ALTO MAR
GÊNERO WEBSÉRIE
ESCRITA POR GABRIEL PRETTO
REALIZAÇÃO RANABLE WEBS
CAPÍTULO 2
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Cena 1: Banheiro Feminino/Atena/Dia/
A câmera mostra os pés de Paola, que está em frente ao espelho chorando. Ouvimos o barulho da torneira e em seguida, som de água. A câmera sobe lentamente até chegar ao rosto de Paola. Ela está lavando o seu rosto com água para se acalmar.
Paola (narrando em off): A água fria balançava sobre minhas mãos que estavam debaixo da torneira. Molhei meu rosto. Ele estava quente e vermelho. A minha visão estava um pouco embaçada por conta da água, mas pela água das minhas lágrimas. Eu não posso aparecer assim. Não posso! Não. Eu não sou uma mulher fraca para chorar. Não sou. Eu sou uma mulher batalhadora, sucedida, tenho 2 filhos maravilhosos que me amam. Não sou fraca pra ficar abalada por gente medíocre e ignorante que diz que ‘’mulher não trabalha em navio’’ ou ‘’vá procurar um emprego de verdade’’. Além disso, como eu posso aparecer desse jeito para o novo segundo oficial do navio? O que ele vai pensar de mim? Hã...o que você acha que ele vai pensar, sua burra? ‘’Uma mulher trabalhando em um navio?’’. O que mais além disso ele diria?
Paola desliga a torneira e sai do banheiro. Ao sair do banheiro, encontra com Diego.
Diego: Posso saber o que houve?
Paola: Não foi nada.
Diego: Foi alguma coisa que eu disse?
Paola: Não foi nada, eu já disse. Vem vamos par-
Diego: Antes responde a minha pergunta. Foi algo que eu disse? Foi sobre o divórcio?
Paola (tentando se livrar da situação): Sim...foi sobre o divórcio.
Diego: Ta. Então já percebi que você não quer falar sobre isso agora. Eu entendi. Então eu não vou mais tocar nesse assunto visto que você não está bem. Eu sei que nós estamos nos separando, mas eu ainda tenho dever de te respeitar.
Paola: Tem?
Diego: Pare com isso. Tenho sim. Eu ainda sou seu marido. Agora pare de chorar. Não quero você chorando. Ok?
Paola: Ok.
Paola: Ok.
Uma voz é ouvida no corredor.
Marcel: Senhor e senhora Fuentes?
Os dois se viram.
Diego: Sim?
Marcel: O capitão me mandou chamar vocês. O Jimenez acabou de chegar. Ele quer que vocês apresentem o navio para ele.
Diego: É aquele tal de Ludim?
Marcel: Sim, o novo segundo oficial.
Diego: Hm. Então vamos lá.
Marcel: Sigam-me por favor.
Os três caminham até a central de comando.
Diego: Então Marcel, quais são as suas primeiras impressões dele?
Marcel: Dizem que ele não tem tanta experiência assim, mas eu confesso que pelo que ou ouço falar ele é extremamente capacitado.
Diego: Isso é o que dizem, não é?
Marcel: É. Mas agora cabe a você tirar as suas dúvidas. Ainda não vi ele pessoalmente, mas sei que ele está conversando com o capitão. A única coisa que eu posso te dizer é que ele é novo. Tem uns...sei lá...26 anos talvez. Não lembro agora.
Diego: Vish…
Marcel: Tá com receio porque ele é jovem, não é? Não se preocupa porque eu também estou.
Diego: Gente assim só faz cagada.
Paola: Não se precipite. É só o primeiro dia dele. Deixem os dias passarem que talvez teremos uma opinião mais sensata sobre ele.
Diego: É...eu acho que você tem razão.
Cena 2: Ponte de Comando/Atena/Dia/
Marijo e Ludim estão conversando.
Marijo: Então com essa idade e com esse talento, eu acho que posso considerar você um prodígio. E acho que eu posso contar com a sua confiança.
Ludim: Obrigado, senhor. Espero não decepcioná-lo.
Paola, Diego e Marcel adentram no local.
Marcel: Capitão Mora?
Ludim e Marijo se viram.
Marcel: Trouxe o senhor e a senhora Fuentes, como o senhor pediu.
Marijo: Muito obrigada.
Marcel: Com licença.
Marcel se retira.
Marijo: Bem Ludim, a senhora e o senhor Fuentes irão lhe apresentar a planta do navio. Eu acho importante que cada funcionário tenha uma boa familiarização com o seu ambiente de trabalho.
Ludim: Pois você tem razão.
Marijo: Permita-me lhe apresentá-los. O homem é Diego Fuentes, meu oficial de máquinas.
Diego: Diego Fuentes. Prazer em conhecê-lo.
Ludim: Ludim Jimenez, o prazer é todo meu.
Eles apertam as mãos. Diego tenta esconder a sua estranheza em relação a Ludim.
Marijo: E a moça, Paola Fuentes, minha primeira oficial.
Ludim admira Paola com estranheza pelo fato dela ser uma mulher. Ela percebe isso e fica irritada por dentro.
Ludim: Pr...prazer em conhece-lá, senhora Fuentes
Paola: O prazer é todo meu. Por favor me chame apenas de Paola.
Diego: Bem, então eu acho melhor nós apresentarmos a embarcação logo. Daqui a pouco vamos zarpar.
Marijo: Na verdade, senhor Fuentes, apenas Paola irá auxiliar o senhor Jimenez. O Subchefe de máquinas precisa de você lá em baixo. Solicitaram que você se dirija até lá imediatamente. Eu não fui informado sobre a situação, mas parece um pouco urgente.
Diego (constrangido): Então...eu acho que já vou descer até para auxiliá-los. Com licença.
Diego se retira do ambiente.
Marijo: Pois bem, senhora Fuentes. Eu solicito que você foque em apresentar ao senhor Jimenez a superestrutura e o convés superior.
Paola: Por quanto tempo mais ou menos?
Marijo: Acho que...uns 30 minutos. Alguma pergunta?
Marijo: Acho que...uns 30 minutos. Alguma pergunta?
Paola: Não senhor.
Marijo: Ótimo. Agora se vocês me permitem, com licença. Ah, e Ludim.
Ludim: Sim?
Marijo: Tenha um bom primeiro dia.
Ludim: Obrigado.
Marijo: Com licença.
Marijo se retira.
Paola: Bem, vamos começar pelo convés superior. Siga-me.
Ludim e Paola se retiram.
Cena 3: Casa de Ludim/Sala de estar/Interior/
Carlos está sentado no sofá tomando cerveja com a cara inchada de tanto chorar
Flashback on
Hospital de Puerto Limon, quarto 175.
Elena está deitada em uma maca. Carlos entra no quarto e corre até o leito.
Carlos: Elena…
Elena: Carlos…
Carlos: Querida, por favor, não faz assim comigo.
Elena: Deixa Carlos. Isso era inevitável. Olha, eu preciso te dizer uma coisa.
Carlos: Diga meu amor, diga.
Elena: Você e o Ludim, cuidem da minha casa, por favor.
Carlos: Claro. A gente cuida dela pra você.
Elena: Carlos.
Carlos: Sim?
Elena: Eu podia ter sido uma mãe melhor para o Ludim?
Carlos: Claro que não. Você foi uma ótima mãe.
Elena: Por favor, não se preocupem comigo...não há mais nada que vocês possam fazer. Só deus poderá me ajudar agora...
Os batimentos cardíacos param e Elena para de respirar.
Carlos: Elena. Elena? Elena! Não. Não. Pelo amor de deus não faz isso comigo, Elena. Por favor...por favor. ELENA!
Carlos se desespera e se debruça sobre o corpo da esposa.
Flashback off.
Carlos: Eu...sou infiel. Eu não mereço desculpa. Eu mereço morrer. Eu mereço morrer! EU MEREÇO MORRER! EU MEREÇO MORRER!
Carlos cai no chão e começa a chorar enquanto repete silenciosamente que merece morrer.
Cena 4: Convés superior/Atena/Dia/
Paola está mostrando o convés para Ludim.
Paola: Bem, aqui é o convés. Como você pode fazer, não a muito para mostrar aqui, mas o que é importante você saber é que os botes salva-vidas ficam na parte da popa. Existe um outro a bombordo. Alguma pergunta?
Ela diz isso enquanto aponta para um dos botes salva-vidas. Eles eram preso a correntes que parecem estar enferrujadas. Isso chama a atenção de Ludim.
Ludim: Sim, na verdade tenho duas.
Paola: Então faça-as.
Ludim: A primeira é se esses são os únicos botes do navio.
Paola: Na verdade são. Você acha que eles são insuficientes?
Ludim: Sim.
Paola: Não se preocupe. Cada um têm capacidade para transportar 12 pessoas. Nós somos 17 tripulantes no total, então temos o suficiente.
Ludim: Olha, não me leve a mal. Mas eu acho que o apropriado seria ter duas baleeiras extras na proa. Pois no caso de uma emergência em que o navio começasse a virar para o lado, um dos botes seria inútil. Imaginando isso e que apenas um dos botes fosse utilizado com sua devida capacidade, 5 pessoas não teriam lugar. E a minha segunda pergunta é sobre as correntes que estão segurando-os. Eu não acho que seria o material mais apropriado para esta tarefa.
Paola: Bem, quanto as correntes, elas são bem cuidadas e não existe risco delas enferrujarem. Sobre os botes extras, acho que você tem razão. Eu posso informar meus superiores sobre o assunto.
Ludim: Ainda sobre as correntes, como elas são controladas?
Paola: Por manivelas. Cada um possui duas, uma de cada lado.
Ludim: Então elas são controladas de forma manual?
Paola: Sim. Por quê?
Ludim: Olha, com todo respeito, mas eu acho que isso seria uma violação de protocolo de segurança. Correntes não são muito adequadas para o auxílio de botes salva-vidas e a maioria dos botes atuais são controlados de forma automática para um evacuação mais segura.
Paola (tentando mudar de assunto): Eu...posso informar meus superiores sobre o assunto.
Ludim: Seria bom.
Paola: Bem, vamos continuar?
Ludim: Vamos. Não temos muito tempo.
Paola: É, vamos...ai...ai…
Paola põe as mãos na barriga.
Ludim: Está tudo bem?
Paola: Sim...só...cólicas.
Ludim (preocupado): Quer parar um pouco?
Paola: Não...não precisa...eu já estou melhor. Vem. Vamos continuar.
Paola: Não...não precisa...eu já estou melhor. Vem. Vamos continuar.
Os dois continuam andando pelo convés.
Cena 5: Prédio da Coimbra/Gijón/Tarde/
Laerte e Lorenzo estão tomando um café juntos depois da reunião.
Laerte: Tomara que você possa participar de mais reuniões assim.
Lorenzo: Se você precisar eu estou disponível.
Laerte: Olha, eu estava com uma idéia para esse novo navio eu gostaria de discutir ela com você. Será que eu podia.
Lorenzo: Claro.
Laerte: Essa embarcação será...muito grande...nossa empresa nunca construiu algo tão grande antes. E por ser desse tamanho, ela terá um custo considerável. E por causa disso, eu estava pensando em fazer alguns ajustes nos barco para economizar um pouco.
Lorenzo: Que ajustes?
Laerte: Nos sistemas de segurança. Reduzir um pouco o funcionamento deles. Estava pensando em implantar dispositivos mais baratos. O que você acha sobre isso?
Lorenzo: O que eu acho? Olha...eu não sei se isso é uma boa ideia.
Laerte: Por quê?
Lorenzo: Pelo fato do navio ser maior, ele vai ser mais pesado. E se por algum motivo a água conseguir infiltrar o navio de alguma forma séria, esse peso extra seria o suficiente para afundar a embarcação. E se isso acontecer, o tempo pode ser inimigo da embarcação quando o assunto e evacuar. Sem falar que dependendo da alteração, isso seria uma violação de protocolo.
Laerte: Hum...entendo. Bem, de qualquer forma, obrigado pelo conselho.
Lorenzo: A disposição. Eu preciso ir.
Laerte: Hum, que chato, mas obrigado por comparecer. Até breve, sócio.
Lorenzo: Até mais.
Lorenzo sai.
Laerte: Negando meu interesse, né? Quem ele pensa que é pra discordar de mim? Será que realmente foi um bom negócio contratar esse embuste? Calma. Quando chegar a hora, você despacha ele.
Cena 7: Ponte de comando/Atena/Interior/
Marijo está se preparando para a partida do navio. Paola e Ludim adentram no Lugar.
Paola: Capitão.
Marijo: Sim?
Paola: Ele é todo seu.
Marijo: Que bom que está aqui Ludim. Nós já vamos zarpar. Por favor, sente-se aqui.
Marijo mostra onde Ludim deve se sentar. Ele se acomoda em uma cadeira em frente há um painel de controle
Marcel: Tudo pronto senhor. Podemos zarpar.
Marijo: Senhoras e Senhores, nós estamos a caminho do Rio. Liguem os motores
A câmera mostra o navio sendo desacordado e as hélices ligando. A imagem retorna para Ludim, que está olhando para a janela vendo as coisas se movendo, sinalizando que o navio está andando. Após isso vemos do cais o Atena deixando a cidade e indo para o Rio de Janeiro. Por fim vemos uma espécie de time-lapse, mostrando a transição da noite para o dia.
Cena 7: Corredores/Atena/Noite/
Paola está caminhando pelos corredores com alguns papéis. O faxineiro que a assédio mais cedo está limpando chão e percebe a passagem dela. Ele dá um assobio enquanto olha para a o traseiro de Paola, o que enfurece ela.
Paola: Escuta aqui! Você não tem vergonha na cara não?
Faxineiro (tentando se fazer de inocente): Tá falando comigo?
Paola: Não se faça de sonso. Isso é jeito de tratar uma mulher.
Faxineiro: Eu estou te desrespeitando quando imagino como deve ser bom me divertir com você. Mulherão como você não deve trabalhar desse jeito. To louco pra te ver de mini saia
Paola: Olha aqui, eu vou te dizer uma coisa. Qual o seu nome?
Faxineiro: Gallego. E o seu madame?
Paola: Não me chama de madame. Isso que você está fazendo é assédio. Se você não parar eu vou alertar meus superiores.
Gallego: Uia, tá perigosa!
Paola: Vai catar coquinho, vai!
Paola segue o corredor apressada e o faxineiro a "admira".
Cena 8: Ponte de comando/Atena/Noite/
Ludim está fazendo uma pausa em seu trabalho e pega seu caderno para escrever um pouco.
Ludim (narrando em off o que escreve): Segunda-feira, 10 de agosto de 1987.
Não tinha como o meu dia ficar pior. A única coisa de positivo que posso listar desse dia e a minha primeira viagem pela Coimbra. O navio e exatamente como eu imaginava. Sem luxo algum. O casco é vermelho e possui um leve tom alaranjado. Tem em letras grandes e brancas a palavra ‘’Coimbra’’ escrita em ambos os lados da embarcação. Eu fico sentado o dia inteiro no último andar da superestrutura de 6 pisos. Não faço nada além de mapear posições. Essa tripulação é puxa saco. Ficaram me elogiando o dia inteiro, mas eu sei que por trás devem estar falando mal de mim. A cereja do bolo do dia foi o fato de minha mãe ter morrido noite passado e aquele palhaço do Carlos só ter falado de manhã. Eu tenho que esconder o dia inteiro a minha tristeza, mas sim, eu sinto muita raiva, não por causa do óbito, mas sim da atitude dele. Sabe o que ele fez? Foi beber depois dela ter falecido. Eu não posso comparecer no velório por conta desse emprego de merda. Ele chegou a me bater, acredita nisso? Mas eu não sou de ficar remoendo as coisas. Dei um soco nele e falei algumas verdades, que ele chamou de falta de respeito. Um dia perfeito como você pode ver. Não tinha como ficar melhor. Preciso parar. Vou pegar um café. Me deseje sorte nesse emprego de merda.
Ludim
Ludim fecha o caderno e guarda ele.
Ludim: Senhor, eu vou até a cafeteria pegar um café. Quer alguma coisa?
Marijo: Hum...pode me trazer um café também. Café puro, antes que pergunte que tipo de café.
Ludim: Vejo que você é que nem eu. Também prefiro café puro. Bem, eu já volto.
Ludim sai da ponte e desce em direção a Cafeteria
Cena 9: Cafeteria/Atena/Noite/
Ludim entra na cafeteria para pegar um café. E se depara com um grupo de funcionários conversando
Diego (no meio do bolo): Olha ele aí!
Todos aplaudem Ludim.
Ludim: O que que tá acontecendo aqui?
Diego: Você acha que a gente ia deixar seu primeiro dia passar em branco? Tá redondamente enganado. Então a gente preparou essa surpresa, mesmo que simples para você.
Ludim: Obrigado. Mas eu não vou ficar aqui por muito tempo. Eu preciso voltar lá pra cima.
Diego: Ah, que chato. Mas eu acho que ele merece uma salva de palmas. Então, palmas pra ele galera.
Todos aplaudem novamente.
Ludim: Obrigado. Vocês não imaginam o prazer que é estar abo-
As luzes de todo o navio se apagam. Vemos em cômodos diferentes, incluindo corredores, cafeteria, sala de máquinas e ponte de comando as luzes se apagando. A câmera mostra o navio pelo lado de fora. Está de noite e ventando muito e as luzes do navio estão todas apagadas.
De volta a cafeteria.
Diego: O que aconteceu?
Ludim: Não sei. As luzes se apagaram aparentemente.
Todos do cômodo começam a começam a conversar entre si sobre o que aconteceu. Vemos alguns ficando nervosos, outros confusos. A câmera foca em Ludim que está olhando para os lados sem entender o que aconteceu.
A imagem congela. O fundo fica desfocado e a imagem inteira fica azulada.
FIM DO CAPÍTULO
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