A Promessa
CAPÍTULO 17
webnovela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
No capítulo anterior: Os belemitas resolvem estocar o trigo que resta. Noemi lamenta não poder dar mais comida aos filhos. Malom e Quiliom oram a Deus. Tamires exige comida na hospedaria e briga com o dono. Maya e Iago chegam e a convidam para ficar em sua casa. Myra elogia Rute e diz que ela pode um dia sucedê-la no sacerdócio e Rute confessa a Orfa que não almeja o cargo. Todo o trigo dos campos acaba. Revoltada, a multidão de belemitas expulsa Noemi e Tani e as jogam no chão. É quando ouve-se um trovão e uma escura nuvem começa a cobrir a cidade. Ao longo do dia, mais nuvens se ajuntam sobre Belém. Um vendaval começa a varrer as ruas. Relâmpagos, trovões... Elimeleque, Malom e Quiliom voltam correndo para a cidade.
FADE IN:
CENA 1: EXT. BELÉM – RUAS – DIA
É dia, mas a escuridão é medonha. De tantos relâmpagos, as nuvens sobre Belém parecem explodir por dentro sem parar. O vendaval carrega barracas, cestos e qualquer objeto solto nas ruas.
CENA 2: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Com dificuldade, Elimeleque, Malom e Quiliom abrem a porta de casa e entram; fecham-na.
NOEMI
Graças a Deus!
Noemi corre ao marido e aos filhos e os abraçam.
MALOM
Pensei que não conseguiríamos chegar em casa!
QUILIOM
Se continuar assim, as casas também serão levadas pelo vento!
TANI
Nem diga isso, Quiliom! Estou muito aflita...
NOEMI
E o trigo estocado?
ELIMELEQUE
A maioria dos homens construiu tendas para guardar, mas ninguém estava preparado para isso. Pelo jeito o vento levou tudo embora. A essa altura... nosso trigo deve estar espalhado por todas as tribos.
Noemi lamenta sem falar nada.
TANI
Meu Deus...
NOEMI
Não há dúvidas de que isso é castigo de Deus. A praga foi o início, e o vendaval é para acabar com o que restou. Esse povo... Por que tão duros de coração?...
Todos ali apreensivos.
CENA 3: INT. CASA DE IAGO – SALA – DIA
O barulho do vendaval lá fora...
De repente Iago se levanta na direção da porta.
IAGO
Eu vou ver nosso trigo.
Maya entra em seu caminho.
MAYA
De forma alguma! Pode ir voltando, Iago!
IAGO
Meu amor, preciso conferir se as estacas da tendas estão firmes! Do contrário, não sobrará nada para colocarmos na boca!
MAYA
Se tivesse que ser levado pelo vento, já foi! E até você chegar no trigal... É perigoso lá fora, meu amor. Vai que algum objeto te atinge e causa algum ferimento grave... Fique aqui.
TAMIRES
Maya tem razão, Iago. Quando o vento diminuir, você vai até lá conferir o trigo.
A contragosto, Iago fica ali preocupado.
CENA 4: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
Aflito, o Ancião observa as pessoas, desesperadas, correndo de lá para cá, de cá para acolá, fugindo do vendaval. No alto, as densas e escuras nuvens continuam a relampejar sem parar.
O Ancião começa a falar com o povo, que não o percebe ali, pois só quer saber de fugir.
ANCIÃO
Por que correm?!... Por que vejo em seus rostos a imagem do medo e da angústia?!...
Homens e mulheres atravessam a praça de todos os lados para todos os lados, sem prestar atenção em coisa alguma.
ANCIÃO
Não era isso o que queriam?!... Não alcançaram o que tanto almejavam, a ira de Deus?!...
Várias barracas ao redor da praça são destruídas e seus restos carregados pelos ares.
ANCIÃO
Isto!... é o trigo que plantaram! Essa!... é a sua colheita, Israel!
Outro ancião, mais novo, se aproxima correndo, por trás.
JOVEM ANCIÃO
Senhor! Senhor! Precisamos ir para o templo, não é seguro ficar aqui!
O Ancião vira para o homem e compreende.
ANCIÃO
Sim, sim... Claro.
O Ancião olha mais uma vez para o povo fugindo desesperado, balança a cabeça negativamente e sai, acompanhando o outro.
CENA 5: EXT. BELÉM – MURO – DIA
No alto do muro da cidade, um grupo de homens observa os trigais distantes. Entre eles está SEGISMUNDO (50 anos, um pouco gordo).
HOMEM
Maldição! Várias tendas já foram levadas por esse vento!
HOMEM 2
Não bastava a praga, agora isso! Estamos destruídos!
SEGISMUNDO
Sobrou alguma tenda em pé? Está muito longe, não consigo enxergar.
HOMEM 2
Umas. Mas não devem aguentar por muito tempo.
De repente, raios começam a cair daquelas nuvens escuras fora da cidade. As tendas restantes são atingidas e se rasgam; o trigo é carregado pelo vendaval.
HOMEM
Raios!
Em um grande monte de trigo que não foi carregado por completo, um poderoso raio cai e a explosão faz o trigo ser espalhado. Aqueles homens no muro se assustam.
HOMEM 3
Acho que não é seguro ficarmos aqui...
HOMEM
O mundo está acabando!
SEGISMUNDO
O que são aquelas coisas nas árvores?
Antes que alguém pudesse responder, raios rasgam o ar e atingem as árvores, partindo-as ao meio de cima a baixo. Seus miolos, fumegando, ficam visíveis.
HOMEM 3
Meu Deus!...
HOMEM 2
Eram bolsas com trigo. Alguns homens guardaram nas árvores. Pelo jeito, não adiantou de nada...
HOMEM
Maldita Noemi!
HOMEM 2
Aquelas duas tinhas razão, afinal de contas...
HOMEM
Bobagem! Elas é que devem ter jogado praga! Devem ter se tornado feiticeiras!
HOMEM 3
Francamente, homem! Acha que duas mulheres seriam capazes de invocar tantos raios como esses e acabar com tudo o que temos?!
HOMEM
Então quer dizer que elas estavam certas, é? Deus está decepcionado conosco e isso tudo é obra Dele?!
HOMEM 3
Sinceramente, não acho que isso importa agora! Vou é para minha casa antes que um desses raios caia sobre minha cabeça.
O homem 3 sai e os outros ficam ali observando o caos no campo. Segismundo encara fixamente.
ABERTURA
CENA 6: EXT. TEMPLO – PÁTIO – DIA
Orfa se aproxima de Rute trazendo a prova de uma das meninas.
ORFA
É a última.
RUTE
Ótimo. (para as meninas) Levantem-se.
As meninas, que aguardavam sentadas a última terminar sua prova, põe-se de pé.
RUTE
Meus parabéns a todas por completarem a prova. Assim que elas forem devidamente corrigidas, vocês serão convocadas e comunicadas quanto ao resultado. Agora, antes que possam ir descansar, vocês terão mais uma tarefa. (andando na frente delas) Como bem sabem, em algumas luas o reino estará em festa comemorando o nascimento de nosso soberano, o grande rei Zylom. E a sua missão é simples: nada mais que colher, aqui mesmo no pátio, os ingredientes corretos para que os servos banhem os pés do rei nas luas anteriores e posteriores ao dia de seus anos. Caberá também a vocês a divisão correta de cada ingrediente. Aquela que conseguir reunir os itens corretos em menor tempo ganhará vantagem nas próximas etapas da seleção. Pois bem... Podem começar.
Rapidamente as garotas se dispersam e vão atrás dos canteiros onde estão plantados os mais variados tipos de vegetais.
De repente uma das portas do pátio se abre e entra o Sumo Sacerdote Faruk. Todas as meninas param suas tarefas e olham para ele, que caminha até Rute e Orfa.
FARUK
Não interrompam suas tarefas em função de minha presença! Continuem o que estavam fazendo.
Faruk se aproxima das sacerdotisas.
RUTE
Sumo Sacerdote! Que grata surpresa!
ORFA
Em que podemos servi-lo, senhor?
FARUK
Eu vim apenas aproveitar os breves momentos livres para ver como anda a seleção da próxima oferenda. Às vezes os relatórios dos oficiais ou mesmo das sacerdotisas não são suficientes para saciar a minha curiosidade. E então? O que elas estão fazendo agora?
RUTE
Acabaram de realizar a grande prova dos conhecimentos e agora estão colhendo os ingredientes para o banho dos pés do rei.
FARUK
Ah, que ótimo.
ORFA
Todas são muito boas, mas há uma que se destaca.
RUTE
É verdade.
FARUK
Mesmo? Qual delas?
RUTE
Acredito que logo o Sumo Sacerdote perceberá.
Faruk dá um leve sorriso empolgado e continua a observar as meninas espalhadas pelo pátio.
Alguns minutos se passam enquanto elas vão de um lado para o outro colhendo e reunindo ramos, folhas, flores e até pequenos galhos. Finalmente uma, de 7 anos, se aproxima animada de Rute e Orfa.
MENINA
Senhora, eis aqui os ingredientes para o banho dos pés do rei Zylom.
RUTE
Deixe-me ver.
Rute pega os itens da mão da menina e, junto a Faruk curioso, confere.
RUTE
Está tudo correto... Na mais perfeita divisão.
A menina sorri.
ORFA
Não há por que continuar com a prova.
RUTE
(a todas) A prova está encerrada! Já temos a vencedora.
FARUK
Qual é o seu nome, menina?
MENINA
Eu me chamo Aylla, Sumo Sacerdote.
FARUK
Aylla...
RUTE
É ela.
ORFA
Não há um desafio que Aylla não cumpra com ótimo resultado. Ainda não corrigimos a prova de agora pouco, mas a probabilidade de ela ter acertado tudo é altíssima.
RUTE
Meus parabéns, Aylla. Seus ingredientes serão usados no banho dos pés do rei.
AYLLA
É uma honra para mim, senhora sacerdotisa.
FARUK
(contemplativo) Que interessante. (sai do transe; para Rute e Orfa) Bom, vou deixa-las. Vocês estão se saindo muito bem. Confio nas duas para a seleção da próxima oferenda de Moabe. Tenham um bom dia.
RUTE
O mesmo para o senhor, Sumo Sacerdote.
ORFA
Tenha um bom dia.
Faruk deixa um sorriso para Aylla e caminha para a saída.
Olhando para cima, para o rosto de Rute, Aylla se aproxima mais.
AYLLA
Senhora, eu serei a próxima a ser sacrificada?
Por algumas frações de segundo, um desconforto parece passar pelo rosto de Rute como uma sombra. Ela hesita, mas por fim responde.
RUTE
(leve sorriso forçado) Bom, continue a se esforçar e isso certamente acontecerá.
Aylla faz que sim.
CENA 7: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Noemi, Elimeleque, Tani, Malom e Quiliom estão ali apreensivos. Sons dos fortes trovões. Com cuidado, Elimeleque abre a porta um pouquinho.
Olhando lá para fora, ele percebe que os raios, antes restritos aos campos, agora começam a cair das densas e escuras nuvens sobre a cidade.
ELIMELEQUE
Agora o trigo que restou será atingido...
CENA 8: EXT. BELÉM – RUAS – DIA
Próximo às pessoas que correm desesperadas, raios caem sobre os objetos que contém comida. Uma carroça é atingida e explode. Pedaços de madeira, feno e trigo são atirados para todos os lados. Gritaria e pânico!
No topo das casas, vasos e abrigos de madeiras são trucidados pelos raios e varridos pelo vendaval.
CENA 9: INT. HOSPEDARIA – DIA
Com medo, o dono e alguns clientes estão acuados em uma das mesas. A cada trovão e forte clarão, eles se assustam.
De repente, um flash de luz e um estalo altíssimo!
Todos gritam e se espalham pelo salão. Conforme a luz diminui, percebe-se o fumaceiro vindo de trás do balcão. Assustado, o dono corre até lá e vê que seu estoque, ainda que quase totalmente vazio, está me chamas. As labaredas ultrapassam a altura do balcão.
CENA 10: EXT. BELÉM – RUAS – DIA
Os raios continuam a cair em todos os cantos das ruas e casas. Pedaços de objetos e trigo escurecem ainda mais o dia já sombrio.
Uma mulher, segurando um saco de trigo, desvia de um pedaço de casa que cai depois de ser partido por um raio. Assustada, ela se esconde em um beco. Vê a gritaria, as coisas sendo carregadas e o terror dos raios por todos os lados. Então respira fundo, aperta o saco de trigo em si e corre dali.
Ela desvia das pessoas e de todo tipo de coisa que atravessa seu caminho voando. De repente, paralisa olhando para o céu. Assustada com o que vê, ela não se mexe.
O que ela enxerga é o centro das nuvens, que parece mais escuro e com mais atividades de relâmpagos. Aquilo parece estar mirando direto nela...
De um segundo para o outro, ela sai do transe, larga o saco e corre na direção contrária. Um raio, saído daquele centro das nuvens, cai exatamente sobre o saco de trigo, a poucos metros atrás dela. Explosão! E a mulher é lançada pelos ares. Logo o vendaval espalha a fumaça.
Caída, a mulher abre o olho e, com dificuldade, olha o local onde o raio caiu: uma cratera foi formada e não há o menor sinal de trigo.
Em outra rua, o vento é fortíssimo, mas uma carroça, lotada de trigo, ainda não foi carregada. O vento então aumenta, e, pouco a pouco, as rodas começam a se mexer. Segundos depois a carroça já está sendo levada... O vento aumenta ainda mais e ela sai do chão e é carregada pelos ares, acima das casas.
No ar, a carroça é atingida por um raio e se incendeia por completo. Vista do chão, é uma bola de fogo riscando o céu.
CENA 11: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Elimeleque, junto aos seus filhos, continua a observar as coisas lá fora. Noemi e Tani permanecem na mesa.
NOEMI
Elimeleque, saia daí... Venha pra cá, traga os meninos. É perigoso ficar aí.
De repente, todos ali dão um pulo quando um estouro vindo da cozinha é ouvido.
NOEMI
O que foi isso?!...
TANI
Meu Deus!...
ELIMELEQUE
Fiquem aqui, eu vou ver.
Com cuidado, Elimeleque se aproxima da entrada da cozinha. Quando percebe o que aconteceu, olha com pesar para os outros, que se aproximam e veem: toda a comida que restava na cozinha está em chamas.
CENA 12: INT. CASA DE IAGO – SALA – DIA
Acuados na mesa, Maya, Iago e Tamires mantém o semblante de medo e preocupação.
MAYA
Acho... que devíamos orar.
IAGO
Não há mais tempo pra isso, já está acontecendo. (pequena pausa) Estamos sem nada...
TAMIRES
Maldita hora que decidi voltar pra esse vilarejo...
Maya e Iago olham para ela.
CENA 13: INT. CASA DE NOEMI – COZINHA – DIA
ELIMELEQUE
(para os filhos) Peguem a água e joguem. Rápido!
Malom e Quiliom pegam as botijas e começam a jogar nas chamas. Noemi e Tani observam com extrema tristeza.
TANI
Nem quero imaginar como estará minha casa...
CENA 14: EXT. BELÉM – RUAS – DIA
Os raios cessam. O vendaval diminui. E as nuvens começam a se afastar...
Momentos de choque em toda a cidade.
Pouco a pouco, os primeiros homens começam a sair de suas casas e observar a destruição na rua. Coisas pegando fogo para todo o lado.
CENA 15: EXT. CASA DE NOEMI – RUA – DIA
A porta se abre e Elimeleque sai. Olha o caos nos arredores. Então corre até a lateral da casa e sobe no teto.
Lá em cima, ele observa toda a cidade. Objetos e construções destroçados e focos de incêndio para todos os lados. Nos campos ao redor de Belém, árvores partidas ou em chamas e crateras fumegando.
A desolação geral é refletida nos olhos de Elimeleque. Em seu triste olhar... IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: A fome finalmente chega e Elimeleque toma a decisão de partir de Belém com sua família. Maya faz uma revelação a Iago e Tamires. Orfa conta para Rute de onde Aylla veio.
Obrigado pelo seu comentário!