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A Promessa - Capítulo 22 (Reprise)


CAPÍTULO 22 


uma novela de 

FELIPE LIMA BORGES 

 

livre adaptação do livro de Rute 

 

Edição da Versão Reprise por 

RAMON FERNANDES 

 

EDIÇÃO: 

Restante do Capítulo 34 + Capítulo 35 ORIGINAL (SEM CORTES)


CENA 01: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA 

Elimeleque passa por ali quando nota Leila organizando algumas peças de barro em uma prateleira. Então ele se certifica de que Noemi não está por ali e se aproxima de Leila. 

ELIMELEQUE— (falando baixo) Leila... Leila. 

LEILA— Sim, Elimeleque? 

ELIMELEQUE— Leila, escuta... Eu estou pensando em preparar um jantar especial para Noemi hoje à noite, quando Malom e Quiliom estiverem no templo... E eu gostaria de ter a sua ajuda nisso. 

LEILA— Elimeleque!... Eu amei sua ideia! 

ELIMELEQUE— Ótimo! 

LEILA— Vocês podem ir até a muralha! 

ELIMELEQUE— Muralha? 

LEILA— Sim! Há um espaço lá dedicado a jantares, basta reservar com antecedência. 

ELIMELEQUE— Você acha que há disponibilidade para hoje à noite? 

LEILA— Ah, com certeza. O povo está todo distraído com o aniversário do rei, ninguém está se importando com mais nada. 

ELIMELEQUE— Ótimo! 

LEILA— Vá até lá, Elimeleque. Faça logo a reserva que eu te ajudarei em tudo! 

ELIMELEQUE— Muito, muito obrigado, Leila! 

LEILA— Imagine, é um prazer. 

ELIMELEQUE— Será que eu posso te pedir mais uma coisa? Pode levar, mais tarde, Noemi para passear? Mostre para ela toda a cidade, para que dê tempo de eu cuidar dos preparativos. 

 

CENA 02: EXT. CASA DE SEGISMUNDO – VARANDA – DIA 

Enquanto Segismundo concerta uma couraça sua, Tamires, escorada ao lado, bebe algo em uma taça. 

SEGISMUNDO— Desde que você contou da tal pedra preciosa que Elimeleque tem, eu não parei mais de pensar nela. 

TAMIRES— Pois que bom. 

SEGISMUNDO— E isso me fez tomar uma decisão. 

TAMIRES— Que seria?... 

SEGISMUNDO— Vamos começar imediatamente as investigações do paradeiro da família. E, assim que tivermos uma pista, partiremos imediatamente. 

Satisfeita, Tamires sorri. 

 

CENA 03: EXT. CASA DE LEILA – FRENTE – DIA 

Leila e Noemi estão de saída. 

NOEMI— Mas Leila, tem certeza? A loja... 

LEILA— Não se preocupe com a loja, minha amiga. Elimeleque já não garantiu que cuidará de tudo? 

ELIMELEQUE— Exato, e ela fica aí complicando. Rum. 

Elimeleque dá um rápido beijo na esposa. 

NOEMI— Não, é que eu fico um pouco incomodada... Só porque estamos aqui você já quer sair, apresentar a cidade, quando na verdade seria seu horário de trabalho-- 

LEILA— (puxando-a) Ah, Noemi, chega. Vamos, vamos... É característica dos hebreus serem assim, ahn? 

Leila e Noemi saem. Elimeleque, sorrindo, as observa por alguns segundos... Então dá meia volta e entra na loja. 

 

CENA 04: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA 

Elimeleque encontra Malom e Quiliom vindo da casa. 

MALOM— É isso mesmo, pai. 

QUILIOM— Totalmente aprovado. 

Elimeleque sorri. 

ELIMELEQUE— Ah, meus filhos! Vou fazer o melhor jantar que a mãe de vocês já teve! 

Eles riem e batem nas costas do pai, totalmente empolgado. 

O dia passa e sol finalmente desce. 

Elimeleque vem da rua, atravessando a loja onde estão os filhos de partida. 

ELIMELEQUE— Vou já levar as coisas para a muralha! Sua mãe deve chegar a qualquer momento! 

Elimeleque então derrapa e retorna para onde estão Malom e Quiliom. 

ELIMELEQUE— Boa saída, meus filhos. Se cuidem. 

MALOM, QUILIOM— Shalom, pai. 

ELIMELEQUE— Shalom. 

QUILIOM— E trate bem a nossa mãe, hein... 

MALOM— Estaremos de olho! 

ELIMELEQUE— Não há ninguém mais preparado para isso do que seu pai! 

Eles riem e Elimeleque retorna para dentro. Animados, Malom e Quiliom saem para a rua. 

 

CENA 05: EXT. TEMPLO – PORTÃO PRINCIPAL – NOITE 

Os dois chegam na entrada do templo e se aproximam do portão. 

GUARDA— Esperem aqui. 

Os irmãos se entreolham um tanto sorridentes e aguardam. 

 

CENA 06: INT. CASA DE LEILA – LOJA – NOITE 

Leila e Noemi, que acabaram de chegar, estão de frente para Elimeleque, já tomado de banho e pronto. 

NOEMI— Mas Elimeleque, eu acabei de chegar!... Passei o dia fora, Leila me levou para conhecer essa cidade toda! Como acha que vou ter ânimo para sair de novo? 

ELIMELEQUE— Confie em mim, meu amor. Apenas faça isso. Por favor. Você sabe que não faria isso se não fosse importante, especial! 

Noemi respira fundo. 

NOEMI— Está bem, Elimeleque, está bem... Então vou banhar. 

Elimeleque sorri aliviado. Leila, cúmplice, faz um sinal de aprovação para ele. 

 

CENA 07: EXT. TEMPLO – ENTRADA – NOITE 

Do outro lado do portão, Rute e Orfa se entreolham um pouco nervosas. Por fim olham para frente. 

RUTE— Abram. 

Os guardas finalmente abrem o portão. Malom e Quiliom sorriem e se aproximam. Elas os recebem com um sorriso simpático. 

QUILIOM— (olhando Orfa) Finalmente meus olhos podem contemplá-la novamente... 

Com delicadeza, Malom pega as mãos de Rute e as beija. Ela faz uma pequeníssima reverência com a cabeça. 

ORFA— Vamos. 

Os quatro então entram no templo enquanto os guardas fecham os portões. 

 

CENA 08: EXT. MOABE – MURALHA – NOITE 

Elimeleque ajuda Noemi, com os olhos fechados, a subir a escada da muralha. 

NOEMI— Ai, Elimeleque... O que foi que você aprontou?... 

ELIMELEQUE— Calma, quase lá... Cuidado com o último degrau, isso... Agora vem. 

Eles caminham por cima da muralha, um local relativamente largo, e se aproximam de uma mesa. Elimeleque para. 

NOEMI— Chegamos? 

ELIMELEQUE— Sim. Pode abrir. 

Noemi abre os olhos. Então ela vê a mesa preparada com esmero. Além da comida, dos pratos e das taças, duas velas compõe a iluminação. Elimeleque sorri. Encantada, Noemi não sabe o que dizer. 

 

CENA 09: INT. TEMPLO – SALA DE REFEIÇÃO – NOITE 

Não há ninguém ali na sala de refeição, e as mesas estão vazias. Aylla vem do corredor e entra. 

AYLLA— Senhora Rute?... 

Aylla olha todos os cantos... nada. Então volta para o corredor. 

 

CENA 10: EXT. TEMPLO – PÁTIO – NOITE 

Ainda à procura de Rute, Aylla chega no pátio. Ouve-se vozes. Caminha mais um pouco e então nota vultos do outro lado. Erguendo-se nas pontas dos pés, a menina olha por cima de alguns arbustos. Finalmente identifica: Orfa e Quiliom sentados em um banco e Rute e Malom caminhando devagar para outro. 

AYLLA— (olhando Rute e Malom) Quem é esse?... 

Aylla então se aproxima, cuidando para não ser vista ou ouvida, e se oculta em um arbusto um pouco atrás do banco para onde o casal está indo. Ela afasta as folhagens o suficiente para enxergar Rute e Malom. 

Esses, por sua vez, caminham sem pressa. 

RUTE— Fale-me mais, Malom, acerca do seu Deus único. (descontraída) Já que Ele está em toda parte, então talvez estejamos pisando sobre Ele. 

MALOM— Talvez, indiretamente, já que a Terra é uma de suas criações. 

RUTE— A Terra? 

Rute para de andar e o encara. Malom sorri e faz sinal para ela se sentar no banco; ambos sentam. 

RUTE— Além de tudo o que me disse, Ele também criou a Terra? 

MALOM— Exatamente. 

RUTE— Então fez também a Lua. 

MALOM— Os dois luminares. O maior para governar o dia, o menor para governar a noite. 

RUTE— E as estrelas, eu suponho... 

Malom faz que sim com expressão, e a observa admirado. Rute fica levemente constrangida. 

RUTE— O quê?... 

MALOM— Você se parece com uma. As estrelas... 

Rute um tanto confusa. 

RUTE— O que isso quer dizer? 

MALOM— Que eu te acho muito bonita... 

Aylla, escondida, observa atentamente. Rute, por sua vez, parece não entender ao certo o que Malom quer dizer. No outro banco, Quiliom e Orfa se olham admirados. 

ORFA— E... como foi que o seu povo foi escolhido? Como isso aconteceu? 

QUILIOM— Isso aconteceu há muito, muito tempo, quando Deus se revelou a um homem justo chamado Abraão, nosso patriarca. Deus lhe prometeu uma descendência tão numerosa quanto a areia da praia do mar, ou as estrelas do céu. E os anos passaram... Os filhos, netos, bisnetos foram vindo, se multiplicando... até serem o que somos hoje. 

ORFA— Todos os hebreus vieram desse homem... Abraão. 

QUILIOM— Está tão certa como a sua beleza. 

Orfa sorri para ele. No outro banco... 

MALOM— Nunca falaram isso pra você? Que é bonita? 

Rute, confusa, tenta buscar algo, mas faz que não... 

RUTE— Não, eu... Eu... nunca pensei a respeito... 

MALOM— Mas... Um homem nunca a olhou dessa forma? 

RUTE— Bom... Se olhou, eu não reparei. Mas isso não deve ter acontecido, pois sou uma sacerdotisa... 

Malom faz que sim, entendendo. 

RUTE— Isso... (olhando admirada para ele) é tão estranho... Dizerem que sou... bonita. 

Malom observa a reação de Rute com atenção. Ela parece estar absorvendo aquilo... e então o olha, sutilmente parecendo gostar. 

 

CENA 11: EXT. MOABE – MURALHA – NOITE 

Encantada, Noemi tampa a boca e o nariz com as mãos enquanto olha para a mesa preparada. 

ELIMELEQUE— (sorrindo) E então?... Gostou, meu amor? 

NOEMI— Elimeleque!... Isso é... é lindo! Está a coisa mais bonita, Elimeleque! 

ELIMELEQUE— Ah, é um alívio ouvir isso!... 

NOEMI— Meu amor... Não poderia ser diferente, olha isso! Foi você quem preparou?! 

ELIMELEQUE— Tive uma ajudinha da Leila. 

NOEMI— Aaahhh!... Agora está explicado... A Leila é cúmplice. 

ELIMELEQUE— Tudo por você, meu amor. Agora venha, vamos nos sentar. 

Elimeleque leva Noemi até a cadeira e segura a mão dela enquanto ela senta. Em seguida ele senta na de frente para a esposa. 

NOEMI— Nossa, Elimeleque, está tudo perfeito! 

ELIMELEQUE— Isso porque ainda nem experimentou a comida... 

NOEMI— Ah, nem precisa... Só de ver e estar aqui... já ganhei a noite. 

Elimeleque sorri apaixonado e satisfeito. 

ELIMELEQUE— Posso te servir vinho? 

NOEMI— Claro... 

Sorrindo, Elimeleque pega a jarra de vinho e enche a taça de Noemi. Mas sua mão treme e cai um pouco da bebida na mesa. 

ELIMELEQUE— Ah, me desculpe... 

NOEMI— Está tudo bem, Elimeleque? 

Elimeleque coloca a jarra na mesa. 

ELIMELEQUE— Está sim, é que... mesmo... mesmo depois de todos esses anos juntos... eu ainda fico nervoso em um momento como esse... 

NOEMI— Oh, meu amor!... 

Noemi pega as mãos do marido e o olha admirada. 

NOEMI— Você não existe, Elimeleque... 

Elimeleque então inverte a posição das mãos, traz as dela para ele e as beija. Em seguida ela pega sua taça e bebe, enquanto ele serve sua própria taça. 

NOEMI— A vista daqui de cima é bela... Tanto da cidade quanto do deserto. 

ELIMELEQUE— Até mesmo a escuridão? 

NOEMI— Achei que você é quem defenderia a procura da beleza na escuridão. 

Elimeleque então olha mais atentamente para o lado do deserto, e nota, em meio à escuridão, pontos luminosos distantes. Percebe que Noemi encara justamente esses pontos. 

ELIMELEQUE— Você tem razão... Mesmo na escuridão, em algum lugar, ainda que distante... há uma luz insistindo em brilhar. 

NOEMI— (sorrindo) Agora sim... 

Elimeleque sorri e volta a olhar para aquelas luzes distantes. 

ELIMELEQUE— A que distância devem estar? O que será que estão fazendo?... 

NOEMI— Não sei, mas... até poucas noites atrás éramos nós. Isso, esse momento, isso tudo que você preparou... é muito importante pra mim, meu amor, depois de tanta escassez, tanta luta... 

ELIMELEQUE— Pois façamos à altura de tal importância! 

Elimeleque coloca sua taça na mesa. 

ELIMELEQUE— (pegando uma porção de comida e apontando o prato de Noemi) Posso? 

NOEMI— Claro, meu amor. (sorrindo) É uma honra. 

Contente, Elimeleque pega o prato dela e começa a servir. Seus olhares se encontram e desencontram constantemente enquanto ele prepara o prato dela. 

 

CENA 12: EXT. TEMPLO – PÁTIO - NOITE 

ORFA— Então quer dizer que toda a terra de Israel é a tal terra que o Deus único prometeu ao Abraão. 

QUILIOM— E que Josué e o povo conquistaram há alguns anos. 

ORFA— Para terem derrotado todos os cananeus que habitavam ali, deveriam ter um exército formidável. 

QUILIOM— O exército tinha sim suas qualidades, mas não teriam alcançado tal feito sem o sustento do nosso Senhor. A abertura das águas do Jordão, a queda das muralhas de Jericó, o sol parado durante um dia inteiro, a chuva de pedras sobre a coalizão de cinco exércitos... Sem Deus não estaríamos estabelecidos nessa terra. 

Próxima dali, Aylla continua extremamente atenta à conversa de Rute e Malom. Rute continua num misto de confusão e admiração. 

RUTE— Pra você isso é importante? A beleza? 

MALOM— A interior, que eu vejo em você, sim. 

RUTE— Como você pode saber? 

MALOM— Eu já percebi. Essa sua vontade de saber de Deus, essa busca... Isso é lindo, é puro... é sublime. 

Por alguns segundos, Rute o encara absorvendo o que escutou. Então desvia o olhar, fica mais cabisbaixa. 

RUTE— Não, você não pode dizer isso... Eu sou uma sacerdotisa de Moabe, serva de Baal e Aserat. O meu compromisso é com os deuses. Eu te faço essas perguntas... pelo conhecimento, como uma forma de crescer como sacerdotisa... 

Malom a observa sorrindo um tanto descontraído, mas também admirado. 

MALOM— Eu nunca vi uma busca por conhecimento brilhar tanto nos olhos. 

Rute perde as palavras e o observa com a boca levemente aberta. Orfa se ajeita no banco. 

ORFA— Mas Quiliom, eu não entendo... Como o seu Deus... Como o Deus dos hebreus pôde permitir que uma fome tão grave acometesse seu povo? E que buscassem salvação com um povo inimigo e que não conhece a Ele? 

QUILIOM— Por causa da desobediência, Orfa. Nosso povo tem virado as costas para o Senhor e adorado aos-- Me desculpe, mas-- 

ORFA— (interrompendo) Mas não é correto que adorem aos deuses moabitas, por exemplo. 

QUILIOM— A qualquer outro deus. E, na verdade, minha família foi a única da nossa cidade que saiu em busca de outro lugar. Ao menos até o momento em que saímos. 

ORFA— E você acha, Quiliom, que foi uma boa decisão virem até Moabe? 

QUILIOM— Bom, eu estou aqui onde tem pouso, comida, um mínimo de conforto e, além de tudo, estou com você. 

Orfa sorri levemente. Perto dali... Perdida em pensamentos, Rute encara Malom. 

MALOM— (sorrindo) O quê?... 

RUTE— Eu fui criada servindo aos deuses. Minha vida é isso. Eles... Eles são bons comigo. 

MALOM— Bons como, Rute? Não me leve a mal, não estou te desafiando, quero apenas entender. 

RUTE— Muita coisa, Malom. 

MALOM— Diga-me uma... 

Rute então olha para o lado, pensando. 

RUTE— A batalha... contra os amorreus. Recentemente nosso reino venceu o reino dos amorreus no campo de batalha. Porém, no início a vantagem era deles... Até que a Sacerdotisa Myra realizou o sacrifício de uma menina e a situação se reverteu... e a vitória foi nossa. Não fosse a ajuda dos deuses, agora eu estaria morta. 

MALOM Talvez tenha sido Deus quem te poupou. 

RUTE— O Deus único?! 

MALOM— Talvez Ele tenha planos para você, e a vitória dos amorreus atrapalharia isso, já que, como você disse, estaria morta agora. 

RUTE— O Deus único... ter planos... para mim?... 

MALOM— Por que não? 

Rute fica pensativa. 

ORFA— Onde vocês estão parados? Na hospedaria? 

QUILIOM— Não, nem mesmo fomos até lá. Quando chegamos conhecemos uma vendedora chamada Leila. Ela tem uma loja onde vende peças de barro, perto da rua principal. 

ORFA— Acho que sei onde fica... Quiliom, mesmo estando aqui, em Moabe... Vocês conseguem orar ao seu Deus? Ele pode ouvi-los? 

QUILIOM— Não há nada que nosso Senhor não possa fazer, Orfa. E não há um ser humano nesse mundo que Ele não possa ouvir. Basta que a pessoa incline seu coração... com pureza e sinceridade. Não importa se ela está aqui, ou ali, ou longe... Na escuridão das profundezas ou na glória das alturas... Fale com Ele, e Ele te ouvirá. Peça com humildade e sinceridade... e Ele te atenderá. 

Orfa escuta atenta... Parece um tanto admirada. 

ORFA— Tudo isso... é muito repentino... e diferente. Eu... Eu não quero mais saber disso. 

QUILIOM— Por que, Orfa?... 

ORFA— Eu... Eu tenho medo do que você diz! 

QUILIOM— Medo—- Orfa, você não precisa ter medo... 

 

CENA 13: EXT. MOABE – MURALHA – NOITE 

Noemi e Elimeleque já comeram, e agora estão lembrando do passado com muito vinho e risadas. 

NOEMI— (rindo) Ah, meu amor, é cada história!... 

ELIMELEQUE— Eu já nem lembrava dessa que você contou! 

NOEMI— Agora não vai esquecer nunca mais! 

ELIMELEQUE— Você desenterrou essa aí! Ah, mas eu tenho uma também, Noemi! 

NOEMI— Outra?! Conte, meu amor! 

ELIMELEQUE— Você se lembra de quando ainda estávamos nos conhecendo, que eu te convidei para passear à noite, que tocaria flauta pra você sob as estrelas, ahn?! 

NOEMI— Como não me lembraria dessa noite?! Nosso primeiro beijo, seu pedido de casamento, a aprovação do meu pai-- 

ELIMELEQUE— (interrompendo) Sim, sim, isso! Mas no dia anterior eu havia te prometido tocar a flauta... 

NOEMI— E não tocou?... 

ELIMELEQUE— Não toquei... 

NOEMI— Você não tocou... Elimeleque, é verdade... É verdade, você tem razão, Elimeleque! Como eu deixei isso passar?! E como você se lembrou disso depois de tanto tempo?! 

ELIMELEQUE— Porque eu achei isso perdido nas nossas coisas quando estávamos arrumando tudo pra partir. 

Elimeleque se abaixa e pega algo embaixo da mesa: uma flauta feita de osso. 

NOEMI— Elimeleque! É ela?! É a mesma?! 

ELIMELEQUE— A mesmíssima! 

Elimeleque entrega para Noemi que, nostálgica, examina a flauta. 

NOEMI— Meu Deus... 

ELIMELEQUE— Incrível, não é? Eu nem tinha mais esperanças de encontrá-la. 

Saudosa, os olhos de Noemi lacrimejam. 

NOEMI— Isso me traz tantas lembranças à tona... 

ELIMELEQUE— Oh, meu amor!... 

Elimeleque se levanta, pega sua cadeira, a leva para ao lado de Noemi e se senta. 

NOEMI— Tome. 

Elimeleque pega a flauta. 

NOEMI— Toca para mim? Depois de 25 anos? 

ELIMELEQUE— Vou cumprir minha promessa depois de 25 anos. 

Noemi sorri e limpa as lágrimas. Elimeleque acaricia o rosto dela e então se prepara pra tocar. 

Ele olha a flauta com carinho e então a aproxima de seus lábios. E assopra... 

Sobre as vozes distantes da população, o doce som da flauta se espalha pela noite escura e tranquila. Noemi fecha os olhos, sentindo a música e viajando em pensamentos, lembranças, imaginações... 

A música continua... 

 

CENA 14: EXT. TEMPLO – PÁTIO – NOITE 

Talvez o som da flauta de Elimeleque tenha chegado ali. Se aconteceu, passou por cima dos domínios do templo e se espalhou pelos ares.

              RUTE— Eu não consigo pensar, Malom. Preciso de um tempo! 

MALOM— Eu entendo. 

RUTE— Por favor, vá embora. 

Malom a olha confuso. 

RUTE— (quase chorando) Vá embora, Malom!... 

Não entendendo, Malom se levanta, mas ainda a olha. Com os olhos lacrimejando, Rute olha para ele. 

MALOM— Rute... 

RUTE— Vá! 

Malom respira fundo e sai. Aylla, ali perto, não entende. Do outro banco, Quiliom percebe seu irmão se distanciando do banco onde está Rute. 

QUILIOM— Não há por que ter medo, Orfa!... 

Ele olha novamente para Malom e de volta para Orfa. 

QUILIOM— Olha, agora eu precisarei ir, mas... eu quero te ver novamente. Eu posso voltar? 

Orfa, um tanto confusa, fica entre Quiliom e seus pensamentos. 

QUILIOM— Posso, Orfa? 

ORFA— Eu... não sei... 

Quiliom se levanta, cuidando onde o irmão está. 

QUILIOM— Eu voltarei. 

MALOM— Quiliom! Vamos! 

QUILIOM— Espere por mim, Orfa, que eu voltarei! 

Quiliom, aflito, a deixa e vai até Malom, alcançando-o. Os dois irmãos olham uma última vez para seus pares, e então vão embora. Meio transtornada, Rute funga e tenta limpar os olhos vermelhos... IMAGEM CONGELA. 

 

CONTINUA...

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