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A Promessa - Capítulo 01 (Reprise - Estreia)



CAPÍTULO 01 

 

uma novela de 

FELIPE LIMA BORGES 

 

livre adaptação do livro de Rute 

 

Edição da Versão Reprise por 

RAMON FERNANDES 

 

EDIÇÃO: 

Capítulo 01 ORIGINAL (SEM CORTES)  



FADE IN: 

CENA 1: EXT. ISRAEL - BELÉM - DIA 

Um pequeno povoado se destaca na paisagem. Mas não um como estamos acostumados, pois essa é a Belém do mundo antigo. E para além de seus muros, os campos de trigo, os morros e as montanhas compõe a terra de Israel.  

LegendaBELÉM, ISRAEL. Século XII a.C. 

Se sua localização geográfica e sua simples arquitetura não fazem parte do nosso dia a dia, o mesmo não se pode dizer do modo de vida de seus humildes moradores. Vemos homens e mulheres indo e vindo pelas estreitas ruas carregando cestas, vasos, comidas, objetos estranhos, ou apenas tagarelando à toa. Quando estão sem pressa, param para dar atenção aos vendedores atrás de suas barracas de madeira. E entre as pernas de todos, crianças correm alegres como se não houvesse amanhã. 

Da rua em frente à uma das casas é possível ver a cozinha. Lá estão uma garota e uma mulher mais velha. 

 

CENA 2: INT. CASA DE NOEMI - COZINHA - DIA 

NOEMI (17 anos, sardas no rosto e cabelos cacheados) sova o pão com rapidez. 

NOEMI Noventa e oito, noventa e nove, cem! Terminei, Zaira! Agora é com você! Preciso ir!

Noemi abandona a massa e corre para limpar suas mãos. ZAIRA (60 anos), com a mão na cintura, para pra observá-la. 

ZAIRA Que correria é essa, Noemi? Parece até que o pão estava te machucando!... 

NOEMI (lavando as mãos) Eu estou atrasada, Zaira. Não posso deixar o Iago me esperando. Coitado!... 

ZAIRA Menina!... Se continuar nessa pressa vai tropeçar no caminho e encontrar o rapaz toda suja. 

NOEMI (sorridente) Não se preocupe, conheço essas ruas de Belém de olhos fechados! 

ZAIRA E o campo lá fora? 

Noemi termina de secar as mãos. 

NOEMI (sorrindo) Um olho aberto é o suficiente. 

Noemi corre até Zaira e a beija no rosto. 

NOEMI Até logo, Zaira! Volto antes dos meus pais chegarem. Shalom! 

Noemi vai para a porta de entrada, a da sala, grudada com a cozinha. 

ZAIRA Shalom! Juízo, viu senhora Noemi! 

NOEMI Você me conhece, Zaira! 

Noemi sai e fecha a porta. 

ZAIRA (orgulhosa, para si) É, conheço... 

 

CENA 3: EXT. BELÉM - RUAS - DIA 

Empolgada, Noemi corre pelas ruas quase esbarrando nas pessoas. 

NOEMI (para alguém no caminho) Perdão! 

Ela alcança a rua principal e atravessa o portão aberto da cidade, rumo aos campos lá fora. 

 

CENA 4: EXT. CAMPOS - DIA 

Noemi vem correndo pelo campo e diminui a velocidade ao chegar em uma grande árvore na orla de um amontoado de vegetação. Não há ninguém ali. 

NOEMI (ofegante) Não acredito... E eu com pressa... (aflita) Ou será que ele se cansou de esperar e foi embora?! 

Olhando ao redor, Noemi se aproxima mais do tronco da árvore. Então, por causa de algo no chão, ela interrompe um passo que daria. Olha bem; é uma corda esticada. 

NOEMI Que isso? 

Curiosa, Noemi se abaixa e pega a corda. De repente, um barulho na copa das árvores... e uma colmeia de abelhas despenca e cai exatamente na cabeça da garota, que vai ao chão e, assustada, tenta tirar aquelas coisas da cabeça. Nesse momento ouvimos vozes e risadas altas, e 3 jovens da idade dela surgem de trás das árvores: TAMIRES (cabelo escuro), MAYA (cabelo claro) e IAGO (alto, magro). Eles - principalmente Tamires e Maya - gargalham da situação. Noemi, desesperada com o mel e os pedaços de colmeia grudados em seus cachos, e com um enxame de abelhas atordoadas voando ao redor, se levanta e corre dali. 

 

CENA 5: EXT. RIO - DIA 

Aflita, Noemi desce a ribanceira e mergulha no rio do jeito que está. Com dificuldade ela limpa o cabelo. Logo Tamires, Maya e Iago aparecem lá em cima, ainda gargalhando. 

MAYA Sua ideia foi perfeita, Tamires! 

TAMIRES Claro que foi! 

Noemi olha para eles. 

MAYA Achou que poderia roubar o namorado dos outros, sardenta? 

NOEMI Eu... eu não sabia que vocês estavam namorando... 

MAYA (irônica) Ah, ela é inocente, Tamires. 

TAMIRES Todas são. 

NOEMI Eu não tive culpa, eu não sabia! Foi o Iago que me convidou pra passearmos no campo, ele que... 

TAMIRES (interrompendo) Ideia minha, sua estúpida! 

IAGO Por que eu iria querer passear com você, Noemi? Olhe pra mim, olhe pra você... Ainda na água, Noemi começa a chorar. 

MAYA É, Noemi. Uma sardenta como você devia ter vergonha de andar na rua. Talvez devesse era viver aqui, fora da cidade, longe de todos! Só na sua cabecinha mesmo pra achar que o Iago, o meu namorado, iria querer alguma coisa com você. 

Maya e Iago trocam um beijo. 

TAMIRES (cínica) Maya, Iago... Acho que isso não é certo... (apontando a si e a Noemi) Vocês estão em público. 

MAYA Tem razão, Tamires. (pula no colo de Iago) Vamos procurar um lugar mais privado. 

Com Maya rindo em seu colo, Iago corre para o mato. Tamires vira de volta para Noemi, cujas lágrimas se misturam ao rio. 

TAMIRES Contente-se, Noemi. Ninguém quer uma sardenta como você. 

Tamires cospe no chão, vira e vai embora. Noemi desaba a chorar. 

 

ABERTURA 

  

CENA 6: INT. CASA DE NOEMI - SALA - DIA 

Zaira acaricia os cachos de Noemi - já com outra roupa - que, chorando, conta o que aconteceu. 

NOEMI Eu não sabia que o Iago e a Maya estavam de namoro!... Ele me enganou, só queria se divertir às minhas custas! E eles ficavam falando das sardas, Zaira... É sempre por causa dessas malditas sardas! 

ZAIRA Não fala assim, minha menina. Suas sardas são o que você tem de especial. Elas são tão lindas no seu rosto!... 

NOEMI Se por especial você quer dizer alvo de zombarias... Sempre foi assim, Zaira, sempre! 

ZAIRA Eu tenho certeza que há de chegar o dia em que sardas como as suas serão invejadas! Mas até lá não se preocupe. Não vou esperar que seus pais cheguem do campo, vou ir agora mesmo falar com os responsáveis desses inconsequentes. 

NOEMI (virando-se para Zaira) Não! Não quero isso, Zaira. Só vai piorar tudo! Por favor, não vá/ 

ZAIRA (interrompendo) Tudo bem, tudo bem, Noemi. Se não quer eu não vou, apesar de não concordar. 

NOEMI Eu estava certa de que o Iago era o homem da minha vida... (levantando) Mas chega! Não quero mais falar disso! 

ZAIRA Onde você vai?! 

NOEMI Cuidar das ovelhas. Essas não se importam com minhas sardas. Ao menos nunca comentaram nada... 

ZAIRA (sorrindo) Veja só, já está melhorando... 

Chorosa, Noemi força um sorriso e sai. Zaira permanece sentada, um tanto preocupada. 

 

CENA 7: EXT. CAMPO - CURRAL - DIA 

Em outra parte do campo, Noemi guia as ovelhas, com o auxílio de um cajado, até o curral. Lá ela as alimenta. Então vê, ao longe, Maya e Iago rindo e correndo em direção ao portão da cidade. Uma crise de choro a ataca novamente e ela se apoia no cajado. Raivosa, Noemi fecha o cercado, joga o cajado no chão e parte para outro lugar. 

FADE OUT: 

 

FADE IN: 

CENA 8: EXT. PENHASCO - DIA 

Sentada na beira de um penhasco, com Belém à suas costas e morros e vales à frente e abaixo, Noemi externa sua amargura através das lágrimas... 

 

CENA 9: INT. CASA DE NOEMI - COZINHA - DIA 

Zaira tira o pão do forno de barro e o coloca na mesa. 

ZAIRA Até agora... Cadê você, Noemi?... 

 

CENA 10: EXT. CAMPO - CURRAL - DIA 

Preocupada, Zaira chega ali. 

ZAIRA Noemi... Noemi, onde você está?... 

Somente as ovelhas respondem. Então Zaira vê o cajado de Noemi caído. 

ZAIRA Ai, meu Deus... 

Zaira olha ao redor. Então toma uma direção e vai.  

 

CENA 11: EXT. PENHASCO - DIA 

Soluçando, Noemi limpa seu rosto e seus olhos. Tenta respirar fundo. Se recompõe. 

NOEMI Chega! Chega de choro! 

Ela funga enquanto continua a limpar seus olhos. 

NOEMI Vocês não merecem uma gota de lágrima! 

Então a garota se levanta para ir embora. Porém, quando está virando para trás, seu pé escorrega para fora do penhasco! 

Ela tenta segurar na borda, mas em vão. Noemi cai! Um segundo depois ela consegue apoiar as mãos em uma entrada na parede do penhasco, porém seus dedos estão escorregando. Está por um fio! 

NOEMI (tentando se segurar) Socorro!!! Ah!... Socorro! 

Desesperada, Noemi olha para o abismo lá embaixo. Suas pernas balançam a esmo e pequenas pedram se soltam e somem. A borda de onde ela caiu parece tão distante quanto o céu. 

NOEMI Socorro!!! Socorro!!! SOCORRO!!! 

Então ela fecha os olhos lacrimejados e parece tentar se concentrar em algo. 

NOEMI Senhor... Senhor, por favor... Me ajude, Senhor! Me ajude! 

No buraco da parede os dedos de Noemi parecem estar cada vez mais escorregadios. Com o rosto virado para cima, ela abre os olhos. De repente, um resplendor de luz vem do céu! Como o sol de meio-dia, Noemi tem dificuldade de manter seus olhos na bola de luz, que abaixa até tocar o solo lá em cima... E some. 

Apesar de estar nas últimas se segurando, um brilho de esperança é visível no rosto da garota. É quando uma figura aparece lá em cima, um homem com uma veste branca e limpíssima, e o rosto envolto em um tecido igualmente claro. 

Ele para na beira do penhasco sem qualquer sinal de assombro ou preocupação, apenas olhando docemente para Noemi. Ela se esforça para não despencar, mas está cada vez mais fraca. 

NOEMI Me ajude!... 

O homem de branco, ainda de pé, estende sua mão para Noemi. 

ANJO Pegue minha mão. 

Noemi não entende, pois o anjo está a vários metros acima dela. 

NOEMI Como? Não posso... Está muito longe... Se eu soltar uma mão eu caio... 

ANJO Apenas tenha fé e pegue. 

Noemi parece entender o que está acontecendo. Então ela fecha os olhos, respira fundo e... solta as mãos! Franze o cenho grosseiramente de medo, mas não está caindo. Pelo contrário, ela está parada! Olha ao seu redor maravilhada. Mesmo não segurando em nada, Noemi flutua no ar! 

Ela olha para o anjo lá em cima, que mantém a mão estendida. 

ANJO Pegue minha mão, Noemi. 

Noemi estica seu braço na direção do anjo e milagrosamente começa a subir. Com isso, ao mesmo tempo ela chora e sorri enquanto ascende à beira do penhasco. Finalmente alcança a mão do anjo, que a aperta com segurança. Noemi observa maravilhada seu corpo voltar ao nível do solo e seus pés tocarem o chão. 

Com ela já segura e de pé, o anjo solta sua mão delicadamente. Emocionada, Noemi desaba a chorar aos pés do anjo. 

ANJO Levante-se. 

Noemi olha para cima e põe-se de pé. Está impressionada com o ser à sua frente. 

ANJO Por que choravas neste lugar? 

NOEMI Algumas... pessoas na cidade... Elas não veem minha presença com bons olhos... Sendo tu quem és, certamente sabes o que aconteceu. 

ANJO Seu coração está cheio de desilusão por um amor que pensavas ser teu. 

Porém, hoje eu venho para lhe anunciar um amor diferente, Noemi. Um amor verdadeiro. 

Noemi olha o anjo muito impressionada. Ele leva sua mão até pouco acima da cabeça dela. 

ANJO Essa é a promessa que te faço hoje: de mui longe virá um amor que transbordará as botijas de seu coração. Um amor que estará ao teu lado até à hora de repousares com os teus antepassados. Um amor puro, um amor incondicional. Um amor da parte do Senhor. 

Noemi não aguenta a emoção e desaba a chorar. No choro de Noemi, IMAGEM CONGELA. 

 

CONTINUA...

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