CAPÍTULO 028
Novela de João Marinho
Escrita por:
João Marinho
Personagens deste capítulo
Branca Valadares Otávio Duarte Atendente
Celso Correia Lola
Jorge Correia.
Madalena Correia.
Marta Correia
Olímpio Vasconcelos.
Radialista.
Letícia Fernandes
CENA 01/ PALMEIRÃO DO BREJO/ RUA/ EXT./ MANHÃ
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Jorge e Letícia se esbarram na rua. Em se desculpam. Em seguida, Jorge ajuda Letícia a se levantar. Eles vão até a praça e sentam em um banco.
JORGE – Está tudo bem mesmo?
LETÍCIA – Sim. Muito obrigada.
Eles sentem a mesma sensação que sentiram alguns minutos antes. Jorge pega nas mãos aveludadas de Letícia.
JORGE – Senti uma sensação estranha quando te vi.
LETÍCIA – Também senti uma sensação incrível quando te vi, mas deve ser porque a gente já deve se conhecer.
JORGE – É....deve ser isso mesmo. (Mudando de assunto). Você é muito bonita. Espero que nos encontrarmos muitas e muitas vezes.
Eles sorriem um para o outro. Em seguida, Letícia se levanta e vai para casa. Jorge acompanha seus passos com um olhar muito atento.
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CENA 02/ HOSPITAL AFONSO VALADARES/ SALA DE HORÁCIO/ INT./ MANHÃ
Horácio está à espera de Otávio. Ele se senta em uma cadeira e toma um pouco de café. Otávio entra na sala tranquilo e feliz. O pai quebra então o silêncio. Antes, se levanta e fica frente a frente com o filho.
HORÁCIO – Queria dizer que a minha idade já está chegando e eu não sei se eu vou viver ainda por muito tempo. (Toma um pouco de café). Você é a pessoa mais competente que eu conheço para dá continuidade a minha carreira de administrador, além de médico, claro. Estou faltando isso porque estou sentindo que minha hora vai chegar.
Os dois se abraçam.
OTÁVIO – O que é isso, pai? Você ainda tem muito a viver ainda. Deixe de falar besteira. (Sorridente). Você é saudável. Claro que a idade vai chegando, mas isso é o ciclo natural da vida.
Horácio volta a se sentar.
HORÁCIO (Mudando de assunto) – Percebi que você chegou um pouco tarde hoje. (Tomando um gole de café). Aconteceu alguma coisa?
OTÁVIO – Não, fui resolver alguns problemas que não vem ao caso agora. (Mudando de assunto). Ainda temos muito a conversar. Estou conversando com o presidente de uma empresa estrangeira de matéria hospitalares. Mas só o senhor pode dar um veredito final.
HORÁCIO – Já pode firmar essa parceria. Confio muito em você e dou carta branca para você tomar qualquer decisão. (Mudando de assunto). Agora, eu vou ler um pouco. A manhã mal começou e já tive que resolver muitos problemas.
OTÁVIO – Eu vou para a minha sala.
Otávio sai da sala do pai.
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CENA 03/ FAZENDA VALADARES/ SALS DE ESTAR/ INT/ NOITE
Cecília entra na sala, enquanto o pai escuta o rádio. No mesmo instante, Débora entra. Ela se senta no sofá. Ela está sorridente e cumprimenta o tio e a prima.
DÉBORA (P/Afonso) – Benção, tio!
AFONSO (P/Débora) – Deus te abençoe, minha querida.
CECÍLIA (interrompe) – Está tão sorridente hoje, Débora!
DÉBORA – Acordei muito feliz. Não sei dizer o porquê, mas é uma sensação de que tudo vai melhorar na minha vida. (Mudando de assunto). Mas eu vim saber se você está bem. Ontem foi um dia bem agitado. O seu desaparecimento mexeu com todos nós.
Elas se abraçam e se sentam, em seguida.
CECÍLIA – Não quero passar por aquilo mais nunca. As únicas coisas boas que eu tirei daquilo é que eu tenho a melhor família do mundo e que os homens têm bom coração. Não todos, claro, mas existem homens que nos respeitam. Coisa muito rara no mundo.
AFONSO (Interrompe/ P/Cecília) – Nem só existem homens ruins no mundo não, minha filha. Homem que é homem de verdade é respeitador.
CECÍLIA – Infelizmente, vivemos no mundo em que eu estou bem pessimista com o futuro da humanidade. As mulheres vão ganhar voz, mas vai demorar ainda. Infelizmente, o que conquistamos ainda é pouco, apesar de importante. O voto; temos um dia em nossa homenagem, o dia 8 de março.
DÉBORA – Fico imaginando um mundo dominado pelas mulheres. Ia ser bem diferente. Não haveria guerras.
AFONSO (Interrompe) – Será que não haveria guerras? (Pensativo). Tenho minhas dúvidas. Tudo muda quando nós estamos no poder. É a hipocrisia da tirania. Isso é história e tudo se repete com o passar dos anos.
DÉBORA (Mudando de assunto/ P/Cecília) – Eu vim te chamar para ir à igreja. Vou rezar um pouco pela memória de nossa avó. Hoje faz quinze anos que ela se foi.
CECÍLIA (Feliz e emocionada) – Estava me lembrando dela. Faz uma grande falta. Infelizmente, morreu por causa da gripe espanhola.
Elas se levantam e saem, em seguida, enquanto Afonso continua sentado. Ele liga o rádio para escutar músicas.
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CENA 04/ FAZENDA CORREIA/ ESCRITÓRIO/ INT./ MANHÃ
Celso lê um jornal, no instante em que Jorge entra. O patriarca da família Correia interrompe a leitura do jornal para dá atenção ao filho.
CELSO – Eu achei que você tivesse ido para a câmara.
JORGE – Eu fui... Na verdade, eu ia, mas acabou acontecendo algumas coisas que eu não esperava. Conheci uma moça muito bonita.
CELSO – Espero que não seja outra rameira. Já basta as decepções que eu tive ultimamente com você, mas isso não vem ao caso agora. O que eu queria aproveitar para falar com você é que a eleição está chegando e nós temos que ir à procura de aliados para a nossa chapa. O tempo está encurtando.
No instante em que eles conversam, a empregada entra com uma xícara de café para Celso. Ela sai em seguida, enquanto eles continuam a conversar.
JORGE – De qualquer forma, eu vou buscar aliados na Câmara.
Os dois dão um aperto de mão. Jorge sai em seguida.
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CENA 05/ MANSÃO DA FAMÍLIA VASCONCELOS/ ESCRITÓRIO/ INT./ TARDE
Olímpio anota em caderno algumas coisas. Em seguida, ele coloca o caderno em cima de sua mesa. Pega o livro “O Cão dos Baskerville”, de Arthur Conan Doyle. A porta se abre e Tânia entra. Em seguida, Inês entra.
INÊS – Você fica tanto tempo aqui que os filhos sentem falta. Álvaro deu uma saída, mas Tânia está aqui querendo um carinho seu.
OLÍMPIO – Desculpa, minha filha. Mas eu não posso dar atenção a você agora. Preciso sair agora.
Olímpio sai. Inês se senta na cadeira dele, enquanto a filha se senta no chão e brinca com uma boneca.
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CENA 06/ PALMEIRÃO DO BREJO/ RUA./ EXT. / TARDE
Cecília e Débora andam pela rua e cruzam com Carcará. Ele cumprimenta Cecília com um singelo beijo na mão.
CECÍLIA (P/Débora) – Foi ele que me salvou do afogamento.
DÉBORA (P/Cecília) – Eu me lembro dele ontem lá na fazenda.
CARCARÁ (P/Cecília) – Você está muito bem. Diferente daquela moça fraquinha e desorientada que encontrei ontem desacordada no Rio.
Corta para: Otávio está dentro do carro na esquina da rua e observa Cecília e Carcará conversando.
OTÁVIO – Eu não acredito que Cecília está com esse matuto. Ela não tem vergonha na cara não?
Focar na expressão de raiva de Otávio.
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CENA 07/ PALMEIRÃO DO BREJO/ RUA/ EXT./ TARDE
Continuação imediata da última cena do bloco anterior. Otávio demostra uma expressão de raiva. Os olhos enchem de lágrimas. Por um instante, ele cogita sair do carro e ir até Cecília, mas a raiva e a crise nervosa o paralisa, que liga o carro e acelera.
Corta para: Cecília e Carcará se despedem; Débora também se despede. As duas caminham na direção da fazenda.
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CENA 08/ DELEGACIA/ INT./ TARDE
O Delegado Guilherme, delegado que substituiu Olímpio, lê alguns processos e alguns mandatos de busca e apreensão, no instante em que Olímpio entra.
GUILHERME – Surpreso com você vindo aqui. Se bem que você nunca abandonou o ofício de delegado. Sempre gostou de investigar, de prender.
OLÍMPIO – É... Você está certo. Eu sempre gostei de investigar. Sou fã das histórias de detetive. E foi justamente por isso que eu vim aqui hoje.
GUILHERME (Sério) – Imaginei. É sobre o quê?
OLÍMPIO – Sobre Venâncio Alves Correia.
GUILHERME – Mas a morte dele já não foi desvendada? Até prescreveu já. Eu não entendo a sua insistência com esse caso. Ele se suicidou.
OLÍMPIO – Eu não se suicidou. Eu sinto que ele não se suicidou. Não faz o menor sentido. Eu não era amigo dele, mas ele nunca pensou em se matar e nem cogitou em fazer isso. Ele tinha muitos inimigos, que poderiam ter forjado um suicídio.
GUILHERME – Acho que você está fantasiando muita coisa com essas histórias policiais que o senhor lê.
OLÍMPIO – Eu sou muito mais experiente que você. Eu sou um grande defensor da tese de homicídio, embora ninguém pode mais ser condenado por esse crime, que já prescreveu. Apesar de eu compreender a prescrição, acho injusto um crime ficar impune por causa do tempo decorrido do fato.
GUILHERME – Já eu consigo imaginar Venâncio se suicidando. Eu não morava aqui quando aconteceu isso, mas ouvi muita gente dizer que ele estava muito debilitado emocionalmente.
OLÍMPIO – Eu vou no fórum pedir para ter acesso aos autos.
GUILHERME – Faça o que você achar melhor, mas eu acho difícil conseguir avançar em alguma coisa.
OLÍMPIO – Eu vou provar que a minha tese está certa.
Olímpio e Guilherme se despedem.
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CENA 09/ FAZENDA CORREIA/ INT./ NOITE
Branca está sentada no sofá, no instante em que Cecília entra. A matriarca está muito séria e a filha estranha a mãe está tão séria.
CECÍLIA (P/Branca) – Aconteceu alguma coisa?
BRANCA (P/Cecília) – Otávio está no seu quarto e não está com a cara muito boa.
Cecília estranha o que a mãe acabara de dizer, mas sobe as escadas e vai ao quarto, onde a cena continua. A partir deste ponto, a cena se dá no QUARTO. Otávio está virado para a janela, no instante em que Cecília entra. Ele está muito nervoso e se vira para a namorada, quando percebe que a namorada entrou.
OTÁVIO – Eu não gostei nada do que você fez hoje a tarde.
CECÍLIA – E o que foi que eu fiz? Ir à igreja até onde eu sei não é errado e nem crime, ir à casa da minha prima também não é crime, pelo que eu sei.
OTÁVIO – Não se faça de cínica que a senhorita...
CECÍLIA (Exaltada) – Não, não sei do que você está falando. Pode ser mais claro!
OTÁVIO – Eu vi você se engraçando por aquele matuto.
Cecília fica nervosa e indignada com o que acabara de ouvir.
CECÍLIA – Matuto ao qual você se refere é o Carcará?... Você está me seguindo?
OTÁVIO – Vi vocês dois conversando quando eu passava pela rua. Achei ridículo você tentando agradar ele, se oferecer com as sirigaitas.
Cecília o estapeia no rosto.
CECÍLIA – Lave a boca para falar de mim desse jeito. Eu não sou uma putinha e exijo respeito.
OTÁVIO – Faça bom proveito do seu amante.
Otávio sai do quarto e desce as escadas. Cecília o segue. A cena continua na SALA DE ESTAR. Otávio sai correndo e enraivado. Afonso interrompe a discussão.
AFONSO (P/Cecília – Ah, minha filha. Diga para aquele rapaz que a salvou que o jantar está marcado para a semana que vem.
CECÍLIA (P/Afonso) – Vou falar para ele, meu pai.
Cecília volta para o quarto enraivada.
AFONSO (P/Branca) – O que aconteceu?
BRANCA (P/Afonso) – Eles tiveram uma briga feia.
AFONSO – Esses jovens do mundo é hoje só vivem brigando.
Afonso coloca um pouco de uísque em um copo. Em seguida, se senta em uma cadeira, pensativo.
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CENA 10/ MANSÃO DE FAUSTO/ EXT./ NOITE
Jorge joga uma pedra na janela do quarto, que ele acredita ser de Letícia. Com o violão em mãos, ele faz uma serenata, cantando a música “Lua Branca”. Ele toca e canta a música por alguns minutos.
JORGE – Eu não canso de pensar em você.
Ele percebe que ninguém aparece no janela, até que ela é aberta e Tereza joga um balde de água fria. Jorge fica todo molhado, joga o violão no chão e sai enraivado.
TEREZA – Vá cantar em outro lugar.
Ela fecha a janela.
CENA 11/ PALMEIRÃO DO BREJO/ EXT./ NOITE
Letreiro mostra: Alguns dias depois.
Tocar a música “Disfarçando”, de Lado a Lado. Pessoas passeando com seus filhos na rua. A praça lotada de pessoas. Carcará engraxa o sapato de um homem. Casais indo à igreja, homens indo ao bordel.
Corta para:
CENA 12/ FAZENDA VALADARES/ SALA DE JANTAR/ INT./ NOITE
Afonso, Branca, Otávio, Cecília, Horácio, Vilma e Carcará estão sentados à mesa. O patriarca da família Valadares quebra o silêncio.
AFONSO – Já que está todo mundo presente, eu vou dar início à está reunião familiar. (P/Carcará). Você salvou a minha filha de um afogamento. Sei que é de origem muito simples e humilde.
CARCARÁ – Sim, eu nunca vi tanta comida na minha vida.
AFONSO – A recompensa que eu vou lhe dá na verdade é um convite, um pedido. Quero que você trabalhe em minha casa e eu pagarei muito bem. Aceita?
Focar na expressão de surpresa.
Congelamento preto e branco emoldurado como um retrato.
Obrigado pelo seu comentário!