Capítulo
28
Cena 01 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Noite]
(Betinha é ovacionada pela imprensa
enquanto posa para os fotógrafos).
RAFAEL: Nossa! (Observa impressionado).
DURANT: Ela está lindíssima, se parece com a
irmã. (Diz ao olhar para Betinha).
LUIZA
HELENA: Ela está
realmente muito bonita.
(De longe, Fernanda, Ângelo e Suzana
observam a entrada de Betinha).
SUZANA: Ela está muito bonita, não acham?
ÂNGELO: É, realmente está muito bonita.
(Bebe um pouco de champanhe).
FERNANDA: Não se pode negar que bem vestida,
ela até que fica arrumadinha.
SUZANA: Nossa, que mal humor, hein?
(Responde).
GARÇOM: (Se aproxima e oferece canapés) Os
senhores aceitam?
ÂNGELO: Eu aceito um! (Com apoio de um
guardanapo, Ângelo retira um canapé).
GARÇOM: Com licença! (Retira-se).
FERNANDA: Nossa, você vai comer isso? (Cobre a
boca com expressão de repulsa).
ÂNGELO: (Come o canapé) Vou, aliás... Já
comi!
SUZANA: Você ficou branca de repente, está
se sentindo mal? (Pergunta ao notar a palidez de Fernanda).
FERNANDA: Não é nada demais, de repente fiquei
enjoada. Deve ter sido o cheiro desse canapé horroroso! (Conclui).
(Betinha desce e é recebida pelas
pessoas mais próximas).
LUIZA
HELENA: Feliz
aniversário, meu amor! (Diz ao abraçar Betinha).
BETINHA: Obrigada! Que tal, como eu estou?
(Diz após dar uma voltinha).
LUIZA
HELENA: Você está
maravilhosa, completamente linda.
RAFAEL: Agora é a minha vez de abraçar a
aniversariante. Feliz aniversário, Betinha! (Abraça Betinha carinhosamente,
enquanto são observados de longe por Fernanda).
BETINHA: Obrigada, Rafa. Fico muito feliz que
tenha vindo, sua amizade é muito especial para mim! (Responde).
DURANT: Depois de tanta disputa, será que eu também posso abraçar a estrela da
noite? (Pergunta sorrindo).
BETINHA: Claro que sim, Durant! Você também é muito especial, saiba que eu tenho
um carinho enorme por você. (Diz para logo em seguida abraçar Durant
fortemente).
DURANT: E quantos anos você está fazendo?
BETINHA: Vinte e um anos! (Responde).
DURANT: Vinte e um? Engraçado, é praticamente o tempo que passei separado da
Luiza Helena.
LUIZA HELENA: (Fica constrangida com o comentário de Durant, querendo
mudar de assunto imediatamente).
EVA: (Se aproxima) Boa noite, desculpem incomodar. Tem uma moça lá fora
querendo entrar, o nome dela não está na lista de convidados, mas ela disse que
é muito amiga da Betinha.
BETINHA: Ué, que amiga será essa? (Estranha).
EVA: Disse que se chama Tamara e é de Porto de Pedras. Deixo-a entrar?
(Questiona).
BETINHA: Tamara? (Surpreende-se junto de Luiza Helena).
Cena 02 – Apartamento de Glória
[Externa/Noite]
(Judith estava parada na porta do
prédio com o semblante de ansiedade).
JUDITH: (Olha para o relógio impaciente
enquanto anda de um lado para o outro) Onde será que ele está? Será que
desistiu?
(De repente, um carro conversível com
vidros escuros estaciona em frente ao prédio).
JUDITH: Até que enfim, diz ao se aproximar
do veículo!
MOTORISTA: Desculpe a demora, senhora. Pegamos
um pouco de trânsito na Marginal Pinheiros. (diz ao abrir a porta traseira).
JUDITH: Que isso não se repita, entendeu
colega? Odeio estrupício atrasado! (Entra no carro em seguida).
MOTORISTA: Pode deixar, madame! (Fecha a porta,
dá a volta e segue com o veículo pela rua).
Cena 03 – Chesca’s, Restaurante
Italiano [Interna/Noite]
(Sozinha no restaurante, Lola/Amara
finaliza o expediente e se despede dos últimos funcionários após fechar o
restaurante).
LOLA/AMARA: Tchau gente, boa noite! (Diz após os últimos garçons saírem
e ao fechar a porta).
(Sozinha no restaurante, Lola/Amara olha
para o pequeno palco onde o cantor costumava se apresentar e vai até o local,
em seguida senta-se de frente para o microfone).
LOLA/AMARA: (Segura o microfone e se perde em
seus pensamentos).
FLASHBACK
Há alguns anos atrás...
(Em uma casa de show badalada, fãs
aguardavam ansiosamente mais uma apresentação da cantora sensação do momento,
Amara Ferraz).
APRESENTADOR: Senhoras e senhores, acabou a espera! Com vocês, Amara
Ferraz! (Anuncia empolgado).
(Amara Ferraz surge no palco no auge
de sua juventude. Podemos perceber uma pessoa completamente diferente dos dias
atuais, vestida elegantemente, cabelo preso e maquiada, ela inicia o show).
Música da cena: Agora Só Falta Você
AMARA: (Acompanha a banda cantando)
Um belo dia
resolvi mudar
E fazer tudo o que eu queria fazer
Me libertei daquela vida vulgar
Que eu levava estando junto a você
E em tudo
que eu faço
Existe um porquê
Eu sei que eu nasci
Sei que eu nasci pra saber...
(Após finalizar o show, Amara se
dirige até seu camarim para trocar de roupa, quando é surpreendida).
DEMÉTRIO: (Abre a porta do camarim com um
buquê de rosas na mão) Posso entrar?
AMARA: Claro, meu amor! (Diz ao ver
Demétrio refletido no espelho parado na porta).
DEMÉTRIO: Eu assisti o show da plateia, o público
estava eufórico, dava pra sentir a energia. Foi realmente incrível! Você vai
chegar ao topo e eu vou te ajudar.
AMARA: (Levanta-se e beija Demétrio) Com
você ao meu lado, eu não preciso de mais nada.
DEMÉTRIO: Essas flores são para você, elas só
perdem por um motivo. (Diz ao entregar as flores).
AMARA: Ah, é? Qual seria? (Diz ao segurar e
cheirar as rosas).
DEMÉTRIO: Elas não chegam aos pés da sua beleza. Eu tenho muita sorte de ter você
ao meu lado, Amara. Que tal um jantarzinho naquele restaurante que você gosta?
AMARA: Eu acho ótimo, você me espera trocar de roupa?
DEMÉTRIO: Eu te esperaria por toda minha vida! (Responde).
FIM DO FLASHBACK
Atualmente
LOLA/AMARA: (Com lágrima nos olhos, Lola/Amara encaixa o microfone na
base. Apaga as luzes e deixa o restaurante).
Cena 04 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Noite]
(Luiza Helena e Betinha recebem
Tamara completamente surpresas com sua chegada).
BETINHA: Nossa, fiquei muito surpresa quando me disseram que você estava aqui!
(Abraça Tamara).
TAMARA: Amiga, desculpa ter chegado assim, sem avisar. Feliz aniversário!
LUIZA HELENA: Teremos muito tempo para conversar e entender como você
chegou aqui, Tamara. Seja bem vinda e aproveite a festa! A sua mãe veio com
você? (Questiona procurando pela mãe de Tamara).
TAMARA: (Fica séria instantaneamente) Infelizmente há minha mãe falece há mais
de um mês, eu fiquei sem ninguém e por isso resolvi vim tentar a sorte aqui.
BETINHA: Fez muito bem, eu sinto muito pela sua mãe. Você não está sozinha! Ela
pode ficar aqui, não pode Luiza Helena? (Pergunta).
LUIZA HELENA: Pode sim, é claro. Pode ficar quanto tempo precisar!
TAMARA: Eu agradeço muito, de verdade. Não quero incomodar ninguém, se quiserem,
posso ir embora!
BETINHA: Que embora que nada, menina! Essa casa é enorme, dá para abrigar o nosso
bairro inteiro aqui de Porto de Pedras. (Diz enquanto enxuga as lágrimas no
rosto de Tamara).
LUIZA HELENA: Bom, agora chegou a hora de revelar a surpresa que preparei
para você, Betinha!
BETINHA: Surpresa? Que surpresa? (Questiona curiosa).
LUIZA HELENA: Venha comigo! (Diz segurando a mão de Betinha).
Música da cena: Dona de Mim – Iza
(Todos vão até o jardim da mansão).
BETINHA: O que está acontecendo? Eu não estou entendendo nada! (Diz após chegar
ao jardim).
LUIZA HELENA: Aqui está o seu presente! (Diz ao destravar o alarme de um
carro estacionado logo a frente com um grande laço vermelho).
BETINHA: Meu Deus, eu não acredito! (Grita eufórica).
LUIZA HELENA: Você gostou? (Pergunta após ver o entusiasmo de Betinha).
BETINHA: Se eu gostei? Eu amei, é espetacular. Nunca, nem em sonho, eu imaginei
ter um desses! (Diz ao segurar as chaves do carro que acabara de ganhar).
LUIZA HELENA: Que bom, porque essa não é última surpresa da noite!
BETINHA: Não? Ainda tem mais? (Questiona completamente surpresa).
LUIZA HELENA: (Olha para um homem no meio da multidão e balança a cabeça,
sinalizando para que ele dê continuidade).
(Em seguida, começa uma grande queima
de fogos de artifícios no céu, deixando todos deslumbrados).
BETINHA: (Os olhos de Betinha brilham ao ver a queima de fogos) Você é a melhor,
obrigada por tudo! (Diz ao abraçar Luiza Helena).
Cena 05 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Noite]
(No interior da mansão, Enrico e
Ítalo aproveitam para ficar a sós quando adentraram na biblioteca).
ENRICO: Que foi, garoto? (Diz após entrar na
biblioteca junto de Ítalo).
ÍTALO: Eu queria aproveitar um momento
sozinho com você! (Beija Enrico).
ENRICO: E porque não pode ser lá fora? Nós somos maiores de idade, dois adultos,
estamos apaixonados, qual é o problema?
ÍTALO: Você sabe! (Diz ao se afastar).
ENRICO: Sim, eu sei. Você está sempre preocupado com o que vão falar, como vão
agir, mas e eu? E eu, Ítalo? Quando foi que você parou para pensar em mim? Você
não pode imaginar o quanto tem sido difícil lidar com isso, essa vida dupla. Eu
não nasci para isso, eu não quero viver as escondidas! (Responde visivelmente
chateado).
ÍTALO: Calma, eu sei que você tem muitos planos e eu também faço parte deles,
mas tudo vai se resolver, eu só não sei quanto. Por enquanto eu não consigo
contar, eu tenho... (Tenta buscar em seus pensamentos a palavra mais adequada
para utilizar).
ENRICO: Tem o que? Medo? Vergonha? (Diz ao interromper a fala de Ítalo).
ÍTALO: E se for? Você não consegue entender? Eu preciso desse tempo.
ENRICO: E o que eu preciso, não importa? Eu estou cansado de ter que esconder o
que eu sinto. Ou você toma coragem e enfrenta o mundo lá fora comigo ou nós não
vamos continuar essa história.
ÍTALO: (Permanece em silêncio diante ao ultimato).
ENRICO: Não precisa dizer nada, seus olhos já disseram o que sua boca não foi
capaz de pronunciar. A partir de hoje você fica livre para amar em silêncio e
escondido como se fosse um criminoso, eu não sei amar assim. Eu não sei amar
temendo, eu não sei amar de menos. Eu quero amar demais e isso você não está
pronto para retribuir! (Diz com os olhos cheios de lágrimas enquanto se
aproxima da porta).
Música da cena: Não Esqueço – Niara e
Pabllo Vittar
ÍTALO: Enrico! (Diz ao perceber que Enrico está prestes a abandoná-lo).
ENRICO: Eu espero que você entenda e não me procure mais! (Diz para logo em
seguida fechar a porta).
EVA: (Caminha com Luiza Helena pela sala de estar enquanto cruzam por Enrico
que segue apressado) Mas de onde ela saiu? Como conseguiu chegar até aqui?
LUIZA HELENA: Eu não faço a menor ideia de como a Tamara apareceu aqui,
mas eu estou um pouco apreensiva com o que a presença dela pode nos causar.
(Diz enquanto caminha de braços dados com Eva).
EVA: Do que você está falando, minha querida? (Questiona curiosa).
LUIZA HELENA: Nada demais, eu apenas pensei alto. Vamos organizar as
coisas para bater os parabéns? (Muda de assunto).
ÍTALO: (Passa pela sala correndo por entre os convidados na tentativa de
alcançar Enrico).
TAMARA: Nossa, o que será que deu nele? (Pergunta após quase esbarrar com Ítalo,
que sequer voltou para se desculpar).
BETINHA: Quem sabe! Mas vamos, eu quero te apresentar a algumas pessoas.
TAMARA: Eu não sei se devo, estou tão mal vestida. Vou te fazer passar vergonha!
(Diz encabulada).
BETINHA: Que besteira, você é linda. Se isso é um problema, eu posso ser a sua
fada madrinha essa noite.
TAMARA: E eu posso saber como? (Estranha).
BETINHA: Vem comigo! (Puxa Tamara pelo braço e as duas sobem a escada correndo).
Cena 06 – Ruas de São Paulo
[Externa/Noite]
(Atordoado e confuso se tomou ou não
a decisão correta sobre o futuro de sua relação com Ítalo, Enrico caminha pelas
ruas rumo ao ponto de ônibus mais próximo para voltar para sua casa).
ENRICO: (Olha ao redor assustado devido à
pouca luz).
HOMEM 1: Tá perdida, boneca? (Fala de um
ângulo que Enrico não o consegue ver).
ENRICO: (Apreensivo, começa a apressar os
passos).
HOMEM 2: Olha a roupa dele, cheia de brilho.
Essa coca é fanta! Você sabe o que acontece com gazelinha, na nossa quebrada,
não sabe?
HOMEM 3: Tá com pressa, viadinho? Não ouviu?
Estamos falando com você! (Grita).
ENRICO: Me deixem em paz, eu só quero ir
embora! (Começa a correr amedrontado).
(Os três homens correm atrás de
Enrico e o cercam).
HOMEM 2: Que foi? Não é homem o suficiente
para nos olhar na cara? (Empurra Enrico).
ENRICO: Qual é o seu problema? Eu não te fiz
nada, me deixa ir embora! (Tenta ir embora, mas novamente é empurrado para o
cerco).
HOMEM 1: Fala que nem homem, ô viado!
(Empurra Enrico).
ENRICO: Não encosta em mim, seu homofóbico
de merda! (Irritado e tentativa de se defender, empurra o homem de volta).
HOMEM 3: Ah, então você quer brigar? Briga
que nem homem! (Acerta um soco no rosto de Enrico, que cai no chão).
ENRICO: (Completamente tonto pelos golpes
que estava recebendo, pouco a pouco Enrico perdia os sentidos enquanto levava
chutes de todas as partes).
Cena 07 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Noite]
(Betinha é conduzida por Luiza Helena
e se posiciona em frente à um grande bolo de 5 andares. Em seguida, todos
começam a cantar parabéns).
LUIZA
HELENA: Betinha,
Betinha! Faça um pedido, meu bem. (Aplaude).
BETINHA: (Se inclina olhando para as velas.
Em seguida fecha os olhos, respira fundo e assopra as velas).
TAMARA: (Trajando uma outra roupa mais
apropriada para a ocasião e emprestada por Betinha, observa a cena enquanto
troca olhares com Evandro).
EVANDRO: (Pisca o olho para Tamara).
DURANT: E agora, para quem vai o primeiro
pedaço? (Questiona a Betinha).
BETINHA: Ué, vocês não imaginam? (Diz
enquanto corta o bolo e serve uma fatia em um prato de porcelana).
RAFAEL: Essa tá muito fácil! (Responde).
BETINHA: Exatamente, não tinha como ser para outra pessoa além da melhor irmã que
eu tenho. Eu já errei muito, fui egoísta em diversas ocasiões, mas o que nos
une é verdadeiro e ninguém pode mudar. Que nunca nos falte verdade, amor e nem
união. O primeiro pedaço é seu Luiza! (Entrega o prato a Luiza Helena).
LUIZA HELENA: (Abraça Betinha após receber o primeiro pedaço de bolo,
visivelmente emocionada com as palavras).
RAFAEL: E eu posso saber qual foi o desejo da aniversariante?
BETINHA: Isso jamais! Desejo é segredo e eu não posso revelar, se não ele não se
realiza.
DURANT: Ela tem razão, Rafa! (Responde).
(Francesca, Zeca, Maria Rita e
Marcelo continuam conversando em meio aos convidados).
FRANCESCA: Vocês viram o meu bambino? Ele estava aqui agora há pouco,
mas depois dos parabéns, io non o vi mais. (Diz enquanto procura Enrico com o
olhar entre as pessoas).
MARCELO: Eu não vi ninguém! (Diz enquanto come um pedaço de bolo).
MARIA RITA: Eu não lembro de ter visto o Enrico. Em compensação, eu vi o
Ítalo passar correndo há alguns minutos. (Responde).
ZECA: Ué, o meu filho? Será que aconteceu alguma coisa? (Preocupa-se).
MARIA RITA: Eu acho que não, vocês sabem como são esses jovens de hoje
em dia.
(Fernanda e Ângelo resolvem ir até o
jardim tomar um pouco de ar, deixando Suzana sozinha na sala de estar entre os
convidados. É nesse momento que Evandro resolve se aproximar).
EVANDRO: É uma bela festa, não acha?
(Pergunta tentando puxar assunto).
SUZANA: É... é sim! Bom, eu tenho que ir
agora. (Tenta ir embora).
EVANDRO: Escuta Suzana, é impressão minha ou
você anda me evitando nos últimos tempos?
SUZANA: Eu? Te evitando? Não-não, porque?
(Gagueja).
EVANDRO: Não sei! Talvez você queira me contar alguma coisa, ou tenha descoberto
algo que não deveria. Eu acertei? (Tenta encurralar Suzana).
SUZANA: Eu não sei do que o senhor está falando. Agora eu vou procurar a
Fernanda e o Ângelo, com licença! (Sai rapidamente e deixa Evandro falando
sozinho).
EVANDRO: Não resta mais dúvida, essa piranha descobriu alguma coisa. Eu preciso
dar um jeito nela antes que ela dê com a língua nos dentes! (Fala consigo
mesmo, em seguida bebe um gole de uísque).
Cena 08 – Chesca’s, Restaurante
Italiano [Interna/Noite]
(Após ouvir o som do telefone tocar,
Lola/Amara caminhava cambaleando em meio à penumbra. Ao adentrar na sala de
estar, acendeu a luz e foi até a mesinha onde estava o telefone).
LOLA/AMARA: Pronto, alô? (Diz ao atender o
telefone). Sim, aqui é da casa dele. Quem gostaria? Pode falar, o que
aconteceu?
(A expressão de Lola/Amara faz uma
rápida transição e podemos notar um misto de medo e desespero).
LOLA/AMARA: Mas como aconteceu? Em que hospital
ele está? Sim, nós estamos indo até aí. Obrigada! (Desliga o telefone
desesperada).
(Aflita, Lola/Amara olha para todos
os lados da sala como se estivesse procurando algo. De repente, corre até uma
mesa próxima a janela, abre a gaveta e retira uma agenda. Em seguida corre até
o lado do telefone, abre a agenda e disca um número).
LOLA/AMARA: Atende Francesca, atende! (Diz
enquanto o telefone chama. A ligação vai para a caixa postal, em seguida ela
disca o número mais uma vez, mas sem sucesso). É, não vai ter jeito. Eu vou ter
que ir até essa festa!
(Lola/Amara coloca o telefone na base
e corre até seu quarto para trocar de roupa).
Cena 09 – Hospital Santa Veridiana
[Interna/Noite]
(Uma ambulância estaciona na entrada
principal do hospital. Em seguida os paramédicos abrem as portas traseiras do
veículo e retiram uma maca de seu interior).
MÉDICO PLANTONISTA: Qual é o caso? (Diz ao se aproximar e avaliar as pupilas de
Enrico com auxilio de uma pequena lanterna).
PARAMÉDICO: O paciente foi brutalmente agredido, possui múltiplas
fraturas e indícios de lesões graves.
MÉDICO PLANTONISTA: Levem para a sala de traumatologia, precisamos fazer exames
mais minuciosos, o estado do paciente é visivelmente grave. Já avisaram a
alguém da família? (Questiona enquanto correm empurrando a maca pelos
corredores do hospital).
PARAMÉDICO: Já sim, apesar das agressões, não roubaram nada. Ele estava
com celular e carteira, todos os pertences. A família deve chegar dentro de
instantes!
MÉDICO PLANTONISTA: Tudo bem, vamos leva-lo depressa. Vai, vai, vai! (grita).
(Enrico é levado para a sala de
trauma acompanhado de uma equipe médica).
Cena 10 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Noite]
Música da cena: Me Leva – Alice
Caymmi
(Os convidados se divertem e dançam ao
som da música, enquanto o DJ tenta deixa-los cada vez mais animados).
MARCELO: Eu não sei como esse povo gosta de
dançar essas músicas doidas, eu sou mais o meu arrasta-pé, ralando bucho e
levantando poeira!
ZECA: Tem que se abrir para o novo, meu
irmão! Essas são as músicas da atualidade, tá na moda. Eu vi na internet...
MARIA
RITA: Gente, aquela
ali não é a Amara... Lola, sei lá o nome dela? (Diz ao avistar Lola/Amara
parada na porta de entrada da mansão).
FRANCESCA: Onde? Cadê? (Pergunta procurando).
ZECA: Ali na porta! (Responde).
LOLA/AMARA: Até que enfim eu te encontrei! (Diz
ao se aproximar).
FRANCESCA: Lola, o que você está fazendo aqui?
Você disse que não vinha. Aconteceu alguma coisa?
LOLA/AMARA: Aconteceu! (Responde secamente).
FRANCESCA: Foi com o meu bambino, non foi?
(Desespera-se).
LOLA/AMARA: Infelizmente sim, você precisa vir
comigo.
FRANCESCA: O que aconteceu com o mio bambino? Foi um assalto? Ele tá
ferido? Responde, não mente pra mim!
LOLA/AMARA: Ligaram do hospital, eu não sei como ele está. Eu quero
muito vê-lo, vamos até lá?
FRANCESCA: Mataram... Mataram mio bambino, San Gennaro! (Começa a ficar
alterada).
ZECA: Não, vira essa boca para lá! Noticia ruim chega logo, vamos até o
hospital vê-lo. Tenho certeza de que não será nada grave. Você sabe onde fica o
hospital que levaram ele?
LOLA/AMARA: Sei sim, fica nesse endereço aqui! (Entrega o papel com o
endereço anotado).
ZECA: Eu sei onde fica, vou levar vocês até lá. Vamos no meu carro!
MARIA RITA: Nós vamos com vocês, não é tigrão?
MARCELO: É sim, vamos todos juntos.
ZECA: Então vamos!
(Francesca, Zeca, Lola/Amara, Maria
Rita e Marcelo vão embora da festa rapidamente sem se despedirem ou darem
satisfação).
Cena 11 – Apartamento de Glória
[Interna/Noite]
Música da cena: Gloriosa – Glória
Groove
(Sozinha em casa, Glória tenta
sintonizar a antena da TV com uma esponja de aço).
GLÓRIA: (Tenta arrumar a antena) Que decadência! Enquanto todos estão na festa
da mini-pescadora, eu estou aqui passando apuros para vê novela de gente pobre!
(Irritada, Glória soca a TV para que
a imagem melhore, porém ao invés de sintonizar, a TV queima).
GLÓRIA: Isso não é possível, que inferno! E agora, o que eu vou fazer? Vou
morrer entediada, nem a estrupício está aqui para eu poder atazanar. Queria ser
uma mosquinha para ver como está a festa na aldeia de pescadores. Eu até
imagino a decoração com redes de pescada, calça de pular riacho e estrelas do
mar! (Senta no sofá dando gargalhadas imaginando).
Cena 12 – Hospital Santa Veridiana
[Interna/Noite]
Música da cena: Um Pôr Do Sol Na
Praia – Silva e Ludmilla
(Imagens externas da cidade de São
Paulo são apresentadas. A noite está iluminada por conta dos grandes edifícios,
veículos transitam pelas grandes avenidas. Em seguida, surge a fachada do
hospital Santa Veridiana. Francesca e os demais adentram na recepção aflitos).
LOLA/AMARA: A recepção ali, vamos perguntar! (Aponta na direção da
recepção).
FRANCESCA: Moça, moça! Io preciso ver o meu bambino, ele está aqui,
questo hospital. O nome dele é Enrico Bergamini, io sou a mamma dele, onde ele
está?
RECEPCIONISTA: Só um instante, senhora. Eu vou verificar! (Diz ao acessar
os prontuários no computador).
ZECA: Calma, Francesca! Você precisa ter tranquilidade. Logo você vai ver que
não foi nada grave!
MARIA RITA: É, Francesca. Tenha fé, nada de mal terá acontecido. Sejamos
confiantes!
RECEPCIONISTA: Senhora, o médico responsável pelo caso do seu filho já está
vindo. Podem aguardar aqui na recepção mesmo!
LOLA/AMARA: Meu Deus, não permita que nada tenha acontecido com o nosso
menino, livrai de todo o mal. (Reza em voz alta).
MARCELO: Vejam, aí vem o médico! (Aponta ao avistar o médico).
FRANCESCA: Doutor, io sou a mamma do Enrico. Me diz a verdade, mio
bambino está vivo?
MÉDICO PLANTONISTA: (Olha para Francesca com uma expressão extremamente séria).
A imagem foca em Francesca olhando
para o médico. A cena congela e vira uma capa de revista.
Obrigado pelo seu comentário!