CAPÍTULO 43
(Últimas Semanas)
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Restante do Capítulo 59 + Capítulo 60 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Noemi, sentada, pensa... As palavras recentes do Ancião ainda ecoam em sua mente...
ANCIÃO (O.S.) — Não enxergue nisso um Deus punitivo... Mas um Deus que ensina. Que traz de volta os seus pequenos.
Noemi analisa...
ANCIÃO (O.S.) — ...vocês sempre quiseram ter suas próprias opiniões.
Noemi se ajeita, parece pensar ainda mais...
ANCIÃO (O.S.) — Às vezes, Noemi, nossas opiniões, nossos achismos precisam diminuir, para que prevaleça a vontade de Deus.
Noemi, ainda mais atenta, lembra da ocasião em que o anjo falou com ela, 35 anos atrás.
CENA 2: FLASHBACK: EXT. PENHASCO – DIA
A Noemi de 17 anos está impressionada com o ser celestial à sua frente.
ANJO — Por que choravas neste lugar?
NOEMI — Algumas... pessoas na cidade... Elas não veem minha presença com bons olhos... Sendo tu quem és, certamente sabes o que aconteceu.
ANJO — Seu coração está cheio de desilusão por um amor que pensavas ser teu. Porém, hoje eu venho para lhe anunciar um amor diferente, Noemi. Um amor verdadeiro.
CENA 3: FLASHBACK: EXT. DESERTO – NOITE
10 anos atrás, Noemi e Elimeleque estão sentados juntos. Enquanto ela cantarola baixinho, ele encara as chamas da fogueira.
ELIMELEQUE — E se a Promessa não for sobre mim? E se a Promessa não se referia a mim?
NOEMI — Por que o anjo falaria de um suposto segundo casamento, algo tão no futuro?
ELIMELEQUE — Certo, Noemi, mas e se a Promessa nem mesmo se referia a um casamento?
CENA 4: FLASHBACK: INT. CASA DE LEILA – QUARTO DE NOEMI – NOITE
Noemi e Elimeleque estão deitados e abraçados.
ELIMELEQUE — Assim é a vida... Não tem como sabermos o que o Senhor reservou para nós, o que há no nosso caminho... O fato é que, independente do que há lá na frente, precisamos procurar estar sempre preparados. Seja uma boa coisa, ou mesmo uma má.
CENA 5: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Noemi, sentada de forma ereta, pisca muito... Engole a saliva... Continua a lembrar...
CENA 6: FLASHBACK: EXT. MOABE – CAMPO – DIA
Segurando firme sua espada, Segismundo faz um movimento com ela.
Então a lâmina viaja pelo ar e atravessa Elimeleque. Elimeleque perde as forças e cai deitado. É quando Noemi grita! Grita! Grita com todas as suas forças!!!
Depois, Noemi, segurando a cabeça do marido deitado, o abraça.
ELIMELEQUE — A Promessa...
Noemi o solta e olha para ele.
ELIMELEQUE — A Promessa... não era... sobre mim... Você precisa... descobrir... a quem a Promessa... se referia...
Elimeleque pega as mãos dela.
ELIMELEQUE — Eu... estou bem... Estou indo... para os braços... do nosso Senhor...
CENA 7: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
NOEMI — (um tanto impressionada) Você sempre esteve preparado!...
CENA 8: FLASHBACK: EXT. PENHASCO – DIA
Noemi olha o anjo muito impressionada. Ele leva sua mão até pouco acima da cabeça dela.
ANJO — Essa é a promessa que te faço hoje: de mui longe virá um amor que transbordará as botijas de seu coração. Um amor que estará ao teu lado até a hora de repousares com os teus antepassados. Um amor puro, um amor incondicional. Um amor da parte do Senhor.
CENA 9: FLASHBACK: EXT. DESERTO – MANHÃ
Embaixo de uma árvore, Noemi, Elimeleque, Malom e Quiliom observam Dov, o recém-chegado.
DOV — Por causa disso eu tomei uma decisão drástica: vou para outro reino.
MALOM — Outro reino?...
QUILIOM — Isso pode ser perigoso... Para qual reino pretende ir?
DOV — Moabe.
ELIMELEQUE — Moabe?
CENA 10: FLASHBACK: EXT. DESERTO – DIA
Noemi, abalada pela morte dos filhos, está jogada no deserto, sozinha, adormecida, fraca... Rute vem até Noemi e para derrapando.
RUTE — Senhora Noemi, senhora Noemi!
Rute a ajuda a se levantar.
RUTE — Fiquei preocupada... E vim procura-la...
CENA 11: FLASHBACK: INT. CASA DE NOEMI – SALA – NOITE
Rute e Orfa observam Noemi arrumando suas coisas para ir embora de Moabe.
RUTE — Então a senhora vai mesmo embora...
NOEMI — Sim, vou...
RUTE — Pois bem... Nós decidimos que também vamos.
CENA 12: FLASHBACK: EXT. MOABE – RUA – ALVORADA
Rute, ainda com o vestido de dormir, sai rapidamente para a rua.
RUTE — Noemi!... Senhora Noemi!...
Rute corre. Noemi, no entanto, finge não ouvi-la, e continua a caminhar o mais rápido que pode.
RUTE — Senhora Noemi! Senhora Noemi, espere!
Rute a alcança.
NOEMI — Vocês precisam ficar, eu não tenho nada para lhes oferecer. Sejam inteligentes! Vejam que eu sou apenas uma figueira seca à beira da morte! Rute, me deixe em paz!
Rute, decidida, se aproxima mais e a olha firmemente.
RUTE — Se for dessa forma, eu nunca a deixarei em paz.
CENA 13: FLASHBACK: EXT. MOABE – MURALHA – NOITE
Noemi e Elimeleque, sentados à mesa, jantam ali na muralha.
ELIMELEQUE — Mesmo na escuridão, em algum lugar, ainda que distante... há uma luz insistindo em brilhar.
CENA 14: FLASHBACK: EXT. MOABE – CAMPOS – ALVORADA
Rute e Orfa, olhando Noemi, choram bastante.
NOEMI — Já sou muito velha para me casar, para ter marido. Ainda que eu dissesse a vocês que tenho esperança, ou ainda que nessa noite eu me casasse e tivesse filhos... por acaso esperariam até que eles crescessem e fossem grandes? Interromperiam toda sua vida, no auge de sua juventude, quando mais têm chance de gerar, apenas para esperarem por eles? Sem se casarem com outros?!
Rute não quer aceitar.
NOEMI — Se assim... com a única coisa que eu poderia lhes oferecer, já seria praticamente impossível... então não há nada que eu possa lhes dar.
Algum tempo depois...
RUTE — Eu gostaria de perguntar ao seu Deus... o que será do dia de amanhã. O que será da minha vida, o que será de mim.
Noemi a encara, tentando entender.
RUTE — Eu não sei o que o Senhor responderia, mas de uma coisa eu sei, Noemi: eu estou com você nesse amanhã.
Noemi chora e Rute está em lágrimas.
RUTE — Aonde quer que for, eu irei. E onde quer que pousar à noite, ali eu pousarei. O teu povo é o meu povo! E o teu Deus... é o meu Deus! Noemi... Onde você morrer, ali também eu serei sepultada. Que o Senhor me castigue com todo o rigor, e ainda mais... se outra coisa que não a morte!... me separar de você.
CENA 15: FLASHBACK: EXT. DESERTO – DIA
Rute e Noemi, essa sobre a maca, desacordadas, sozinhas em meio à escuridão do deserto...
ANJO (O.S.) — Um amor que estará ao teu lado até a hora de repousares com os teus antepassados. Um amor puro, um amor incondicional. Um amor da parte do Senhor.
CENA 16: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Noemi, com os olhos marejados, está tão impressionada que tampa a boca aberta com a mão... Respira ofegante...
NOEMI — Será?!...
Noemi olha para os lados, se levanta... Não se concentra... Senta... Respira ofegante, engole em seco...
ANCIÃO (O.S.) — Às vezes, Noemi, nossas opiniões, nossos achismos precisam diminuir, para que prevaleça a vontade de Deus. Quando deixamos isso acontecer, então passamos a entender qual é o propósito de Deus para as nossas vidas.
Então respira fundo.
NOEMI — Se for isso... Deus nos salvará da miséria... de alguma forma...
Nesse instante a porta se abre e Rute, carregando sacos, entra. Imediatamente Noemi vira o rosto, limpa as lágrimas, disfarça...
RUTE — (alegre) Shalom, senhora Noemi!
NOEMI — Rute... Shalom, minha filha...
Noemi se levanta e vê as coisas que Rute traz.
NOEMI — Rute!... Quanta coisa!
RUTE — Viu só, minha sogra?!
Rute coloca os sacos no chão.
RUTE — Debulhei as espigas que apanhei e pesou quase um efa!
NOEMI — Uau!... Quantos grãos!...
RUTE — (entregando um recipiente menor) E também essa porção. Uma marmita do que sobrou do almoço.
Noemi sorri e pega a vasilha tampada com um pano.
NOEMI — Que fartura, Rute, que fartura!
Animada, Rute pula no pescoço de Noemi e a abraça. Ao soltá-la, Noemi pergunta.
NOEMI — Onde você colheu hoje?! Me diz!... Onde trabalhou?! Bendito seja esse que te permitiu trazer tudo isso!
RUTE — (com brilho no olhar) O nome do homem com quem trabalhei hoje é Boaz.
De repente, Noemi praticamente paralisa. Apenas sua boca se abre...
CENA 17: FLASHBACK: EXT. MOABE – CAMPOS – DIA
As lágrimas de Noemi caem sobre Elimeleque, à beira da morte. Ele olha para Malom e Quiliom.
ELIMELEQUE — Eu sei... que terei uma descendência... iluminada!...
CENA 18: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Rute franze o cenho diante da reação de Noemi, que, como que rindo, expira.
RUTE — O quê, senhora?...
O semblante de Noemi está maravilhado. Ela sorri emocionada. Rute, apesar de perceber a alegria, não entende...
NOEMI — Bendito seja o Senhor!
Rute sorri com o louvor de sua sogra.
NOEMI — (emocionada como não esteve há muito tempo) Bendito seja o Senhor, que ainda não tem deixado, e nunca deixou... de ser bom... com os vivos e com os falecidos.
RUTE — Senhora... Nossa... Eu fico tão feliz em vê-la falar assim de Deus, sem amargura...
NOEMI — Agora... Agora eu enxergo!... Vejo tudo agora, Rute!... Está tão claro!... As escamas caíram de meus olhos!
Rute, alegre, tenta entender melhor.
NOEMI — Você não entrou nesse campo por acaso. Deus a levou até lá! O Senhor guiou os seus passos!
RUTE — (emocionada) Explique-me, senhora...
NOEMI — Rute!... Esse homem é nosso parente chegado. É um dos nossos remidores!
De repente, Rute sente uma sensação quente, de conforto e acolhimento, passar por ela.
NOEMI — E, pelo brilho em seu olhar... talvez aí esteja a solução para tudo!
RUTE — Do... do que está falando, senhora?...
NOEMI — (sorrindo) Você sabe!...
Rute fica meio constrangida, olha para os lados lembrando...
RUTE — Ele também me disse... que me ajuntarei com os outros trabalhadores até que acabe a colheita.
NOEMI — É melhor, minha filha, que fique com as moças de Boaz, sobre as quais está Tani. Para que nenhum preconceituoso a encontre sozinha e a moleste por ser estrangeira.
Sorrindo, Rute faz que sim. Logo percebe que Noemi ainda está muito emocionada; se aproxima mais.
RUTE — Senhora... Me conte todos os motivos de suas lágrimas...
Noemi então se senta. Rute coloca outra cadeira ali e também senta.
NOEMI — (limpando as lágrimas) Depois de muitos anos... estou sentindo Deus de novo em meu coração.
Rute também começa a chorar de alegria.
NOEMI — Como... Como se um leito seco recebesse novamente as águas frescas e cristalinas vindas de uma verde montanha...
Rute está felicíssima!
RUTE — Fale, senhora... Fale mais!...
NOEMI — Você se lembra da Promessa?
RUTE — Claro que eu me lembro, senhora! Nunca, nunca deixei de acreditar nela. Aceitei que, talvez... apenas não entendemos o que ela realmente quis dizer.
NOEMI — Mas agora eu já entendi. Está tudo claro como o dia!
RUTE — A senhora... entendeu a quem a Promessa se referia?
Engolindo o choro, Noemi faz que sim...
RUTE — E a quem?!
Em meio aos soluções e lágrimas, Noemi sorri...
NOEMI — A você, Rute... A você.
Rute a encara, surpresa...
NOEMI — Você é a minha Promessa.
Atônita, Rute continua a encarar Noemi.
CENA 19: INT. DESERTO – CAVERNA – DIA
Sentados apreensivos, os homens da Caravana conversam ao redor de uma pequena fogueira.
SEGISMUNDO — Precisamos de recursos... Precisamos manter contato com Belém.
GAEL — Tamires não está lá?
SEGISMUNDO — Vamos usá-la. Por meio dela acessaremos Belém.
MEMBRO — É bom mesmo, senhor, pois estamos quase sem nada.
SEGISMUNDO — Só temos Tamires...
CENA 20: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Josias e Tani, sorridentes, caminham ao lado de Boaz, entre eles.
JOSIAS, TANI — Boaz está amando... Boaz está amando... Boaz está amando...
BOAZ — Vocês não existem, hein!...
JOSIAS — Seus olhos estão brilhando, meu amigo! Como se encarassem o olho de um vulcão!
TANI — Seu sorriso é tão grande que parece uma ponte entre a busca e o encontro do amor!
BOAZ — Vocês têm razão, eu estou admirado... A fibra de Rute... Nunca vi algo assim, uma lealdade e um amor tão grandes... e tão incondicional. De forma alguma uma mulher como essa poderia continuar em terra estranha, com deuses ingratos. Rute está destinada a servir ao Deus dos deuses!
TANI — E você pode ficar tranquilo. Noemi é minha amiga, zelarei de Rute no campo.
JOSIAS — Precisará, pois logo começa a colheita do trigo. Plantações ainda maiores e mais cheias!...
BOAZ — E o que vem com tudo isso: a grande festa das colheitas!
TANI — Mal posso esperar!
BOAZ — O preparativos estão bem adiantados...
JOSIAS — Que esse dia chegue o mais rapidamente possível!
CENA 21: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Rute encara Noemi com um semblante único, ao mesmo tempo de confusão, surpresa, fascinação...
RUTE — (devagar) Como assim?...
NOEMI — Faz todo sentido, Rute. Quando o anjo falou comigo, ele não se referiu a um amor de marido e mulher... Mas a uma amizade e lealdade que viria de uma de minhas noras.
RUTE — (confusa) Mas... um anjo falaria sobre... mim? Eu seria... citada pela boca de um anjo?...
Noemi sorri.
NOEMI — Sim, seria e foi.
Rute está se maravilhando com a ideia.
NOEMI — Tudo o que você fez por mim, desde Moabe... Seu companheirismo, sua preocupação, seu cuidado... E ainda continua. Do mesmo jeito, você continua a demonstrar o seu amor, de forma incansável...
Os olhos de Rute estão marejados. Então ela parece pensar, lembrar... Volta 10 anos em sua mente.
CENA 22: FLASHBACK: EXT. TEMPLO – PÁTIO – NOITE
Em seu segundo encontro, Rute e Malom conversam sentados no banco.
RUTE — Não fosse a ajuda dos deuses, agora eu estaria morta.
MALOM — Talvez tenha sido Deus quem te poupou.
RUTE — O Deus único?!
MALOM — Talvez Ele tenha planos para você, e a vitória dos amorreus atrapalharia isso, já que, como você disse, estaria morta agora.
RUTE — O Deus único... ter planos... para mim?...
MALOM — Por que não?
Rute fica pensativa.
CENA 23: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Rute volta de sua lembrança e sorri, felicíssima!
RUTE — Senhora... Eu mal sei o que falar!...
NOEMI — Bom... Se bem que...
Rute franze o cenho.
RUTE — Se bem que o quê, senhora Noemi?!
NOEMI — Não era minha intenção, com isso, colocar um peso em seus ombros.
Entendendo, Rute se ajeita e a olha bem de perto.
RUTE — Se isso for um peso, eu mesma já o coloquei em meus ombros, há muito tempo. Não, Noemi... Tudo o que eu faço é por amor. E assim vai continuar sendo. Nada e nem ninguém poderá mudar minha cabeça quanto a isso. Já fiz minha promessa à senhora, ainda em Moabe: somente a morte nos separará!
Noemi sorri e elas se abraçam. Então se soltam.
RUTE — Quando o anjo apareceu para senhora... Eu nem mesmo era nascida. A senhora não tinha 17 anos?
NOEMI — Isso mesmo, Rute.
RUTE — Como são as coisas de Deus... Um anjo me citou... antes mesmo de eu sequer existir!...
Noemi, sorrindo, observa Rute, admirada...
CENA 24: INT. PALÁCIO – PRISÃO – NOITE
A noite cai.
Orfa, com o rosto e o cabelo pingando água, e os joelhos e as mãos no chão da cela, respira ofegantemente!
ORFA — Deuses de Moabe... Salvem-me... Tenham misericórdia!...
Um vulto se aproxima rapidamente: o soldado a agarra pelo cabelo e pela veste e a puxa, levantando-a. Orfa, gritando, é levada até um tonel onde o soldado enfia a cabeça dela na água por um bom tempo. Ela se mexe, tenta se soltar, respirar... Está se afogando... E ele a mantém ali...
Tempo...
Tenta respirar, nada... Ele a segura firme... Ela se debate, em vão...
Tempo...
Então ele a arranca dali e a joga com toda sua força no chão, onde ela recupera o fôlego. Enquanto isso, uma figura sai das sombras e se aproxima mais: o rei Zylom.
ZYLOM — Vou perguntar mais uma vez, Orfa: para onde em Israel Rute foi com sua sogra?
Ainda ofegante, ela o encara dali do chão.
ORFA — Não vou dizer...
O soldado novamente a agarra e aperta a cabeça dela na água com toda sua força. Empurra, chacoalha ela ali dentro... As mãos dela apertando os braços dele em vão... Ela se debate... Ele a aperta, machucando-a!... Então a tira e a joga no chão de novo. Ela tosse, tosse muito. Cospe água e continua a tossir. Leva a mão à nuca, está sentindo dor. Zylom se aproxima e agacha perto dela.
ZYLOM — Enquanto você tenta ser leal à Rute, ela está muitíssimo bem, aproveitando as delícias de outra terra. Passeando, quem sabe até se engraçando com um novo homem...
Orfa tosse, mas olha para ele.
ZYLOM — E você? Vai continuar aqui, nessa situação? Sofrendo dessa forma, à toa?! Orfa, basta algumas palavras... e pronto. Estará livre.
ORFA — Eu nunca serei livre... Você quer nos prender, quer as duas trancafiadas.
ZYLOM — Podemos negociar uma redução em sua pena. Você diz para qual cidade elas foram, e eu diminuo seus anos no cárcere.
Orfa então desvia o olhar, parece pensar... Abre a boca... Mas ao invés de falar, começa a suplicar ajuda aos deuses. Zylom, com raiva, faz sinal para o soldado, que mais uma vez enfia a cabeça dela na água. O rei, com raiva, ajuda o soldado e também aperta a cabeça de Orfa, chacoalha com muita raiva!
Então ele a puxa da água e mete-lhe uma bofetada no rosto, fazendo-a cair.
ZYLOM — O seu tempo de abrir a boca está acabando, sua maldita!
Zylom imediatamente sai. Orfa fica ali, caída e tossindo...
CENA 25: INT. CASA DE NOEMI – SALA – MANHÃ
No dia seguinte, ajoelhadas, Rute e Noemi oram a Deus trasbordando alegria!
RUTE — Amém!
NOEMI — Amém!
Elas abrem os olhos, se levantam e se abraçam. Então Rute fala.
RUTE — Agora eu vou trabalhar...
NOEMI — Vou aproveitar que está saindo e vou junto. Quero dar uma volta por Belém, ver como estão os locais em que eu costumava passar, visitar alguns conhecidos...
RUTE — Nossa, a senhora não imagina a felicidade que eu fico em vê-la assim!...
NOEMI — Não dormi muito essa noite, Rute, mas não me fez mal. Eu precisava refletir, orar... Agora sinto o meu espírito leve. É até bom irmos juntas, para que você me segure caso bata uma brisa e eu saia voando por aí...
Elas riem.
RUTE — Pois vamos!
NOEMI — Vamos.
Alegres, elas vão para a porta e saem.
CENA 26: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE JURANDIR – MANHÃ
Indignada, Diana encara o seu pai.
DIANA — O senhor fez o quê?!
JURANDIR — Foi isso mesmo. Só me arrependo de ter feito na frente da mulher, a tal de Tani--
DIANA — (interrompendo) Chega!!!
Jurandir, surpreso, a olha.
DIANA — Cansei! Eu fui paciente por muito tempo, mas o senhor não quer entender, simplesmente não quer! Pois bem, acabou para mim. Vou dar jeito de achar algo para trabalhar e vou sair daqui!
Ela se aproxima dele e o encara, olho no olho.
DIANA — E o senhor pode esquecer que um dia teve uma filha, entendeu?! Esquecer!
Imediatamente Diana vira as costas e vai para a porta.
JURANDIR — Diana! Diana, volte aqui, Diana!!!
Ela o ignora; bate a porta e sai. Ele fica ali, indignado e sem saber o que fazer.
CENA 27: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
Enquanto bebe seu vinho, Zylom observa Myra e o Capitão trazendo a feiticeira hebreia até os pés do trono; param. Myra e o Capitão fazem uma reverência e sinalizam para a feiticeira também fazer.
FEITICEIRA — Ó, grande rei...
ZYLOM — Quem é essa?
CAPITÃO — Ela chegou há pouco, senhor. Por se tratar de uma feiticeira, achei por bem estar presente.
Zylom faz que sim, mas a analisa com interesse.
MYRA — Essa, meu soberano, é a tal feiticeira hebreia de que comentou. Nosso mensageiro a localizou e lhe fez a proposta.
ZYLOM — Oh, que maravilha... (para a feiticeira) Israel não é exatamente conhecida por suas feiticeiras...
FEITICEIRA — Elas praticamente não existem, senhor. A feitiçaria é prática abominável em minha terra.
ZYLOM — O que faz de você uma corajosa. Além de, provavelmente, uma grande feiticeira.
Ela faz uma reverência agradecendo.
ZYLOM — Pois bem. Você já deve estar ciente do porquê de eu tê-la contatado e contratado.
FEITICEIRA — Me disseram que o senhor tem o mesmo sonho em todas as noites.
ZYLOM — Exato. Eu vou conta-lo e você vai decifrá-lo. Se eu perceber que sua interpretação é real, então ganhará todo o ouro prometido.
FEITICEIRA — Será uma honra, meu senhor.
ZYLOM — Esse é o sonho: eu ando por uma...
O rei conta todo o sonho enquanto ela ouve atentamente. Por fim...
ZYLOM — É isso. E então? Diga-me... Qual é o significado desse sonho?
Ela olha para cima, como se buscasse algo... Zylom aguarda.
CENA 28: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
Ali na praça, Noemi e Rute conversam com o Ancião, que sorri como nunca antes.
NOEMI — Que sorriso é esse, senhor? Veja, Rute... Não me lembro de em nenhuma vez ter visto o Ancião sorrindo dessa forma.
ANCIÃO — É que... Noemi!... Depois de tudo, depois do que me contou, da forma que estava... te ver assim, reconciliada com Deus... E tendo entendido o verdadeiro significado da Promessa...
Feliz, ele abre os braços momentaneamente.
RUTE — Eu entendo, senhor. Fiquei quase da mesma forma.
Então ele coloca as palmas de suas mãos pouco acima da cabeça delas.
ANCIÃO — Que o Senhor, Deus dos deuses, Senhor dos senhores, as abençoe hoje, amanhã e para sempre!
NOEMI, RUTE, ANCIÃO — Amém!
Perto dali, atrás de uma barraca, Tamires observa os três... Os guardas continuam atrás dela.
NOEMI — Shalom, senhor.
RUTE — Shalom.
ANCIÃO — Shalom, servas de Deus.
Elas sorriem e saem caminhando.
CENA 29: EXT. BELÉM – RUAS – DIA
Enquanto Noemi e Rute caminham, Tamires as persegue. Os guardas são obrigados a irem juntos. Rua após rua, esquina após esquina. Tamires não as perde de vista. Então acelera o passo... As duas caminham conversando bastante e de forma descontraída...
Até que, de repente, Tamires e os dois guardas saem de um beco e param no caminho delas, que interrompem a caminhada. Rute fica confusa. Noemi franze o cenho. E Tamires sorri.
TAMIRES — Noemi!... Há quanto tempo...
Noemi, séria, a encara. IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!