CAPÍTULO 42
(Últimas Semanas)
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Restante do Capítulo 58 + Parte do Capítulo 59 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – DIA
Jurandir está andando por ali quando nota Tani orientando algumas moças que colhem; se aproxima dela.
JURANDIR — Shalom... Com licença...
Tani olha para ele e seu semblante muda e suas pupilas dilatam... E Jurandir fica visivelmente tocado pela beleza dela; sorri. Josias, perto dali, percebe os dois e se esconde atrás de uma árvore, ouvindo tudo.
TANI — Shalom...
JURANDIR — Eu... gostaria de saber... se pode me ajudar. Cheguei a Belém com minha filha tem pouco tempo, mas ainda não consegui nada duradouro... Gostaria de saber com quem falar sobre trabalho nesse campo.
TANI — (sorrindo) Ah, claro... Há sim. Um rapaz, eu vou chama-lo... Josias! Josias!
Jurandir franze o cenho e olha para os lados, à procura de Josias. Esse, atrás da árvore, lamenta ser chamado... então respira fundo e sai. Eles não o notam até ele chegar ali.
JOSIAS — Tani...
Jurandir, meio confuso, meio revoltado, olha para ele.
TANI — Esse é Josias, o administrador desse campo. O senhor pode falar com ele.
Josias, constrangido, encara Jurandir, já com outra postura.
CENA 2: EXT. DESERTO – CAVERNA – DIA
Segismundo, Gael e alguns homens da Caravana chegam ali, descem de seus cavalos e entram rapidamente na caverna.
CENA 3: INT. DESERTO – CAVERNA – DIA
Eles entram atordoados.
SEGISMUNDO — Como é possível alguém lutar daquele jeito?!
MONTANHA — Não deve ser uma pessoa!...
GAEL — Não digam besteiras. É só um grande lutador.
SEGISMUNDO — “Só”. Francamente, Gael!
BESTA LOUCA — Todos os companheiros estão mortos.
GAEL — Todos os que ficaram... A Caravana agora... somos só nós.
MEMBRO — Meu Deus...
SEGISMUNDO — Um só homem... Um!
Ainda muito afetados, eles se encaram.
CENA 4: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – DIA
Josias logo quebra o olhar com Jurandir, corre até um monte colhido, pega vários feixes, além de um cesto, e os traz para Jurandir.
JOSIAS — Senhor... Aqui está. As primícias da colheita. O senhor pode levar tudo. Para o senhor e para sua filha. Podem se alimentar sem preocupações. Pra que não precise trabalhar hoje...
Tani sorri com a generosidade de Josias. Jurandir, no entanto, piora seu semblante e se aproxima mais do rapaz. Josias começa a se preocupar. O homem então pega todas as coisas que Josias lhe deu e joga no chão. Então começa a pisar e amassar com toda sua raiva e desprezo... Tani, assustada, mal sabe o que dizer. Josias, frustrado, lamenta com o olhar. Jurandir continua a destruir as primícias da colheita com seus pés.
JURANDIR — Eu não quero e não preciso de nada vindo de alguém como você! De um membro daquela família suja, imunda, maldita! Minha vida e meu sustento não dependem de você. Eu tenho força! Disposição! E capacidade de trabalhar! Não ousaria dar de comer à minha filha e a mim um alimento manchado pelas suas mãos podres!
Jurandir cospe no chão. Tani está horrorizada.
JURANDIR — (para ela) Por favor, me perdoe. Agradeço sua atenção, mas vou trabalhar em outro campo.
Jurandir sai imediatamente. Os olhos de Josias parecem marejar.
TANI — Mas o que foi isso, Josias?! Quem é esse homem?! Algum maluco, um lunático?!
JOSIAS — É o Jurandir. Pai de Diana...
TANI — Meu Deus!... Não imaginava!...
JOSIAS — Eu faço de tudo, Tani. Faço de tudo para mostrar que só tenho boas intenções, mas o velho não quer nem saber...
Tocada pela situação dele, Tani se aproxima e acaricia o cabelo de Josias, choroso.
O dia continua passando...
Em determinado momento, Rute vai até a tenda e bebe água. Tani, ali perto, sorri para ela, que retribui. Com a sede aplacada e o ânimo renovado, Rute volta e continua a encher o seu cesto. Trabalha sem parar.
Mais tarde um pouco, Boaz chega em seu campo. Passa pelos trabalhadores, homens e mulheres, os cumprimenta, sorri para eles... até que ele nota a moça que, aos seus olhos, se destaca de todas outras pessoas...
Como que em velocidade baixíssima, Boaz cruza o campo, mas os seus olhos não saem do rosto de Rute... Está encantado... o rosto, os olhos, o cabelo, as mãos delicadas que apanham as espigas... Boaz não esperava por isso... Atravessa a plantação e chega onde está Josias, fazendo anotações com outros homens.
BOAZ — O Senhor seja convosco.
JOSIAS, HOMENS — O Senhor te abençoe.
JOSIAS — Boaz, finalmente veio ver a glória dessa colheita.
BOAZ — Desculpe o atraso, eu fui resolver uma questão sobre o lugar da festa da colheita... (ainda olhando Rute) Josias... Escute...
JOSIAS — Sim?
BOAZ — Quem é aquela moça? É casada?... Não me lembro de já tê-la visto, quem é seu marido?
Josias percebe o interesse de Boaz e sorri.
JOSIAS — Esta é a moça moabita que voltou com Noemi dos campos de Moabe. Sua nora.
BOAZ — Ah... Que coincidência...
JOSIAS — Ela me pediu para deixa-la apanhar as espigas e ajuntá-las após os trabalhadores. Eu permiti e ela começou... Está até agora aqui, desde a manhã, a não ser um pouco que parou para descansar.
Sorrindo, Josias continua a observar o olhar de Boaz sobre Rute. Boaz finalmente percebe o amigo, o olha um tanto constrangido, mas vai saindo.
BOAZ — Com licença.
Boaz começa a andar paralelamente à Rute como quem não quer nada. Mas a observa, presta bastante atenção. Encantado, ele continua... Pouco a pouco, vai se aproximando, mas ela não o nota. Ele então apanha uma espiga em outro caminho e vai para o que ela está. Rute continua a pegar as espigas. Boaz se aproxima por trás calmamente... A uma distância confortável, ele para, olha ao redor, respira fundo e abre a boca.
BOAZ — Rute?...
Surpresa, Rute se levanta. Devagar, ela vira para trás, e os olhares dos dois se encontram. Por alguns breves mas significativos instantes, eles se encaram...
Close no olhar encantado de Boaz.
CENA 5: EXT. CAVERNA – DIA
A feiticeira hebreia, que habita na caverna próxima a Hebrom, a mesma com quem Iago se consultou, retorna do outro lado da rocha cantarolando. Para ao ver um homem de pé na entrada de sua caverna.
MENSAGEIRO MOABITA — Surpresa? Não adivinhou que eu estaria aqui?
Ela tenta disfarçar e ficar mais à vontade.
FEITICEIRA — Não é assim que funciona. O poder não vem de mim, mas dos deuses que--
MENSAGEIRO MOABITA — (interrompendo) O rei de Moabe solicita a sua presença.
Ela franze o cenho.
MENSAGEIRO MOABITA — E pagará muito bem.
A feiticeira continua encarando-o... então sorri de canto de boca.
CENA 6: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Alguém bate à porta.
NOEMI — Já vai...
Noemi vai até a porta e a abre: o Ancião sorri para ela.
ANCIÃO — Shalom.
NOEMI — Ancião?! Shalom!...
Eles se abraçam.
NOEMI — Há quanto tempo... Vamos, entre, por favor...
O Ancião entra e Noemi fecha a porta.
ANCIÃO — Há muitos anos passo por essa rua, paro, e apenas contemplo a casa... mas agora pude entrar novamente. Finalmente!
Noemi sorri.
NOEMI — Sente-se, senhor.
O Ancião senta à mesa.
ANCIÃO — Vocês fizeram tanta, mas tanta falta, Noemi... Você não faz ideia.
NOEMI — Eles ainda fazem falta para mim.
O Ancião a olha com muito pesar.
ANCIÃO — E sua nora que veio com você?
NOEMI — Rute foi ao campo apanhar espigas. Fez questão que eu ficasse.
ANCIÃO — Apesar de moabita, ela parece ser uma excelente pessoa. A cidade toda está comentando e, claro, não poderiam deixar de falar que Malom se casou com uma estrangeira... Mas também estão falando muitíssimo bem sobre ela.
NOEMI — De fato, Rute é uma moça incrível. Não merecia passar pelo que passou.
ANCIÃO — Noemi, você sabe sobre suas terras? O campo que era de Elimeleque...
NOEMI — Nem mexemos com isso ainda, senhor. Eu sei sobre o resgatador... mas não tenho ânimo nenhum para pensar nisso.
ANCIÃO — Entendo...
NOEMI — Nunca deveríamos ter saído de Belém, senhor. Deus me fez pagar caro pelos erros de todos.
O Ancião se ajeita e a olha, ao mesmo tempo, com firmeza e compaixão.
ANCIÃO — Noemi, veja... Não enxergue nisso um Deus punitivo... Mas um Deus que ensina. Que traz de volta os seus pequenos.
NOEMI — Mas precisava ser dessa forma, senhor? Me destruindo?...
ANCIÃO — Noemi, você vai me desculpar pelo o que vou falar... mas vou falar assim mesmo. O problema é que, desde muito antes daquela época, vocês sempre quiseram ter suas próprias opiniões. Com todo o respeito, mas Elimeleque não achava justo passar pela crise por não enxergar em sua família algum comportamento que justificasse aquela prova de fogo.
Noemi presta bastante atenção.
ANCIÃO — Às vezes, Noemi, nossas opiniões, nossos achismos precisam diminuir, para que prevaleça a vontade de Deus. Quando deixamos isso acontecer, então passamos a entender qual é o propósito de Deus para as nossas vidas.
Noemi fica pensativa...
CENA 7: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – DIA
Boaz e Rute se encaram... Boaz quebra o contato visual estendendo para ela a espiga que apanhara ali perto. Rute olha para o chão e pega a espiga; seus dedos roçam de leve. Admirado com ela, Boaz sorri.
BOAZ — Eu acertei? É mesmo Rute o seu nome?
RUTE — (olhando o chão) Sim, senhor.
BOAZ — Amiga, companheira...
Devagar, Rute levanta o rosto e o olha.
RUTE — Perdão?...
BOAZ — É o significado do seu nome. Rute... Estrangeira, certo?
RUTE — (talvez temendo) Sim, meu senhor.
BOAZ — Escute... Não vá colher em outro campo, nem tampouco passe daqui, dessa região do terreno; junte-se às minhas moças e trabalhe com elas. Você tem liberdade... para fazer o que quiser.
Rute o olha...
BOAZ — Fique atenta para onde elas forem, e vá após elas. Sei que o povo não tira os olhos de um estrangeiro, ou de uma estrangeira, em especial os homens... Mas eles têm ordem para não te tocar, e todos têm para não te molestarem por ser estrangeira.
Rute sorri minimamente, apesar de grande gratidão.
BOAZ — Tendo sede, vá até os vasos, e beba da água que os moços trazem do rio. Não precisa esperar que alguma moça passe oferecendo.
Rute, um tanto emocionada, se ajoelha e se inclina, colando a testa na terra.
RUTE — Por que é que achei graça em seus olhos... a ponto de se importar comigo, sendo eu uma estrangeira?...
Boaz sorri.
BOAZ — Rute... Levante-se. Não é minha escrava...
Com os olhos marejados, ela olha para ele, que lhe estende a mão. Ela então segura, se levanta e limpa suas lágrimas.
BOAZ — O povo está dizendo... Josias e Tani me falaram bem de você... Me contaram sobre o que fez à sua sogra de forma tão leal depois da morte de seu marido. Deixou sua terra, aqueles que poderiam ser seu pai, sua mãe... e veio para um povo que não conhecia. Que o Senhor recompense o seu feito, e seja cumprida a tua bênção... do Senhor Deus de Israel, sob cujas asas você veio se abrigar.
RUTE — (sorrindo grata) Achei graça em teus olhos, senhor meu, pois me consolou... me deu ânimo de trabalhar em seu campo... alegrou o meu coração... foi bom comigo... mesmo eu não sendo nem ainda como uma das tuas empregadas.
BOAZ — Mais uma prova, Rute, que o Senhor é contigo. E é um prazer para mim ser um instrumento nas mãos de Deus no cuidado que Ele tem com você e sua sogra.
Rute mexe a cabeça em agradecimento. Boaz percebe que os trabalhadores já estão indo para uma grande tenda ali perto para almoçarem.
BOAZ — Veja, já é hora de comer... Vamos até lá, coma pão conosco.
Rute, grata, faz que sim, aceitando. Boaz sorri e então eles vão.
BOAZ — A propósito, me chamo Boaz.
CENA 8: INT. DESERTO – CAVERNA – DIA
Sentados e em pé, os sobreviventes da Caravana se assustam quando Iago entra ali correndo e para, ofegante e suado.
SEGISMUNDO — Que isso?!
GAEL — Iago!...
IAGO — Que bom... que encontrei... vocês...
MONTANHA — Sobreviveu ao Assassino?
IAGO — Por pouco não consegui fugir... Tive sorte... de encontrar os cavalos de vocês... aí fora... Vejam.
Iago mostra um corte em seu antebraço.
GAEL — Está muito ferido, precisamos cuidar disso, Iago...
IAGO — Tudo bem, eu aguento...
Iago escora na parede de pedra e se solta, até cair sentado. Segismundo se aproxima.
SEGISMUNDO — Por que não tentou enfrentar o Assassino ao invés de fugir? É um exímio lutador. Por que não usou suas habilidades para ao menos ferir aquele maldito gravemente?!
GAEL — Calma, Segismundo, acalme-se...
BESTA LOUCA — Jamais deveríamos ter chegado a esse ponto.
IAGO — Sendo lá quem é, ele teve muita vantagem com a maioria dormindo... de ressaca da noite passada. Isso nunca mais... deverá se repetir.
SEGISMUNDO — Mas quem?! Quem faria isso?! Quem seria esse???!!! Não pode ser obra do exército...
MEMBRO — Pode ser um justiceiro, um homem comum em busca de vingança...
MONTANHA — Um parente de alguma vítima...
GAEL — Ou até mesmo um traidor, como viemos tratando há algum tempo.
Segismundo, aflito e pensativo, encara o nada.
CENA 9: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – TENDA DE REFEIÇÕES – DIA
É uma grande tenda, mas com 3 das laterais abertas para a plantação. Uma grande mesa de madeira reúne os trabalhadores, homens e mulheres.
De pé, Tani e Josias observam, sorridentes, Boaz puxar a cadeira para Rute se sentar.
RUTE — Obrigada.
Boaz pega um recipiente com um líquido e coloca perto dela.
BOAZ — Vinagre. Molhe o pão nele e experimente... O povo tem amado.
RUTE — Que diferente...
Rute então pega um pedaço de pão, o molha no vinagre e come. Parece gostar muito.
RUTE — Hum... Muito bom, senhor. O povo tem razão.
Boaz sorri satisfeito e senta do outro lado. A mesa está cheia e todos comem muito, felizes, animados, gratos...
BOAZ — O trigo da cevada... torrado. Experimente.
Rute come, acha tudo uma delícia. E o almoço continua... Bebem bastante vinho, falam alto, riem... e alguns perdem o pudor de falar sobre Rute, a estrangeira. Boaz percebe, os olha... mas ainda não diz nada. Mas eles não param... Até que se ouve uma fala perdida entre as outras.
TRABALHADOR — ...ainda fica aqui, sentada conosco, comendo com nós...
Boaz olha para ele.
BOAZ — Qual é o problema?
Sua voz sobressai à de todos, e o silêncio reina.
BOAZ — Este é o meu campo, lugar onde eu governo.
TRABALHADOR — Me desculpe, senhor, mas a lei é maior que o senhor. E vale para todos os campos... e além.
BOAZ — O que diz a lei?
O homem gagueja... olha para seus companheiros... então fala.
TRABALHADOR — A lei é clara. Ela diz que--
BOAZ — (interrompendo) A lei manda que os necessitados e os estrangeiros caminhem atrás dos que colhem, apanhando as sobras que caem. Qual é a parte dela que fala sobre os necessitados e estrangeiros não poderem sentar com os colhedores?
O trabalhador fica sem resposta. Ninguém diz nada. Rute encara a mesa.
BOAZ — Vocês acham que são superiores às outras pessoas?
Silêncio...
BOAZ — Somos todos hebreus, meus irmãos. Filhos do Deus vivo.
ALGUÉM — Ela é moabita.
BOAZ — Que deixou seu povo e seus deuses para trás... tornando-se uma hebreia como nós.
Os insatisfeitos respiram fundo.
BOAZ — Mas não se preocupem, eu vou cumprir a lei.
RUTE — (para Boaz) Muito obrigada, senhor. Agora voltarei ao trabalho. Com licença.
BOAZ — Claro, Rute.
Boaz se levanta e Rute põe-se de pé. O povo na mesa a observa. Rute então volta para a plantação.
BOAZ — Até os montes colhidos deixem-na colher, e não a perturbem.
O povo começa a falar entre si. Boaz se inclina para Josias e fala baixo.
BOAZ — Josias...
JOSIAS — Sim, Boaz?
BOAZ — Josias, preciso que me faça um favor...
JOSIAS — É só me dizer, meu amigo.
BOAZ — Você sabe que às vezes pode acontecer de poucas espigas caírem pelo caminho. Portanto, vá até os caminhos que ela ainda haverá de percorrer e deixe cair alguns punhados. Que fiquem por lá, para que ela chegue e os colha.
Josias sorri.
BOAZ — E não a repreenda, nem deixe que ninguém diga nada de ruim a ela.
JOSIAS — Pode ficar tranquilo, Boaz. Estou com você nessa.
Boaz sorri e a observa lá no campo.
JOSIAS — Será ela, Boaz?...
Alguns segundos depois, Boaz olha para ele.
BOAZ — Ela o quê?...
JOSIAS — A mulher certa? A mulher virtuosa?...
Boaz olha para o amigo e apenas sorri. Josias bate carinhosamente na costa dele.
CENA 10: INT. HOSPEDARIA – CORREDOR – DIA
Neb chega à porta do quarto de Tamires e olha para os guardas.
NEB — Rum. Não se acostumaram ainda? Saem da frente.
Eles se afastam e ele abre a porta; entra.
CENA 11: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE TAMIRES – DIA
Neb fecha a porta e vai entrando no quarto.
NEB — Ah, Tamires, hoje foi tudo tão--
Ele paralisa com o que vê: na cama, Tamires e um homem estão aos beijos embaixo da coberta.
NEB — O que é isso?!
Ela e o homem param e olham para ele.
TAMIRES — Neb? Você chegou...
Neb larga as coisas e dá mais alguns passos.
NEB — Tamires!... O que significa isso, Tamires???!!!
Ainda deitados, eles olham para ele.
TAMIRES — Ah, Neb, eu estava me sentindo tão só, tão desprezada, que precisei tomar medidas drásticas... (acariciando o cabelo do homem, bem mais jovem que ela) Foi quando conheci o Abimael lá embaixo, que foi tão, mas tão gentil comigo...
NEB — (para Abimael) Fora! Fora daqui, agora!!!
TAMIRES — Que isso, Neb? Ele não vai embora. É o meu novo namorado...
Tamires beija o rosto dele.
NEB — (indignado) Novo namo-- Tamires, ficou louca?! E eu???!!!
TAMIRES — Enjoei de você.
NEB — Eu não estou ouvindo isso...
TAMIRES — Cumpri o meu sonho de muitos anos, te experimentei e te saboreei umas boas vezes, mas agora já deu. Agora... eu posso seguir em frente. Com alguém que me valorize, (passando a mão pelo corpo do parceiro em cima dela) alguém mais novo, mais vigoroso, com mais energia, hummmm... E com mais tempo para mim, também.
Neb, quase chorando de raiva, aponta para a porta.
NEB — Fora!!! Fora daqui, os dois!!! Vamos, fora!!! Agora!!!
TAMIRES — Mas o que é isso?! Sou eu quem está pagando por esse quarto! Você é quem tem que ir embora daqui. E agora.
Neb a olha com ódio.
NEB — MALDITA!!!
Tamires sorri e mordisca a orelha de Abimael, que beija o pescoço dela. Neb então começa a ajuntar suas coisas.
TAMIRES — Isso, pegue tudo, não deixe nada para trás.
Com tudo pronto, ele olha para ela... Mas não diz nada. Vai para a porta, abre e a bate, dando para ver, antes que ela se feche, ele esbarrando nos guardas.
ABIMAEL — Devo me preocupar com esse aí?
TAMIRES — (rindo) Nem um pouco.
Tamires o aperta em cima dela e eles se agarram embaixo da coberta.
CENA 12: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – DIA
A tarde vai passando. Josias circula pelos caminhos em que Rute ainda vai passar e, disfarçadamente, deixa as espigas caírem de suas mãos. Pega mais nos interiores de suas vestes. De vez em quando olha para Rute. Quando ela também o olha simpática, ele sorri, disfarça e continua como quem não quer nada.
Depois, Rute passa por esses lugares e sorri com as várias espigas caídas ao seu dispor; pega-as todas. Perto dali, Jurandir, voltando, se aproxima de Tani.
JURANDIR — Tani...
Ela vira meio de lado e, ao identificá-lo, fecha a cara.
JURANDIR — Oi... Eu gostaria de conversar com você... (sorrindo) Achei você bastante simpática.
TANI — É mesmo?
JURANDIR — É sim...
TANI — Hum.
JURANDIR — Eu estava pensando... Será que podemos sair para nos conhecer melhor? Um jantar na hospedaria, algo assim...
Então Tani vira totalmente para ele e coloca as mãos na cintura.
TANI — Não vai dar.
Jurandir fica meio entristecido...
JURANDIR — Mas por quê?...
TANI — Eu não gosto de homens brutos, que menosprezam outras pessoas. Homens que se sentem superiores.
Entendendo, Jurandir olha para Josias caminhando pela plantação.
JURANDIR — Não tem jeito... Ali é um caso diferente.
TANI — E o nosso caso também é diferente. Diferente de um que tem algum futuro.
Jurandir é visivelmente atingido por essas palavras.
TANI — Você passou dos limites, foi um completo ignorante, pior que um búfalo! Mas a diferença é que dos búfalos eu gosto! Com licença!
Tani vira e sai pisando duro, deixando para trás um Jurandir completamente destruído, e IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!