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Primeira Impressão com o Senhor X - Crítica "Gênesis" - Programa 08


Saudações, queridos mancebos, bom dia! São 6:22 da manhã de domingo e o que me faz estar de pé a essa hora é mesmo o meu hábito de recepcionar o sol, e não a notícia que recebi há menos de 1 hora: o Alto Conselho de meu planeta exige minha presença imediata. É...

Milhares de anos de observação, apreciação e um toque de participação não os incomodaram, mas aparentemente a exposição que, segundo eles, venho fazendo nesse programa, sim. Ora, mas quem é o humano que, munido com as informações que passei, poderá ameaçar a soberania, segurança e integridade de uma civilização do outro lado da galáxia? Governos e suas incongruências... Tudo bem que agora os quadrantes de observação do espaço podem ter sido filtrados, mas nem em 100.000 anos seus telescópios capturariam as luzes irradiantes de nossa vibrante capital. De qualquer forma, acho que vou precisar respirar novamente ares europeus e tirar a fina camada de pó que recobre minha nave.

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Bom, o relógio já marca 12:45, o sol está quase à pino e é melhor irmos à crítica de hoje, que se trata da estreia da minissérie Gênesis, escrita por Felipe Borges e exibida na OnTV. Confiram a sinopse:

A criação do mal, partindo dos demônios primordiais, Lilith e Lúcifer. Ela, a primeira mulher a pisar no Éden, um ambicioso projeto de quatro seres extremamente poderosos, conhecidos como Arcanjos. Ele, um dos quatro criadores do Éden e que não concorda com a liderança do Arcanjo mais novo, Gabriel. Tudo começará quando Lilith não aceitar seguir ordens de um ser que considera semelhante, Adão.

Apesar da temática bíblica e do nome do autor, essa não se trata de uma obra de Felipe LIMA Borges, meu grande ajudador na confecção desse programa e autor das webnovelas bíblicas A Promessa e Débora. Muito menos está relacionada com a telenovela homônima da RecordTV, pois essa ainda não viu a luz do dia. A releitura da origem do ser humano que estamos a analisar é, na verdade, baseada na controversa lenda de Lilith, que teria sido a primeira mulher criada, antes mesmo da icônica Eva surgir das costelas de Adão. Sua natureza questionadora, nada submissa e, em alguns relatos, até mesmo demoníaca, teria levado Lilith a ser apagada da Bíblia e substituída definitivamente. Ou seja, um relato que vai de encontro ao do Judaísmo e do Cristianismo. Concorde você ou não com tal visão, dramaticamente é uma ideia muito interessante e cheia de potencial, principalmente em uma época em que o feminismo é tão amplamente discutido. Mas, acima de tudo, essa é uma ideia grandiosa, todos os elementos da história são nada menos que épicos!

E é por isso que para uma trama tão ambiciosa, pecar na apresentação do cenário é um erro gravíssimo! O episódio abre com a simples e robótica indicação de que a ação se passa em um salão. E a narração se limita a dizer que ali, no tal salão, estão os três Arcanjos sentados. Ora, todo o contexto que envolve esses seres é muito grandioso! Mas infelizmente o texto não consegue passar essa dimensão ao leitor. Então é um salão? Bem, posso imaginar desde o suntuoso salão em que se assentam os deuses do Olimpo, retratado no quadro pendurado em meu aposento, até algum salão de festas infantis localizado em um bairro qualquer. No fim das contas, lendo essa estreia, eu forcei meu cérebro a imaginar o mais vasto e imponente salão em que já tive a oportunidade de pisar: o do Alto Conselho de meu planeta, para onde uma vez fui levado por suspeita de alta traição ao ter lido um manuscrito sagrado e ter tecido a ele críticas ácidas – mas realistas. Para terem noção, mancebos, a maioria dos meus conterrâneos sonha em lá colocarem a planta de seus pés em algum momento de suas vidas, porém jamais poderão. E eu, aparentemente, terei de pisar lá pela segunda vez. Na primeira fui inocentado, mas a verdade é que traí mesmo aqueles indecentes, ainda que apenas em pensamento.

Já a introdução dos Arcanjos não ocorre, mesmo eles sendo, obviamente, personagens. Mas, nesse caso em específico, o fato de essa introdução não existir não configura necessariamente um problema. “Ora, mas o que é isso?! Não é você, Sr. X, que desde o primeiro programa martela nossas cabeças com essa história de introduzir os personagens adequadamente???”, podem estar se perguntando. Bom, como você descreveria um Arcanjo, mancebo? E seus amigos, como o descreveriam? E seu tio? E sua avó? E seu namorado? Pois então, há diversas interpretações, algumas embasadas, outras puramente imaginadas... Nesse caso penso que o autor deixou para que cada leitor, com base em sua cultura, vivência e crença, os imaginasse à sua própria forma, e vejo isso como um ponto positivo para a obra.

Após muita discussão, os quatro Arcanjos Rafael, Miguel, Gabriel e Lúcifer decidem, por meio de votação, criar a raça humana, e assim o fazem no Jardim do Éden. Aqui é importante notar como a figura de Deus praticamente não existe na trama. Todas as ações que pelos relatos bíblicos foram feitas por Ele, nessa minissérie são executadas pelo quarteto; é como se os 4 fossem os deuses supremos. E a sequência do nascimento de Adão e Lilith é a melhor e mais marcante de todo o episódio. A cena em que os Arcanjos observam os corpos do casal, de pé mas ainda inanimados, é poética e cheia de significados. A composição fica ainda mais bela com a descrição das imagens aéreas, do vento soprando pelo Jardim, com os animais se reunindo para assistirem o nascimento do ser que, ainda que eles não saibam, dominará seu planeta... Sequência inspirada e belíssima!

E é com muito orgulho que digo que o casal primordial humano tem suas características físicas bem descritas, e elas não são jogadas no texto aleatoriamente. Se pararmos pra pensar dentro do contexto geral, até a escolha dos atributos corporais tem relação com a personalidade de cada um, e é exatamente assim que se conta uma história visual. E logo que são criados, Adão e Lilith não demoram a manifestar seus verdadeiros sentimentos em relação a seus criadores: ele, submissão; ela, recusa e resistência, simples assim. Não há na personagem um conflito interno ou mesmo uma linha de progressão por diferentes pensamentos, já nasce pronta sua natureza pela qual é conhecida. Mas confesso que essa unidimensionalidade de Lilith é um tanto dúbia para mim. Não tenho certeza se é um ponto negativo pelas razões apresentadas ou se condiz com um ser que acabou de nascer e já está na fase adulta. Por outro lado, para essa personalidade forte e rebelde, questionamentos antes da decisão de se revoltar talvez fossem, na visão dramática, mais produtivos para a composição da personagem.

No aspecto técnico, o episódio apresenta pouquíssimos problemas de pontuação, mas tem um tempo verbal bastante confuso. E não estou falando sobre o fato de o texto fazer indicações para a CAM (câmera; a imagem que veríamos caso fosse uma obra filmada)  no presente e depois descrever ações no passado. Às vezes até essas ações acabam descritas no presente, destruindo de vez a coesão.

Bem, ao final de tudo a sensação que fica é a de que a estreia de Gênesis tinha um potencial proporcional ao tamanho de sua ambição, mas que talvez tenha faltado transportar essa grandeza da ideia para a execução, tornando a obra brilhante, e tão grande quanto se pode. É o que eu gostaria de ver. Resumindo, se posso torcer por uma melhor experiência para quem vai ler os próximos episódios, a ordem é uma só: que haja (mais) luz!




Minissérie: Gênesis

Autor: Felipe Borges

Episódios: 3

Emissora: OnTV

Clique aqui para ler o 1° episódio

Saiba mais sobre a minissérie


Bom, meu relógio terráqueo marca 19:01 e a decolagem foi um sucesso. Após duas voltas e meia em órbita da Terra me lancei ao espaço escuro e silencioso. Se pudessem ter a visão que estou tendo agora, virado para a janela traseira de minha nave... Por um momento, a imagem dessa imensidão azul fertilizando meus olhos fazem brotar em minha mente palavras e composições que há muito pensava que não poderiam desabrochar de mim. Por um momento penso se ser escritor não é minha verdadeira razão de vida... ao invés de apenas um crítico, um mero observador...

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            Bem... São 20:43 e a Terra já ficou para trás, agora assemelhando-se mais a um olho que me observa partir melancolicamente. É... Apesar de meu devaneio de minutos atrás, continuarei a criticar as obras que vocês tecem no Mundo Virtual. Aquilo foi porque... Bem, ninguém vai ao espaço e permanece o mesmo. O silêncio, a solidão e uma boa parte de tudo o que você conhece reduzido ao seu campo de visão te fazem refletir sobre o que você é o que quer ser. Ninguém continua o mesmo depois de ir ao espaço, e, nossa... como eu já havia me esquecido disso.

    Apesar dessa longa viagem e de minha permanência em meu planeta natal possivelmente levar um tempo considerável, não deixarei esse programa ser interrompido nem por um domingo. Já fiz as adaptações necessárias na nave e terei completo acesso à Internet, apesar de estar no espaço interestelar. Espero chegar ao meu destino em aproximadamente 3 semanas, isso se o “buraco de minhoca” mais próximo da Terra, para além dos limites do Sistema Solar, ainda estiver lá.

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            Mas por hoje é só. A nave está estabilizada, os sensores estão em perfeito funcionamento e os radares indicam uma navegação tranquila pela frente. Vou tentar dormir um pouco, e a partir de amanhã preparar minha defesa a fim de poder continuar a lhes entreter aos fins de domingo. Vocês tem sugestões, críticas, ou reclamações? É só dizerem abaixo. Gostaram da estreia de uma webnovela ou websérie e querem vê-la destrinchada aqui no programa? Peçam pelos comentários e tentarei atendê-los. E caso tenha perdido o programa da semana passada, é só clicarem aqui para lê-lo. Tenham uma boa semana e os vejo no próximo domingo! Saudações!

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