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ESPERANÇA - CAPÍTULO 22

 



ESPERANÇA

Capítulo 22

Novela criada e escrita por

Wesley Franco


CENA 1. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – COZINHA – DIA

Nina mexe uma panela enquanto Helena, com expressão abatida, está sentada à mesa, brincando com uma colher.

HELENA (SUSPIRA) – Mãe, eu não aguento mais...O Marcos não me olha como mulher. Já faz meses...talvez mais de um ano.

Nina sem parar de mexer a panela, lança um olhar rápido para a filha.

NINA – Quando você se casou sabíamos desse risco de não dar jeito, afinal todos sabíamos que ele gosta é de um par de calças.

HELENA – Mas eu tinha esperanças de que ao longo do tempo ele aprenderia a me amar e iria se curar desse problema. Achei que o tempo mudaria tudo, mas ele nunca mudou. Ele não gosta de mulheres, e eu me sinto como um fardo na vida dele.

NINA – Você foi a salvação da vida dele, se não fosse o casamento com você ele estaria até agora internato naquele sanatório. Ele te deve a liberdade dele.

HELENA (COM OLHOS MAREJADOS) – Mas ele nem liga pra mim...

Nina para de mexer a panela e se vira para Helena com um olhar firme.

NINA – Minha filha, escute. Marcos te de uma vida que você nunca teria com nenhum homem da região. Você tem uma casa confortável, roupas bonitas, não falta nada na mesa. Isso já é mais do que muitas mulheres têm.

Helena se levanta, agitada, começando a andar de um lado para o outro na cozinha.

HELENA – Mas do que adianta ter tudo isso se me sinto vazia? Inútil? Ele não me toca, não me deseja, e as poucas vezes que tivemos algo foi porque eu praticamente implorei. Isso não é casamento, mãe! Eu queria ser desejada pelo meu marido.

NINA – Ele nunca vai te desejar, minha filha. Esqueça isso! Procure gastar sua energia com outra coisa, faça algo por você. Se sente inútil? Encontre algo que te dê propósito, uma ocupação. Mas pare de esperar por algo que nunca virá.

Neste momento, Dorotéia entra na cozinha, ela olha para Nina e Helena com curiosidade.

DOROTEIA – Nina, já pode começar a servir o café, o Almeida demorou para a acordar hoje, mas já está no banho.

NINA – Sirvo agora senhora, só preciso tirar um bolo de milho que está no forno e levo para mesa.

DOROTÉIA (OLHANDO PARA HELENA) – Helena, minha querida, você parece tão abatida. Aconteceu alguma coisa?

HELENA – Nada de grave, tive apenas um pequeno desentendimento com o Marcos.

DOROTÉIA – Se precisar de algo não hesite em me procurar.

HELENA (SORRI) – Obrigada, dona Dorotéia, mas está tudo bem.

                                                         CORTA PARA:

CENA 2. INT. DELEGACIA – DIA

Matteo entra na delegacia. O delegado Afrânio, sentado em sua mesa com um chapéu jogado de lado, olha surpreso para Matteo.

AFRÂNIO (SORRINDO SARCÁSTICO) – Ora, ora, se não é o Matteo Bellini. A que devo à presença na minha delegacia? Veio relembrar como era quando esteve preso aqui?

MATTEO – Pelos vistos as coisas por aqui não mudaram nada, o Coronel Almeida continua a dar as cartas e você obediente a ele. Vim falar com o Firmino, ele é meu cliente e exijo vê-lo agora.

AFRÂNIO (RINDO) – Cliente? Desde quando você é advogado dele?

MATTEO – Desde que fiquei sabendo das barbaridades que o Coronel Almeida fez com ele e sua família. Não leu o jornal, delegado?

AFRÂNIO – Esse jornaleco não perde a oportunidade de atacar o coronel, não sei porque ele ainda não mandou fechar aquela pocilga.

MATTEO – No dia que ele dê a ordem não tenho a menor dúvida que você terá o prazer de cumprir, afinal você faz tudo o que ele manda. Mas eu não vim aqui para conversar, o Firmino tem o direito de falar com o seu advogado, que no caso sou eu.

Afrânio se levanta da cadeia.

AFRÂNIO – Firmino não está recebendo visitas, é um bandido perigoso e deve ficar isolado.

MATTEO (FIRME) – Não estou aqui como visita, delegado. Sou advogado, e você está violando a lei ao me impedir de falar com meu cliente.

AFRÂNIO – Não force tanto a barra, Matteo.

MATTEO – Não estou forçando nada. Estou apenas exigindo que a lei seja cumprida. Ou você prefere que eu leve a questão ao juiz?

AFRÂNIO (IRRITADO) – Muito bem. Pode falar com ele, mas faça rápido.

MATTEO (SORRINDO) – Obrigado, delegado.

Afrânio chama um policial para escoltar Matteo até a cela. Matteo segue pelo corredor, determinado, enquanto Afrânio observa com uma expressão de irritação.

                                                         CORTA PARA:

CENA 3. INT. PREFEITURA – SALA DO PREFEITO – DIA

Fontes está sentado em sua cadeira, lendo o jornal com a manchete escandalosa que denuncia os abusos do Coronel Almeida, sua expressão é uma mistura de indignação e cansaço. Hismeria, sua secretária, está ao lado organizando papéis na lateral da mesa, mas observando o prefeito com curiosidade. Fontes dobra o jornal com força, jogando-o sobre a mesa.

FONTES – Absurdo! Um completo absurdo! Mais uma barbaridade deste homem, o Almeida está se superando. Isso está passando dos limites!

HISMERIA (CAUTELOSA) – Não é de hoje que ele comete barbaridades, prefeito.

FONTES – Eu estou cansado, Hismeria. Cansado de ser cúmplice de tanta injustiça. Isso me deixa cada vez mais incomodado, e o fato de eu estar ao lado dele, me faz parecer cúmplices dessas barbaridades!

HISMERIA – Se está tão cansado, por que continua ao lado dele? Há tempos o senhor não vem concordando com as atitudes do coronel...então por que ainda é aliado dele?

FONTES – Não é tão simples assim. Almeida é um homem poderoso, o mais poderoso de Esperança. Almeida é o tipo de homem que quando você desafia, vira inimigo. Se eu tivesse rompido com ele antes, ele teria me esmagado, destruído a minha carreira, minha reputação...tudo. Ele tem a cidade na palma da mão.

HISMERIA – Mas agora o senhor não precisa mais dele. Seu mandato está acabando, e o que o coronel pode fazer depois disso?

FONTES – Por isso decidi que vou embora, Hismeria. Assim que meu mandato terminar, vou para o Rio de Janeiro. Almeida que fique com essa cidade e com suas manobras sujas. Eu não quero mais fazer parte disso, ele não terá mais poder sobre mim.

HISMERIA (SURPRESA) – E vai deixar a cidade nas mãos dele? Vai continuar apoiando a candidatura dele mesmo sabendo que ele é a pior opção para a cidade?

FONTES – Não há opções! Não existe ninguém com coragem e capacidade para enfrenta-lo. As eleições aqui nunca foram justas. As eleições em Esperança há muito tempo são apenas uma formalidade para legitimar o poder dele, não há candidatos rivais, não há oposição.

HISMERIA – E se houvesse alguém? Se aparecesse um candidato para enfrentá-lo?

FONTES (PENSATIVO) – Se houvesse alguém...alguém com coragem e capacidade para enfrentá-lo, eu daria meu apoio. Eu romperia com o Almeida e daria meu total apoio. Seria libertador!

Hismeria sorri levemente com a resposta de Fontes.

                                                         CORTA PARA:

CENA 4. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – DIA

Almeida está sentado à cabeceira, com Dorotéia à sua direita. Camila e Marcos estão sentados lado a lado, e Helena está ao lado de Dorotéia. Uma jarra de suco de laranja, café e várias bandejas com pães e frutas estão dispostas na mesa. Nina entra com o jornal dobrado em mãos.

ALMEIDA - Nina, deixe-me ver o jornal. Quero ver as notícias de hoje.

Nina se aproxima e entrega o jornal com um semblante neutro.

NINA - Aqui está, coronel.

Almeida abre o jornal, ajusta os óculos e começa a ler. Logo que vê a manchete, seu rosto escurece. Ele bate o jornal com força na mesa, fazendo o som ecoar pelo ambiente.

ALMEIDA - Audácia! Que atrevimento! Esses malditos... como ousam me chamar de escravista?

CAMILA - Talvez porque agir como um seja exatamente o que você fez, pai. Mandar agredir um funcionário? Isso é revoltante.

ALMEIDA - Não fale comigo nesse tom, Camila! Eu sou seu pai e sei o que é melhor para essa casa e para os meus negócios!

MARCOS - Melhor para os seus negócios? Pai, isso é um abuso. E a manchete do jornal não está errada. Agir com violência contra alguém que só queria melhores condições de trabalho? Isso é inaceitável.

ALMEIDA - Inaceitável é permitir que um funcionário levante a voz contra o dono da terra que lhe dá sustento! Zeca precisava de uma lição, ou então todos os outros pensariam que podem fazer o mesmo!

Camila se levanta, furiosa.

CAMILA - E é assim que você mantém sua autoridade? Pelo medo? Estou enojada, pai. Eu sempre soube que você era rígido com seus empregados, mas isso... isso é desumano.

ALMEIDA (GRITA) - Desumano? Você não entende nada sobre o que é manter uma propriedade desse tamanho funcionando!

Marcos se levanta com firmeza.

MARCOS - Talvez ela entenda mais do que você pensa, pai. E talvez esteja na hora de você aprender que autoridade não vem de punho fechado.

CAMILA – Quer saber? Perdi o apetite.

Camila sai da sala rapidamente. Marcos suspira e pega seu chapéu.

MARCOS - Vou acompanhar a colheita. Espero que o senhor reflita sobre o que está fazendo com esta família.

Marcos sai, deixando Almeida bufando de raiva. Dorotéia e Helena permanecem sentadas, observando a cena em silêncio.

ALMEIDA - Isso é um ultraje... um insulto à minha honra.

DOROTÉIA - Talvez fosse hora de repensar suas ações, Almeida.

ALMEIDA (FIRME) – Cale a boca!

Dorotéia engole a seco e volta a ficar em silêncio.

                                                         CORTA PARA:

CENA 5. EXT. ESPERANÇA – RUAS DA CIDADE – DIA

O sol do meio-dia ilumina as ruas de paralelepípedos da pequena cidade de Esperança. Isabella, Mara e Carolina caminham lado a lado, conversando e rindo alto, seus vestidos chamativos e ajustados, exibem mais pele do que os padrões conservadores da cidade. Isabella carrega uma sacola cheia de tecidos vistosos, que balançam a cada passo.

ISABELLA – Os tecidos que compramos são lindos, meninas! Mal posso esperar pra ver como irão ficar nossos vestidos quando estiverem prontos.

MARA (SORRINDO) - Mal posso esperar para ver a cara de certos homens quando eu usar esses vestidos na nossa festa de ano novo.

CAROLINA (RINDO) – Não é só a cara deles que vai ficar vermelha, as esposas também vão querer arrancar os cabelos.

As três riem enquanto continuam andando. Ao se aproximarem da igreja, veem um grupo de mulheres saindo da missa. Entre elas estão Chandra Dafni, a viúva Leda, Mariana e algumas outras senhoras, elas vestem vestidos simples e recatados. Assim que avistam Isabella, Mara e Carolina, todas imediatamente viram de costas e fazem o sinal da cruz, murmurando orações.

CHANDRA DAFNI (COM REPULSA) – É uma vergonha essas mulheres caminharem por nossa cidade mostrando tanto o corpo, é um insulto a Deus e aos bons costumes.

Isabella percebe o gesto e cochicha algo para Mara e Carolina. As três caem na risada, fazendo questão de passar perto do grupo de senhoras, com passos exageradamente elegantes e debochados. Mara solta um assobio enquanto Carolina joga o cabelo para trás, provocando.

ISABELLA (SARCÁSTICA) – Cuidado, senhoras, não façam o sinal da cruz com tanta força, ou vão se machucar.

As beatas fazem expressões indignadas.

CHANDRA DAFNI – Isso é o que acontece quando o pecado ganha espaço. Essas mulheres deveriam ser banidas daqui, ou pelo proibidas de poderem andar por aí vestidas desse jeito.

MARIANA (EM VOZ BAIXA) – Mas elas não estão fazendo anda demais. Só estão andando como todo mundo.

A viúva Leda se vira imediatamente para Mariana, com uma expressão severa, interrompendo-a antes que ela continue.

LEDA – Mariana, cale-se! Não ouse defender essas...essas criaturas.

CHANDRA DAFNI – Leda, sua filha ainda é jovem. É nosso dever ensinar os caminhos do bem antes que ela seja corrompida por maus exemplos.

Mariana abaixa os olhos, claramente desconfortável, mas não diz mais nada.

LEDA – A cidade precisa de ordem. E essas mulheres...elas são um símbolo do caos que não podemos tolerar.

O som das badaladas do sino a igreja ecoa pelas ruas.

                                                         CORTA PARA:

CENA 6. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – ESCRITÓRIO – DIA

Almeida está sentado em sua cadeira de couro, girando um copo de whisky nas mãos. Ezequiel dá uma batida na porta e entra, tirando o chapéu.

EZEQUIEL – Mandou me chamar, coronel?

ALMEIDA – Mandei! Você já deve tá sabendo da manchete do jornal que saiu essa manhã.

EZEQUIEL – Fiquei sabendo, sim, senhor.

ALMEIDA – Quero que você reúna os homens esta noite. Vamos acabar com aquela pocilga que eles chamam de jornal.

Almeida coloca o copo na mesa e se levanta.

ALMEIDA – Quero que vocês destruam tudo, não deixem nada de pé. Essa gente precisa aprender que não se brinca com meu nome.

EZEQUIEL – O senhor não acha que vai ficar muito na cara que foi ordens do senhor?

ALMEIDA – Que fique! Mas faça durante a madrugada, vamos evitar que haja testemunhas. Mas quero isso feito hoje. Entendeu?

EZEQUIEL – Entendido, coronel.

Almeida pega o copo de whisky novamente.

ALMEIDA – Ótimo. Agora saia. E lembre-se, Ezequiel, não admito falhas.

Ezequiel sai rapidamente, deixando Almeida sozinho no escritório. O coronel vira o resto do whisky de uma vez e observa a garrafa na mesa com um olhar pesado.

                                                         CORTA PARA:

CENA 7. EXT. BEIRA DO RIO – DIA

O sol começa a se pôr, tingindo o céu com tons alaranjados e refletindo suas cores na superfície tranquila do rio. O som da água corrente misturasse com o canto dos pássaros. Camila está sentada em um tronco caído na margem, mexendo distraidamente em uma folha, seus olhos estão distantes, e sua expressão revela preocupação. Matteo se aproxima, quando ele a ver, abre um sorriso que ilumina seu rosto. Camila percebe sua presença, se levanta e corre até ele.

CAMILA - Matteo!

Eles se encontram em um abraço apertado. Matteo segura o rosto dela com ambas as mãos e a beija com paixão. Por alguns segundos, parece que todo o peso que Camila carregava desaparece, mas, ao se afastarem, sua expressão volta a se fechar. Matteo percebe imediatamente.

MATTEO - O que foi, Camila? Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?

CAMILA - É o meu pai... as coisas que ele faz, Matteo... Eu não consigo aceitar. Hoje mesmo, durante o café da manhã, ele falou com orgulho do que mandou fazer com Zeca. Disse que precisava dar uma lição nele por insubordinação. Eu me sinto sufocada naquela casa. Cada decisão que ele toma, cada palavra que ele diz, só me enche de vergonha. Eu não aguento mais viver sob o mesmo teto que o Coronel Almeida.

Matteo segura as mãos dela com firmeza, olhando diretamente em seus olhos.

MATTEO - Eu entendo você, Camila. Eu também fiquei indignado. É por isso que decidi agir e me tornei advogado do Firmino. Hoje mesmo entrei com o pedido de soltura do Firmino na justiça. Ele não vai ficar preso por mais tempo por causa das arbitrariedades do seu pai.

Camila arregala os olhos, e um sorriso de alívio começa a surgir em seu rosto. Ela coloca as mãos no peito de Matteo, emocionada.

CAMILA (SORRINDO) - Você realmente fez isso? Matteo, eu... estou tão orgulhosa de você!

MATTEO - Eu prometi a mim mesmo, Camila, que quando voltasse a Esperança faria tudo ao meu alcance para acabar com as injustiças do seu pai. E essa situação foi o ponto de partida.

Ele faz uma pausa, apertando as mãos dela com carinho, mas sua expressão se torna mais séria.

MATTEO - Mas há algo que só você pode fazer. Você precisa enfrentá-lo. Não pode mais deixar que ele controle sua vida. Camila, case-se comigo, saia daquela casa e venha viver comigo.

Camila o olha por um instante, surpresa pela intensidade das palavras. Seus olhos começam a brilhar com lágrimas de emoção.

CAMILA - Eu já decidi, Matteo. Vou enfrenta-lo, mas antes de tudo, preciso conversar com minha mãe. Contar a ela o que sinto, o que estamos vivendo. Depois, enfrentarei meu pai, e direi a ele que nada vai nos impedir de ficarmos juntos.

                              SONOPLASTIA: CLOSE TO YOU – CIDIA E DAN

Matteo sorri, visivelmente aliviado. Ele a puxa para perto e a beija novamente, desta vez com uma mistura de felicidade e esperança.

MATTEO - Você é mais corajosa do que imagina, Camila. Juntos, podemos enfrentar tudo.

CAMILA (SORRINDO) - Eu só preciso de você ao meu lado, Matteo. O resto eu posso suportar.

Os dois permanecem abraçados enquanto o sol finalmente desaparece no horizonte.

                                                     SONOPLASTIA OFF

                                                         CORTA PARA:

CENA 8. INT. PREFEITURA – RECEPÇÃO – NOITE

Hismeria e Augusto estão se ajeitando para irem embora, enquanto conversam.

HISMERIA – O prefeito saiu daqui revoltado com o que aconteceu. Ele disse que está cansado de ser aliado do coronel Almeida e que vai embora da cidade assim que seu mandato acabar.

AUGUSTO (SURPRESO) – O prefeito disse isso? Não me parece algo que ele faria...Fontes e Almeida são aliados há anos. Ele nunca demonstrou querer romper essa aliança.

HISMERIA (CONVICTA) – Ele confidenciou isso a mim. Disse que só continua ao lado de Almeida por medo do poder e da influência que ele exerce. Mas agora, com os dias de mandato contatos, ele quer se livrar dessa sombra.

AUGUSTO – Isso é inesperado. Mas se ele está tão insatisfeito, por que ainda apoia o Almeida para a prefeitura?

HISMERIA – Porque, segundo ele, não há opções. Mas, ele disse que se alguém tivesse coragem de enfrentar o Almeida nas eleições, ele apoiaria esse candidato.

Augusto fica em silêncio por alguns segundos, pensativo. Antes que possa responder, Pedro se aproxima sorrindo. Pedro dá um beijo rápido em Hismeria.

PEDRO – Ei, vocês dois estão falando sobre quem? Ouvir vocês cochichando.

HISMERIA – Era sobre o prefeito Fontes e a sua indignação com a manchete do jornal.

PEDRO – O Coronel Almeida deve ter ficado furioso de ser chamado de escravagista.

HISMERIA – É o que ele pensa que é, um senhor de escravos.

PEDRO – Augusto, você vai encontrar com nossos amigos no bar mais tarde? O grupo todo vai.

HISMERIA – Pedro, e o nosso jantar? Você não disse que íamos jantar juntos hoje?

PEDRO – Ah, amor, desculpa. Eu já tinha combinado com o pessoal, mas amanhã a gente janta, prometo.

AUGUSTO – Eu não vou ao bar hoje, tenho um compromisso.

PEDRO (SORRINDO) – Que compromisso, hein? Quem é o rabo de saia?

AUGUSTO (DESCONVERSA) – Não se trata de mulher nenhuma.

PEDRO (RINDO) – Ah, então é com um homem? Não sabia que você era chegado em calças!

Augusto irritado, encara Pedro por um momento antes de siar apressado, sem dizer nada.

HISMERIA – Precisa fazer esse tipo de brincadeira? O Augusto não gostou nada.

PEDRO (RINDO) – Ah, ele exagerou. Eu só estava brincando.

                                                         CORTA PARA:

CENA 9. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – SALA - NOITE

Almeida serve um copo de whisky a Inácio que está sentado em uma cadeira à frente do coronel.

ALMEIDA – Inácio, fico satisfeito em saber que você está do meu lado nesta campanha. O próximo ano será um ano decisivo para Esperança, e preciso de homens de confiança como você ao meu lado.

INÁCIO – Coronel, minha família sempre esteve ao lado da sua. O senhor pode contar comigo para o que precisar. Eu farei o possível para garantir que sua candidatura seja um sucesso e seja vitoriosa.

Nesse momento, Camila entra na sala, usando um vestido claro. Ela parece surpresa ao ver Inácio.

CAMILA – Inácio...não sabia que você viria jantar conosco hoje.

Inácio se levanta, pega um buquê de flores que estava ao seu lado e se aproxima de Camila.

INÁCIO (SORRINDO) – Vim a convite do seu pai e trouxe flores para alegrar a sua noite.

Camila segura as flores, mas com um olhar desconfortável.

CAMILA – Obrigada, Inácio. Podemos conversar lá fora por um momento?

DOROTÉIA – Não demorem muito, já, já, a Nina vai servir o jantar.

CAMILA – Não vamos demorar.

Camila sai com Inácio.

                                                         CORTA PARA:

CENA 10. INT. JORNAL O AMIGO DO POVO – REDAÇÃO – NOITE

Eriberto está em pé diante de um quadro-negro improvisado, enquanto Angislanclécia, Henrique, Dr. Romeo, Padre Olavo e Augusto estão reunidos em cadeiras ao redor. Matteo e Rodolfo entram.

ERIBERTO – Finalmente chegaram.

RODOLFO – Cheguei e trouxe mais uma pessoa para a nossa luta. Vocês já devem conhecer o meu irmão, Matteo. Agora ele está do nosso lado.

MATTEO – Sempre estive do lado de vocês, só não estava aqui presente. Essa cidade precisa mudar e eu vim para isso.

ERIBERTO – Sentem-se rapazes, temos muito a discutir.

Matteo e Rodolfo se sentam, e Eriberto começa a falar com intensidade sobre os últimos acontecimentos na cidade.

ERIBERTO – A prisão do Firmino é só mais um exemplo do abuso de poder do coronel. Ele controla tudo: o delegado, o comércio, até o silêncio do povo.

MATTEO – O Firmino não ficará preso por muito tempo, eu atuei como seu advogado e hoje mesmo dei entrada no seu pedido de soltura.

DR. ROMEO (CÉTICO) – Não quero desanimá-lo, Matteo, mas o juiz é aliado de Almeida. Isso pode complicar.

PADRE OLAVO – O velho juiz se aposentou, ele foi até a minha paróquia se despedir. O novo juiz é o Fernando, filho do Homero, não sabemos ainda que postura ele terá.

ERIBERTO – Homero é um grande amigo e aliado do Almeida, não podemos esperar muita imparcialidade deste novo juiz.

MATTEO (DETERMINADO) – Se esse juiz engar a soltura do Firmino, não vou desistir por aqui. Usarei meus contatos na capital para soltá-lo. Firmino será libertado, custe o que custar.

Os membros do grupo trocam olhares impressionados com a determinação de Matteo.

MATTEO – Eu voltei a essa cidade para acabar com o poder que o coronel Almeida exerce sobre Esperança. E se ele anunciou que será candidato a prefeito, eu também anuncio que enfrentarei ele nas urnas.

Há um silêncio chocado na sala. Aos poucos, os rostos do grupo começam a se iluminar com esperança. Rodolfo sorri com orgulho do irmão.

ERIBERTO – Está falando sério, Matteo?

ANGISLANCLÉCIA – Eu não me lembro quando foi a última vez que houve um candidato que enfrentasse um candidato do coronel.

MATTEO – Pois agora terá um, eu mesmo. E espero contar com o apoio de vocês.

PADRE OLAVO – Que Deus o abençoe nessa luta, meu filho.

ERIBERTO – Pode contar com todos nós, Matteo. Estaremos com você!

HENRIQUE – E buscaremos mais apoios. É nossa chance de fazer uma mudança de verdade nessa cidade.

AUGUSTO – Eu sei de uma pessoa muito importante que está disposta a te apoiar Matteo.

MATTEO – Quem?

AUGUSTO – O Prefeito Fontes.

Todos ficam surpresos com a fala de Augusto.

FIM DO CAPÍTULO

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