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A Promessa - Capítulo 35


A Promessa
CAPÍTULO 35

webnovela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

livre adaptação do livro de Rute

No capítulo anterior: Rute diz a Aylla que sente muito por ela ter tido que lavar os pés do rei, e Orfa não aprova essa fala. Os homens da Caravana da Morte importunam Tamires, e ela reverte a situação colocando-os, por fim, literalmente de joelhos. Neb diz a Boaz que não pode apresentar as moças agora pois está muito atarefado. Rute diz a Orfa que o fato de o Deus único não requerer sacrifícios não sai de sua cabeça, e Orfa diz que isso não passa de fantasia. Noemi e Elimeleque se impressionam com as coisas de Deus que Malom e Quiliom falaram com Rute e Orfa. Receoso, Faruk explica ao seu servo que precisam esperar um pouco mais para continuarem com os sacrifícios. Elimeleque pede a ajuda de Leila para preparar um jantar surpresa para Noemi. Segismundo diz a Tamires que começarão imediatamente as investigações do paradeiro da família de Elimeleque. Malom e Quiliom se encontram com Rute e Orfa no templo. Elimeleque leva Noemi até a muralha, onde está a mesa preparada para jantarem.

FADE IN:

CENA 1: INT. TEMPLO – SALA DE REFEIÇÃO – NOITE

Não há ninguém ali na sala de refeição, e as mesas estão vazias. Aylla vem do corredor e entra.
AYLLA
Senhora Rute?...
Aylla olha todos os cantos... nada. Então volta para o corredor.

CENA 2: EXT. TEMPLO – PÁTIO – NOITE

Ainda à procura de Rute, Aylla chega no pátio. Ouve-se vozes. Caminha mais um pouco e então nota vultos do outro lado. Erguendo-se nas pontas dos pés, a menina olha por cima de alguns arbustos. Finalmente identifica: Orfa e Quiliom sentados em um banco e Rute e Malom caminhando devagar para outro.
AYLLA
(olhando Rute e Malom) Quem é esse?...
Aylla então se aproxima, cuidando para não ser vista ou ouvida, e se oculta em um arbusto um pouco atrás do banco para onde o casal está indo. Ela afasta as folhagens o suficiente para enxergar Rute e Malom.
Esses, por sua vez, caminham sem pressa.
RUTE
Fale-me mais, Malom, acerca do seu Deus único. (descontraída) Já que Ele está em toda parte, então talvez estejamos pisando sobre Ele.
MALOM
Talvez, indiretamente, já que a Terra é uma de suas criações.
RUTE
A Terra?
Rute para de andar e o encara. Malom sorri e faz sinal para ela se sentar no banco; ambos sentam.
RUTE
Além de tudo o que me disse, Ele também criou a Terra?
MALOM
Exatamente.
RUTE
Então fez também a Lua.
MALOM
Os dois luminares. O maior para governar o dia, o menor para governar a noite.
RUTE
E as estrelas, eu suponho...
Malom faz que sim com expressão, e a observa admirado. Rute fica levemente constrangida.
RUTE
O quê?...
MALOM
Você se parece com uma. As estrelas...
Rute um tanto confusa.
RUTE
O que isso quer dizer?
MALOM
Que eu te acho muito bonita...
Aylla, escondida, observa atentamente. Rute, por sua vez, parece não entender ao certo o que Malom quer dizer.
No outro banco, Quiliom e Orfa se olham admirados.
ORFA
E... como foi que o seu povo foi escolhido? Como isso aconteceu?
QUILIOM
Isso aconteceu há muito, muito tempo, quando Deus se revelou a um homem justo chamado Abraão, nosso patriarca. Deus lhe prometeu uma descendência tão numerosa quanto a areia da praia do mar, ou as estrelas do céu. E os anos passaram... Os filhos, netos, bisnetos foram vindo, se multiplicando... até serem o que somos hoje.
ORFA
Todos os hebreus vieram desse homem... Abraão.
QUILIOM
Está tão certa como a sua beleza.
Orfa sorri para ele.
No outro banco...
MALOM
Nunca falaram isso pra você? Que é bonita?
Rute, confusa, tenta buscar algo, mas faz que não...
RUTE
Não, eu... Eu... nunca pensei a respeito...
MALOM
Mas... Um homem nunca a olhou dessa forma?
RUTE
Bom... Se olhou, eu não reparei. Mas isso não deve ter acontecido, pois sou uma sacerdotisa...
Malom faz que sim, entendendo.
RUTE
Isso... (olhando admirada para ele) é tão estranho... Dizerem que sou... bonita.
Malom observa a reação de Rute com atenção. Ela parece estar absorvendo aquilo... e então o olha, sutilmente parecendo gostar.
ABERTURA

CENA 3: EXT. MOABE – MURALHA – NOITE

Encantada, Noemi tampa a boca e o nariz com as mãos enquanto olha para a mesa preparada.
ELIMELEQUE
(sorrindo) E então?... Gostou, meu amor?
NOEMI
Elimeleque!... Isso é... é lindo! Está a coisa mais bonita, Elimeleque!
ELIMELEQUE
Ah, é um alívio ouvir isso!...
NOEMI
Meu amor... Não poderia ser diferente, olha isso! Foi você quem preparou?!
ELIMELEQUE
Tive uma ajudinha da Leila.
NOEMI
Aaahhh!... Agora está explicado... A Leila é cúmplice.
Elimeleque ri.
ELIMELEQUE
Tudo por você, meu amor. Agora venha, vamos nos sentar.
Elimeleque leva Noemi até a cadeira e segura a mão dela enquanto ela senta. Em seguida ele senta na de frente para a esposa.
NOEMI
Nossa, Elimeleque, está tudo perfeito!
ELIMELEQUE
Isso porque ainda nem experimentou a comida...
NOEMI
Ah, nem precisa... Só de ver e estar aqui... já ganhei a noite.
Elimeleque sorri apaixonado e satisfeito.
ELIMELEQUE
Posso te servir vinho?
NOEMI
Claro...
Sorrindo, Elimeleque pega a jarra de vinho e enche a taça de Noemi. Mas sua mão treme e cai um pouco da bebida na mesa.
ELIMELEQUE
Ah, me desculpe...
NOEMI
Está tudo bem, Elimeleque?
Elimeleque coloca a jarra na mesa.
ELIMELEQUE
Está sim, é que... mesmo... mesmo depois de todos esses anos juntos... eu ainda fico nervoso em um momento como esse...
NOEMI
Oh, meu amor!...
Noemi pega as mãos do marido e o olha admirada.
NOEMI
Você não existe, Elimeleque...
Elimeleque então inverte a posição das mãos, traz as dela para ele e as beija. Em seguida ela pega sua taça e bebe, enquanto ele serve sua própria taça.
NOEMI
A vista daqui de cima é bela... Tanto da cidade quanto do deserto.
ELIMELEQUE
Até mesmo a escuridão?
NOEMI
Achei que você é quem defenderia a procura da beleza na escuridão.
Elimeleque então olha mais atentamente para o lado do deserto, e nota, em meio à escuridão, pontos luminosos distantes. Percebe que Noemi encara justamente esses pontos.
ELIMELEQUE
Você tem razão... Mesmo na escuridão, em algum lugar, ainda que distante... há uma luz insistindo em brilhar.
NOEMI
(sorrindo) Agora sim...
Elimeleque sorri e volta a olhar para aquelas luzes distantes.
ELIMELEQUE
A que distância devem estar? O que será que estão fazendo?...
NOEMI
Não sei, mas... até poucas noites atrás éramos nós. Isso, esse momento, isso tudo que você preparou... é muito importante pra mim, meu amor, depois de tanta escassez, tanta luta...
ELIMELEQUE
Pois façamos à altura de tal importância!
Elimeleque coloca sua taça na mesa.
ELIMELEQUE
(pegando uma porção de comida e apontando o prato de Noemi) Posso?
NOEMI
Claro, meu amor. (sorrindo) É uma honra.
Contente, Elimeleque pega o prato dela e começa a servir. Seus olhares se encontram e desencontram constantemente enquanto ele prepara o prato dela.

CENA 4: EXT. TEMPLO – PÁTIO - NOITE

ORFA
Então quer dizer que toda a terra de Israel é a tal terra que o Deus único prometeu ao Abraão.
QUILIOM
E que Josué e o povo conquistaram há alguns anos.
ORFA
Para terem derrotado todos os cananeus que habitavam ali, deveriam ter um exército formidável.
QUILIOM
O exército tinha sim suas qualidades, mas não teriam alcançado tal feito sem o sustento do nosso Senhor. A abertura das águas do Jordão, a queda das muralhas de Jericó, o sol parado durante um dia inteiro, a chuva de pedras sobre a coalizão de cinco exércitos... Sem Deus não estaríamos estabelecidos nessa terra.
Próxima dali, Aylla continua extremamente atenta à conversa de Rute e Malom.
Rute continua num misto de confusão e admiração.
RUTE
Pra você isso é importante? A beleza?
MALOM
A interior, que eu vejo em você, sim.
RUTE
Como você pode saber?
MALOM
Eu já percebi. Essa sua vontade de saber de Deus, essa busca... Isso é lindo, é puro... é sublime.
Por alguns segundos, Rute o encara absorvendo o que escutou. Então desvia o olhar, fica mais cabisbaixa.
RUTE
Não, você não pode dizer isso... Eu sou uma sacerdotisa de Moabe, serva de Baal e Aserat. O meu compromisso é com os deuses. Eu te faço essas perguntas... pelo conhecimento, como uma forma de crescer como sacerdotisa...
Malom a observa sorrindo um tanto descontraído, mas também admirado.
MALOM
Eu nunca vi uma busca por conhecimento brilhar tanto nos olhos.
Rute perde as palavras e o observa com a boca levemente aberta.
Orfa se ajeita no banco.
ORFA
Mas Quiliom, eu não entendo... Como o seu Deus... Como o Deus dos hebreus pôde permitir que uma fome tão grave acometesse seu povo? E que buscassem salvação com um povo inimigo e que não conhece a Ele?
QUILIOM
Por causa da desobediência, Orfa. Nosso povo tem virado as costas para o Senhor e adorado aos-- Me desculpe, mas--
ORFA
(interrompendo) Mas não é correto que adorem aos deuses moabitas, por exemplo.
QUILIOM
A qualquer outro deus. E, na verdade, minha família foi a única da nossa cidade que saiu em busca de outro lugar. Ao menos até o momento em que saímos.
ORFA
E você acha, Quiliom, que foi uma boa decisão virem até Moabe?
QUILIOM
Bom, eu estou aqui onde tem pouso, comida, um mínimo de conforto e, além de tudo, estou com você.
Orfa sorri levemente.
Perto dali...
Perdida em pensamentos, Rute encara Malom.
MALOM
(sorrindo) O quê?...
RUTE
Eu fui criada servindo aos deuses. Minha vida é isso. Eles... Eles são bons comigo.
MALOM
Bons como, Rute? Não me leve a mal, não estou te desafiando, quero apenas entender.
RUTE
Muita coisa, Malom.
MALOM
Diga-me uma...
Rute então olha para o lado, pensando.
RUTE
A batalha... contra os amorreus. Recentemente nosso reino venceu o reino dos amorreus no campo de batalha. Porém, no início a vantagem era deles... Até que a Sacerdotisa Myra realizou o sacrifício de uma menina e a situação se reverteu... e a vitória foi nossa. Não fosse a ajuda dos deuses, agora eu estaria morta.
MALOM
Talvez tenha sido Deus quem te poupou.
RUTE
O Deus único?!
MALOM
Talvez Ele tenha planos para você, e a vitória dos amorreus atrapalharia isso, já que, como você disse, estaria morta agora.
RUTE
O Deus único... ter planos... para mim?...
MALOM
Por que não?
Rute fica pensativa.
ORFA
Onde vocês estão parados? Na hospedaria?
QUILIOM
Não, nem mesmo fomos até lá. Quando chegamos conhecemos uma vendedora chamada Leila. Ela tem uma loja onde vende peças de barro, perto da rua principal.
ORFA
Acho que sei onde fica... Quiliom, mesmo estando aqui, em Moabe... Vocês conseguem orar ao seu Deus? Ele pode ouvi-los?
QUILIOM
Não há nada que nosso Senhor não possa fazer, Orfa. E não há um ser humano nesse mundo que Ele não possa ouvir. Basta que a pessoa incline seu coração... com pureza e sinceridade. Não importa se ela está aqui, ou ali, ou longe... Na escuridão das profundezas ou na glória das alturas... Fale com Ele, e Ele te ouvirá. Peça com humildade e sinceridade... e Ele te atenderá.
Orfa escuta atenta... Parece um tanto admirada.
ORFA
Tudo isso... é muito repentino... e diferente. Eu... Eu não quero mais saber disso.
QUILIOM
Por que, Orfa?...
ORFA
Eu... Eu tenho medo do que você diz!
QUILIOM
Medo—- Orfa, você não precisa ter medo...

CENA 5: EXT. MOABE – MURALHA – NOITE

Noemi e Elimeleque já comeram, e agora estão lembrando do passado com muito vinho e risadas.
NOEMI
(rindo) Ah, meu amor, é cada história!...
ELIMELEQUE
Eu já nem lembrava dessa que você contou!
NOEMI
Agora não vai esquecer nunca mais!
ELIMELEQUE
Você desenterrou essa aí!
Noemi ri.
ELIMELEQUE
Ah, mas eu tenho uma também, Noemi!
NOEMI
Outra?! Conte, meu amor!
ELIMELEQUE
Você se lembra de quando ainda estávamos nos conhecendo, que eu te convidei para passear à noite, que tocaria flauta pra você sob as estrelas, ahn?!
NOEMI
Como não me lembraria dessa noite?! Nosso primeiro beijo, seu pedido de casamento, a aprovação do meu pai--
ELIMELEQUE
(interrompendo) Sim, sim, isso! Mas no dia anterior eu havia te prometido tocar a flauta...
NOEMI
E não tocou?...
ELIMELEQUE
Não toquei...
NOEMI
Você não tocou... Elimeleque, é verdade... É verdade, você tem razão, Elimeleque! Como eu deixei isso passar?! E como você se lembrou disso depois de tanto tempo?!
ELIMELEQUE
Porque eu achei isso perdido nas nossas coisas quando estávamos arrumando tudo pra partir.
Elimeleque se abaixa e pega algo embaixo da mesa: uma flauta feita de osso.
NOEMI
Elimeleque! É ela?! É a mesma?!
ELIMELEQUE
A mesmíssima!
Elimeleque entrega para Noemi que, nostálgica, examina a flauta.
NOEMI
Meu Deus...
ELIMELEQUE
Incrível, não é? Eu nem tinha mais esperanças de encontrá-la.
Saudosa, os olhos de Noemi lacrimejam.
NOEMI
Isso me traz tantas lembranças à tona...
ELIMELEQUE
Oh, meu amor!...
Elimeleque se levanta, pega sua cadeira, a leva para ao lado de Noemi e se senta.
NOEMI
Tome.
Elimeleque pega a flauta.
NOEMI
Toca para mim? Depois de 25 anos?
Elimeleque ri.
ELIMELEQUE
Vou cumprir minha promessa depois de 25 anos.
Noemi sorri e limpa as lágrimas. Elimeleque acaricia o rosto dela e então se prepara pra tocar.
Ele olha a flauta com carinho e então a aproxima de seus lábios. E assopra...
Sobre as vozes distantes da população, o doce som da flauta se espalha pela noite escura e tranquila. Noemi fecha os olhos, sentindo a música e viajando em pensamentos, lembranças, imaginações...
A música continua...

CENA 6: EXT. TEMPLO – PÁTIO – NOITE

Talvez o som da flauta de Elimeleque tenha chegado ali. Se aconteceu, passou por cima dos domínios do templo e se espalhou pelos ares.
RUTE
Eu não consigo pensar, Malom. Preciso de um tempo!
MALOM
Eu entendo.
RUTE
Por favor, vá embora.
Malom a olha confuso.
RUTE
(quase chorando) Vá embora, Malom!...
Não entendendo, Malom se levanta, mas ainda a olha. Com os olhos lacrimejando, Rute olha para ele.
MALOM
Rute...
RUTE
Vá!
Malom respira fundo e sai. Aylla, ali perto, não entende.
Do outro banco, Quiliom percebe seu irmão se distanciando do banco onde está Rute.
QUILIOM
Não há por que ter medo, Orfa!...
Ele olha novamente para Malom e de volta para Orfa.
QUILIOM
Olha, agora eu precisarei ir, mas... eu quero te ver novamente. Eu posso voltar?
Orfa, um tanto confusa, fica entre Quiliom e seus pensamentos.
QUILIOM
Posso, Orfa?
ORFA
Eu... não sei...
Quiliom se levanta, cuidando onde o irmão está.
QUILIOM
Eu voltarei.
MALOM
Quiliom! Vamos!
QUILIOM
Espere por mim, Orfa, que eu voltarei!
Quiliom, aflito, a deixa e vai até Malom, alcançando-o. Os dois irmãos olham uma última vez para seus pares, e então vão embora.
Meio transtornada, Rute funga e tenta limpar os olhos vermelhos... IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: Rute reflete sobre o que ouviu de Malom e sobre o que Aylla poderia vir a ser caso vivesse o suficiente. Faruk manda Rute preparar Aylla para o sacrifício.

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