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A Razão de Amar - Capítulo 03 (Reprise)

 


A RAZÃO DE AMAR

 

Novela de João Victor

 

Escrita por:

João Victorr

 

Personagens deste capítulo

 

Afonso Valadares.                                   Quitéria Valadares

Padre Amaro                                            Raul Fernandes                        

Branca Valadares.                                   Tereza Valadares

Celso Correia                                          Venâncio Correia

Enfermeira.                                             Vera Fernandes

Empregada

Fausto Valadares

Herculano                                                Otávio Correia

Horácio Duarte

Irineu Rodrigues

Jacinto

Letícia Fernandes

Madalena

Olímpio

 

CENA 01/ PREFEITURA/ GABINETE DO PREFEITO/ INT./ MANHÃ

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Muito suspense. A música de tensão da última cena do capítulo anterior continua.

FAUSTO – Eu ainda estou dando esta chance a você. Se fosse com meu irmão, certamente você não teria esta chance. Escolha: a prefeitura ou revelação de seu romance secreto com a professorinha esposa de seu melhor amigo.

VENÂNCIO – Eu não tenho medo de você e muito menos cedo às suas ameaças.

FAUSTO – Será que não? Imagina só ter que ganhar mais um inimigo. E pior ainda se esse inimigo foi um dia seu melhor amigo. Esses são os piores e os mais cruéis. Ou você esqueceu que querendo ou não temos o mesmo sangue. Os nossos ancestrais José Francisco e Antônio de Pádua, fundadores desta cidade, eram primos e melhores amigos. Por causa de um adultério, essa amizade foi desfeita e eles se tornaram ferrenhos inimigos. Rivalidade esta que se perpetua até hoje. Imagine a tragédia que um escândalo desse pode causar.

VENÂNCIO (enraivado) – Você realmente não tem caráter!

FAUSTO – Você ainda não respondeu a minha pergunta.

VENÂNCIO (pensativo) – Foi você que pegou as cartas do meu cofre, não foi? Fala!

FAUSTO – Eu não sei do que você está falando, mas a forma como eu descobri isso não vem ao caso agora. Eu não tenho todo o tempo do mundo para esperar a sua boa vontade de me responder essa simples e direta pergunta.

VENÂNCIO (espumando de raiva) – Está bom. Você venceu! Mas não pense que isso vai ficar assim.

FAUSTO (Cínico) – Melhor assim.

VENÂNCIO – Você não sabe do que eu sou capaz. Está brincando com a pessoa errada

FAUSTO – Eu sei muito bem do que estou fazendo e não tenho medo algum seu. Sobre o adultério, pode ter certeza de que eu vou guardar segredo. Ninguém vai ficar sabendo a não ser que você ouse me desafiar.

Coronel Venâncio sai e bate a porta com força.

VENÂNCIO (off) – Você não perde por espera! Você não perde por esperar! (Gritando)

Fausto se senta na cadeira e comemora.

Corta para:

CENA 02/ FAZENDA CORREIA/ ESCRITÓRIO/ INT./ TARDE

Algumas horas depois.

Coronel Venâncio sozinho pensa na vida.

Inserir o flashback da cena 20 do capítulo 02:

Coronel Venâncio está vestindo sua roupa para o primeiro compromisso como o prefeito provisório da cidade. Enquanto isso, ele percebe, ao acessar o cofre, que este está aberto. Estranhando, ele questiona.

VENÂNCIO – Madalena, alguém mexeu aqui no guarda roupa? O cofre está aberto!

MADALENA – Não faço a menor ideia de quem tenha sido. Eu nem sei a senha deste cofre.

Fim do insert.

Coronel Venâncio fuma um charuto.

VENÂNCIO – Eu vou reaver as cartas que aquele infeliz me roubou. Descobrirei quem está infiltrado aqui na minha casa.

Madalena bate na porta.

MADALENA (off) – Venâncio, Venâncio!

VENÂNCIO – Pode entrar!

Madalena entra.

MADALENA – Correspondência de Londres. (entrega a Correspondência ao marido)

VENÂNCIO – “Estou chegando. Abraços de Afrânio” (amassa a correspondência). O meu dia já não estava e agora aparece mais essa praga para me atormentar.

MADALENA – O seu irmão está voltando?

VENÂNCIO – Resta saber o que é que ele quer aqui depois de tanto tempo na Europa. Pelo que eu conheço do meu irmão, coisa boa não é. Herculano estão por aí? (Pergunta, mudando de assunto). Preciso falar urgentemente com ele.

MADALENA – Eu não o vi hoje.

VENÂNCIO – Peça para algum dos empregados chamá-lo. Preciso dele aqui agora!

Madalena sai e cruza com Herculano na sala.

MADALENA (off) – Venâncio quer falar urgentemente com você.

HERCULANO (off) – Eu já ia falar com ele mesmo.

Herculano entra no escritório do Coronel.

VENÂNCIO – Acabei de falar com a minha mulher de que queria falar com você urgente.

HERCULANO – Ela me disse. Acabei de cruzar com ela na sala.

VENÂNCIO – Pois bem. Preciso que você siga todos os passos de Fausto Gomes Valadares e de todas as pessoas que convivem com ele diariamente. Preciso saber como foi que ele conseguiu descobrir informações confidenciais minhas.

HERCULANO – Eu fui na prefeitura e não vi o senhor lá. Não me diga que Fausto está te chantageando? (Sentando-se na cadeira) Achei que o senhor fosse mais esperto.

VENÂNCIO – E quem disse que eu não sou? Isso só um pequeno deslize que eu cometi.

HERCULANO – Já sei que tem quenga no meio, né?

VENÂNCIO – Você não está aqui para me fazer interrogatório. Eu só quero que você vigie o irmão de Afonso. Eu vou ficar de olho nos meus empregados. Eles acham que eu vou ficar aqui de mãos atadas sem fazer nada, mas estão muito enganados.

HERCULANO – Vou fazer o que o senhor me pediu.

VENÂNCIO – E o mais importante. Seja discreto!

Herculano sai.

CENA 03/ PALMEIRÃO DO BREJO/ EXT./ MANHÃ

Letreiro mostra: alguns dias depois

Planos da cidade. Pessoas conversando na praça. O jornais sendo impressos. O carteiro entregando as correspondências nas casas. Homens indo ao trabalho. Mulheres indo à modista.

A câmera vai se aproximando da Mansão de Fausto.

FAUSTO (off) – A cidade está se desenvolvendo aos poucos, mas estamos conseguindo ótimas parcerias com governantes e empresas de outros países para investir capital nesta cidade.

IRINEU (off) – Isso daria uma ótima pauta para o meu jornal.

CENA 04/ MANSÃO DE FAUSTO/ SALA DE ESTAR/ INT./ MANHÃ

Na sala, Fausto está com o jornalista Irineu Rodrigues e o delegado Olímpio

A câmera acompanha a empregada, que, leva para Fausto e as visitas, café e biscoitos.

IRINEU (enquanto fumava charuto) – Essa parceria trará inúmeros benefícios à cidade.

FAUSTO – Era algo que eu e Afonso estávamos conversando ultimamente sobre a ideia da construção de uma ferrovia na cidade. Algumas cidades aqui do nordeste já têm desde a década de 1880.

IRINEU – Por falar no Coronel, como ele está? Eu não soube mais notícias dele.

FAUSTO – Branca dele está acompanhando. Horácio está cuidando dele muito bem. É um grande amigo da gente desde criança. A vida dele também é cheia de altos e baixos. O filho mais velho dele morreu há cinco anos depois que pegou a arma do pai e atirou acidentalmente contra si mesmo.

IRINEU – Nossa, que história!

OLÍMPIO (Interrompendo a conversa) – Só uma coisa que eu não entendi até agora. (pensativo). Como o senhor conseguiu tirar Coronel Venâncio da prefeitura? Pra ele ter saído Dalí, o senhor deve ter chantageando ele e com algo que com certeza vai acabar com a reputação dele. É... Porque ele não é uma pessoa fácil de ser dominada.

FAUSTO – Eu sei muita coisa sobre ele! Ele até se esquivar, mas eu fui mais esperto. (Sorrindo). Mais cedo ou mais tarde os senhores irão ficar sabendo... Basta só ele cometer um deslize. Ele sabe muito bem com quem está se metendo. Ele não é besta de me desacatar ou de me desafiar.

OLÍMPIO – Se o senhor quiser eu posso fazer uma espécie de escolta... segurança...

Tereza entra na sala e se senta ao lado do marido.

FAUSTO – Muito obrigado, delegado, mas não será preciso! Eu sei muito bem me cuidar e sei muito bem quando estou correndo perigo.

OLÍMPIO – Eu não sei não, viu? Se eu fosse você não ficava com todo orgulho e valentia toda. Veja o atentado como um aviso. Ele não vai deixar barato essa história. Fique de olho! Eu estou falando isso como um delegado e como um amigo. Ele não vai deixar barato! Escute o conselho que eu estou lhe dando.

FAUSTO – Pode ficar tranquilo que não vai acontecer nada comigo. Ele sabe muito bem o que vai acontecer, se fizer algo contra mim.

OLÍMPIO – Eu nem sei mais o que fazer. Desde que eu me entendo por gente que as duas famílias vivem nessa guerra.

IRINEU (P/ Del. Olímpio) – Eu já perdi as contas de quantas vezes já noticiei atentados, homicídios, desaparecimentos envolvendo os Alves Correia e os Gomes Valadares. (Continua a tomar o café). O meu jornal está em expansão. O café estava ótimo, querida. (P/ Tereza)

Tereza pega as xícaras dos três.

TEREZA – Os senhores aceitam mais café?

IRINEU e OLÍMPIO (juntos) – Não, não obrigado. Já vamos

A empregada entra na sala e pega as xícaras que estão com Tereza. Esta, então, sobe ao quarto. Fausto se despede de Irineu e do delegado Olímpio.

Corta para:

CENA 05/ MANSÃO DE FAUSTO/ SALA DE ESTAR/ INT./ MANHÃ

Fausto e Jacinto entram.

FAUSTO (senta-se) – Era com você mesmo que eu queria falar. Sente-se, por favor!

JACINTO (Sério) – Não será preciso, senhor. O que o senhor deseja? O senhor nunca me chamou para nada, apesar de que eu sempre estive a disposição de toda a família Valadares.

FAUSTO (Levanta-se) – Você tem razão. Mas eu vou ser curto, claro e direto. Eu chamei você aqui para saber sobre a Família Alves Correia. Acho que você conhece bem aquela família. Pelo menos, sabe o que se passa lá nos últimos meses.

JACINTO – O que senhor quer saber?

FAUSTO – Esperto, como eu sei que você é, deve ter descoberto algo da importância da minha família.

JACINTO – Não, infelizmente não. Mas tudo que eu via e presenciava falava ao Coronel Afonso

FAUSTO – Eu quero saber de tudo que você viu naquela casa.

JACINTO – A única que eu consegui descobrir é que o Coronel Venâncio é que ele tem uma amante, mas acho que isso não é assunto do seu interesse. Esse era um segredo nosso.

FAUSTO – Eu já sei que ele tem uma amante. A minha mulher viu ele e a amante na igreja.

A empregada entra na sala, com uma bandeja de café. Volta para a cozinha, logo em seguida. Os dois se servem.

JACINTO – Eu descobri acessando o cofre lá da fazenda e encontrando algumas cartas. Ele é muito discreto e se encontra as escondidas com a amante. Eu pelo menos nunca os vi juntos.

FAUSTO – Você está dizendo que encontrou cartas.

Inserir Flashback da 01 deste capítulo:

Uma discussão intensa entre Fausto e Coronel Venâncio

VENÂNCIO – Foi você que pegou as cartas, não foi? Fala!

Fim do Insert.

FAUSTO – Onde estão as cartas?

JACINTO – Eu entreguei ao Coronel Afonso. Ele deve ter colocado no cofre.

FAUSTO – Venâncio já sabe que as cartas foram roubadas. Ele certamente vai usar outra estratégia para se comunicar com Vera. Preciso que você seja mais incisivo naquela família. O meu irmão está entre a vida e a morte, e você poderia muito bem ter evitado isso.

JACINTO – Desculpe, senhor! Admito que a culpa foi minha. Não vai mais acontecer isso. Eu estou apaixonado por Madalena.

FAUSTO (surpreso) – Trate de terminar esse namorico. (irritado). Não quero ser prejudicado por esse seu romantismo barato. Você se infiltrará naquela família de uma forma diferente e de uma forma mais segura. Você usará um disfarce. A chance de Venâncio desconfiar é mínima. E ele não perde por esperar. Ele acha que só porque Afonso não representa mais perigo, pelos menos agora, vai se livrar dos Valadares, mas não vai não

JACINTO – Pode confiar em mim, que eu vou fazer um combinado!

FAUSTO – Assim espero... Ponha o plano em prática hoje! Venâncio gosta de praticar tiro, pelo que eu conheço dele. Trate de começar por isso.

Jacinto confirma com a cabeça. Em seguida, sai. A câmera foca na expressão sorridente de Fausto.

Corta para:

CENA 06/ BARBEARIA/ INT./ MANHÃ

O barbeiro faz a barba de jacinto, pensativo.

JACINTO – pode tirar toda minha barba e todo o meu bigode. A partir de hoje vai nascer um novo homem. Sem mulheres, sem paixões e fiéis às suas convicções.

BARBEIRO – Está feliz e falando bonito.

JACINTO – Hoje começa um novo capítulo da minha vida.

BARBEIRO – Faça bom proveito dessa sua nova vida.

Os dois continuam a conversar

Corta para:

CENA 07/ PALMEIRÃO DO BREJO/ PLANOS DA CIDADE/ TARDE

Tocar a música “Verdades e Mentiras”, de Sá & Guarabyra.

Planos da cidade. Pessoas conversando na praça. Pessoas caminhando na rua, lendo jornal. Mulheres indo à igreja, indo à modista.

Corta para:

CENA 08/ CASA DE JACINTO/ QUARTO/ INT./ TARDE

Jacinto e Madalena estão em momento romântico. Os dois se beijam, se acariciam.

JACINTO (Sorridente) – Hoje, eu vou começar uma nova fase da minha vida.

MADALENA (feliz) – Na nossa vida. Eu quero viver ao seu lado até a eternidade.

JACINTO (sério) – Acho que você não está entendendo. Estou terminando o nosso relacionamento.

A música termina aqui.

MADALENA (Se levanta rapidamente) – Continuo não entendendo. A gente viveu tudo isso pra nada?

JACINTO (Frio) – Eu queria viver pra sempre, mas não posso.

MADALENA (Enraivada) – Cafajeste! Covarde! (Dá um tapa no rosto de Jacinto). Todo homem é igual mesmo. Nenhum vale nada. Achei que você fosse diferente, mas é mais do mesmo. Eu não quero mais ver você na minha frente. (Sai).

Corta para:

CENA 09/ PALMEIRÃO DO BREJO/ PLANOS DA CIDADE/ NOITE

Planos da praça iluminada. Ruas movimentadas. Crianças brincando. Pessoas entrando na igreja iluminada.

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CENA 10/ FAZENDA VALADARES/ INT./ NOITE

A cena começa na SALA.  Fausto e Tereza são recebidos por Branca. A câmera os acompanha. Eles seguram candieiro.

FAUSTO – Mamãe onde está?

BRANCA – Tá lá no quarto rezando. Desde que Afonso sofreu o atentado que ela não sai daquele quarto. Fica rezando o dia inteiro.

FAUSTO – Vou falar com ela.

Fausto e Tereza sobem as escadas e entram no QUARTO. Observam Quitéria folheando o álbum de fotografias.

FAUSTO – Mãe!

Quitéria olha para o filho emocionada. A câmera foca na expressão de emoção dela.

QUITÉRIA – Estou revendo as fotos da nossa família. Matando a saudade do meu querido filho.

FAUSTO – Tudo vai ficar bem. Horácio disse que ele está reagindo bem.

QUITÉRIA – Fico mais tranquila, assim.

FAUSTO – Vamos descer e jantar. A senhora não pode ficar o dia todo aqui no quarto. Tem que comer, se divertir. Quer passar uma tarde lá em casa?

QUITÉRIA – Irei sim, meu filho.

Fausto ajuda a mãe a ficar de pé. Tereza observa feliz o marido ajudando Quitéria. Ele vai a eles e os ajudar a descer as escadas.

Corta para:

CENA 11/ FAZENDA CORREIA/ SALA DE JANTAR/ INT./ NOITE

A mesa está farta de comida. Coronel Venâncio pede para os empregados porem os pratos à mesa. Raul, Vera e Letícia sentam-se. Madalena e Otávio, já sentados, os cumprimentam.

VENÂNCIO (sorrindo) – O que traz os meus queridos amigos aqui? 

RAUL (feliz) – Nós temos algo a dizer. Na verdade, um convite.

VENÂNCIO – Deve ser um convite para algo muito importante.

VERA – O convite é para o casal Venâncio e Madalena.

RAUL (Levanta-se e acena para Vera fazer o mesmo) – Nós queremos que vocês sejam os padrinhos do nosso filho ou filha. Ficaríamos muito gratos se os senhores aceitassem.

O sorriso de Venâncio deu lugar a uma expressão séria.



CENA 12/ FAZENDA CORREIA/ SALA DE JANTAR/ INT./ NOITE

Continuação da última cena do bloco anterior. Venâncio sério. A câmera foca na expressão do coronel.

MADALENA – Claro que aceitamos!

RAUL (para Venâncio) – Venâncio, porque estás tão calado? (Percebendo que o amigo não responde) Venâncio? Venâncio?

VENÂNCIO (se assusta) – O que foi? O que foi?

RAUL – Estava perguntando se você e Madalena aceitavam ser padrinhos do nossa filho ou filha.

VENÂNCIO – Claro que aceitamos! Seria até um prazer. Que vocês sejam muito felizes! Faremos até um brinde. (Ele ergue sua taça) Um brinde a nossa felicidade.

Raul, embora tivesse estranhado o silêncio de Venâncio, ignorou esse fato e brindou com a esposa e os amigos.

Corta para:

CENA 13/ CASA DE JACINTO/ QUARTO/ INT./ NOITE

Tocar o instrumental “Escondidinho”, da novela “Lado a Lado”.

A câmera abre em Jacinto vestido uma calça preta, camisa branca, suspensório, peruca, bigode e óculos.

JACINTO – Coronel Venâncio que se prepare que Jacinto está pronto pra agir... Ou melhor Cícero Vieira.

Corta para:

CENA 14/ FAZENDA CORREIA/ ESCRITÓRIO/ INT./ NOITE

Coronel Venâncio, sentado em sua cadeira, conversa com Raul. Eles bebem cachaça.

VENÂNCIO – Andei tendo contato com alguns amigos e eles me disseram que estão precisando de um advogado para fazer parte do corpo jurídico de uma grande empresa na capital federal.

RAUL – Será que eu devo aceitar? Eu estou um pouco inseguro.

VENÂNCIO – Claro que deve! Uma oportunidade dessas não aparece todo dia.

RAUL – Você tem toda razão!

VENÂNCIO – Lá você terá mais oportunidades... Virar ministro, quem sabe? Presidente da República... E terá todo o meu apoio

RAUL – Diga esse seu amigo que eu aceito. Você é como um irmão pra mim. E não podia deixar de aceitar este convite, ainda mais vindo de você.

VENÂNCIO – Fico muito feliz. Você não irá se arrepender.

Eles se cumprimentam. Raul sai.

VENÂNCIO (resmunga) – Quanto mais eu puder eu afastarei você e aquela mulherzinha da vida. Essa história já foi longe demais. Aquela golpista acha que vai me fazer chantagem emocional, mas não vai. Eu não vou assumir um filho que eu nem sei se é meu.

Corta para:

CENA 15/ FAZENDA CORREIA/ SALA DE JANTAR/ INT./ NOITE

Madalena e Vera conversam sobre a vida.

VERA – Você anda tão preocupada, tão quieta...

MADALENA – Eu estou me sentindo abandonada, sem amor, sem prazer. A minha vida está insuportável.

VERA – Você tem tudo. Uma fazenda, um filho, comida farta, um marido de dá inveja.

MADALENA – Eu tenho tudo isso, mas não sou amada e desaprendi a amar. A impressão que eu tenho é que nenhum homem vale nada. São todos uma armadilha da vaidade feminina.

VERA – Acho que você está se precipitando um pouco.

MADALENA – Queria estar enganada, mas infelizmente não estou.

VERA – Pensa bem no que você vai fazer. Vocês têm um filho. Pensem nele também.

MADALENA – Pra falar a verdade, acho que eu não conheço meu marido. Quer dizer, ninguém conhece o coronel Venâncio Alves Correia

Raul fica intrigado ao escutar a conversa. Em seguida, ele vai à esposa.

RAUL – Vamos, meu amor, já está ficando tarde.

VERA – Claro!

Letícia, que estava brincando com Otávio, desce as escadas correndo.

RAUL – Já vamos, minha filha!

Venâncio sai do escritório e entra na sala para se despedir dos amigos.

VENÂNCIO – Antes de saírem, queria agradecer mais uma vez pelo convite pra nós sermos o padrinho do filho de vocês.

RAUL – Eu que agradeço o presente que você me deu. Meu sonho ir morar no Rio de Janeiro.

Vera fica intrigada, mas mantém-se calada. Eles cumprimentam Venâncio e Madalena.

VERA (resmunga no ouvido de Venâncio) – Quero te encontrar amanhã no mesma hora e no mesmo local.

Venâncio confirma com a cabeça

Corta para:

CENA 16/ HOTEL CASSINO/ QUARTO 12/ INT./ NOITE

Venâncio agarra Vera, que repreende.

VENÂNCIO – Por que está tão brava?

VERA – Você acha que me engana com essa história de Rio de Janeiro. Eu sei que você nunca foi amigo de verdade de Raul.

Tocar a música “inferno”, de Nação Zumbi.

VENÂNCIO (Ri/irônico) – Não me diga que agora vem bancar a dona da moral e bons costumes? Ponha-se no seu lugar! Raul está com você por pena. Não tem nem onde cair morta.

VERA – Do que é que você tem tanto medo? Do escândalo? Imagina sair em todos os jornais: “Coronel Venâncio Alves Correia tem caso com uma professorinha ingênua”.

VENÂNCIO – Eu não tenho medo de nada, até porque a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. E você não tem força para enfrentar um coronel como eu. E quem é a professorinha ingênua? (Ri) Você? Ah! Faça-me o favor! Você é uma golpista. Isso o que você é. Falsa amiga, falsa esposa, falsa moralista e especialista em semear discórdia!

VERA (dando uma tapa no rosto do Coronel) – Olha como você fala comigo!

VENÂNCIO – Já que você é tão corajosa, pura e ingênua que revele para todos na cidade o nosso caso. Vamos ver quem sairá perdendo.

VERA – Covarde!

VENÂNCIO – Você é covarde e burra!

VERA – Você está fazendo com a minha família a mesma coisa que fez com seu irmão. Engravidou a mulher dele e depois os mandou para a Inglaterra, não foi? Fala!

VENÂNCIO (dando um tapa no rosto de Vera) – Você não sabe do que está falando!

VERA – Covarde! Sabe o que eu acho é que não tem proposta de emprego nenhuma. É tudo jogo sujo seu, como tudo seu é sujo. Seus beijos, seu caráter!

Vera sai, batendo a porta, enraivada e nervosa.

CENA 17/ PALMEIRÃO DO BREJO/ TARDE

Letreiro mostra: Alguns dias depois

Imagens de pássaros voando, vento forte, imagens do rio calmo. Coronel Venâncio Alves Correia caminha vagarosamente. Ele aponta uma pistola em direção a uma maçã que está em cima de uma pedra, aperta o gatilho e acerta a fruta.

VENÂNCIO (para Herculano) – É assim que tem ser. Decidido, preciso, direto.

HERCULANO – Escondendo o jogo é? Atira tão bem quanto eu!

VENÂNCIO – Sempre fui um exímio atirador. Agora é a sua vez!

Venâncio dá a pistola a Herculano, que se prepara, colocando outra maçã no local. Ele conta cinco passos para traz e atira. A bala pega de raspão na maçã.

HERCULANO – Não fui muito firme no tiro!

Jacinto se aproxima dos dois.

JACINTO – Vi os senhores atirando de longe. O primeiro que atirou tem uma boa mira; o segundo, nem tanto, mas não é tão ruim assim.

HERCULANO (para Jacinto) – Quem é você para dizer quem atira ou não atira bem?

JACINTO (mentindo) – Meu nome é Cícero Vieira. Mas podem me chamar apenas de Cícero. Eu consigo acertar uma uva na mesma distância que vocês acertaram a maçã.

VENÂNCIO – Acho difícil, mas já que você está falando...

JACINTO (para Herculano) – Me empresta a pistola?

HERCULANO – É toda sua! (Entrega a pistola para Jacinto)

Jacinto tira três uvas do bolso da calça, comendo uma e colocando as outras duas em cima da pedra. Ele conta cinco passos para trás e atirar. A uva se despedaça toda. Venâncio bate palmas.

VENÂNCIO – Bravo! Bravo! Perfeito!

HERCULANO (Desconfiado) – Você leva jeito pra coisa mesmo!

Corte descontínuo. Os três continuam a praticar tiro todos os dias.

VENÂNCIO (para Jacinto) – Aceita ser meu jagunço, Cícero? Ficaria muito grato se aceitasse. É de um homem de fibra e corajoso como você que estou precisando.

HERCULANO – E eu, senhor, como fico?

VENÂNCIO (para Herculano) – Não preciso mais de seus serviços! Perdi muito tempo com você. Já não basta o serviço mal feito naquele dia. Era para ter matado Afonso e Fausto. Deixou um vivo e o outro que ninguém sabe se morre ou se vive. Você deveria ter pelo menos a decência de assumir sua incompetência.

Herculano sai calado, enquanto Jacinto faz um sorriso cínico.

Corta para:

CENA 18/ FAZENDA CORREIA/ INT./ TARDE

Letreiro mostra: dois meses depois.

A cena começa na SALA DE ESTAR. Venâncio entra e empregada avisa sobre algo.

EMPREGADA – Tem uma pessoa te esperando no escritório!

VENÂNCIO – Quem é?

EMPREGADA – Acho melhor o senhor vê com seus próprios olhos.

Venâncio entra no ESCRITÓRIO . Um homem que está de costas vira-se para Venâncio.

CELSO (em um tom irônico) – Boa tarde, surpresa! Estava com saudades?

Venâncio entra e se depara com um homem de costas, que se volta a ele.

CELSO – Boa tarde, surpresa! Estava com saudades!

VENÂNCIO – Nunca imaginei que você iria voltar um dia.

CELSO (sarcástico) – Temos algumas coisas a acertar.

VENÂNCIO – Não, não temos. O que fizemos no passado ficou no passado.

CELSO – E essa fazenda?

VENÂNCIO – O que é que tem essa fazenda? Ela é minha e eu construí com o meu suor.

CELSO – Construiu não... Se aproprio, no melhor sentido da palavra... Deu uma melhorada? Deu! Mas ela ainda deixa de ser minha também por direito. Afinal, somos irmãos, não é mesmo?

VENÂNCIO (resmunga) – Jesus, me ajuda que quanto mais eu rezo mais assombração me aparece.

CELSO – Eu sei que você está com medo, mas eu não vou fazer vingança, porque eu não sou disso. E infelizmente para defendermos os nossos interesses temos que estar no mesmo barco.

VENÂNCIO – Pensando por esse lado, você é muito mais inteligente do que eu pensava. Mais alguma coisa?

CELSO – Não só isso mesmo... Ah! Havia esquecido o principal. Você não acha que eu vou fazer com você o que fizera comigo, né?! Pode ficar tranquilo que eu não vou engravidar a sua esposa e mandar você e ela para a Europa como você fez comigo não.

VENÂNCIO – O que você está insinuando?

 CELSO – Você sabe muito bem o que eu estou falando. Não se faça de sonso que isso não combina com você.

VENÂNCIO – Você é muito mal agradecido. Te salvei de um escândalo. Não fale do que você não sabe.

CELSO – Me salvou de um escândalo ou se livrou de um escândalo, hein, Coronel Venâncio Alves Correia? Me admira você ainda não ter perguntado como está Marta. Mas já adianto que está bem, casada e com dois filhos lindos educados à inglesa. Mas eu não tenho raiva de você não. Pelo contrário, agradeço. Pelo menos a Marta casou com um homem que a ama de verdade, mesmo que tudo tenha acontecido tão por acaso e apressadamente como aconteceu. Tenha pena do Bernardo, meu filho mais velho, que nunca conheceu o verdadeiro pai. Mas, como diz a cultura popular, pai é quem cria. Mas ele não nega o sangue que tem. Soberbo, rude, teimoso e inconsequente que nem você.

VENÂNCIO – Acabou?

CELSO – Tenha um ótimo dia... Só mais uma coisinha. Estou te convidando para um jantar na minha casa amanhã a noite. Depois de tanto tempo sem nos vermos, nada como uma boa reunião de família.

Coronel Venâncio confirma com a cabeça.

Corta para:

CENA 19/ MANSÃO DE FAUSTO/ SALA DE ESTAR/ INT./ TARDE

Fausto caminha pela sala pensativo. Jacinto entra.

FAUSTO – Como estão as coisas lá na família Correia? Você não me informou mais nada.

JACINTO – Venâncio e Vera não se falam mais. Eles se encontram só por conveniência e porque Raul é amigo dele. Não sei se é estratégia para despistar. Ele, depois que descobriu os roubos das cartas, deve ter ficado mais esperto.

FAUSTO – Você tem razão, mas continue lá íntimo do Coronel Venâncio. Se ele continua tendo um caso com a professorinha, você vai acabar descobrindo mais dias menos dias. O que importa agora é que ele continua nas minhas mãos! Agora vá!

Jacinto sai de cabeça baixa.

Corta para:

CENA 20/ FAZENDA VALADARES/ QUARTO/ INT./ TARDE

Horácio examina o Coronel Afonso. Levanta-se da cama.

HORÁCIO – Ele está progredindo... A passos de tartaruga, mas está progredindo. Mas ele terá que largar a política. Não vai ter mais condições. Eu estou dizendo isso não como médico, mas como amigo.

BRANCA – Já perdi as contas de quantas vezes eu já pedi para ele largar a política, mas é mesmo que nada. É bem capaz de, na hora que ele despertar desse coma, sair por aí disparando pra todos os lados. Não tem medo de nada, nem mesmo da morte!

HORÁCIO – Estou dando meu recado não como médico, mas como um pai que já perdeu um filho. Não se compara a dor perder um marido ou uma esposa, com a dor de perder um filho, um pai ou uma mãe. E eu já perdi um filho, uma mãe e o pai nem prazer de conhecer eu tive.

BRANCA – Você tem razão. Dos meus entes queridos, perdi meus, pelo curso natural da vida, e foi muito doloroso, mas a sua dor é muito mais forte pela forma trágica que foi. Um...

HORÁCIO (interrompe) – Peço para que não entre nesse assunto. Não me faz bem.

A empregada entra com uma bandeja de café e deixa sobre a cama.

EMPREGADA – Trouxe café e biscoitos!

BRANCA (para Horácio) – Aceita um café?

HORÁCIO – Adoraria, mas o trabalho me chama!

BRANCA (para a empregada) – Está no hora de buscar Eduardo na escola!

EMPREGADA – Irei buscar, senhora!

A empregada sai do quarto.

Corta para

CENA 21/ MANSÃO DE FAUSTO/ EXT.INT/ TARDE

Celso, com uma maleta em suas mãos, caminha pela calçada da mansão. Ele observa toda a casa. Da janela do QUARTO . Tereza o observa, desconfiada. A câmera se aproxima. Ela franze a testa.

TEREZA – Fausto, tem um homem aqui observando nossa casa. Eu não sei quem é e já não gostei da cara dele.

Fausto se aproxima da janela para vê quem é.

FAUSTO – Deve ser o rapaz que vem falar comigo hoje sobre uma parceria para abrir uma filial de uma empresa de algodão lá da Inglaterra.

TEREZA – Mas ele não me parece inglês.

FAUSTO – Mas essas empresas nos estrangeiros são formadas por gente de todo o mundo.

CELSO (off) – Fausto! Fausto!

TEREZA – Ele está chamando.

FAUSTO – Vamos descer para vê quem é realmente.

Eles descem as escadas até a SALA. O mordomo abre a porta.

CELSO – Fausto está?

FAUSTO (responde, descendo as escadas) – Sou eu. Imagino que você seja representante da empresa inglesa que estamos formando parceria

CELSO – Sou o engenheiro e tenho uma parte das ações CottonSpace.

FAUSTO – Entre!

Celso entra. Eles sentam no sofá.

FAUSTO – Aceita um café, um chá, uma cachaça?

CELSO – Aceito um chá. É o que costumamos tomar por essas horas lá na Inglaterra.

TEREZA (sentada ao lado do marido) – Queria conhecer Londres, Liverpool, Southampton...

CELSO – É muito bonito lá. Fui morar lá aqui ainda era uma monarquia e a rainha de lá ainda era a rainha Vitória e agora quem está no comando da corte britânica é o filho dela Eduardo VII.

A empregada entra com uma bandeja de chá e sai em seguida.

FAUSTO (bebendo o chá) – Ah você é daqui de Palmeirão? Como é seu nome mesmo?

CELSO (também bebendo o chá) – Sim. Celso Afrânio, mas pode me chamar apenas de Celso.

FAUSTO – Pois bem, Celso. Nós queremos aumentar a nossa produtividade de algodão e essa parceria com a Inglaterra é fundamental.

CELSO – Aceitaria um convite pra jantar em minha casa?

FAUSTO – Sim. Me passe o seu endereço.

Celso tira uma caneta de pena, uma folha do bolso do paletó e anota o endereço.

CELSO (Entrega o endereço) – Anotado!

FAUSTO – Então até amanhã.

CELSO – See you later, Mr. Valadares. (Até logo, Sr. Valadares)

Celso sai.

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CENA 22/ CASA DA FAMÍLIA FERNANDES/ QUARTO/ INT./ TARDE

Raul entra no quarto.

RAUL – Não foi trabalhar hoje, Vera?

VERA – O enjoo não me deixou trabalhar hoje.

RAUL – Vou pedir para a empregada fazer uma sopa!

VERA – Faça isso, meu amor!

Letícia entra no quarto e abraça a mãe, enquanto Raul desce para a cozinha.

LETÍCIA – Mainha, estou apaixonada!

VERA (surpresa) – Apaixonada? Você nem idade para isso!

LETÍCIA – E qual a idade pra se apaixonar, mainha?

VERA – Não pense nisso agora. O amor é uma armadilha. As vezes prega umas peças inexplicáveis. Você é muito nova pra amar alguém. (faz um carinho na filha). Eu sei muito bem como é amar uma pessoa e ser deixada de lado.

LETÍCIA – Painha não te ama, mainha?

Raul entra no quarto com a bandeja de sopa e escuta o que Letícia acabou de falar.

RAUL – Que história é essa, filha, de que eu não amo sua mãe?

Letícia

VERA (interrompe) – Nada, nada. Desce, filha, que estou muito cansada.

Letícia vai para seu quarto.

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CENA 23/ FAZENDA CORREIA/ INT./ MANHÃ

A cena começa na SALA DE ESTAR.

No dia seguinte.

Raul e Vera entram.

VENÂNCIO – Bom dia, queridos amigos!

RAUL – Temos muito a conversar!

VERA – Bom dia, Coronel! Espero que esteja tudo bem 

VENÂNCIO – E por que não estaria?

VERA – Nada. Falei isso só por força do hábito!

VENÂNCIO – Sentem-se que o café já está à mesa.

Eles caminham para a SALA DE JANTAR e sentam-se à mesa, que está farta de comida. Leite, pão, manteiga, bolo, suco de laranja, queijo e café.

VENÂNCIO – A mesa está farta. Sirvam-se a vontade.

VERA – Cadê Madalena?

VENÂNCIO – Deve está descendo.

Branca e Otávio entram na sala de jantar.

BRANCA e OTÁVIO – Bom dia!

RAUL, VENÂNCIO e VERA – Bom dia!

Celso, Marta e os dois filhos entram na sala de jantar.

CELSO – Tem lugar pra mais um aí... Quer dizer, pra mais alguns?

RAUL – Celso? Não sabia que você tinha voltado.

CELSO – Voltei e agora é pra ficar.

RAUL – Feliz por saber da sua volta.

CELSO (sentando-se) – Parece que o único que não ficou feliz com a minha volta foi o meu irmão.

VENÂNCIO – Claro que eu fiquei. Você não acha que eu ia ficar feliz com a volta do meu irmão.

CELSO – Então devo ter me enganado! Cumprimente o seu cunhado, Marta.

MARTA – Bom dia, Venâncio e Madalena!

VENÂNCIO – Bom dia, Marta. E quanto tempo, hein?

MARTA – Quanto tempo...

Madalena fica em silêncio olhando os dois entreolharem.

MADALENA (mudando de assunto) – Acho que vou à igreja

VERA – Eu vou com você, Madalena.

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CENA 24/ CEMITÉRIO/ INT./ MANHÃ

Tocar a música “Prelude in C major”, de J.S. Bach.

Vilma, vestida de preto, caminha pelo cemitério carregando consigo um ramo de flores. Ela vai

Ao túmulo de seu filho.

VILMA – Meu filho quanta saudade sentimos de você

Horácio se aproxima da esposa.

HORÁCIO – Eu nunca gosto de vim nesse lugar. Nunca gostei. Sinto uma energia muito pesada.

VILMA – É o nosso filho e infelizmente aconteceu aquela tragédia. É algo que nunca iremos superar.

A câmera vai descendo lentamente até a lápide, que está escrita “Pedro Pereira Duarte” e mais abaixo as datas de nascimento e de morte “3 de abril de 1893 – 15 de maio de 1900”.

VILMA – E o pior de tudo é saber que tudo poderia ter sido evitado. A cartomante falou, mas você não quis escutar.

HORÁCIO – A culpa é minha agora?

VILMA – É... Porque a arma era sua.

HORÁCIO – Ficar discutindo agora não vai trazer o nosso filho de volta.

VILMA – Vamos que por hoje já deu...

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CENA 25/ IGREJA/ INT./ MANHÃ

Madalena e Vera conversam.

A música se encerra nessa parte.

MADALENA – As vezes eu tenho de que o meu marido não me ama mais e está comigo por caridade, conveniência ou por vergonha de causar escândalo. Tem dias que ele está quieto, misterioso, não presta muita atenção em mim.

VERA – Mas todo homem é assim. Quieto, misterioso.... O meu marido também é assim e, graças a Deus, nós vivemos felizes no nosso casamento. As brigas as vezes acontece porque é normal. Somos pessoas diferentes, pensamos diferentes sobre alguns. A minha filha mesmo colocou na cabeça que está apaixonada. Eu não vejo nada de ruim em uma criança se apaixonar, mas Raul é muito exigente com relação a isso.

MADALENA – A Letícia está apaixonada por um menino? Não sabe o que vai encontrar pela frente. Esses namoricos de criança é bom, mas agora estou vendo que tudo não passou de uma fantasia.

VERA (Ri) – E o pior é que eu falei isso a ela.

MADALENA – Agora eu estou mais insegura do que estava antes, com a chegada de Marta.

VERA – Houve algo entre eles no passado?

MADALENA – Houve e acho que foi algo que ficou mal resolvido. Eu nunca fui com a cara dela.

VERA – Deu pra perceber. Ela falou contigo e você nem respondeu.

MADALENA – Fui mal educada, mas fui sincera.

VERA – No seu lugar faria o mesmo.

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CENA 26/ FAZENDA CORREIA/ SALA DE JANTAR/ INT./ MANHÃ

A empregada retira os pratos e bandejas sujos da mesa. Venâncio vai ao escritório. Raul e Celso conversam.

RAUL – Achei que você não voltaria mais ao Brasil.

CELSO – Algumas coisas ficaram pendentes e eu tive que vim resolver.

RAUL (intrigado) – Depois de tanto tempo?

CELSO – Tem outras coisas também, mas não quero entrar em detalhes porque são assuntos exclusivamente de meu interesse.

Marta permanece em silêncio durante toda a conversa. Madalena e Vera chegam.

RAUL – Essas duas parecem unha e carne. Só vivem juntas.

VERA – Somos confidentes.

Venâncio volta para a sala de jantar.

VENÂNCIO – Essas aí sempre foram assim desde pequenas. Época do colégio. Eram nós quatro... Quer dizer, nós seis. Eu, Madalena, Raul e Vera, Celso e Marta. Hoje somos casados e pais. Que os nossos filhos (apontando para os filhos de Celso e para Otávio) sejam amigos como nós fomos e ainda somos.

MADALENA – Por um momento, achei que você se casaria com Marta.

VENÂNCIO – O que aconteceu entre eu e Marta foi algo passageiro... Namorico de adolescente. Nada mais do que isso. Celso que casou com ela. Teve filhos.

MARTA – É, Madalena! Fique tranquila que eu não vou roubar seu marido. Eu não sou disso.

CELSO (para Marta/ sussurra) – Cala a boca!

MARTA (para Celso/ Sussurra) – Eu não sou de levar desaforo pra casa. Me atacou, eu revido.

RAUL – A conversa está ótima, mas temos que ir. O trabalho nos espera. Vera tem a escola e eu tenho que os meu clientes que não são poucos..

Raul e Vera se despedem de todos.

VENÂNCIO (para Vera/ sussurra) – Estou morrendo de saudades daquelas nossas noites românticas. Podíamos nos encontrar esses dias.

VERA (para Venâncio/ sussurra) – Você deveria ter vergonha na cara!

Celso observa a estranha conversa entre Vera e Venâncio. Não entende o que eles falam, mas fica intrigado.

CELSO – Raul e Vera, esperem um pouco. Eu os quero convidar para um jantar em minha casa hoje à noite. É um jantar de família.

RAUL – Iremos sim.

Eles saem. Madalena sobe para o quarto.

VENÂNCIO – Vocês vão ficar aí? Eu vou pra câmara.

CELSO – A gente vai terminar o café e iremos pra casa começar a organizar o jantar de hoje.

VENÂNCIO – Ainda não entendi o mistério em torno desse jantar.

CELSO – Na hora você vai saber.

Venâncio acena com cabeça, meio intrigado. Sai em seguida.

CELSO – Marta, você percebeu uma conversa estranha entre Venâncio e Vera.

MARTA – Percebi.

CELSO – Tem algo muito estranho e eu vou descobrir.

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CENA 27/ MANSÃO DE CELSO/ SALA DE ESTAR/ INT./ NOITE

 Fausto e Tereza entram. Celso e Marta os recebem.

CELSO – Bem-vindos a minha casa!

FAUSTO – Obrigado. Só iremos jantar nós quatro?

CELSO – Alguns amigos vão jantar com a gente também. (Escuta um barulho). Acho que eles chegaram.

Raul e Vera entram. Em seguida, Venâncio e Madalena também entram. Tocar a música instrumental “inesperado”, de Lado a Lado. Fausto levanta-se para receber as visitas, confuso. Ele e Venâncio se encaram. Celso dá um sorriso cínico. Congelamento preto e branco e a imagem é emoldurada em um retrato.

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Encerramento “Inferno”

 



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