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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 11

 





Novela de Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
ELIETE

RAIMUNDA
MOISÉS
RAVENA
MACIEL
BEATRIZ
JORGE
ROSENO
OSVALDO 


Participação Especial:
POLICIAIS, OFICIAL DE JUSTIÇA, FEMINISTAS


CENA 01/ INT/ CASA DO MACIEL/ QUARTO/ TARDE

Maciel se aproxima silenciosamente e flagra Laura agachada, mexendo em seu guarda-roupa. Laura se levanta do chão, um tanto desconcertada, enquanto Maciel se aproxima. Ele se aproxima lentamente até ficar frente a frente com ela, ambos envoltos em um momento carregado de tensão. Laura rapidamente tenta justificar sua presença ali.

 

LAURA

- Oi, meu amor! Tava aqui guardando suas roupas. Esse guarda roupa tá uma bagunça, viu Maciel? Depois vou tirar um tempo pra dá uma arrumada nisso aqui.

 

Maciel a observa com uma expressão desconfiada, seus olhos percorrendo as roupas espalhadas.

 

MACIEL

- Te preocupe com isso não.

 

Maciel se aproxima do guarda-roupa e começa a arrumar algumas roupas, tentando disfarçar o local onde a maleta está escondida.

 

MACIEL

- Pode deixar que... Eu mesmo arrumo isso depois.

 

Laura observa atentamente seus movimentos, percebendo que havia algo mais ali.

 

LAURA

- Que isso em sua mão?

 

Laura estende a mão, pegando o monte de dinheiro, examinando-o com suspeita. Seu olhar se encontra com o de Maciel, buscando por respostas.

 

LAURA

- Oxente, mas isso é dinheiro?

 

Maciel sente-se encurralado pela pergunta de Laura e fica sem jeito. Ele hesita por um momento antes de responder.

 

MACIEL

- Sim.

(se animando)

- Não lhe falei meu amor, que iria conseguir um dinheiro pra dá um jeito na nossa vida? Pois então, olhe aí! Aos poucos a gente vai se ajeitar minha linda.

 

Laura desconfiada levanta mão com o monte de dinheiro enquanto pergunta.

 

LAURA

- Maciel não mente pra mim. De onde cê conseguiu esse dinheiro?

 

Maciel sente a pressão aumentar, sabendo que precisava encontrar uma explicação plausível. Ele toma o dinheiro da mão de Laura, tenta recuperar a compostura.

 

MACIEL

- De uns queijos que vendi. Lhe falei que a gente tava trabalhando em uma grande quantidade de queijo. Tem um cliente bom, um bacana cheio da grana, que tá investindo em nossos queijos. Fica com grilo, não viu? Tem nada de errado, é tudo coisa certa.

LAURA

(desconfiada)

- Aí tem muito dinheiro pra ter sido só de venda de queijo...

 

Laura observa atentamente Maciel enquanto ele guarda o dinheiro. Ele encontra um espaço discreto, uma pochete pendurada na parte de trás do guarda-roupa, cuidadosamente ele deposita o dinheiro lá dentro, escondendo-o da vista de qualquer pessoa desavisada.

 

LAURA

- Maciel, eu lhe conheço não é de hoje, viu? Sei quando algo tá errado. Esse dinheiro... Me diga a verdade, de onde veio? Não quero tá envolvida em nada ilícito.

MACIEL

(se alterando)

- Qualé Laura? Porra, assim fica difícil, né mesmo? Na moral, tô aqui me esforçando pra dá o melhor de mim para o nosso conforto.  Lhe juro minha linda, a parada é limpa. Eu sei que fiz altos bagulhos errado, viu? Mas agora tô dando o melhor pra consertar as merdas que fiz. Jamais faria algo que pudesse lhe prejudicar. Confie em mim, meu amor.

 

Maciel se aproxima e passa a mão no rosto de Laura. Ela olha nos olhos dele, hesitante. Ela quer acreditar nele, mas a desconfiança persiste.

 

LAURA

- Ai Maciel! Eu lhe amo, viu? E quero muito acreditar em ti. Mas, por favor, nego! Prometa que vai se afastar de qualquer coisa que possa lhe colocar em problemas sérios? Não quero que nossa vida seja marcada por ilegalidades, né mesmo?

 

Maciel passa as mãos pelo o cabelo de Laura, mostrando-se sinceramente.

 

MACIEL

- Eu lhe prometo o que cê quiser meu amorzinho. Vou me afastar de tudo que possa nos prejudicar. Pô Laura, tu é a coisa mais importante pra mim, não sabe? Farei de tudo pra lhe proteger. Confie em mim, vai dá tudo certo.

 

Laura olha para Maciel, ainda com uma mistura de desconfiança e esperança. Ela quer acreditar nas palavras dele, mas sabia que precisa está vigilante para garantir que o futuro fosse realmente diferente.

 

CENA 02/ EXT/ PLANO GERAL

Em Salvador, iniciamos à tarde na serena Praia de Stella Maris, passamos pelo Mirante da Boa Viagem com vistas deslumbrantes ao entardecer, visitamos a histórica Praça da Sé à noite e encerramos na tranquila Lagoa do Abaeté, onde a noite revela sua magia com luzes refletindo na água e músicos locais tocando sob um céu estrelado. Cada local oferece uma experiência única e encantadora em Salvador, à medida que a tarde se transforma em noite.

 

CENA 03/ INT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ NOITE

A igreja está cheia de fiéis reunidos para o culto. Moisés, está no púlpito, pregando com fervor e emoção.

 

MOISÉS

- Irmãos e irmãs, a palavra do Senhor é clara: "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro." Devemos ser fiéis em nossos compromissos com Deus e com sua obra. Neste momento, vamos nos unir em oração, pedindo a bênção divina sobre nossas vidas e sobre esta igreja.

 

Os fiéis se levantam, fecham os olhos e começam a orar enquanto cantam um louvor. Raimunda passa pelas fileiras com uma cestinha em mãos, arrecadando dinheiro dos fiéis para a obra da igreja.

 

MOISÉS

(com voz suave)

- Irmãos e irmãs, que alegria estar na casa do Senhor, né mesmo? Se você deseja contribuir para a obra de Deus, por favor, colabore com o que puder. Cada oferta é valiosa e fará diferença em nossos projetos e ministério.

 

Os fiéis, com generosidade, depositam notas e moedas na cestinha de Raimunda, expressando sua devoção financeira à igreja. Alguns sorriem, sentindo-se parte de algo maior, enquanto outros se entregam à reflexão durante a oração. Moisés, observando discretamente, esboça um sorriso malicioso.

 

MOISÉS

- Amém! Que o Senhor abençoe a todos vocês e multiplique abundantemente aquilo que ofereceram nesta noite. Lembrem-se, a generosidade é uma virtude cristã. Sigamos firmes na fé e no propósito de expandir o reino de Deus.

 

A cena termina com os fiéis retomando seus assentos, enquanto Raimunda continua a passar a cestinha pelas fileiras da igreja.




 

CENA 04/EXT/ RUA/ EM FRENTE À DELEGACIA/ NOITE

Um grupo de feministas estão reunidos em frente à delegacia, levantando cartazes e faixas com mensagens contra a impunidade e a violência sexual. Ravena toma a frente do grupo, segurando um megafone, pronta para falar em nome das mulheres vítimas de estupro.

 

RAVENA

(com voz firme no megafone)

- Chega de silêncio! Chega de impunidade! Estamos aqui para exigir justiça pelas mulheres que foram violentadas! E acusamos o delegado de negligência neste caso! As denuncias foram feitas! E o que o delegado fez em prol disso? Absolutamente nada! Pois o bandido que cometeu esse crime, ainda tá solto, né? Todas nós ainda corremos perigos na mão desse malfeitor!

 

Ao lado de Ravena, está Laura, demonstrando apoio e determinação. Um pouco mais adiante, Giovana e Jana também se unem ao protesto.

 

GIOVANA

(incentivando Jana)

- Vamos em frente, Jana. Não vamos deixar que esse bandido saia impune. As meninas vão fazer barulho até ele ser preso.

 

A maioria das mulheres, incluindo Ravena e Laura, decide fazer um gesto impactante de protesto. Elas começam a arrancar suas blusas, revelando mensagens escritas em seus corpos e símbolos que representam a luta contra o estupro e a violência contra a mulher.

 

LAURA

(gritando)

- Nós não somos culpadas! Nós não somos silêncio!

 

Ravena, determinada, caminha até a entrada da delegacia e encara um policial. Levanta a voz e grita olhando para o prédio da delegacia.

 

RAVENA

- Exigimos que cê aja, delegado! Não podemos mais aceitar a negligência!

 

Enquanto o protesto toma forma, Jana se sente desconfortável com a ideia de tirar a blusa, temendo a exposição pública. Ela hesita e nega a participação.

 

JANA

(nervosa)

- Eu... Eu não posso fazer isso. Eu não vou tirar a minha blusa.

 

Giovana, percebendo a aflição da irmã, se aproxima e tenta acalmá-la.

 

GIOVANA

(suave)

- Tudo bem, Jana. Cê não precisa fazer nada que não se sinta confortável, viu? Estamos juntas nessa luta, independentemente de tirarmos a blusa ou não.

 

Jana começa a se acalmar aos poucos, sentindo-se apoiada por Giovana.

 

JANA

(respirando fundo)

- Obrigada, Gih.

GIOVANA

- Eu também não vou tirar a minha blusa. Aliás, eu nunca tiro.

 

As mulheres continuam seu protesto, erguendo suas vozes em coro, enquanto algumas outras erguem suas blusas. A tensão e a determinação no ar eram palpáveis, marcando o início de uma luta coletiva por justiça e mudança.

 

CENA 05/ INT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ NOITE

Osvaldo está sentado em um dos bancos da igreja, enquanto Moisés arruma alguns livros no altar. Os dois conversam em voz baixa. Raimunda observa a conversa dos dois à distância, seus olhos cheios de inquietação.

 

OSVALDO

- Pastor, eu tenho uma novidade. Kaleb conseguiu um emprego no exterior e vai se mudar em breve. E ele quer levar Laura com ele.

 

Moisés fica surpreso com a notícia, tentando assimilar a informação.

 

MOISÉS

- Levar a Laura? Mas e o casamento que falamos?

OSVALDO

- Eu sei, eu sei. Exatamente isso. Temos que adiantar esse casamento o quanto antes. Pensa bem, pastor. No exterior longe de todos, Laura não terá outra opção a não ser se dedicar ao marido.

 

Moisés reflete por um momento, suas sobrancelhas franzidas enquanto tenta compreender a situação.

 

MOISÉS

- O senhor tá certo, viu irmão Osvaldo? Já passou da hora de unirmos esses dois de vez. Vamos cuidar então, dos preparativos desse casamento entre Laura e Kaleb.

Parte superior do formulário

Nesse momento, Raimunda se aproxima, visivelmente chocada com a proposta.

 

RAIMUNDA

(interrompendo)

- Tô ouvindo direito, Moisés? Cê tá querendo casar nossa filha à força, é isso?

OSVALDO

(se explicando)

- Irmã Raimunda, eu só...

RAIMUNDA

(irritada)

- Só o quê? Não acredito que tá concordando com isso, Moisés!

MOISÉS

(defensivo)

- Varoa, por favor, tente entender. Acredito que esse casamento arranjado possa ser o melhor para Laura. Kaleb é um jovem de fé e tem boas intenções.

RAIMUNDA

(indignada)

- Pelo o amor de nosso Senhor Jesus Cristo, Moisés, isso só vai piorar as coisas. Não podemos impor isso a ela!

OSVALDO

(preocupado)

- Irmã Raimunda, vamos conversar com calma sobre isso.

RAIMUNDA

(firme)

- Não, irmão Osvaldo! Não vou aceitar que minha filha seja tratada como um objeto. Laura tem direito de escolher com quem ela quer se casar.

 

Moisés se aproxima, sua voz carregada de autoritarismo.

 

MOISÉS

- Que tom é esse, mulher? Isso é jeito de falar com teu marido?

(virando-se para Osvaldo)

- Já tá decidido, viu irmão Osvaldo? Laura vai se casar sim com Kaleb, e vai acompanhar o marido no exterior. E tô fazendo isso pra proteger Laura dela mesmo.

 

Raimunda abaixa a cabeça, se sentindo inferiorizada.

 

CENA 06/ INT/ CASA DA JANA/ SALA DE ESTAR/ NOITE

Jana e Giovana estão sentadas no sofá, imersas em uma conversa. Enquanto falam, a televisão está ligada, exibindo imagens do movimento e entrevistas com ativistas.

 

JANA

(com olhar fixo na tela)

- Eu gostei da ideia do protesto. Todas aquelas mulheres unidas, nos transmite uma coragem que nem sabíamos que tínhamos. Olhe, mas confesso que não concordei com a violência e a agressividade que algumas delas usaram. Acho que podemos transmitir nossa mensagem de uma maneira mais pacífica e respeitosa.

GIOVANA

(voltando-se para Jana)

- Concordo com cê, viu Jana? O movimento é diverso, e nem todos compartilham da mesma abordagem. Mas é importante destacar que, às vezes, a indignação e a raiva podem nos impulsionar a agir de uma forma mais firme. A luta contra a violência e o abuso exige ações contundentes.

 

Jana olha para Giovana, curiosa.

 

JANA

- Venha cá, Gih, me diga uma coisa! Cê tá bem ativa no movimento, né mesmo? Tem participado muito das atividades?

 

Giovana, com um sorriso no rosto, desvia o olhar da televisão para encarar Jana.

 

GIOVANA

(com entusiasmo)

- Sim, tenho me envolvido bastante. Acredito que é uma oportunidade de fazer a diferença, e lutar por um mundo mais justo para todas nós, né? Mas sei lá, sinto a necessidade de fazer algo a mais. Principalmente cuidar dessas mulheres que já sofreram abuso, violência... Dá um apoio moral, financeiro e psicológico. Não só sair por aí gritando nas ruas, mas por a mão na massa mesmo e fazer a diferença.

 

Enquanto a conversa se desenrola, Jana e Giovana trocam olhares cheios de respeito e admiração mútua.

 

JANA

(com admiração)

- Nossa Gih, que orgulho de cê, mana. Achei tudo isso muito bacana.

GIOVANA

(determinada)

- Eu sonho em um dia, sabe? Poder criar uma organização que apoie e ajude mulheres vítimas de violência e abuso. Um lugar onde elas possam se sentir seguras e receber o suporte necessário, para superar essas experiências traumáticas. Entendeu?


JANA

- Entendi, e super apoio.

 

 

CENA 07/ INT/ CASA DO MACIEL/ SALA/ NOITE

Maciel está sentado no sofá, inquieto. Laura entra pela porta, visivelmente exausta. Maciel, ao vê-la, levanta-se abruptamente, confrontando-a com raiva contida.

 

MACIEL

- Onde cê tava?

 

Laura se aproxima de Maciel com um sorriso forçado, e dá-lhe um beijo.

LAURA

- Oi meu amor! Apenas saí fui dá umas voltas.

 

Maciel cerra os punhos, apertando os dedos com força enquanto tenta controlar a fúria que cresce dentro dele. Ele lança um olhar penetrante, examinando cada expressão no rosto dela.

 

MACIEL

- Já é meia noite Laura.

 

Laura abaixa a cabeça, sua voz soando mais suave, demonstra arrependimento.

 

LAURA

- Eu sei, meu amor. Lhe peço perdão. Estava com Ravena, a hora foi passando e não me dei conta. Mas oh, já deixei até a janta pronta. Cê já jantou?

 

Maciel respira fundo, tentando controlar sua raiva crescente.

 

MACIEL

- Sim. A questão aqui no momento não é minha janta, né? Já falei que não quero cê andando com essa mulher.

 

Laura levanta a cabeça, mostrando-se desafiadora.

 

LAURA

- Vamos parar, Maciel? Ravena é minha amiga e não vejo mal nenhum em visitá-la, viu?

 

Maciel solta uma risada amarga, seus olhos fixos em Laura.

 

MACIEL

- Amiga?... Amiga que tá doidinha querendo lhe pegar, né mesmo?


LAURA

- A Ravena sempre me respeitou. E outra, confia em mim não?


MACIEL

- Confio. Mas já saquei qual é dessa mulher. Ela tá rodeando, tentando te seduzir.

(possessivo)

- Já lhe falei, cê tá proibida de se encontrar com essa mulher!


LAURA

- Oxente, agora vi coisa! Quem é você pra me proibir de alguma coisa, Maciel?

 

Maciel avança em direção a Laura, sua postura demonstra controle sobre a situação.

 

MACIEL

- Sou seu marido, e não quero mulher minha se engraçando pro lado de sapatona.

 

Laura estreita os olhos, sua expressão se torna um misto de raiva e desafio.

 

LAURA

- Olhe aqui, não vou discutir contigo sobre isso, viu? Vou tomar um banho e descansar. Depois a gente fala sobre isso, pode ser?


MACIEL

(com firmeza na voz)

- Não. Nossa conversa vai ser agora. Venha cá, me dá ideia, na moral! Já rolou alguma coisa entre cês duas?


LAURA

(passando a mão pelo o rosto)

- Pelo o amor de Deus!


MACIEL

(gritando)

- Responde?


LAURA

(gritando)

- Claro que não!

(apontando o dedo para Maciel)

- E não ouse elevar a voz para mim, viu?

 

Maciel, tomado pela raiva, perde momentaneamente o controle e dá um tapa no rosto de Laura. O som do tapa reverbera pelo ambiente, ecoando o choque e o medo.

 

LAURA

(com a mão no rosto e lágrimas nos olhos)

- Que isso? Enlouqueceu, foi?

 

 O rosto de Maciel fica vermelho de fúria e ele avança em direção a Laura, agarrando-a pelo pescoço, exalando violência.

 

MACIEL

- Presta atenção garota, não vou admitir levar chifre, ainda mais com uma sapatona. Se eu sonhar que cê tá se encontrando com ela, eu mato cês duas. Tá me ouvindo?

 

Laura luta para respirar, seu rosto começa a ficar vermelho, os olhos cheios de lágrimas.

 

LAURA

(falando com dificuldade)

- Cê tá me sufocando.

 

Maciel solta o pescoço de Laura, um misto de arrependimento e culpa estampado em seu rosto.

 

MACIEL

- Oh minha linda, me desculpe, me descontrolei.

 

Laura, ainda se recuperando do sufocamento, lança um olhar determinado, misturado com uma mistura de raiva e medo.

 

LAURA

- Cê nunca mais levante a mão pra mim. Tá me ouvindo?

 

Maciel aproxima-se dela, tentando consertar o erro.

 

MACIEL

- Claro meu amor, eu sinto muito por tudo isso!

 

Laura afasta-se dele com passos rápidos, a mão no pescoço ainda marcado pelo sufocamento.

 

LAURA

(saindo da sala)

- Vai pro inferno!

Maciel fica parado, olhando para a sala vazia, sua expressão carregada de remorso e arrependimento. O silêncio toma conta da sala, deixando um rastro de tristeza e desespero no ar.

 

CENA 08/ INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ QUARTO DO CASAL/ NOITE

Raimunda está de joelhos ao lado da cama orando baixinho enquanto Moisés dorme. Ela se levanta, pega sua bíblia e senta-se na beira da cama e começa a chorar. Moisés acorda assustado.

 

MOISÉS

- Oxe, que aconteceu, Raimunda? Cê tá bem?

RAIMUNDA

- Sim, tô bem. Tava aqui orando pela nossa filha. Não tá certo o que cê e irmão Osvaldo tão querendo fazer. Laura não vai aceitar isso.

MOISÉS

- Ela não tem escolha e já tomei a minha decisão. Laura vai se casar com Kaleb e irá com ele para o exterior. Volta pra cama e vai dormir.

 

Raimunda fica chocada e levanta-se da cama, encarando o marido.

 

RAIMUNDA

- Moisés, por favor. Oh varão, não podemos simplesmente forçar nossa filha a se casar com alguém que ela não ama.

MOISÉS

- Mulher, deixa de drama! Kaleb é um bom rapaz, tem boas intenções e pode dar uma vida melhor pra Laura no exterior.

RAIMUNDA

- E o amor, Moisés? Cê não acredita que Laura merece encontrar alguém que ela ame de verdade?

MOISÉS

- Mas que bobagem é essa agora, Raimunda? O amor vem com o tempo. O que importa mesmo é o amor de Deus. E Kaleb é muito temente a Deus, Laura só tem a ganhar. Com o tempo cê vai ver, varoa. Os dois vão tá em um amor só. Nós fazemos a nossa parte e Deus faz a obra.

 

CENA 09/ INT/ CASA DO MACIEL/ BANHEIRO/ NOITE

Laura, ainda abalada pelo confronto com Maciel, toma um banho, deixando a água quente escorrer pelo seu corpo. Enquanto esfrega o sabonete em suas mãos, sua mente revive o momento doloroso da discussão. As palavras agressivas de Maciel ecoam em seus pensamentos, causando-lhe sofrimento emocional. As gotas de água se misturam às lágrimas silenciosas que escorrem pelo seu rosto. Laura permite-se chorar, liberando as emoções reprimidas durante a discussão. Laura desliga o chuveiro e envolve seu corpo em uma toalha, segurando-a com firmeza. Olhando para seu reflexo no espelho, com os olhos inchados e vermelhos, Laura respira fundo e enxuga o rosto. Com uma decisão tomada, ela enrola outra toalha nos cabelos e sai do banheiro, caminhando com passos firmes em direção ao quarto onde Maciel está presente.

 

CENA 10/ INT/ CASA DO MACIEL/ QUARTO/ NOITE

Maciel está sentado na cama, com lágrimas escorrendo pelo rosto, enquanto Laura sai do banheiro enrolada em uma toalha, secando seus cabelos com outra toalha. A água cai dos fios molhados de Laura, formando pequenas poças no chão. Laura olha para Maciel, seus olhos transmitindo uma mistura de tristeza e cautela. Ela caminha em direção a ele.

 

LAURA

(calma, mas decidida)

- Agora me diga, que deu em você, hein?

 

Maciel levanta a cabeça, seus olhos vermelhos encontra os olhos de Laura. Ele estende as mãos em um gesto de súplica, sua expressão revela remorso profundo.

 

 

MACIEL

- Não sei... Perdi o controle e acabei lhe machucando.

 

Laura permanece em pé na frente de Maciel, seus dedos apertando a toalha com força, amassando o tecido em seus cabelos.

 

LAURA

(com firmeza)

- Maciel, escute bem. Não vou mais tolerar esse comportamento, viu? Mereço ser tratada com respeito e dignidade. Cê cruzou uma linha inaceitável ao me agredir e ameaçar. Isso não é amor não.

 

Maciel abaixa a cabeça, desviando o olhar. Seus dedos entrelaçam-se, tremendo de arrependimento.

 

MACIEL

(sussurrando)

- Laura, eu... Meu amor, eu sinto muito, viu? Perdi o controle, não devia ter agido daquela forma. Sei que errei. Lhe prometo que isso nunca mais vai acontecer.

 

Laura ergue a mão suavemente, interrompendo as palavras de Maciel. Seu rosto expressa uma mistura de tristeza e determinação.

 

LAURA

(olhando fixamente para Maciel)

- Desculpas não são o suficiente não, Maciel. Nenhum pedido de desculpas apaga o que aconteceu. Não posso mais viver com medo, com a sensação de tá presa em um relacionamento abusivo.

 

Enquanto Laura fala, ela lentamente solta a toalha que está segurando, deixando-a cair ao seu lado. Seu olhar fixo em Maciel mostra sua determinação em não retroceder. Maciel olha para Laura, seu rosto inchado pelas lágrimas, enquanto seu corpo treme levemente. Ele estende a mão na direção de Laura, como se buscasse algum tipo de consolo, mas ela recua, mantendo uma distância segura.

 

MACIEL

- Eu lhe entendo... Prometo que vou procurar ajuda, buscar me controlar, mas, por favor, Laura, não me deixe. Eu lhe amo demais, mesmo que eu não saiba demonstrar da maneira certa.

 

Laura balança a cabeça lentamente, encarando Maciel. Ela ergue o queixo, mostrando uma expressão de resolução.

 

LAURA

- Vou esquecer que cê fez isso. Mas cê vai me prometer que nunca mais vai levantar a mão contra mim.

 

Maciel olha para as mãos trêmulas, então ergue o olhar para Laura, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

 

MACIEL

(engolindo seco)

- Eu lhe prometo sim meu amor, isso não vai repetir mais é nunca.


LAURA

(com um suspiro)

- Assim espero, viu?

 

Maciel olha profundamente nos olhos de Laura, buscando uma conexão que havia sido abalada.

 

MACIEL

- Mas posso lhe pedir também uma coisa?... Não se encontre mais com aquela mulher.


LAURA

(olhando séria)

- Maciel, Ravena é minha amiga.


MACIEL

(pedindo com desespero)

- Por favor, Laura! Não vamos permitir que ninguém estrague a nossa relação.

 

Laura olha para Maciel com uma mistura de tristeza e resignação. Ela sabia que ceder dessa forma poderia significar abrir mão de sua liberdade e de uma amizade importante, mas também estava ciente da paixão que tinha pelo Maciel.

 

LAURA

(após uma breve pausa)

- Vá bem, Maciel. Farei isso por nós. Vou me afastar de Ravena. Mas espero que cê entenda que não é porque concordo com suas atitudes ou porque acredito nas suas acusações. É porque valorizo o nosso relacionamento e quero tentar superar essa fase difícil.

 

Maciel solta um suspiro aliviado, seus ombros parecendo relaxar um pouco.

 

MACIEL

(sorrindo emocionado)

- Fico agradecido, viu. Sei que não será fácil, mas tu vai ver, vou me esforçar e vamos superar isso. Eu lhe amo demais da conta, Laura!

 

Maciel estende os braços em direção a Laura, buscando um contato físico que pudesse transmitir segurança e conforto.

 

MACIEL

 - Venha cá, venha!


LAURA

- Vou vestir minha roupa.


MACIEL

(pegando na mão de Laura)

- Não. Vem assim mesmo enrolada na toalha.

 

Laura hesita por um momento, olhando fixamente para Maciel, avaliando sua sinceridade. Então, ela cede e dá alguns passos em sua direção, permitindo que ele a envolvesse em um abraço. Enquanto se abraçam, ambos fecham os olhos e se entregaram em um beijo demorado. A toalha que envolve Laura vai cedendo ao chão deixando-a totalmente nua. Maciel levanta suas pernas e a senta em seu colo. Laura passa as mãos pelo o rosto de Maciel e olha bem nos seus olhos, toca a sua testa, seus cabelos, sua boca e o admira. Ele se levanta da cama a carregando em seus braços, vira-se e a joga delicadamente em cima da cama. Se afasta dela, ficando de pé, e em seguida vai tirando a camisa, a bermuda que usa, se despindo totalmente. Se agacha e começa a beijar os pés de Laura, olhando fixamente para ela. Vai subindo devagarzinho até a altura de sua genitália. Laura segura os seus seios amaciado-os, enquanto fecha os olhos e abre a boca em meio ao prazer.

 

CENA 11/ EXT/ PLANO GERAL

A CAM começa à noite mostrando o Centro Histórico de Santo Antônio Além do Carmo, com suas ruas de paralelepípedos e casarões coloniais iluminados por lanternas. Ao amanhecer, e mostrado o sereno Parque de Pituaçu, onde a luz do sol banha a natureza exuberante. Finalmente, chegamos a Ondina, onde a Clínica de Fertilização Bio in Vitro é destaque sob o novo dia, simbolizando esperança e um futuro promissor em Salvador.

 

CENA 12/ EXT/ EM FRENTE A CLÍNICA BIO IN VITRO/ DIA

Beatriz estaciona o carro em frente à clínica e se prepara para sair. Ao abrir a porta, ela se assusta ao ver Jorge, segurando uma rosa, parado ao seu lado.

 

BEATRIZ

(surpresa)

- Jorge! Oxente homem, cê me assustou.

 

Jorge estendeu a rosa para Beatriz, com um sorriso animado no rosto.

 

JORGE

- Uma rosa e um convite. Fiz uma reserva em um restaurante maravilhoso, cê vai gostar. E também já garantir o nosso chopp. Sei que cê gosta, né mesmo?

 

Beatriz olha para a rosa com um leve sorriso, franze a testa e responde sem graça.

 

BEATRIZ

- Olhe sinto muito, viu? Mas não será possível. Já tenho um encontro marcado.

 

Jorge fecha a cara e desfaz o sorriso, confuso com a resposta de Beatriz.

 

JORGE

(sem entender)

- Como assim? Não tô entendendo. Como cê tem um encontro se estamos juntos?

BEATRIZ

(explicando)

- Mas Jorge, nós saímos apenas uma noite. Não fechamos nenhum compromisso sério. Foi só um encontro casual, nada mais.

JORGE

(confuso)

- Mas... Pensei que estávamos começando algo, que havia um interesse mútuo. Oh Beatriz, não entendo como cê pode sair com outras pessoas.

 

Beatriz sorri gentilmente, tentando acalmar a situação.

 

BEATRIZ

(com calma)

- Oh querido, sinto muito se cê entendeu errado, mas sempre fui clara sobre as minhas intenções. Eu gosto de manter as coisas livres, sem amarras. Não quero um relacionamento sério agora, e deixei isso claro desde o início... Agora se me dê licença, preciso entrar na clínica tenho paciente me esperando. Podemos conversar sobre isso outra hora, vá bem?

 

Beatriz dá um beijo rápido no rosto de Jorge e começa a caminhar em direção à entrada da clínica, deixando-o do lado de fora, ainda abalado e sem entender o que aconteceu.

 

JORGE

(gritando)

- Isso não tá certo, não viu Beatriz? Cê não pode simplesmente brincar com os sentimentos das pessoas assim!

 

Beatriz ergue a mão, acenando para Jorge sem olhar para trás.

 

CENA 13/ EXT/ PORTÃO/ CENTRAL/ DIA

Raimunda chega ao portão do colégio de Laura e espera ansiosamente pela filha. Ela ver quando Laura sai da escola e se aproxima rapidamente.

 

RAIMUNDA

- Oi filha! A paz do Senhor, que Deus lhe abençoe.

LAURA

- Amém minha mãe! Como a senhora tá?

RAIMUNDA

- Eu precisava muito lhe ver, temos que conversar.

 

Laura percebe o olhar preocupado da mãe e para de andar.

 

LAURA

- Oxente mainha, que foi hein? Aconteceu alguma coisa? Rebeca tá bem?

RAIMUNDA

- Sua irmã tá muito bem. É sobre seu pai. Ele tá determinado a casar cê com Kaleb e mandá-la para o exterior.

LAURA

(furiosa)

- É o quê, moça? Como assim? Isso é um absurdo! Em que século painho acha que estamos, me diga? Não vou permitir que me case à força, mas é nunca!

 

RAIMUNDA

- Eu sei meu amor, concordo contigo acho isso um absurdo... Mas Laura, cê sabe o porquê de seu painho tá fazendo isso, não sabe? Tudo que seu pai deseja é que cê volte a seguir o caminho do Senhor. Oh filha, Kaleb é um rapaz bom. Um menino de uma fé admirável, que a gente já conhece desde criança. Seu pai sabe que ele seria um bom marido pro cê. Seu pai só tá pensando nisso, filha.

LAURA

- Não vou me casar com alguém que eu não ame, viu? Não vou me tornar prisioneira de um homem que não escolhi. E outra, eu já sou uma mulher casada. Se esqueceu de Maciel? É ele que amo, é com ele que quero viver, é com ele que quero construir minha família. Será que é tão difícil pro cês entenderem isso, minha mãe?

RAIMUNDA

- Eu lhe entendo, filha. Mas procure entender também, né Laura? A gente não sabe nada sobre esse rapaz, de que família que ele é, o que ele faz da vida. Leva ele lá em casa, apresenta o seu namorado para seu pai. Se seu pai gostar fará o casamento de cês dois.

 

Laura pensa por um momento e olha firme para a mãe.

 

LAURA

- Painho não tem que gostar ou deixar de gostar de nada, essa escolha sou eu que faço. E escolhi tá com o Maciel. Não vou deixar que me imponham um casamento que não quero.

 

Laura dá as costas para Raimunda e começa a se afastar, determinada a seguir seu próprio caminho.

 

RAIMUNDA

- Laura, eu só queria...

LAURA

(interrompendo enquanto virava-se pra Raimunda)

- Não, minha mãe. Já decidi. Eu amo Maciel e é com ele que vou ficar. Espero que um dia a senhora entenda e aceite minha escolha.

 

Laura se afasta rapidamente, deixando Raimunda para trás, com o coração partido. Raimunda olha sua filha se afastar, ficando com os olhos marejados, incapaz de dizer mais alguma coisa.

 

CENA 14/INT/ CASA DOS FERNANDES/ ESCRITÓRIO/ DIA

Eliete entra no escritório, visivelmente indignada, segurando um jornal nas mãos. Genivaldo está sentado à sua mesa, concentrado em alguns desenhos de planta de casa. Eliete vai até ele e mostra a matéria do jornal, que traz uma foto de Giovana e Jana participando de um protesto feminista.

 

ELIETE

(furiosa)

- Olhe Genivaldo, veja bem isso! Olhe que suas filhas tão fazendo!

GENIVALDO

- Diacho! Que foi agora, Eliete? O que tá acontecendo?

 

Eliete estende o jornal, mostrando uma matéria que contém uma foto de Giovana e Jana participando de um protesto feminista.

 

ELIETE

- Dê uma olhada no jornal. Cê não pode achar que isso é normal. Cê sempre deixou Janaína influenciar Giovana, e agora veja no que deu. Minha filha tá se perdendo, se envolvendo com essas más companhias!

GENIVALDO

(olhando o jornal)

- Mas isso é apenas um protesto feminista, não tô vendo nada demais.

ELIETE

(incrédula)

- O demônio tá usando sua mente e cegando seus olhos. Oxente, como cê pode achar normal esse bando de mulher com os peitos de fora fazendo algazarra? Não vou permitir a minha filha no meio dessas pecadoras. Isso é uma influência negativa de Janaína. Sempre alertei que não seria uma boa ideia deixar Giovana morando com ela.

GENIVALDO

- Francamente Eliete, trate de se acalmar. Não vou discutir contigo sobre isso. Jana e Giovana tão apenas exercendo sua liberdade de expressão. Ainda mais diante do que aconteceu com ela.

ELIETE

- Que liberdade de expressão? Isso é libertinagem! Mulheres não devem se comportar dessa forma. E você, como pai, deveria tá era do meu lado, protegendo nossa filha dessas influências erradas! Mas claro né, a pior influência de todas e da sua outra filha. Janaína é a culpada de tudo isso.

GENIVALDO

- Mas que disgrama, gente! Pelo o amor de Deus, Eliete! Vá procurar o que fazer, me deixe trabalhar em paz.

ELIETE

(com desprezo)

- Não pronuncie o nome de Deus em vão. Pois saiba que não vou permitir que minha filha continue envolvida nesse tipo de coisa. Hoje mesmo eu arranco ela daquele antro de perdição. E ai do cê Genivaldo, se tentar me impedir.

 

CENA 15/ INT/ OFICINA DO JORGE/ DIA

Jorge e Roseno estão trabalhando em sua oficina de automóveis. Há carros e ferramentas espalhados pelo ambiente. Jorge está visivelmente triste e desanimado, enquanto Roseno tenta consolá-lo. Roseno está debaixo de um carro, mexendo nas peças, enquanto Jorge está próximo, organizando algumas ferramentas em uma bancada.

 

JORGE

(cabisbaixo)

- Eu fiz tudo certo, Roseno. Reservei um restaurante chique, comprei uma rosa e fui esperar por ela na clínica. Estava todo empolgado, cheio de expectativas. E adivinha o que ela me disse? Que não iria poder sair comigo, pois já tinha um encontro. Tomei um banho de água fria, viu meu brother?

ROSENO

(Tentando animar Jorge)

- É barril cara, nem sei o que lhe dizer. Cê sobrou, né mano véi? Mas relaxa, moço. Você sempre foi galanteador, rodeado de mulheres. Vai ficar triste porque levou um fora? Aproveita a reserva no restaurante e leva outra nega.

JORGE

(olhando desconfiado)

- Ela tá mentindo, Roseno.

ROSENO

(sem entender)

- É o quê, homem?

JORGE

(com convicção)

- É Óbvio! Não há encontro nenhum, ela tá inventando essa história. As mulheres fazem isso, não sabe? Fingem ser difíceis. No nosso primeiro encontro, ela se entregou fácil demais. Agora tá jogando duro. Moço, eu sei o que rolou aquele dia, a gata ficou pirada na minha. Mulher nenhuma esquece assim, não.

ROSENO

(rindo)

- Ó pai, autoestima lá em cima, aí sim é o Jorge que conheço.

JORGE

(decidido)

- Vou tá lá na frente da clínica de novo quando ela sair do trabalho.

ROSENO

(preocupado)

- Olha lá o que cê vai fazer, rapaz.

JORGE

- Vou fazer nada demais. Vou ficar de longe e vou segui-la. Só quero tirar a prova dos noves, se tem outro macho na jogada ou não.

ROSENO

- Sei não,viu? Cê mal conhece essa dona. Já tô achando isso um pouco invasivo.

JORGE

- Relaxa, deixa com o Jorginho aqui. Vou descobrir a verdade por trás desse enigma chamado Beatriz.

 

Jorge se enche de confiança, convencido de que sua decisão é a correta. Roseno fica apreensivo, preocupado com as possíveis consequências da atitude de seu amigo.

 

CENA 16/ INT/ BOUTIQUE DA RAVENA/ TARDE

Laura está em pé diante de Ravena, ambas em um canto da loja. A loja está fazia, não há clientes naquele momento.

 

RAVENA

(curiosa)

- Então, o que de tão importante cê queria me falar?

LAURA

(respira fundo)

- Não vai dá mais pra eu continuar trabalhando aqui. Não queria lhe deixar na mão, mas é que minha vida agora tomou um novo rumo, né? Sou uma mulher casada, tô tentando me estabilizar melhor lá na casa de Maciel. Tentando me adaptar nessa nova rotina. Entende?

RAVENA

(incredulamente)

- Foi ele que pediu pro cê se afastar, não foi?

LAURA

- Não... Maciel só quer que a gente fique bem. Ele tem o serviço dele lá com os queijos que ele tá vendendo, tá ganhando bem. Eu pensei melhor, vou terminar primeiro os meus estudos e depois vou correr atrás de um emprego fixo. Quem sabe futuramente cê não poderia me contratar definitivamente aqui na loja, né mesmo?

RAVENA

(preocupada)

- Eu lhe fixaria com todo prazer, Laura. Cê é uma excelente funcionária. O que me preocupa não é o andamento da loja, e sim sua vida. Esse cara não presta, tenho certeza de que tá envolvido em um monte de coisas erradas.

LAURA

(resoluta)

- Tá não, ele me garantiu.

RAVENA

(com tristeza)

- E cê, acreditou? Oh, meu amor, ele já lhe enganou tantas vezes. E agora, o que ele tá fazendo? Lhe tornando dependente dele.

 

Laura olha para Ravena com uma mistura de incerteza e lealdade ao seu marido, enquanto Ravena expressa preocupação genuína.

 

RAVENA

(continua)

- Eu só quero que cê esteja bem, Laura. Seja cautelosa e não se deixe envolver em coisas perigosas. A gente já conversou tanto sobre relacionamentos abusivos, e tudo indica que cê tá se enfiando em um. Ele já tá vendendo a imagem do marido protetor, e cê se tornando a pobre mulher indefesa, incapaz de viver sem ele.

LAURA
- Nada a ver Ravena, não é nada disso. Eu é que decidi me afastar daqui... Obrigado por tudo o que cê fez por mim. Vou ser sempre grata, cê me ajudou na hora que mais precisei. Mas agora preciso seguir em frente.

RAVENA

- Como queira, boa sorte nessa sua nova vida. Se precisar estarei aqui.

LAURA

- Obrigada!

 

Laura se despede de Ravena com um misto de emoções, enquanto esta a observa partir, preocupada com o caminho que sua amiga está trilhando.

 

CENA 17/ INT/ CASA DA JANA/ SALA DE ESTAR/ TARDE

Eliete entra abruptamente na casa de Jana e vai direto para a sala de estar, onde Giovana está sentada lendo um livro. Eliete está visivelmente irritada e determinada.

 

ELIETE

- Giovana, arrume suas coisas imediatamente. Vamos embora agora mesmo!

 

Giovana olha surpresa para Eliete, sem entender o que está acontecendo.

 

GIOVANA

(confusa)

- Mainha, o que tá acontecendo? Não foi combinado de eu ficar aqui com Jana, até a neném nascer?

ELIETE

(furiosa)

- Cê sabe muito bem o motivo! Eu vi a foto de cê e Janaína no protesto feminista. Não vou permitir que minha filha continue envolvida nesse tipo de coisa!

 

Giovana se levanta, tentando argumentar com Eliete.

 

GIOVANA

(com calma)

- Minha mãe, entenda. O protesto feminista é uma forma legítima de luta por igualdade. Tá sabendo? Eu acredito nessas causas e tô exercendo meu direito de expressão. Não vejo nada de errado nisso.

ELIETE

(horrorizada)

- O diabo já tá lhe fazendo uso!

(impaciente)

- Não quero ouvir suas desculpas. Já tomei minha decisão. Cê vai voltar para casa comigo e se afastar dessas más influências.

GIOVANA

- Eu preciso ligar pra Jana e avisar pra ela.

ELIETE

- Cê não tem que avisar ninguém, sou sua mãe e tô lhe dando uma ordem. Vá pegar logo suas coisas.

 

Giovana, resignada, obedece a sua mãe.

 

1. CENA 18/ EXT/ PLANO GERAL

Iniciamos o dia na serena Lagoa do Abaeté, onde a luz da manhã reflete nas águas tranquilas. Em seguida, exploramos a exuberante Reserva Sapiranga, com sua vegetação da Mata Atlântica sob o sol. Na Praia de Piatã, aproveitamos as águas cristalinas e a sombra das palmeiras. Ao anoitecer, chegamos a Calibar, com suas ruas iluminadas e animada vida noturna.

 

CENA 19/ INT/ CASA DO MACIEL/ SALA DE ESTAR/ NOITE

Maciel e Laura estão sentados à mesa, jantando enquanto conversavam.

 

LAURA

(séria)

- Eu fui lá na loja e conversei com Ravena. Vou me afastar conforme cê me pediu. Só espero que cê faça a sua parte, viu? Não me faça arrepender de ter feito isso.

MACIEL

(acariciando a mão de Laura)

- Massa, cê fez certo. Não se preocupe meu amor, prometo nunca mais lhe levantar a mão. Tamo juntos nessa, e vou fazer tudo pra que sejamos felizes.

 

Em um impulso de emoção, Maciel se levanta da cadeira e caminha até Laura, segurando seu rosto e depositando um beijo cheio de afeto.

 

MACIEL

(alegre)

- A gente vai ser feliz, cê vai ver. Eu quero me casar com cê, tudo certinho no papel e tudo.

 

Porém, o momento de ternura é abruptamente interrompido quando a porta é aberta com violência. Moisés entra na sala acompanhado de um oficial da justiça e dois policiais. Maciel e Laura se levantam rapidamente, surpresos com a presença inesperada.

 

MOISÉS

(ríspido)

- Cê vem comigo, Laura!

LAURA

(atônica)

- Painho? Como o senhor me encontrou aqui? O que tá acontecendo?

 

O oficial, com uma postura rígida, se dirige a Maciel com um olhar acusatório.

 

OFICIAL

- Senhor Maciel Ribeiro, o senhor tem consciência de que essa jovem é menor de idade, não tem?

MACIEL

(gaguejando)

- Eu... Eu sei... Mas acontece que...

 

Antes que Maciel possa concluir sua frase, Laura, aflita, interrompe-o em sua tentativa de argumentar.

 

LAURA
- Eu já vou fazer dezoito anos no fim do ano.

 

Moisés intervém de forma assertiva, com os olhos fixos em Laura.

 

MOISÉS

- Vai fazer, ainda não fez.

OFICIAL

(firme)

- Senhor Maciel, por favor, me acompanhe.

 

A cena se encerra com Maciel sendo conduzido pelos policiais, enquanto Laura e Moisés saem logo atrás.







 




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