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VENTO NORTE: Teaser 02

Em um quarto fechado e escuro, com baixa iluminação, um senhor com idade próxima aos 100 anos, que não se identifica, apenas narra sua história e suas vivências, está sob uma cadeira. Apenas seus lábios ficam visíveis à câmera

Narrador: 28 de março de 2023. 

(corta p/ voz do homem)

Narrador: (com a voz rouca) Eu estudava arquitetura na universidade federal de São Paulo. Assim como qualquer jovem da época, eu gostava de sair, me divertir. Íamos em discotecas, em bailes, em festas. Saíamos em grupo para jantar, íamos ao cinema. Estudávamos juntos em bibliotecas, nada muito anormal do que se ocorre nos tempos atuais entre os estudantes da faculdade. 
Nunca me esqueço daquele verão, não recordo o ano, entre 1943 e 1944, em uma conversa em grupo, um de nossos amigos, havia lido no jornal, que a guerra poderia afetar o país e ele, na roda que se formou entre as duas mesas do restaurante em que nosso grupo estava, comentou conosco. Foi uma noite muito interessante, pois ouvi vários relatos, um desses relatos, concorda com a guerra, outro se dizia contra. Entretanto, apenas um depoimento me chamou a atenção. Essa pessoa, que era um homem, não cursava o mesmo curso, mas estava sempre conosco. Ela dizia ser conivente com Adolf Hitler e defendia causas como nazismo e ku klux klan. Esse sujeito cursava história e em pouco tempo, estaria com um diploma de professor nas mãos. (pausa profunda e ofegante)
Semanas depois dessa última conversa, já estavam em todos os jornais, a guerra havia chegado ao Brasil. Enquanto lia o jornal, apenas pensava em minha mãe, em meu pai. Meu pai ainda era moço. Pensava em meu irmão caçula. Pensava na garota dos meus sonhos, que após muitas tentativas, havia conseguido conquistá-la. Era a mais bonita da turma. (pausa ofegante. ele se emociona)
Eu agradeço a Deus por ter sido o único homem da família à ter sido convocado a servir na guerra. Muitos de meus colegas não tiveram a mesma sorte. Muitos perderam pais, irmãos, uma parte da família que morreu junto com esses que se foram, ou até mesmo a vida.
Eu posso dizer, eu sou um sobrevivente. Vi muitos de meus companheiros de luta partirem e serem jogados à deriva. Uma parte de mim, se foi junto com aquela barbárie.
Uma coisa que aprendi nesse cenário tão doloroso, foi a ter fé, apenas fé. Quando retornei para minha família, amigos e para a mulher que amava, eu sabia que não era o mesmo homem que havia sido, ninguém é a mesma pessoa após enfrentar um grande trauma. 
Mas é preciso ter perseverança e amor às pessoas e à vida. Ter amor à vida, é o básico para se viver.  

A narração finaliza. A imagem vai escurecendo até ficar completamente preta. Com a tela desfocada e escura, outro narrador diz 

Narrador: Em abril, Vento Norte, sua próxima novela das oito.

Ocorre uma rajada de vento que faz uma transição entre o escuro da tela e a logo da novela





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