portanto, peço que deixa-me colher espigas e ajuntá-las entre os montes das ceifadas, após os trabalhadores ajuntarem as suas colheitas.
JOSIAS — Mas é claro. Fique à vontade, Rute. O campo é vasto, você pode ir onde quiser. Apanhe o quanto encontrar, sinta-se em sua terra.
Rute olha para ele e sorri.
RUTE — Obrigada, senhor.
Ele faz um movimento respeitoso com a cabeça.
JOSIAS — Se precisar beber água, é só ir até aquela tenda.
RUTE — Muito obrigada.
Rute então vira e sai para trabalhar. Por quase todos os caminhos por que ela passa, encontra diversas espigas bonitas caídas. Apanha-as e, pouco a pouco, vai enchendo o seu cesto. Ela olha para o céu.
RUTE — Obriga, meu Senhor. Deus único que rege os meus caminhos hoje e eternamente! (sorrindo) Obrigada!
E continua a apanhar as espigas.
CENA 12: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Noemi e Tani estão sentadas à mesa.
NOEMI — Apesar de agradecer muito pela sua generosidade, Tani, eu não quero você se preocupando e tirando coisas da casa de Boaz para nos alimentar.
TANI — Noemi, mas que orgulho é esse?!
NOEMI — Não se trata de orgulho, é só que não há necessidade de se fazer isso. Pense que Deus vai me ajudar. Você não crê nele?
TANI — Apesar de, superficialmente, essas parecerem palavras de fé, eu sinto, na verdade, apenas ironia e revolta.
Noemi respira fundo.
NOEMI — E como poderia ser diferente?
TANI — Noemi... Mas poxa vida... Essa não é você... Cadê a minha amiga? Onde ela está?! A Noemi de verdade, a mulher de fé que eu conheci! Cadê ela?!
NOEMI — Morreu, Tani. Foi sepultada junto às suas desilusões de mocidade. Aquela Noemi pertencia àquele tempo. Agora quem está aqui, sentada nessa mesa falando com você, é Mara!
TANI — Isso não está certo! Você não pode se entregar dessa forma, Noemi! Elimeleque não iria querer isso! Deus não quer isso!
NOEMI — Rá, se não quisesse não me teria feito todas essas coisas!
Tani, aflita, não diz nada. Um mal-estar no ar...
NOEMI — Me desculpe, Tani. Vamos falar de outra coisa...
TANI — Nós temos muito o que falar, mas muito mesmo. São 10 anos para se colocar em dia. Mas agora, infelizmente, eu preciso ir. Estou trabalhando na plantação de Boaz e a colheita começa hoje. Na verdade estou atrasada!...
Tani se levanta.
TANI — Shalom, Noemi. E juízo, pelo amor de Deus!
NOEMI — Shalom, Tani.
Tani beija o rosto de Noemi e sai.
CENA 13: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE TAMIRES – DIA
Neb, pronto para sair, se aproxima da cama, onde Tamires ainda está deitada.
NEB — Beijos... Até mais tarde.
Ele a beija rapidamente, mas ela o puxa e dá um beijo mais demorado. Ele vai se afastando, mas ela o puxa de novo.
NEB — Tamires... Eu preciso ir. Preciso aproveitar o princípio da colheita e o alvoroço da cidade por causa do retorno de Noemi.
TAMIRES — Ahhh... Que chatice, Neb.
Ele dá nela um último e rápido beijo e vai para a porta; sai.
TAMIRES — Até meu homem Noemi tira de mim...
Tamires respira fundo.
TAMIRES — Então é assim que vai me tratar, Neb... Tudo bem... Tudo bem.
Ressentida e perdida em pensamentos, ela encara o nada.
CENA 14: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Jurandir e Diana andam entre o povo. Ele para e ela o olha.
JURANDIR — Escute, Diana. Eu vou sair da cidade, vou atrás de algum campo e ver o que posso fazer para conseguir algumas espigas. Quanto a você, fique longe de problemas, que têm nome: Josias!
DIANA — Fique tranquilo, meu pai. (apontando algumas barracas) Vou apenas comprar minhas coisas.
JURANDIR — Que coisas?
DIANA — Coisas de mulher, pai. Não vai querer especular isso, vai?
JURANDIR — Rum. Pois bem. Shalom.
Jurandir beija a testa da filha.
DIANA — Shalom.
Ele sai. Por alguns instantes ela o observa se afastar... e então toma outra direção que não a das barracas.
CENA 15: EXT. VILA – DIA
Segismundo e Gael caminham tranquilamente pela vila. Para todos os lados há homens da Caravana da Morte dormindo. Espalhados pelo chão, sobre mesas, escorados em casas e árvores... Alguns se mexem, querendo acordar...
SEGISMUNDO — Bando de idiotas.
Não muito longe dali, no lado de fora do paiol de armamento, o guarda fala consigo mesmo.
HOMEM — Todo mundo nessa vila dormindo, mas eu não posso. Tenho que ficar bem acordado... Rum. Não sei se vou aguentar essa nova função...
VOZ (O.S.) — (atrás) Está reclamando?
Assustado, ele olha imediatamente para trás. Uma figura alta e esguia, coberta por um tecido e um capuz preto, e com o rosto oculto por uma máscara de ferro com um semblante de desdém esculpido, está ali parada, observando-o.
HOMEM — (assustado) Que isso?!... Quem é você?!
FIGURA — Aquele a quem vocês chamam de Assassino.
HOMEM — Quê...
A figura continua parada.
HOMEM — Você... matou todos aqueles homens...
ASSASSINO — Agora é a hora de todo o restante.
Com um rápido e gracioso movimento, um punhal sai da manga do Assassino e corta o pescoço do homem, que, sangrando, cai aflito no chão. Mas, nesse momento, um homem bêbado recém-acordado passa por ali e presencia a cena.
RECÉM-ACORDADO — (apavorado com o Assassino) Socorro! Socorro! O Assassino!
Rapidamente o Assassino lança uma lâmina no peito do recém-acordado, que cai morto. De onde estão, Segismundo e Gael escutam a denúncia.
SEGISMUNDO — Ouviu isso, Gael?! Ouviu isso???!!!
GAEL — Acalme-se, Segismundo.
SEGISMUNDO — Acalmar?! Enlouqueceu???!!!
Segismundo começa a correr, chamando a todos os homens que dormem espalhados.
SEGISMUNDO — Acordem! Acordem! Rápido! Já! Acordem! Todos de pé, em forma! Rápido, agora, de pé! De pé! Rápido! Levantem!
3 homens também recém-acordados e empunhando suas espadas se aproximam de onde o Assassino está. Tentam não temer o semblante de ironia presente na máscara e atacam, mas não têm chance. Golpes, defesas, rapidez... Pouco depois, o Assassino mata os 3 com um único golpe de espada em todas as gargantas; eles caem.
SEGISMUNDO — Rápido, depressa! O Assassino está na vila, está atacando! Todos! Atrás desse maldito! Agora, rápido!
O Assassino finalmente aparece no centro, onde a maioria dorme, e começa a atirar lâminas, matando a vários com facilidade, por conta de estarem adormecidos ou grogues de sono. Segismundo, apavorado, saca sua espada, mas começa a se distanciar. Outros homens atacam o Assassino, apenas para perderem suas espadas e serem cravados por elas.
GAEL — Segismundo, vamos sair daqui...
SEGISMUNDO — Corra!...
Alguns arqueiros sobem em suas casas e começam a atirar flechas contra o Assassino. Mas elas apenas batem em sua roupa e cai, como se houvesse embaixo um metal protegendo-o.
Os homens, assustados, pegam qualquer arma que encontram pelo caminho e atacam a figura misteriosa em grupos... O tempo é um pouco maior, mas o resultado é o mesmo: com golpes rápidos e precisos, o Assassino mata a todos.
SEGISMUNDO — (horrorizado) É um massacre!...
GAEL — Vamos, Segismundo!
Segismundo e Gael correm para longe da vila enquanto mais e mais homens são mortos com facilidade pelo Assassino. Esse, ao ver os líderes do grupo escapando, joga um punhal, que é impedido no ar, pela espada de Gael, de acertar Segismundo. Ambos olham rapidamente para trás, e uma multidão de recém-acordados de ressaca começa a cercar o Assassino.
ASSASSINO — Ah, agora será divertido...
Os homens então gritam e se aproximam para feri-lo com suas espadas, mas ele aguenta todos as investidas, de todos os lados. E, de vez em quando, atravessa um com sua espada. Em outro momento corta uma mão, rasga um pescoço...
Segismundo, Gael e seus homens mais próximos montam em cavalos aleatórios e partem dali o mais rapidamente possível.
Por conta da fuga dos grandes, o Assassino começa a se desconcentrar dos inimigos que o cercam, e tem o tecido que o cobre rasgado em alguns pontos.
ASSASSINO — (pensando) Pego eles depois!..
Então ele se entrega de corpo e espírito àquele confronto. Mais e mais homens da Caravana vão sendo mortos de forma violenta e rápida. Mas também mais parecem surgir para tentar impedi-lo.
CENA 16: EXT. DESERTO – DIA
Os homens guardam rotineiramente o perímetro em volta da vila. Segismundo e seus homens chegam ali cavalgando e mal param.
SEGISMUNDO — Avancem à vila! Abandonem o perímetro e vão imediatamente para a vila! Agora! Rápido!
CENA 17: EXT. VILA – DIA
O Assassino arranca sua espada do último derrotado. Respirando ofegante, olha para a orla da vila: mais homens, os guardas do perímetro, se aproximam.
ASSASSINO — Venham.
Ele se prepara. Pega algumas coisas espalhadas. De repente os homens começam a correr em sua direção. Ele então atira objetos, que acertam violentamente a testa dos primeiros.
Os outros se aproximam e o atacam. Da mesma maneira, um a um vai sendo morto. Ele arranca o punhal de um e finca em sua garganta, depois desvia de um golpe, dá uma cotovelada, gira a espada, bloqueia, ataca...
Por fim, o último cai de joelhos diante do Assassino; ele lhe decepa a cabeça.
Então a figura misteriosa circula pelo local repleto de corpos. Cansado, usa uma tocha para atear fogo em tudo ao redor.
Pouco depois, as chamas já se alastraram e as casas são consumidas pelo fogo.
Então o Assassino para e contempla a vila sendo completamente destruída pelo incêndio. Satisfeito, ele vira e vai embora. No geral de destruição, IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!