A RAZÃO DE AMAR
Novela de João Marinho
Escrita por:
João Marinho
Personagens deste capítulo
Afonso Valadares Perito 1
Aurélio Perito 2
Branca Valadares Policial
Bernardo Correia
Celso Correia
Irineu Rodrigues
Joana
Jorge Correia
Madalena Correia
Marta Correia
Olímpio Vasconcelos
Raul Fernandes
CENA 01/ FAZENDA CORREIA/ SALA DE ESTAR/ INT./ NOITE
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Continua a tocar o instrumental “ataque no escuro”, de Lado a Lado. Um estrondo de tiro reverbera pela casa. A câmera volta-se para Venâncio, de bruços sobre a mesa, com a pistola em suas mãos e um ferimento na cabeça.
Bernardo abre a porta e vê Venâncio morto. No mesmo instante, Otávio desce as escodas correndo.
BERNARDO e OTÁVIO – Pai!
OTÁVIO (P/Bernardo) – Pai?
Joana entra na sala assustada.
JOANA (interrompe) – Ouvi tiros. O que está acontecendo aqui? (Vê Venâncio de bruços sobre a mesa). Senhor! Venâncio? (Mexendo no corpo). Ele está morto! (Vê a pistola na mão dele).
Venâncio tirou a própria vida. Que tragédia, Meu Deus, que tragédia!
Bernardo e Otávio se entreolham intrigados.
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CENA 02/ PALMEIRÃO DO BREJO/ RUA DA IGREJA/ EXT/ MANHÃ
O carteiro, na bicicleta, entrega as correspondências e as cartas. Jacinto, que estava passeando próximo a igreja, pega o jornal e lê.
JACINTO – “Tragédia: Venâncio Alves Correia comete suicídio em sua fazenda! ”. Madalena precisa saber disso!
No mesmo instante, o padre Amaro sai na rua, com o jornal em mãos.
PADRE – Que horror, Meu Deus, nenhum cemitério da região há de querer enterrar um corpo de um suicida.
Pessoas que estão passando próximo a igreja e comentando o ocorrido.
JACINTO – É, padre! Quem diria que Venâncio ia fazer isso? A vida é um sopro mesmo. A vida é um sopro...
O padre entra na igreja. Jacinto, sorrindo, continua a andar pela rua.
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CENA 03/ FAZENDA CORREIA/ SALA DE ESTAR/ INT/ MANHÃ
O delegado observa o corpo de Venâncio. Dois físicos o acompanha.
OLIMPIO (P/Joana) – Pelo que parece foi suicídio, mas vou a fundo neste caso porque muitas coisas faltam ser esclarecidas.
JOANA – Ele não me parecia um senhor com tendências suicidas.
OLIMPIO – A senhora sabe de alguma coisa?
JOANA – Venâncio tinha muitos inimigos. Mas que Deus o tenha colocado em um bom lugar.
OLIMPIO – Realmente, Venâncio tinha muitos inimigos
Os físicos analisam o corpo e a cena da tragédia. Eles medem distância entre a mão do coronel e a posição da cabeça, anotam o tipo de pistola, anotam o ângulo da posição da cabeça, analisam se há mais algum projétil ou marca dele pela casa. Eles se aproximam do delegado.
PERITO 1 - Delegado, nós anotamos as medidas e analisamos a cena. Pelo o que a gente pode constatar só no olho não foi suicídio.
OLIMPIO – Não foi suicídio? (Pensativo). O laudo do exame residuográfico vai confirmar se foi suicídio ou assassinato.
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CENA 04/ MANSÃO DE CELSO/ SALA DE JANTAR/ INT./ MANHÃ
Bernardo entra em casa, chorando. No instante em que subia as escadas, Celso o chama.
CELSO – Bernardo, onde você estava até agora?
BERNARDO (ignorante) – Fui falar com meu pai, o senhor não viu?
Celso vai ao filho e o puxa pela orelha.
CELSO (gritando) – Olha como você fala comigo!
BERNARDO – Ah, agora eu sou seu filho? Ontem, o senhor me disse. (Imitando). Eu não sou seu pai. (Encarando). Lembra?
MARTA (Levanta-se/interrompe) – Celso, você falou para Bernardo que Venâncio é o pai dele? Você não tinha o direito de fazer isso. Era um segredo nosso!
CELSO – Ele tem o direito de saber a verdade.
BERNARDO – Mas o senhor me disse tarde demais. Venâncio morreu.
CELSO (surpreso) – O que é que você está falando, menino?
BERNARDO (Gritando) – Já viu o jornal? Está em todos os jornais. E eu o vi caído na mesa ontem.
Marta volta-se a se sentar, com os olhos cheios de lágrimas. Abalada ela não consegue acreditar que Venâncio morreu, enquanto Celso não consegue segurar a emoção e sai de casa para ir à fazenda.
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CENA 05/ FAZENDA VALADARES/ VARANDA/ INT./ MANHÃ
Afonso se senta em sua cadeira de balanço. Pega o jornal e lê, como faz todos os dias. Vê na primeira página do jornal com a manchete sobre a morte de Venâncio.
AFONSO – “Tragédia: Venâncio Alves Correia comete suicídio em sua fazenda”. É... Venâncio, parece que desta vez fui eu que venci.
Eduardo vai na varanda e se senta ao lado do pai. Eles se abraçam e conversam.
EDUARDO – A nossa vida é muito chata. Vivemos aqui olhando para essas plantações de algodão. Todo dia é assim. Eu não quero viver assim não. Sonho alto.
AFONSO – Você não tem idade para falar isso. Vai ser um excelente advogado e vai me suceder. Se Deus quiser, vai ser um grande político.
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CENA 06/ FAZENDA CORREIA/ SALA/ INT./ MANHÃ
Celso entra desesperado.
CELSO – O que foi que aconteceu aqui?
Joana aparece na sala.
JOANA (emocionada) – Seu irmão se matou. A perícia levou o corpo. Morreu com um tiro na cabeça.
CELSO – Suicídio? Venâncio realmente estava com uma crise de nervos. A morte da Vera, toda a revelação do adultério e a separação devem ter sido primordial para que isso acontecesse. O emocional dele estava abalado.
JOANA – Eu escutei um tiro. Quando vim saber o que estava acontecendo, o encontrei de bruços sobre aquela mesa e com a arma na mão. Bernardo estava perto da porta e Otávio próximo da escada. (Chorando). Isso não podia ter acontecido. Venâncio não podia ter morrido dessa forma. (Abraça Celso).
Celso fica pensativo.
CENA 07/ CASA DE JACINTO/ COZINHA/ INT./ MANHÃ
Madalena lava alguns pratos. Jacinto entra e a beija.
JACINTO – Já viu o jornal de hoje?
MADALENA – Hoje não li.
Jacinto entrega o jornal para ela, que lê.
MADALENA – “Tragédia: Venâncio Alves Correia comete suicídio em sua fazenda”. Não pode ser.
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CENA 08/ PALMEIRÃO DO BREJO/ INT.EXT. / MANHÃ
Continuação imediata da última cena do bloco anterior. A cena começa no INTERIOR da CASA DE JACINTO. Madalena lê o jornal e não consegue acreditar no que vê.
MADALENA – Venâncio morreu! Eu preciso ver meu filho.
Ela beija Jacinto e sai na rua. A cena continua nas RUAS DE PALMEIRÃO. Ela caminha pelas ruas. Duas senhoras que vão passando perto dela gritam.
SENHORA 1 e SENHORA 2 – Prostituta, meretriz, rameira, devassa!
Madalena escuta as senhoras a ofendendo, mas não dá importância. Ela continua caminhando até a fazenda Correia.
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CENA 09/ FAZENDA CORREIA/ SALA DE ESTAR/ INT./ MANHÃ
Celso tenta acalmar Otávio, que chora muito pela perda do pai. Eles abraçam. Madalena entra e observa o filho abraçando o tio.
MADALENA (voz embargada) – Com licença! Já fiquei sabendo da tragédia. Vim prestar apoio ao meu filho. Deve estar muito abalado.
CELSO – Eu vou deixar vocês sozinhos.
Celso sai. Madalena abraça o filho.
MADALENA – Filho, estou aqui para te apoiar. Eu não vou te abandonar.
Otávio continua a chorar.
OTÁVIO – Painho não podia ter me deixado, Mainha.
MADALENA – Eu queria te chamar para morar comigo. Você não pode ficar sozinho nessa fazenda. Você tem que ficar comigo.
Focar na expressão triste de Otávio.
CENA 10/ CASA DA FAMÍLIA FERNANDES/ INT./ TARDE
A cena começa na SALA.
Raul entra perturbado. A empregada percebe a inquietação dele.
EMPREGADA – A polícia está atrás do senhor!
RAUL (chorando) – Eu cometi uma besteira. Vou descansar um pouco no quarto.
Ele sobe correndo ao QUARTO. Ele entra e tira uma pistola da cintura.
RAUL – Você me foi bastante útil!
Guarda a pistola numa gaveta.
Ficar na expressão de ódio de Raul.
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CENA 11/ FAZENDA CORREIA/ INT./ TARDE
A cena começa no QUARTO.
Otávio arruma as malas. Madalena o ajuda. No mesmo instante, Celso entra e diz.
CELSO (P/Otávio) – Você tem certeza que quer ir com a sua mãe, Otávio?
MADALENA (interrompe) – Não é bom ele ficar aqui. Pelo menos por enquanto não. Ele precisa se acalmar.
CELSO – Você tem toda razão.
Otávio termina arrumar a mala e entrega à mãe. Os três descem.
A cena continua na SALA DE ESTAR.
Madalena e Otávio se despedem de Joana.
JOANA – Qualquer coisa sobre o caso de Venâncio, eu informo a senhora. Escutei uma conversa entre os peritos e o delegado. Eles não descartam que a morte de Venâncio pode ter sido um homicídio e não um suicídio.
CELSO – Um homicídio? Mas quem iria matar.
MADALENA – Venâncio tinha muitos inimigos e você sabe muito bem disso.
Madalena e Otávio saem. Celso e Joana continuam conversando.
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CENA 12/ DELEGACIA/ INT./ NOITE
Tocar a música “disfarçando”, de Lado a Lado.
A cena começa na
O delegado Olímpio estuda o caso de Venâncio. Raul entra. Surpreso, o delegado o cumprimenta.
A música termina por aqui.
OLIMPIO – Precisava falar com o senhor.
RAUL – Vim me entregar. Já causei dor e sofrimento na vida de muitas pessoas. Matei a minha mulher a golpes de faca.
OLIMPIO (P/Policial) – Pode conduzi-lo à cela.
O policial conduz Raul à cela, onde a cena continua. Raul se deita no colchão, mas não escuta mais as vozes que tanto o atormentavam.
RAUL – Fiz o que era certo!
Focar na expressão de tranquilidade de Raul.
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CENA 13/ CEMITÉRIO/ INT./ MANHÃ
Tocar a instrumental “marcha fúnebre”, de Frederic Chopin.
O caixão de Venâncio é carregado pela população, que se aglomera no cemitério. Otávio, Bernardo, Madalena, Tereza e Celso muito emocionados.
BERNARDO e OTÁVIO – Vá com Deus, pai!
A música se encerra nessa parte.
CENA 13/ PALMEIRÃO DO BREJO/ PLANOS DA CIDADE/ EXT./ TARDE
Letreiro mostra: Dois dias depois.
Tocar a música “Disfarçando”, de Lado a Lado
Planos da cidade. Carruagens passeando pela cidade. Homens engraxando os sapatos na rua. Pessoas entrando no hotel. Casais indo à igreja. Pessoas colhendo algodão na fazenda Correia.
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CENA 14/ FAZENDA CORREIA/ ESCRITÓRIO/ INT./ TARDE
Aurélio, advogado que substituiu Raul nos assuntos jurídicos da família entra no escritório. Bernardo, Celso, Jorge, Madalena, Marta e Otávio já o esperam no escritório.
AURÉLIO – Passada todas as formalidades, vou fazer do testamento do senhor Venâncio Alves Correia. “Deixo aos meus dois filhos a minha fazenda. Cada um deve ficar com 40% dela. Celso e a Marta ficarão com 20% da fazenda. 45% da minha fortuna deve ficar para Otávio, 45% para Bernardo, 10% para Celso”. Madalena, a senhora não herdou nada de Venâncio.
MADALENA – Há algum engano!
Focar na expressão intrigada de Madalena.
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