Novela de Adélison Silva
Personagens deste capítulo
JANA
LAURA
GIOVANA
BEATRIZ
ELIETE
GENIVALDO
PAULO
RAIMUNDAMOISÉS
RAVENA
CÁSSIA
MACIELJORGEMAURÍCIORATO
Participação Especial:CLIENTE DO MACIEL, PACIENTE DA CLÍNICA, MÃE DA CRIANÇA QUE SE APROXIMA DE JANA.
LAURA
GIOVANA
BEATRIZ
ELIETE
GENIVALDO
PAULO
RAIMUNDA
RAVENA
CÁSSIA
MACIEL
CENA 01/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA
No fundo, mesmo que parecesse tão claro o que aconteceria em seguida, ainda restava uma dúvida, uma esperança em Jana. Foi como se Paulo a jogasse de um precipício, mas segurasse uma de suas mãos enquanto ela estava pendurada. E a esperança de que ele a desse sua outra mão, e a puxasse de volta, não passava de uma ilusão. Ela caiu. Nessa batalha Jana estava sozinha, ela não poderia mais contar com o homem que tanto amava. No entanto, o seu desejo e a sua vontade de ser mãe lhe davam força. Ela não estava mais sozinha, existia um pequeno ser inocente crescendo dentro de si. E a maternidade já lhe transformava em uma leoa, preparada para enfrentar tudo e todos para defender sua cria.
JANA
- Então é
isso mesmo, Paulo? Acabou de vez?
Paulo
olha para Jana com uma expressão fria e distante.
PAULO
- É o que cê quer, né Jana?
JANA
(entristecendo-se)
- Claro que não, nego. Passamos tanta
coisa juntos, esse filho era um sonho nosso. Cê foi meu companheiro, esteve do
meu lado esses dez anos. Mais do que ninguém, cê sabe o desejo que tenho de ser
mãe. Será que cê não entende como tudo isso tá sendo importante pra mim?
(passando a
mão na barriga)
- Agora é
realidade meu amor, nosso filho já cresce aqui dentro. Toque em minha barriga,
sinta, ela já começou a crescer.
Paulo
se afasta de Jana e lhe vira as costas. Ele não consegue se quer chegar perto
de sua mulher.
PAULO
- Eu amo você
Jana. Vivemos momentos incríveis juntos. E também desejei muito ter um filho
teu. Fiquei ansioso e esperançoso todas as vezes que cê dizia que sua
menstruação tava atrasada.
(virando-se
novamente pra Jana)
- Mas não
vou conseguir criar esse monstro que cê tá gerando. Esse filho não é meu.
Jana
dá um passo para trás e fica abismada diante das palavras de Paulo.
JANA
(olhos
marejados)
- É o quê? Como cê tem coragem de chamar meu filho de monstro?
PAULO
- Olhe, não vim aqui pra confusão. E sei que nada do que eu fale lhe fará mudar de ideia.
JANA
- Não mesmo, viu!
PAULO
- Pois é, sei bem disso.
(respira
fundo)
- Eu vim até aqui pra falar da casa... A casa é toda sua, eu
abro mão da minha parte.
(colocando
a chave em cima do balcão)
- Aqui tá a
chave. Eu já arrumei as minhas coisas. Não quero móvel nenhum, só arrumei as
minhas roupas mesmo. Vou voltar pra casa dos meus pais. Não dá pra continuar
morando por aqui. Sinceramente eu desejo que cê seja feliz com... com o... Enfim... Com o pai do seu filho.
Jana
muda a fisionomia e fica tentando entender.
JANA
- Espere um pouco. Venha cá, deixe eu ver se tô entendendo. Cê acha que esse filho que tô esperando é de um amante? Tô ficando zureta ou é isso mesmo que entendi, Paulo?
PAULO
- É a única explicação pra você defender tanto assim um feto, né.
JANA
(com ódio)
- Se pique daqui Paulo! E se possível desapareça da face da terra. Pois o monstro que tô vendo aqui não é o meu filho.
PAULO
- Jana, acontece que você...
Jana
seca as lágrimas e estende as mãos o interrompendo.
JANA
- Não! Cê já falou tudo que tinha de falar, né? Vai pra casa dos seus pais em Mato Grosso e a casa ficará comigo, né isso mesmo? Ótimo, concordo com cê, vai ser melhor assim. Te saia Paulo, e não aparece mais nunca em minha frente, tá sabendo.
Paulo sai, e Jana se derrama em lágrimas. Jana não havia planejado aquele momento, estava longe de tudo aquilo que sonhava. Lidar com os desafios da maternidade e saber que não tinha mais o seu companheiro ao lado assustava. Mas ela entendia que era melhor assim. As duras palavras de Paulo a machucavam. Como ele podia suspeitar que ela tivesse um amante? Ele viu o seu sofrimento depois daquele estupro, a acompanhou na delegacia, nos exames de corpo de delito. Não era justo essas suspeitas. O amor que ela tinha por ele estava se transformando em ódio, em ranço. Sentia-se sozinha, abandonada, mas sentia-se mãe. E o sentimento da maternidade era o que lhe impulsionava.
CENA 02/ INT/ CASA DOS FERNANDES / ESCRITÓRIO/ TARDE
Genivaldo
está cuidando do seu trabalho e Eliete já veio entrando e retrucando.
ELIETE
- Foi chegando, foi se acomodando e foi ficando. É isso mesmo, Janaína agora vai morar conosco?
GENIVALDO
(calmo)
- Jana é minha filha, viu Eliete. O que cê quer que eu faça? Que eu a deixe na rua?
ELIETE
(impaciente)
- Oxente, o que quero é que cê dê conselho para ela voltar pro marido. Agora é isso é? Uma briguinha qualquer é motivo de separação? Se plante Genivaldo! Tá passando da hora de Janaína aprender a honrar o marido que tem. Já pensou se por qualquer briguinha eu voltasse pra casa de meu pai? Já não estaríamos mais juntos há muito tempo, né mesmo.
GENIVALDO
- Eu não vou me meter no relacionamento da minha filha, ela e Paulo é que tem que resolver o problema dos dois.
ELIETE
- Pois eles, então, que tratem de resolver os problemas deles bem longe daqui.
GENIVALDO
- Essa casa é minha, viu Eliete. E minha filha irá ficar aqui o tempo que ela precisar.
ELIETE
- Genivaldo meu amor, será que cê não percebe o que tá acontecendo? Vai dando asas para as luxurias de sua filha e cê vai ver onde isso vai parar.
GENIVALDO
(confuso)
- Do que cê tá falando mulher?
ELIETE
- Dessa história de estupro bem mal contada. Olha o resultado aí. Tá na cara que Janaína foi molestada sim, mas não foi por nenhum estuprador. Ela foi abusada pelo o amante.
GENIVALDO
(com
desdém)
– Eliete pelo o amor de Deus!
ELIETE
(com
convicção)
- Janaína tava doida pra ser mãe, Genivaldo. Não falava outra coisa na vida a não ser isso. Ela nunca aceitou a vontade de Deus em sua vida. Quando ela viu que Paulo era estéril e não poderia lhe dá o filho que tanto desejava, tratou de procurar outro, né mesmo. Mas pelo o jeito não foi tão bom quanto ela imaginava.
GENIVALDO
- Você tá é desequilibrada não tá falando coisa por coisa.
ELIETE
- Quando a pessoa não segue o caminho do Altíssimo, ele manda o castigo do alto... Agora vou a igreja orar um pouco. Pedi pra Deus ter misericórdia e me livrar desse mundo pecaminoso e me arrebatar de vez para a glória celeste.
GENIVALDO
(irônico)
- Oh Senhor, que os anjos digam amém!
Eliete
arregala os olhos fecha a cara para Genivaldo.
GENIVALDO
- Oxe! Falei alguma coisa demais?
Eliete
enfurecida sai batendo a porta. Genivaldo sorri e encolhe os ombros voltando a
se concentrar em seu trabalho, deixando as palavras de Eliete de lado.
CENA 03/ INT/ CALABAR/ CASA DO MACIEL/ TARDE
Depois
de subir algumas escadas estreitas e íngremes, Laura acompanhada de Maciel
chega ao topo onde está localizado o barraco de Maciel. A casa é simples, sem
reboco nas paredes, com uma estrutura frágil e algumas partes desgastadas pela
ação do tempo. Havia roupas penduradas em um varal improvisado próximo à
entrada e um pedaço de pano rasgado servia como cortina na janela.
Laura entrou no barraco, observando o ambiente com certo desconforto.
LAURA
(entrando)
- Então é aqui que cê tá morando?
MACIEL
- Sim. É um barraquinho
simples, mas é o meu cantinho, né. É o que dá pra alugar com o pouco que ganho.
Laura
observa o ambiente com curiosidade, notando a escassez de móveis e a
simplicidade do local.
LAURA
- O
importante que agora cê tá ganhando dinheiro honesto. Não tá mais mexendo com
coisa errada.
Maciel
se aproxima de Laura, com uma expressão de determinação.
MACIEL
- É o que
penso também. Tu vai ver minha linda, agora vou dá um jeito em minha vida. O
que eu mais quero, sabe o quê é? Tu morando aqui comigo, hein.
Laura
fica um pouco hesitante, recordando de experiências passadas.
LAURA
- Da outra vez foi essa mesma conversa, né Maciel. Cê me chamando pra morar junto e tudo mais. Eu sair da casa de painho decidida morar contigo... Cê tem noção do que é isso? Briguei com meu pai, com minha mãe, me revoltei com todo mundo lá de casa. Só pra viver contigo. Mas por causa dessas porcarias que cê fica usando, cê me largou de lado com um filho no bucho... Se não fosse a Ravena pra me acolher, não sei nem o que seria de mim, tá sabendo.
MACIEL
- Eu sei meu
amor, vacilei malzão contigo, né. Mas tô afim de concertar meu erro. Vamo dá
uma chance pra nós dois, Laura?
(abrindo os
braços)
- Olhe isso
aqui! Não é nenhum palácio, mas é o nosso ninho de amor. Eu preciso de tu pra
dá um jeito em minha vida, minha linda. Sem você a minha vida só vai descendo de
ladeira abaixo. Diga aí, vamo voltar a sonhar juntos, vamos? Me perdoe pelo o
babaca que fui?
Maciel
vai se aproximando de Laura e abraçando-a a beija.
MACIEL
- Cê é a
mulher da minha vida, Laura. Não posso ficar longe de ti não.
Maciel
segura a mão de Laura e a puxa suavemente em direção ao quarto.
MACIEL
- Venha cá, deixa eu te mostrar o colchão da cama!
LAURA
(rindo)
- Já tá com saliência, né?
MACIEL
(tirando a
camisa)
- Tô é com
saudades, meu amor.
Os dois se beijam ardentemente. Enquanto se beijam, ele tira a bermuda ficando só de cueca. Maciel tira o top que Laura usa. Ela o empurra fazendo com que ele caia deitado na cama. Sorrindo Laura fecha a cortina, que está na janela que dá pra fora. A CAM os mostra através da cortina que é translúcida. Maciel está em uma cama de solteiro e tira a cueca. Laura tira o short. CORTE mostra ela de calcinha fio dental se deitando por cima dele, e eles se beijam. CORTE mostrando Maciel tirando a calcinha de Laura que está deitada na cama com as pernas esticadas para cima, ele beija o pé dela. Depois ele deita por cima dela e beija os seios dela que são pequenos e rígidos. CORTE mostra eles transando encaixados de ladinho. Ela com a perna sobre a cintura dele. Maciel vira se por cima e beija a barriga de Laura, vai descendo pelo o corpo e faz sexo oral nela. Laura fecha os olhos e inclina a cabeça pra trás e fica de boca entreaberta sentindo prazer.
CORTA para cena seguinte.
CENA 04/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ TARDE
Jana está triste e Cássia tenta animá-la.
CÁSSIA
- Jana, eu nem sei o que te dizer diante de tudo isso. Eu só acho o seguinte, se Paulo não é capaz de entender o seu lado. Então é melhor mesmo que ele vá.
JANA
(chorando)
- Eu nunca pensei que o nosso casamento fosse terminar assim, dessa forma medíocre. Veio aqui me deixar a chave da casa e dizer que tá indo pra Mato Grosso, vai voltar a morar com os pais dele, ver se pode... É estranho viu Cássia. Uma hora tô ali do lado do homem que amo planejando construir uma família, com filhos e tudo mais. Agora tô aqui, me sentindo sozinha. Sendo acusada por todos como se tivesse cometido um crime.
CÁSSIA
- Eu sei do seu sonho de ser mãe, Jana. E sei como isso é importante pra você. Mas nega, também vejo o lado de Paulo, né. É difícil pro homem que foi considerado estéril ver a sua mulher grávida de outro.
JANA
- Mas eu não planejei isso, meu Deus! Será que Paulo não consegue entender?
CÁSSIA
- Ele entende, sim, nega. Mas é uma situação muito delicada, né mesmo. Qualquer outra mulher em seu lugar teria optado em fazer um aborto. E é isso que talvez Paulo não entende, né. Você tem todos os meios legais para isso. Você foi violentada e tem como cê provar isso. O Paulo esperava que cê interrompesse essa gravidez e mantivesse o plano que cês tinham antes, de adotar uma criança.
JANA
- Você tem noção do absurdo que cê tá falando, Cássia? Sabe o que é difícil de entender? Essa facilidade que as pessoas têm de querer matar um ser inocente e indefeso.
CÁSSIA
- Não é bem isso, Jana! É que cê não entende, viu.
JANA
- Como não é? Mesmo sendo um ser minúsculo, é uma vida que
cresce aqui dentro de mim. E se eu não interromper, essa vida será gerada e vai
ser um ser humano como eu, como você e como qualquer um que existe no mundo. Eu
não posso achar que a minha vida, as minhas dores e o meu medo sejam mais
importante que a vida dele. Ele não tem mais ninguém, viu Cássia. Só a mim, a
mãe dele.
Jana
está firme em sua decisão de manter a gravidez, acreditando que é seu dever
proteger a vida que se desenvolvia dentro dela. Ela considerava qualquer ideia
de aborto como covardia e vergonhosa. Nesse momento, uma paciente chega à
clínica, interrompendo a conversa das duas.
PACIENTE
- Boa tarde!
JANA
(secando as
lágrimas)
- Boa tarde!
CÁSSIA
(atendendo)
- Opa, boa tarde! Tem consulta agendada, né?
PACIENTE
- Sim, com a Dra. Beatriz.
CENA 05/ INT/ CASA DO MACIEL/ PORTA/ NOITE
Maciel
começou a trabalhar com Rato em um esquema ilegal de queijo. Eles fabricavam os
queijos de forma normal, mas em cada dez peças eles recheavam com cocaína. Um
desses clientes, não satisfeito com a quantidade de queijo que lhe foi passado
foi até a casa de Maciel tirar satisfação.
MACIEL
- Eu te entreguei a encomenda conforme tu pediu, viu.
CLIENTE
- Entregou o que? Era pra tu me passar oito queijos.
MACIEL
- E não foi o que lhe passei?
CLIENTE
- Ah qual é, man? Dos oito queijos que tu me passou apenas três tavam recheados. Tá de sacanagem comigo desgraça?
MACIEL
- Não posso dá mole, cê sabe como a coisa funciona. Tem que dá uma variada na qualidade da mercadoria. Tá entendendo? Senão os homens nos pega, meu brother!
CLIENTE
- Tô sabendo, e compreendo. Mas também não é justo eu sair no preju. Oh Maciel tu tá ligado que me deve, né véi?
MACIEL
- Tu é serrão, viu véi. Te
mando na próxima remessa, vá bem?
Laura
está dormindo na casa de Maciel. Ao ouvir o barulho dos dois acorda.
LAURA
(off)
- Maciel?
MACIEL
- A minha nega acordou. Agora te pique que não quero que ela me veja trocando ideia contigo.
CLIENTE
(saindo)
- Tá me devendo!
MACIEL
(ordenando)
- Parta a
mil! Se saia, depois a gente ver isso.
O
cliente sai resmungando. Logo depois Laura se aproxima do namorado.
LAURA
- O que foi nego, aconteceu alguma coisa?
MACIEL
- Nada, tá tudo certo. Era apenas um cliente reclamando, dizendo que um dos queijos havia azedado. Depois tenho que resolver essa pendência... E você conseguiu descansar?
LAURA
- Até demais,
viu. Não poderia ter dormido tanto. Ravena deve tá injuriada comigo, deixei ela
sozinha na boutique hoje.
Maciel
vai se aproximando de Laura, a abraçando, lhe beijando e lhe fazendo carinho.
MACIEL
- Larga esse emprego e vem morar aqui comigo, humm. Eu te sustento.
LAURA
- As coisas não são tão simples assim, Maciel.
MACIEL
- E porque não, hein? Eu lhe amo, tu me ama, só isso que importa. Eu preciso de você Laura, tu me faz sentir uma pessoa melhor, não sabe. Sei que já fiz muita burrada nessa vida, viu. Mas também sei que cê pode me ajudar a me transformar e ser alguém melhor.
LAURA
- Oh Maciel,
como eu queria ter esse poder, viu.
Maciel
para diante dela, olhando profundamente em seus olhos.
MACIEL
- Mas cê tem, acredite nisso. Quando tô contigo me envergonho de todas as paradas ruins que já fiz, tá entendendo? Vou me enchendo de esperança e já começo a bolar novas ideias para tentar crescer na vida. Eu quero voltar a estudar, trabalhar e dá um jeito na minha vida. Oh minha linda, vamo curtir nós dois, vamo?... Vamo ser feliz juntinho, daquele jeito que a gente sempre sonhou? Eu preciso de você do meu lado, Laura. Entende?
LAURA
(beijando
Maciel)
- Eu vou tá sempre do seu lado, pode contar comigo.
CENA 06/ INT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ SALÃO/ NOITE
Moisés
está no palanque da igreja, pregando para os seus fieis. Todos atentos ao
pastor e entregues a espiritualidade do momento.
MOISÉS
(pregando)
- Em
provérbios diz: “Aquela que veste como uma prostituta...”. Então é isso, né? Tem
roupa de crente e tem roupa que é de prostituta. Roupa de mulher da vida. Prova
disso é que em primeiro Pedro capitulo três, tá escrito assim:
(lendo)
- “Vós mulheres sede submissa aos seus maridos, e que o vosso conhecer não seja no frisar do cabelo, nem nas muitas joias, e nem nas roupas sensuais”. O dia do juízo tá chegando mulheres e temos que vigiar, viu. Temos que seguir aquilo que tá na Palavra que é o que o nosso Deus pede.
TODOS
- Aleluia!
MOISÉS
- Não ande por aí mostrando o que não deve. Guardai o seu corpo dos olhares obscenos do maligno.
TODOS
- Oh glória!
ELIETE
(orando em
voz alta)
- Aqui não satanás!
MOISÉS
- Irmã Eliete, por favor, nos ajude passando a sacolinha da oferta.
ELIETE
- Sim, senhor
meu pastor!
(passando
com a sacola entre as fileiras)
- Vamos dá o melhor que temos, é para o Senhor.
RAIMUNDA
(falando
baixo só com Moisés)
- Como eu queria que Laura tivesse aqui, participando do culto com a gente.
MOISÉS
- Laura deixou o inimigo fazer morada. E onde o inimigo tá Deus não consegue entrar.
RAIMUNDA
- Eu ainda não desisti da minha filha. Eu tenho fé que ainda vou conseguir converter ela.
MOISÉS
- Amém! Depois eu quero que cê me passa o endereço dessa casa onde Laura tá.
RAIMUNDA
(preocupada)
- Olhe Moisés, acho melhor não, viu.
MOISÉS
- Oxe, não se
preocupe varoa, confia no seu varão. Deus vai me dá discernimento e vou saber o
que fazer. Eu vou tirar a nossa filha do fundo do poço.
Por
um lado Raimunda fica feliz em ouvir Moisés se referindo a Laura novamente como
sua filha. Mas por outro lado ela tem medo, em imaginar como será esse encontro
entre pai e filha.
CENA 07/ EXT/ OFICINA DO JORGE/
NOITE
Beatriz se aproxima da oficina de Jorge em um táxi. Ela desce, paga ao taxista e caminha em direção a Jorge, que está ao lado de seu carro.
BEATRIZ
- E aí, me diga? Agora arrumou o meu carro direito, ou vou ter que continuar indo e vindo aqui nessa oficina de araque.
JORGE
(jogando
charme)
- Tô começando a achar que a senhora tá estragando o carro de propósito, viu. Só pra vim me ver.
BEATRIZ
- Mas tô dizendo! Seria
seu sonho, né seu indecente? Ver se sou da sua laia. Um machista escroto que
não sabe tratar bem uma mulher, insolente, indecente.
(vai se
aproximando)
- E ainda
por cima, assim todo sujo, cheio de graxa...
Ao
se aproximar mais, Beatriz tropeça em um pneu e cai sobre Jorge.
JORGE
- Opa! Se eu não tivesse aqui, hein?
BEATRIZ
(se
ajeitando)
- Tira essa mão suja de cima de mim. Cê deveria tá terminando de arrumar o meu carro. Tá sabendo?
JORGE
- Oxe, mas já tô terminando. Acontece que tô esperando o meu ajudante que foi ali trocar o pneu de um cliente. O motor desse carro é pesado fica difícil para eu montar ele sozinho.
BEATRIZ
(deixando a
bolsa de lado)
- Não seja por isso, eu lhe ajudo. O
que não posso é continuar perdendo tempo aqui nessa oficina.
JORGE
- É o quê, moça? Imagina, uma mulher pegando um motor pesado daquele. Sei que já tá tarde, mas se a senhora poder esperar mais um tiquinho, agradeço.
BEATRIZ
- Tenho tempo não, viu. O senhor mais uma vez subestimando a força das mulheres.
JORGE
- Não tô
subestimando. Apenas acho que isso não é um serviço pra uma mulher.
(pegando na
mão de Beatriz)
- Ainda mais uma dama com mãos tão delicadas como as suas.
BEATRIZ
(puxando a
mão)
- Tire suas mãos de mim, não lhe dei liberdade pra isso! E pelo o amor de Deus meu senhor, em pleno século XXI e o senhor com esse machismo? Vamos logo montar esse motor, que eu preciso ir embora.
JORGE
- Vai me ajudar, é isso mesmo? Senhora tá falando sério?
BEATRIZ
- Oxente, e porque não estaria?
(procurando)
- Ondé que tá
o tal motor?
Jorge
aponta para o motor que está encostado em um canto da parede.
JORGE
- O motor tá ali. Mas não posso permitir que a senhora faça
isso.
Beatriz
não liga para o que Jorge lhe fala e já vai logo procurando uma forma de
pegar o motor.
BEATRIZ
-
Meu senhor, vamos parar de lero lero e adiantar logo o serviço, que não tenho a
noite toda pra isso.
(pegando um
carrinho tipo plataforma)
- Esse carrinho aqui vai nos ajudar, venha cá me ajudar colocar esse motor em cima.
JORGE
(incrédulo)
- Vá bem,
então!
Beatriz
era aquele tipo de pessoa que não aguentava esperar, o que era pra ser feito
tinha que ser feito na hora. E ela nunca se limitou, sempre foi de enfiar a
cara e fazer a coisa acontecer. E é claro que esse jeito espontâneo e
autoritário dela só encantava ainda mais Jorge.
CENA 08/ CASA DA JANE/ NOITE
Jana
caminha pelos cômodos de sua casa, perdida em pensamentos e sentindo-se
solitária. Ela para diante de um porta-retratos contendo uma foto dela com
Paulo em um parque, e as lembranças inundam sua mente.
[FLASHBACK ON]
CENA 09/ EXT/ PARQUE DA CIDADE/ TARDE
Uma
menininha de cerca de um ano caminha cambaleante em busca de uma bola. Paulo e
Jana estão sentados em um banco, observando a criança com admiração.
JANA
- Olha que
coisa mais linda, Paulo.
A bola vem rolando até os pés de Jana, ela agacha, pega a bola e entrega para a criança. A mãe da criança vem logo atrás.
JANA
(passando a
mão pelo o cabelo da menina)
- Oi minha linda!
MÃE
- Obrigada
moça!
(pegando a
criança pelo o braço)
- Venha com mainha, meu amor.
JANA
(depois que
a mãe sai)
- Será que um dia vamos ter uma princesinha como essa?
PAULO
- Vamos sim. A doutora lá não começou o seu tratamento? Logo cê vai tá grávida, meu amor. Mas tenho pra mim que não vai ser uma princesa, não. Vai ser um príncipe.
JANA
- Pra mim o sexo não importa. Eu sonho em ver a minha barriga crescer e sentir o meu filho crescendo aqui dentro. Quando isso acontecer eu vou ser a mulher mais feliz do mundo, não sabe. Eu já sonhei tanto com esse dia.
PAULO
- Cê vai ser a mulher mais feliz e a mãe mais linda. Mas procura não ficar tão ansiosa, isso só atrapalha.
JANA
(beijando
Paulo)
- Oh Paulo, cê é o amor da minha vida, viu. Logo logo vamos ter o nosso filho. Tô muito confiante com esse tratamento que comecei com a Dra. Beatriz.
[FLASHBACK
OFF]
Continuação da CENA 08/ CASA DA JANE/ NOITE
Jana
passa a mão pela a barriga, e se emociona em lembrar que seu filho já crescia
ali dentro.
JANA
- Ninguém vai te tirar de mim meu filho. Ansiei tanto pela sua vinda, não vou permitir que ninguém te faça mal nenhum, viu. Mainha tá aqui pra cuidar de você.
CENA 10/ INT/ RESTAURANTE/ NOITE
Maurício
e Cássia estão sentados em uma mesa próximo a janela. O ambiente é
aconchegante, com paredes revestidas de madeira escura, cortinas de tecido fino
e uma iluminação suave que cria uma atmosfera romântica. As taças de vinho
estão preenchidas, exalando um aroma suave e tentador. Os pratos são delicadamente
dispostos na mesa, revelando uma culinária requintada e saborosa. Maurício e
Cássia estão animados, com sorrisos nos rostos, enquanto jantam conversam
descontraidamente.
CÁSSIA
(falando
sobre filme)
- Olhe, juntar Angelina Jolie e Brad Pitt é certeza de muita qualidade, viu. Eu adorei o filme, engraçadíssimo e com um roteiro muito bom. A história nos envolve de forma muito boa, nem sabemos para quem torcer na briga deste casal tão apaixonado e explosivo. Melhor cena em minha opinião, foi a do jantar.
MAURÍCIO
- Eu já tava ali morrendo de medo dela matar ele.
CÁSSIA
- Também, né? E quando ele deixou aquela garrafa cair e ela pegou? Maravilhoso!
MAURÍCIO
(sorrindo)
- Fico feliz que cê tenha gostado do filme.
CÁSSIA
- Mas do que o filme, o que gostei mesmo foi da companhia.
(rindo)
- E que bom que cê me trouxe pra jantar, tava morrendo de fome.
MAURÍCIO
- A sua companhia também é muito agradável, viu Cássia.
CÁSSIA
- Obrigada!...
Cássia
para por um instante olhando para Maurício. Depois ela bebe um pouco do vinho e
volta a comer.
CÁSSIA
- Humm! Me fala um pouco mais sobre essa mulher que cê gosta.
MAURÍCIO
- Não tenho muito assim o que falar dela não.
Maurício
para por um instante e começa a descrever sua paixão com entusiasmo. Enquanto Cássia
continua desfrutando da comida e tentando disfarçar o seu incomodo e ao mesmo
tempo curiosidade.
MAURÍCIO
- Ela é uma mulher incrível, de temperamento único e decisivo.
Quando ela quer uma coisa, ela não espera ninguém tomar atitude não. Ela vai
atrás e faz a coisa acontecer, não sabe. Foi ela que teve a atitude de me
procurar quando a gente começou a se envolver. Ela é uma mulher apaixonante, é
envolvente, encantadora...
(entristecendo)
- Mas ela não quer saber de relacionamento sério, o que impossibilita da gente ter algo mais além.
CÁSSIA
(curiosa)
- Mas venha cá, cês costumam ainda se encontrar? Digo, ainda mantém algum tipo de relação, mesmo que não seja algo sério?
MAURÍCIO
(ponderando)
- A gente ainda se ver em vez em quando. Mas nunca mais rolou nada entre a gente.
CÁSSIA
- Que pena, né? Porque pelo o que percebo cê gosta muito dela.
MAURÍCIO
- Eu sou apaixonado por essa mulher, viu Cássia. Com essa mulher
eu casava, teria um monte de filhos como sempre sonhei. Mas é uma grande pena,
pois filho também não é algo que faz parte dos planos dela.
Cássia quer algo a mais, até sente inveja dessa mulher que Maurício tanto fala. Porém ele não enxerga ela da mesma forma, para ele ela é apenas uma grande amiga. E ela fica ali na friendzone esperando o momento certo de virar o jogo.
CENA 11/ INT/ CASA DA RAVENA/ NOITE
Laura
entra na casa da Ravena de forma discreta, tirando os sapatos antes de seguir
diretamente para o seu quarto. Ela se senta na cama, perdida em pensamentos,
relembrando as palavras de Maciel.
MACIEL
(off)
- Olhe isso
aqui! Não é nenhum palácio, mas é o nosso ninho de amor. Eu preciso de tu pra
dá um jeito em minha vida, minha linda. Sem você a minha vida só vai descendo
de ladeira abaixo. Diga aí, vamo voltar a sonhar juntos, vamos? Me perdoe pelo
o babaca que fui?
Ravena
se aproxima da porta do quarto e ver Laura sentada na cama, pensativa. Ela a
cumprimenta e inicia uma conversa.
RAVENA
- Boa noite!
LAURA
- Oi Ravena, boa noite! Acabei fazendo barulho e te acordando, né?
RAVENA
- Não, eu
ainda tava acordada... Me responde uma coisa, apesar de já saber a resposta.
Cê tava com ele, com o carinha que só lhe trouxe problema, né?
Laura
respira fundo, levanta e guarda seu sapato na sapateira.
LAURA
- Eu não quero ser ingrata com cê... Poxa vida, cê me recebeu aqui na sua casa no momento que eu mais precisei. Mas procure me entender, eu amo muito Maciel, Ravena. E ele precisa de mim.
RAVENA
- Ele precisa de você? Precisa de você para quê, Laura? Cê tá ouvindo o que tá dizendo? Cê tem noção do que tá acontecendo? Você tá se jogando de cabeça nesse complexo de Mulher-Maravilha, achando que pode mudar a mente dele. O que é que cê acha, hein? Que por amor a você ele vai se tornar uma pessoa íntegra, um homem transformado? Oh minha linda, não se iluda. Se ele quisesse mudar ele já teria mudado. Mas pau que nasce torto nunca se direita.
LAURA
- Cê nunca vai entender, Ravena. Mas sei que Maciel me ama. Ele é carinhoso comigo, ele é cuidadoso. Ele faz com que eu me sinta especial.
RAVENA
- Oh, Laura, tome cuidado, viu. Por se preocupar tanto com ele, cê tá esquecendo de você mesma.
Dizem
que o amor é belo em todas as suas formas, mas há controvérsias. Em alguns
casos, esse "amor" pode ser um veneno. Laura estava apaixonada de
forma intensa, e não percebia que seu relacionamento com Maciel estava se
tornando tóxico.
CENA 12/ EXT/ PLANO GERAL
A escuridão da noite em Salvador dá
lugar a um amanhecer suave e colorido. Os primeiros raios de sol revelam a
arquitetura histórica e moderna da cidade, enquanto a Baía de Todos os Santos
brilha com reflexos dourados. A vida começa a despertar nas ruas, com barracas
de comida exalando aromas tentadores e transeuntes amigáveis. O Mercado Modelo
ganha vida, e as praias são banhadas pelo sol, com o Farol da Barra destacando-se
na paisagem.
CENA 13/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ SALA DE ESTAR/ DIA
Todos
estão reunidos em torno da mesa, desfrutando de seu café da manhã. Genivaldo
está visivelmente preocupado.
GENIVALDO
- E Jana, cadê? Ela não veio pra casa?
GIOVANA
- Aqui ela não dormiu não.
ELIETE
- Vai ver criou vergonha na cara e voltou pro marido, né. Apesar que acho bem difícil Paulo querer ela de volta prenha de outro homem.
GENIVALDO
(com raiva)
- Cale essa boca Eliete! Como pode uma mulher que não sai da igreja só desejar o mal ao próximo?
ELIETE
- Não desejo mal a ninguém, mas a destra de Deus é justa, viu. E ela vai pesar contra aqueles que não o segue. Janaína é uma pecadora, além dos seus pecados ainda carrega os pecados dos seus ancestrais. E sabemos muito bem o pecado de quem ela carrega. Né mesmo Genivaldo?
GENIVALDO
- Se cê não calar essa boca, vou aproveitar essa faca que tá aí na tua mão e já vou cortar sua língua.
GIOVANA
– Oxente minha gente, pelo o amor de Deus! Vamos tomar o nosso café com calma, né?
ELIETE
- Não tá mais
aqui quem falou. Já perdi foi o apetite.
(saindo)
- Vou para o meu quarto orar e pedir a Deus misericórdia pela a alma de cês tudo.
GENIVALDO
- Amém. faça
isso!
(depois que
Eliete sai)
- A sua mãe cada dia que passa fica mais insuportável.
GIOVANA
- Ligue não painho. Isso é fanatismo religioso, mainha acha que tudo é pecado menos as atitudes dela.
GENIVALDO
- Uma hora eu juro que vou perder a paciência... Mas deixando a sua mãe de lado. Sua irmã não falou nada sobre o fato dela não ter vindo pra cá?
GIOVANA
- Pra mim ela não disse nada. Vai ver mainha tá certa, né? Ela e Paulo podem ter se entendido. Né mesmo?
GENIVALDO
- Tomara que seja isso, viu filha. Fico tão avexado depois do que aconteceu.
CENA 14/ EXT/ RUA/ BROTAS/ DIA
Rato e Maciel caminham pela calçada, engajados em uma conversa acalorada enquanto se aproximam da casa de Jana. A rua era tranquila, com árvores ao longo da calçada e algumas casas com fachadas simples. Havia uma praça em frente à casa de Jana, com bancos e um pequeno playground.
RATO
- O cara queria o quê? Que a gente entregasse todos os queijos pra ele recheado? Aí é problema pra nós, né meu brother?
MACIEL
- Sei qual é a dele não. Só sei que o bicho ficou revoltado. Pra tentar acalmar eu falei pra ele que na próxima remessa mandaria os queijos que ficou faltando.
RATO
- Tô ligado!
Bicho folgado, viu véi. vamo lá depois dá um papo reto nele. O combinado não
sai caro, né mesmo. Ele tá querendo é dá uma de esperto pro nosso lado.
Jana sai de sua casa, tranca o portão. Quando olha para o lado ver Maciel conversando com Rato. Em sua mente passa um filme, trazendo de volta as lembranças daquele momento em que foi abusada..
[FLASHBACK ON]
CAPÍTULO 01/ CENA 14/ EXT/ PONTO DE ÔNIBUS/ NOITE
Maciel tapa a boca de Jana e a arrasta para dentro do matagal. Jana com a boca fechada não consegue gritar. Ele a atira no chão lhe ameaçando, enquanto já abaixa as suas calças.
MACIEL
- Caladinha, bem quietinha que vamos vadiar um tiquinho. Tesão
aqui é barril, cê toda delicinha tá me deixando doido.
Maciel arranca a calça de Jana com força e puxa sua calcinha. Ela fica tremendo de medo e completamente vulnerável. Ele tapa sua boca e a penetra com violência. Ela chora e aquilo lhe dava ainda mais prazer. Ao terminar, ele se afasta, mas antes arranca uma mexa do seu cabelo, passando-a pelo o seu corpo suado e a enfia em seu bolso. Ele veste a calça e rapidamente pega uma câmera fotográfica dentro da mochila e tira algumas fotos de Jana jogada ali no chão. Depois guarda tudo em sua mochila e sai correndo. Deixando ela ali deitada e nua da cintura para baixo.
[FLASHBACK
OFF]
Continuação da CENA 13/ EXT/ RUA/ CASA DE JANA/ PORTÃO/ DIA
A
visão de Jana começa a ficar turva e suas pernas começam a fraquejar. Ela se
apoia na grade do portão, lutando para se manter de pé. Toda a angústia que
havia sentido no dia em que foi abusada parecia ter retornado de repente. Seu coração
acelera e ela sente um aperto no peito, como se estivesse revivendo aquele
momento traumático. As lembranças dolorosas invadem sua mente, e ela luta para
controlar suas emoções, respirando fundo e tentando se acalmar.
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