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Garotos de Aluguel - Episodio 10 - Último Episódio

 

Garotos de Aluguel - Episódio 10 - Último Episódio 


" Vítimas do capitalismo extremo? Talvez. Na nossa área tem de tudo: Quem trabalha por necessidade, os que gostam e os que acham fácil e proveitoso financeiramente. A vida da gente pode parecer fácil e prazerosa, mas, na verdade, não é. Existe o preconceito, o medo de ser morto na rua, no motel, na lanchonete do lado. Um fetiche louco pode nos trucidar. É uma profissão arriscada. Envolve gente. Envolve sentimentos humanos. Exige vício. Exige Cio. Exige amor." Relato de um garoto de programa. 


Cena 01: Apartamento de Alonso/Int./Noite 


Guilherme surpreende-se ao ver as garotas de programa no apartamento de Alonso. 

Close na cara de susto de Guilherme. 

ALONSO - Que foi, cara? Pensei que você fosse gostar! 

GUILHERME - Eu… 

Alonso interrompe. 

ALONSO - Você me disse que não era gay! 

GUILHERME - E não sou, é que pensei que só iríamos jantar. 

ALONSO - Nós vamos comer sim. E você sabe o quê! Vem cara, vamo aproveitar. Pra odiar isso aqui, tem que ser muito bicha! E uma coisa que não somos é viado, não é? Vem. 

Guilherme sente nojo das palavras de Alonso. 

Se decepciona com cada palavra.

Mesmo assim, ele agarra uma das garotas de programa e começa a beijá-la. 

A raiva é tanta que ele morde o lábio da mulher com força. 

GAROTA DE PROGRAMA 01 - Calma!

ALONSO - Vai com calma, mano! A noite é uma criança! 

A Cam vai subindo e mostrando Guilherme e Alonso separados, fazendo amor com as garotas de programa. 

A Cena escurece lentamente. 


Cena 02: Casa de Rodolfo/Int./Noite 


Rodolfo vai acordando aos poucos. Está no sofá. Ciça ao seu lado. 

CIÇA - Que bom que você acordou! Já estava entrando em contato com uma ambulância pra te levar daqui. 

RODOLFO - Quanto tempo eu fiquei desacordado?

CIÇA - Muito tempo! 

RODOLFO - Eu preciso ver eles… eu preciso conversar com os meus irmãos! Eu tenho que tirar eles de lá! 

CIÇA - Calma! Você não pode fazer nada, agora. Você não tá bem. E já é noite. Amanhã a gente vai até o centro da juventude. 

RODOLFO - Eu não posso deixar eles dormirem lá. 

CIÇA - É só uma noite. Eles vão ficar bem. 

RODOLFO - Tenho certeza que foi algum engano, só pode! 

CIÇA - Ou…

RODOLFO - Ou o quê? 

CIÇA - Nada. Coisa minha. 

RODOLFO - Diz… 

CIÇA - Ela pode ter descoberto alguma coisa! 

RODOLFO - Você acha? 

CIÇA - Eu não sei. Vamos deixar de supor coisas. Amanhã cedo a gente resolve isso é traz eles de volta. Agora, vou preparar algo pra você comer. Espere um pouco, deitado, hein! 

Ciça vai até à cozinha. 

Rodolfo fica pensativo na sala. Temendo que sua farsa tenha sido descoberta e essa tenha sido a razão de seus irmãos terem sido tirados de casa. 


Cena 03: Elevador/ Apartamento/Int./Noite 


A Cam mostra o rosto encharcado de lágrimas de Guilherme. 

Ele sente nojo do que fez. 

Repulsa por ter amado alguém preconceituoso e extremamente insensível. 

Completamente devastado, ele enxuga as lágrimas e segue. 


Cena 04: Rua/Ext./Dia 


Léo, transtornado, caminha pelas ruas, sob efeito das drogas. 

Ele se aproxima de um casal que está se beijando.

LÉO - Beijam muito! 

O casal se desgruda. 

HOMEM - Sai daqui maconheiro! 

LÉO - Tá vendo algum maconheiro aqui, por acaso? 

HOMEM - Tô. Bem na minha frente. Um maconheiro fedido. Sai daqui otário, vai encontrar tua gente. 

LÉO - Fedido? Eu sou cheiroso. Gato. Todo mundo me quer. Quer ver como todo mundo me quer? Olha só. 

Léo sobe em um banco de praça. 

Logo, ele começa a tirar toda roupa. Fazendo um stripes these. 

Uma multidão se aproxima e grita, eufóricos.

LÉO - Tá vendo aí!  Todos querem o corpinho aqui. E convenhamos: ele faz estrago! 

Nesse momento, dois policiais à paisana se aproximam dele. 

POLICIAL 1 - Você está preso em flagrante por atentado ao pudor. Venha com a gente! 

O segundo policial algema Léo. 

Foco no semblante assustado de Léo. 


Cena 05: Sequência de cenas aleatórias 


Vai amanhecendo em São Paulo. São mostradas imagens da cidade. 


Cena 06: Centro da Juventude/ Int./Dia 


Rodolfo chega no centro da Juventude ao lado de Ciça. 

Eles sentam e esperam Lisa na recepção do centro. 

Ela chega. 

LISA - Bom dia! Já esperava vocês por aqui. Vamos. Entrem. 

Os três entram junto na sala de Lisa. 

Corta para: Sala de Lisa. 

Lisa senta-se, logo após, dá sinal para que Ciça e Rodolfo façam o mesmo. 

LISA - Então… 

RODOLFO - Você não tem direito de levar meus irmãos assim, do nada. 

LISA - Do nada? 

RODOLFO - É. Do nada. Você nos visitou. Viu que eles estavam bem, não faltava nada pra eles. Mesmo assim, você foi lá e tirou eles de casa. Da verdadeira casa deles. 

CIÇA - Ainda disse na minha cara que era o melhor pra eles! Como vai ser melhor? Sem o irmão, sem a verdadeira família?  

LISA - Eu lamento dizer, mas essas crianças não irão viver das migalhas da… 

RODOLFO - Que migalhas? 

LISA - Da prostituição. 

RODOLFO - Você só pode estar maluca! ( ASSUSTADO)

LISA - Não. Não estou. Eu te peguei no flagra, entrando em um motel com um homem, e, por favor, não venha me dizer que é um amigo ou coisa assim, motel não é espaço para uma conversa entre amigos. Você também não trabalha em uma hambúrgueria coisita nenhuma. Era uma fachada. Talvez por medo. Agora me diz… era com esse  dinheiro que você pretendia sustentar seus irmãos?  Um dinheiro sujo como esse?  

Rodolfo começa a chorar. 

RODOLFO - Nunca foi fácil pra mim. Pode parecer que é fácil, mas não é. Nunca foi. Eu menti sim, porque esse era o jeito. Era o jeito que eu tinha pra colocar a comida em casa, de pagar a água, a luz. 

LISA - Tem certeza que essa era única forma?  

RODOLFO - E qual outra seria? Eu sou negro, favelado, sem estudo, desempregado! Acha que é fácil? O Brasil é desigual e eu já nasci marcado por essa desigualdade! 

LISA - Eu sinto muito, mas não posso fazer mais nada. Me corta o coração separar uma família. Mas eu tenho que zelar pelas nossas crianças. Esse é o meu trabalho. ( T) Bom, se você quiser, pode se despedir deles. 

RODOLFO - Não. Eu não quero. Não quero vê-los assim… estou muito envergonhado de mim. Eu não tenho coragem! 

Rodolfo levanta-se e sai da sala de Lisa, desesperado.  

Ciça sai em seu encalço, mas é barrada por Lisa, que pega em seu braço. 

LISA - Os garotos estão em boas mãos. Eles vão ter um futuro diferente. Peço agora que cuide dele. Ele vai precisar muito. 

Ciça arranca as mãos de Lisa do braço e sai, na tentativa de alcançar Rodolfo. 



Cena 07: Cadeia/ Cela/ Int./Dia 


Léo espera na cela da cadeia. 

Um guarda policial abre a cela e o chama. 

LÉO - Ela veio? 

POLICIAL - Anda! 

Léo sai da cela. 

Corta para: Sala do Delegado/ Int./Dia 

Léo chega e se depara com Rosangela e o delegado, que o aguardam. 

Ele rir para ela, mas ela não retribui o sorriso. 

DELEGADO - Seu anjo da guarda explicou tudo. Sabe, eu também já fiz muitas loucuras e entendo bem.  Mas aconselho você a não fazer mais isso, hein? Despir-se na rua? É demais. O senhor como advogado sabe do que se trata! Enfim… está liberado. Espero que não se repita! 

LÉO - Claro que não se repetirá, delegado. 

Rosangela pisca o olho para o delegado. 

O policial tira as algemas de Léo. 

Léo e Rosangela saem da delegacia. 


Cena 08: Rua/Ext./Dia 


Léo caminha no encalço de Rosangela. 

LÉO - Como você conseguiu? 

ROSANGELA - Eu tenho os meus contatos. O delegado é meu cliente.

LÉO - O delegado? Não pode ser. 

ROSANGELA - Pra você ver! Tem muita gente por aí assim, sabe? O delegado é fã de uma boa droga. 

LÉO - Que loucura! 

ROSANGELA - Pois é. 

LÉO - Bem, obrigado por tudo! 

ROSANGELA - Não ache que eu te desculpei. Eu tive pena de você, isso sim. Só por isso vim te ajudar quando você me ligou. 

LÉO - Pena? 

ROSANGELA - Sim, pena. Se toca, você não tem mais nada, nem ninguém. Está sozinho no mundo. Viciado. Nem de graça teu corpo vale alguma coisa. Convenhamos, sua vida é uma desgraça! 

LÉO - Você que me meteu nisso tudo! 

ROSANGELA - Corrigindo: você que acabou com a sua própria vida. Eu te ofereci. Você de bobo e burro que é, se viciou. Bem, eu fiz minha parte, por consideração as minhas gozadas. Mas faz um favor pra mim: se cair em outro b.o, esquece que eu existo. 

Rosangela entra em seu carro e parte em disparada. 

Close no rosto de Léo, apenas observando.


Cena 09: Mansão dos Robsons/Mesa/Int./ Dia


Elias e Andreia são servidos por Paulina. 

ANDREIA - O que será que aconteceu com Guilherme? Ele sempre acorda tão cedo quando vai para fábrica. 

ELIAS - Também estou achando estranho! Será que já se desinteressou? 

ANDREIA - Duvido muito. Ele está muito feliz com a oportunidade. 

ELIAS - Paulina. 

PAULINA - Sim? 

ELIAS - Veja se Guilherme já acordou, por favor! 

PAULINA - Sim senhor! Licença. 

Paulina sobe em direção ao quarto de Guilherme. 


Cena 10: Mansão dos Robsons/ Quarto de Guilherme/Int./Dia 


Paulina chega e encontra à porta do quarto de Guilherme aberta. Sem bater, ela entra. 

Ele está de cócoras, chorando muito. 

A cama arrumada. Não dormiu nada. 

PAULINA - Seu Guilherme. 

Guilherme levanta. 

GUILHERME - Não enche o saco! 

PAULINA - Calma! Eu só vim…

GUILHERME - É dinheiro que você quer, né? Então toma. Me deixa em paz. 

Guilherme joga uma mala de dinheiro em cima de Paulina. 

GUILHERME - Engole tudo! E vê se me deixa em paz! 

Guilherme sai do quarto. 

Close no olhar de Paulina, que não entende nada. Mas sorrir ao abrir a mala e se deparar com muito dinheiro em espécie. 

Corta para: Mesa dos Robsons 

Guilherme desce as escadas apressado. 

ELIAS - Filho. 

Guilherme não dá ouvidos. 

ANDREIA - Que cara é essa, meu filho? Aconteceu alguma coisa? 

Guilherme bate a porta de casa e sai sem dizer uma palavra. 

ELIAS - O que será que deu nele? 

Reprovação no olhar dos dois. 


Cena 11: Casa de Rodolfo/Int./Dia 


Rodolfo chega em casa. Ciça chega logo depois. 

CIÇA - Você precisa se acalmar! 

RODOLFO - Eu quero morrer! 

Rodolfo abraça Ciça. 

CIÇA - Vai ficar tudo bem, confia em mim! 

RODOLFO - Eu fiz tudo errado. Eu traí as pessoas que eu amava, menti o tempo todo. Minha mãe tinha orgulho de mim, meus irmãos também. Olha o que esse mundo me trouxe! Acabei com a minha vida. 

CIÇA - Calma. Respira. 

RODOLFO - Eu preciso sair. 

CIÇA - Como assim, sair? Você acabou de chegar e não está nada bem. 

RODOLFO - Eu preciso! Respirar, refletir..

CIÇA - Tá então. Eu vou com você! 

RODOLFO - Quero ir sozinho! 

Rodolfo sai e fecha a porta. 

Ciça senta-se no sofá, aflita. 

CIÇA - Vê se não… Vai longe! – (Não completa o pensamento.)

Foco no seu olhar. 


Cena 12: Fábrica de Cervejas artesanais/Estacionamento/Int./Dia 


Guilherme estaciona seu carro e espera por Alonso.

Alonso chega também e estaciona o veículo. 

Guilherme desce do carro e vai em encontro a Alonso. 

ALONSO - Meu amigo!!! Bom dia! Logo cedo por aqui? Pensei que ia dormir bem mais depois da noite que tivemos! 

GUILHERME - Você não vale nada! 

Guilherme dá um suco no rosto de Alonso. 

ALONSO -  O que eu fiz, cara?

GUILHERME - Você é um babaca! 

ALONSO - Mas… 

GUILHERME - Mas nada, Alonso! Eu gostava de você. Você feriu os meus sentimentos. Você feriu quem eu sou. Eu me apaixonei por você. Eu estava morrendo de amor por você. E em uma noite só, você estragou tudo. Mostrou que não passa de um homem grotesco, sujo e preconceituoso. Passei a noite em claro pensando no que fiz, na tentativa de me encaixar em algo. E quer saber? Eu não me encaixo mesmo. Me arrependo amargamente de ter aberto espaço pra você na minha vida. Se eu sou gay, qual o problema? Pior é ser idiota , mesquinho e babaca. Bem, era só isso mesmo. E, ah, Dane-se!!! 


Guilherme entra no carro e dá partida. 

Close no rosto de Alonso. Ele limpa o sangue da boca. 


Cena 13: Antiga Casa de Léo/Ext./Dia 


Léo observa de longe sua antiga casa. Agora, ocupada por novos moradores. Uma família feliz rega as novas plantas e brincam com seu cachorro de estimação. 

Léo os observa de longe. Lembra de tudo que perdeu: sua mulher, seu filho, sua dignidade. 

Ele chora. 

LÉO - O que eu fiz, Meu Deus?! O que eu fiz?!

Foco no rosto de Léo. 


Cena 14: Imagens aleatórias 


São mostradas algumas imagens do litoral de São Paulo. 


Cena 15: Praia/Ext./Dia 


De longe, é possível ver Rodolfo andando de um lado pro outro com um cigarro na boca. Pulando ondas na praia. 

Bem perto dali, Guilherme estaciona o carro e também se dirige à praia. Ele caminha na areia, abre os botões da camisa, tenta se acalmar. 

Mais à frente, Léo está sentado na areia da praia, com a cabeça baixa, refletindo. 

Ao longe, uma pipa perdida voa pelo ar.

Os três observam a Pipa, mesmos distantes. 

A pipa sem rumo, vai se entregando e para  bem no colo de Léo. 

Rodolfo e Guilherme focam na pipa caída, mas em seguida, olham para quem a segura, que é Léo. Logo lembram que conhecem aquele homem de algum lugar. 

Os dois, sem se ver, se aproximam do tal homem. 

Os três se surpreendem.

GUILHERME - Você? 

RODOLFO - Não é possível… 

LÉO - Vocês!!! 

Eles não acreditam na coincidência do destino. 

Ambos ali, agora, depois de dias, e com as vidas mudadas completamente. 

Eles se olham, profundamente. 

Em seguida, Guilherme e Rodolfo sentam, cada um de um lado de Léo. 

Eles olham o mar, enquanto conversam. 

GUILHERME - Eu sabia que a gente ia se reencontrar um dia. 

RODOLFO - E aqui estamos! 

LÉO - Vivos. – (RINDO)

GUILHERME - Acho que é isso que vale a pena: Estamos vivos! 

RODOLFO - Nem sei até quando. Mas estamos. 

Pequeno instante de tempo.

LÉO - Posso contar um segredo pra vocês? 

RODOLFO - Deve. 

LÉO - Eu não sou mais o mesmo de dias atrás. 

GUILHERME - Nem eu. 

LÉO - Sério? 

RODOLFO - Muito menos eu. 

LÉO - E o que a gente faz agora? 

GUILHERME - Sei lá, talvez seja verdade dizer que é bom sair da gente de vez em quando. Dá pra descobrir muita coisa. 

RODOLFO - Que a gente é mais forte do que pensava, por exemplo.

LÉO - Então quer dizer que é bom não sermos mais nós? 

GUILHERME - Isso é difícil responder. Principalmente porque não sabemos o que vai ser de agora em diante. 

RODOLFO - Eu tenho uma ideia, não pro futuro, mas pra agora: que tal uma cervejinha? 

Os três riem. 

GUILHERME – Como tudo começou... Eu topo!

LÉO – Vamo!

Rodolfo, Léo e Guilherme levantam-se da areia e caminham em direção a um barraca de bebidas próxima.

Os três andam juntos. Conversando. 

Vidas diferentes que se reencontraram; feridos, mas dispostos a seguir com todos os conflitos pessoais que os cercam.

Início de uma forte amizade? Isso só o futuro dirá. 


FIM!




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