JANA
LAURA
GIOVANA
PAULO
RAIMUNDA
MOISÉS
REBECA
RAVENA
MACIEL
CÁSSIA
MAURÍCIO
Participação Especial:
MÉDICA
CENA 01/
EXT/ PLANO GERAL
A
transição de cena começa com a majestosa Ponte Salvador-Itaparica sob o sol
brilhante, passa pela exuberante Reserva Sapiranga e pelo sereno Parque São
Bartolomeu. Um letreiro indica "Quatro Meses Depois". A cena finaliza, com o
brilho do sol refletindo nas águas do mar.
CENA 02/ INT/
CASA DA RAVENA/ QUARTO DO CASAL/ TARDE
Laura está sentada na beira da cama, acariciando sua barriga, que já está volumosa e sinaliza a proximidade do nascimento do bebê. Seu olhar está distante e pensativo. Laura suspira profundamente, sentindo uma mistura de emoções em seu coração, enquanto lembra de Maciel.
[FLASHBACK ON]
CAP 05/ CENA 05/ INT/ CASA DO
MACIEL/ SALA DE ESTAR/ NOITE
Maciel
vai se aproximando de Laura, e lhe abraçando, lhe beijando e lhe fazendo
carinho.
MACIEL
- Larga esse
emprego e vem morar aqui comigo, humm? Eu lhe sustento.
LAURA
- As coisas
não são tão simples assim, Maciel.
MACIEL
- E porque
não, hein? Eu lhe amo, tu me ama, só isso que importa. Eu preciso de você
Laura, tu me faz sentir uma pessoa melhor, não sabe? Sei que já fiz muita
burrada nessa vida, viu. Mas também sei que cê pode me ajudar a me transformar
a ser alguém melhor.
LAURA
- Oh Maciel,
como eu queria ter esse poder, viu?
Maciel
para diante dela, olhando profundamente em seus olhos.
MACIEL
- Mas cê tem,
acredite nisso. Quando tô contigo me envergonho de todas as paradas ruins que
já fiz. Tá entendendo? Vou me enchendo de esperança e já começo a bolar novas
ideias para tentar crescer na vida. Eu quero voltar a estudar, trabalhar e dá
um jeito na minha vida. Oh minha linda, vamo curtir nós dois, vamo?... Vamo ser
feliz juntinho, daquele jeito que a gente sempre sonhou? Eu preciso de cê do
meu lado, Laura. Entende?
LAURA
(beijando
Maciel)
- Eu vou tá
sempre do seu lado, pode contar comigo.
[FALSHBACK
OFF]
Continuação
CENA 01/ INT/ CASA DA RAVENA/ QUARTO DO CASAL/ TARDE
De volta ao presente, Laura volta a si, com os
olhos marejados de lágrimas. Ela suspira, sentindo uma mistura de saudade e
tristeza.
LAURA
(sussurrando)
- Maciel... O que cê fez? Eu
deveria odiá-lo... Mas não consigo. Ainda sinto algo por ele, mesmo depois de
tudo o que aconteceu.
Laura se levanta da cama e caminha até a janela, olhando para fora, enquanto a brisa suave acaricia seu rosto. Ela está lutando internamente, entre seguir em frente e dar uma chance para um novo começo ao lado de Ravena, ou permitir que os sentimentos por Maciel a prendesse ao passado.
CENA 03/
INT/ SUPERMERCADO/ TARDE
Giovana e Jana caminham juntas pelos corredores
do supermercado, empurrando o carrinho de bebê onde Maria está confortavelmente
acomodada. Os corredores estão movimentados, com pessoas fazendo suas compras e
escolhendo produtos das prateleiras.
JANA
- A fralda de Maria estava de
promoção. Se ainda estiver quero levar pelo menos uns cinco pacotes. Essa
menina gasta fralda demais. Ah!... Não me deixa esquecer do mucilon, o que
tinha lá em casa já acabou.
Giovana pega o pacote de Mucilon da prateleira e o coloca no carrinho, conferindo a lista para garantir que não esqueceria de nada.
GIOVANA
- Estou seguindo a listinha do
jeito que cê escreveu. O mucilon já tá aqui.
Giovana e Jana estão imersas em uma conversa
animada enquanto escolhiam os produtos. Ao passarem por uma seção, encontram
Raimunda, que está acompanhada de Rebeca.
GIOVANA
(sorridente)
- Dona Raimunda! Tudo bem?
RAIMUNDA
(surpresa)
- Giovana! Janaína! Que bom ver cês
por aqui! Tô bem, obrigada. E como tão as coisas com cês? E essa neném linda,
já tá é grande, hein?
Rebeca fez uma careta, balançando a cabeça em
desaprovação enquanto observava Maria.
REBECA
- Oxe, mas ela tá grande não mainha,
ela nem consegue andar.
(virando-se pra Maria)
- Como cê tá, menininha?
Rebeca vira-se novamente para Raimunda e olha
para ela com curiosidade.
REBECA
- Viu? Também não conversa.
JANA
(rindo da ingenuidade de Rebeca)
- Ela é nenezinha, não fala ainda.
REBECA
- Nossa, deve ser muito triste.
RAIMUNDA
- Rebeca filha, fique quietinha!
Sua filha é linda viu Janaína? Nem parece que foi gerada da forma que foi, né?
Irmã Eliete me falou sobre a sua história, tudo o que aconteceu. Quem é mesmo o
pai dessa menina?
Jana sente-se incomodada com a pergunta e olha
para o lado, respirando fundo. Depois volta a olhar para Raimunda.
JANA
- Acho a minha história um tanto
delicada demais, pra eu ficar discutindo dentro de um supermercado, com uma
pessoa que mal conheço, não acha?
Jana dá um leve empurrão no carrinho e continua
pelo corredor, afastando-se de Raimunda.
JANA
- Com licença, preciso terminar as
minhas compras.
RAIMUNDA
- Desculpe, não queria lhe ofender.
Jana para por um instante, volta-se para
Raimunda e responde com firmeza.
JANA
- Mas ofendeu. Da minha vida e da
minha filha, cuido eu. Com licença!
RAIMUNDA
(preocupada)
- Que Deus lhe abençoe. Meu Deus,
eu não quis ser invasiva.
GIOVANA
- Jana, vou só falar um negócio com
dona Raimunda aqui já lhe encontro.
JANA
- Lhe espero no açougue.
GIOVANA
- Certo! Venha cá Dona Raimunda,
senhora tem notícia de Laura?
RAIMUNDA
- Não. Moisés me proibiu de ver
ela. Cê tem noticia dela, filha? Sabe me dizer como ela tá?
GIOVANA
- A gente tem falado pouco, mas ela
tá bem. A senhora sabe me responder se ela já ganhou neném?
A expressão de Raimunda muda para uma mistura
de choque e preocupação.
RAIMUNDA
(surpresa)
- É o quê? Laura tá grávida? Mas
como?... Não sabia! Por que ela não me contou? Meu Deus, minha filha sozinha em
uma hora dessas.
Giovana baixa os olhos, sentindo-se culpada por
ter revelado a informação.
GIOVANA
- Talvez ela não quisesse lhe
contar... Acho que até falei demais. Mas enfim, acho que a senhora merecia
saber, né?
RAIMUNDA
(olhos marejados)
- Eu preciso ver minha filha!
Raimunda fica com uma expressão de preocupação
e tristeza ao ouvir as palavras de Giovana. Rebeca, curiosa, puxa a manga da
mãe.
REBECA
(murmurando)
- Mainha, o que tá acontecendo?
RAIMUNDA
(suave)
- Nada, meu amor. Só estamos
conversando sobre assuntos de adultos.
Giovana olha para Raimunda com compaixão.
GIOVANA
- Bem, vou ver lá ver se encontro Jana.
Raimunda sorri levemente, mantendo o semblante
de preocupada.
RAIMUNDA
(agradecida)
- Obrigada, Giovana.
CENA 04/
INT/ SUPERMERCADO/ AÇOUGUE/ TARDE
Jana chega ao balcão do açougue, distraída, e
começa a olhar as opções de carne disponíveis. Ela não percebe imediatamente
quem está atendendo, mas logo reconhece a voz.
JANA
(distraída)
- Boa tarde, poderia me dar meio
quilo de alcatra, por favor?
PAULO
(emocionado)
- Jana... Que bom ver você!
Ao levantar o olhar, Jana fica surpresa ao ver o rosto de Paulo do outro lado do balcão. Ela fica momentaneamente sem reação, enquanto Paulo a observa com um misto de surpresa e emoção ao ver Maria no carrinho.
JANA
(surpresa)
- Pa... Paulo?
Paulo se agacha em frente ao carrinho de Maria. Estendendo a mão ele toca suavemente o rosto de Maria, sorrindo com ternura.
PAULO
- Então essa é sua filha? Ela é muito linda!
Jana, ainda processando a surpresa, olha para
Paulo com um misto de emoção e cautela.
JANA
- O nome dela é Maria.
PAULO
(encantado)
- Olhe só... Maria... Ela é linda,
Jana.
Jana assente, sentindo uma mistura de emoções se agitarem dentro dela.
JANA
(suave)
- Cê não tava no Mato Grosso?
PAULO
- Tive que voltar, as coisas
não estava dando muito certo por lá.
JANA
- E o taxi?
Paulo baixa o olhar, demonstrando tristeza e
arrependimento.
PAULO
- Eu tive que vender o taxi. Tive
uns problemas aí com a bebida. Meu aluguel também estava atrasado, outras
contas pra pagar... Tenho apenas uma semana trabalhando aqui, ainda tô na
experiência. Não sei bem ainda o que vou fazer de minha vida.
JANA
(estranhando)
- Problemas com bebida? Oxente Paulo, cê nunca foi de beber?
PAULO
(com sinceridade)
- Na verdade a bebida, foi só
uma desculpa que usei pra justificar a desgraça que se tornou minha vida.
Jana olha para Paulo com compaixão e, ao mesmo
tempo, com cautela.
JANA
- Sinto muito, não sabia que
cê tava passando por tantos problemas.
PAULO
(assentindo)
- Tô pagando pelo os meus
pecados, né mesmo?
Jana olha para Paulo, pensativa.
JANA
(resoluta)
- Talvez. Agora tenho que ir,
Maria tá toda mijada preciso trocar a fralda dela.
Paulo olha para Jana, com os olhos marejados.
PAULO
- Cê deve tá curtindo muito a
maternidade, hein?
JANA
(com os olhos brilhando)
- Maria foi uma benção em minha
vida.
PAULO
(ressentido)
- Jana, sinto muito por tudo
que aconteceu entre nós. As brigas, as mágoas, a forma que a coisa se conduziu...
Se eu pudesse voltar atrás faria tudo diferente.
JANA
- Que pena, né Paulo? Mas
ainda não inventaram a máquina do tempo, né? Passe bem!
Jana pega o pacote de carne que havia
selecionado e coloca-o cuidadosamente em sua sacola de compras. Ainda com uma
mistura de emoções em seu rosto, ela se afasta do balcão do açougue, olhando
uma última vez para Paulo. Seus olhos refletem uma combinação de tristeza, nostalgia
e cautela.
CENA 05/
EXT/ PLANO GERAL
A
transição de cena começa com um cenário diurno ensolarado e vibrante, com o sol
alto no céu. Gradualmente, o sol começa a se pôr, enchendo o céu com tons de
laranja e rosa, e as sombras se alongam. À medida que a noite cai, as estrelas
aparecem no céu, transformando a cena em uma paisagem noturna serena e
estrelada.
CENA 06/INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ QUARTO DO CASAL/ NOITE
Raimunda está deitada em sua cama, perdida em
seus pensamentos. Uma mistura de emoções a invade, e ela não consegue conter as
lágrimas. Ela olha para Moisés, que está dormindo ao seu lado, e decide
levantar. Com cuidado para não acordá-lo, Raimunda se levanta devagar, pegando
uma nova roupa que está separada para vestir.
CORTA PARA:
CENA 07/ INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ QUARTO DA REBECA/ NOITE
Raimunda agora está no quarto de Rebeca. Ela se
aproxima da cama onde Rebeca está dormindo tranquilamente. Raimunda acaricia
suavemente os cabelos da filha, que está dormindo.
RAIMUNDA
(sussurrando)
- Lhe amo, viu minha pequena? Mainha
volta logo.
(olhando para o nada)
- Preciso saber como tá sua mana.
Raimunda se inclina e dá um beijo suave na
testa de Rebeca, antes de sair silenciosamente do quarto. Ela fecha a porta
atrás de si.
CENA 08/ INT/
CASA DA JANA/ SALA DE ESTAR/ NOITE
Jana está sentada no sofá da sala, segurando o
telefone com uma expressão pensativa.
CÁSSIA
(off)
- E você?... Como cê reagiu?
Como cê se sentiu?
JANA
- Olhe Cássia, nunca tive tanta noção da distância da separação que
existe entre a gente. E ao mesmo tempo senti Paulo tão perto, tão querido.
Distância e proximidade, essas duas coisas se alternando em minha cabeça o
tempo todo...
Jana passa a mão pelos cabelos, tentando
organizar seus pensamentos enquanto falava.
JANA
- Eu ficava imaginando que
tudo isso era um pesadelo e que na verdade ele sempre teve aqui comigo. Oxe, tinha
vontade de abraçá-lo, beijá-lo e trazê-lo pra casa e a gente não tocar mais
nesse assunto...
Enquanto fala, Jana levanta-se do sofá e começa
a andar pela sala.
JANA
- Por um instante fiquei
calada, só o ouvindo ele falar. Não dá né? Não tem como fingir que nada
aconteceu... Decidi simplesmente vim embora.
CENA 09/ INT/
APT DA CÁSSIA/ COZINHA/ NOITE
Cássia também está em seu apartamento,
segurando o telefone com uma expressão preocupada. A cena se alterna entre as
duas.
CÁSSIA
- Oh nega, cê tem que pensar
com calma, né? Ver direitinho o que cê quer. Será que não tá na hora de deixar
as mágoas pra trás e se juntarem pra criar Maria?
Jana fecha os olhos por um instante, tentando
controlar a enxurrada de sentimentos que a inunda.
JANA
- Ah, tem muita mágoa entre a
gente ainda. Quando eu penso que por ele eu estaria sem minha filha agora... Ah
esse desejo de ter Paulo de volta, existe. Até pensava que não existia, mas
existe. Estava ali na frente dele e olhando pra ele. Cássia, eu não sabia bem o
que dizer, nenhum gesto a fazer.
CÁSSIA
- Mas Jana, acho que cê não
pode...
Cássia tenta argumentar, mas Jana a
interrompeu, sua voz cheia de emoção.
JANA
- No fundo, no fundo Cássia, o
que queria mesmo era apagar tudo. Queria voltar pra trás, queria voltar no
tempo... Não tô sabendo lidar com nossa história desse ponto em que ela está.
Não sei, simplesmente não sei de mais nada. Vou cuidar aqui, depois a gente se
fala mais, viu nega?
CÁSSIA
- Tá certo, tenha uma boa noite!
CENA 10/ INT/
CASA DA RAVENA/ NOITE
Ravena abre a porta e se depara com Raimunda do
outro lado. Um misto de surpresa e preocupação toma conta dela ao ver Raimunda
tão próxima.
RAVENA
- Oxente, Dona Raimunda! Como a
senhora tá?
Raimunda, ao notar Laura ao longe com seu barrigão
de grávida, se emociona e corre em direção à filha, abraçando-a com ternura.
RAIMUNDA
(emocionada)
- Oh minha filha, como senti sua
falta! Olhe só pro cê, tão linda com esse barrigão. Fiquei sabendo pela Giovana
que cê tá grávida. Eu... eu não sabia o que fazer, precisava lhe ver.
Laura, um pouco repreensiva, solta-se do abraço
de Raimunda e olha para ela com um olhar sério.
LAURA
(com firmeza)
- Giovana não deveria ter lhe
contado nada. Ela não tinha esse direito, não era pra vocês ficarem sabendo.
Raimunda baixa a cabeça, compreendendo o
desapontamento de Laura. Sua expressão se enche de remorso.
RAIMUNDA
- Desculpa, minha filha. Laura, cê
vai ser mãe, cê não quer que eu esteja perto do cê nesse momento?
Ravena, que está ao lado observando a cena,
permanece em silêncio, dando espaço para mãe e filha conversarem. Laura respira
fundo, tentando controlar suas emoções, e olha para Raimunda com um olhar mais
suave.
LAURA
- Claro que quero. Tudo o que queria
era a senhora ali do meu lado na hora da minha filha nascer. Só que nós duas
sabemos que as coisas não são tão simples assim, né mesmo minha mãe. Painho já
lhe proibiu de me ver.
RAIMUNDA
- Vou dá um jeito de tá com cê na
hora do parto, filha.
(pensando por um momento)
- Mas venha cá, Laura. E o pai da
criança, ondé que tá?
Laura respira fundo e olha para Ravena,
transmitindo uma mensagem silenciosa.
LAURA
- Minha filha não tem pai, ela tem duas mãe. A Ravena é a outra mãe de minha
filha.
Raimunda arregala os olhos, surpresa. Ela
balança a cabeça em descrença, incapaz de aceitar o que acabara de ouvir.
RAIMUNDA
- Oxente, mas isso não pode, isso é pecado grave. Misericórdia, como duas
mulheres podem ter filhos?
Ravena, com serenidade, intervém na conversa,
buscando esclarecer as coisas.
RAVENA
- Laura fez inseminação, dona
Raimunda. O filho que ela tá esperando, é meu.
Raimunda fica atônita, incapaz de assimilar
completamente a informação. Ela balança a cabeça em negação.
RAIMUNDA
- Inseminação? Então essa criança
foi fabricada em laboratório? Oh Laura, isso não tá certo, filha. Pelo o amor
do nosso Senhor Jesus Cristo isso é um pecado muito grave.
Laura, sentindo-se pressionada e
incompreendida, eleva o tom de voz em resposta.
LAURA
- E o que a senhora sugere? Que eu
mate meu filho agora?
Raimunda se assusta com a intensidade da
resposta de Laura, levando a mão ao peito em choque.
RAIMUNDA
- Deus me livre, Laura, eu nunca lhe sugeria isso. Meu Deus, tô atordoada, não
sei mais o que pensar. Como cê deixou as coisas chegarem a esse ponto, minha
filha? Meu Deus, nem sei o que o seu pai poderá fazer se ficar sabendo disso.
LAURA
(firme)
- Painho não vai ficar sabendo de
nada, porque a senhora não vai contar, né mesmo? Ou esqueceu que ele lhe proibiu
de me procurar? Tô feliz, tô com uma pessoa que me ama e vou ter um filho.
Porque é tão difícil pra senhora entender isso? Meus Deus, mainha, a vida é
minha! Só me deixe ser feliz.
RAIMUNDA
- Tá certa. Não tem mais nada que
possamos fazer. Heim filha, ainda quero tá ao seu lado quando seu filho nascer,
viu?
LAURA
- Filha!É uma menina.
Raimunda se aproxima de Laura, com as mãos
trêmulas de emoção, e acaricia carinhosamente a barriga da filha.
CENA 11/ INT/
APT. DA CÁSSIA/ QUARTO/ NOITE
Cássia caminha silenciosamente pelo quarto até chegar
à cama onde Maurício está dormindo. Ela se aproxima dele e o abraça com
ternura, acariciando seu rosto.
CÁSSIA
(sussurrando)
- Maurício...
Maurício acorda lentamente, ainda sonolento, e
sorri ao ver Cássia ali.
MAURÍCIO
(suave)
- Oi, minha linda! O que é? Aconteceu alguma coisa?
Cássia se afasta um pouco e olha para Maurício
com um olhar provocador.
CÁSSIA
(maliciosa)
- Aconteceu algo sim, mas acho que cê
pode resolver. Olhe bem pra mim, a camisola nova que comprei.
MAURÍCIO
- Muito linda! Aliás, cê é sempre
linda de qualquer forma.
Cássia pega a mão de Maurício e a conduze
gentilmente pelo seu corpo, guiando seus dedos pela cintura até chegar aos seus
seios. Cássia fecha os olhos, sentindo o desejo aflorar em seu ser. No entanto,
Maurício recua a mão abruptamente.
MAURÍCIO
- Cássia! Me perdoe, mas não posso...
Cássia fica frustrada e suspira, afastando-se
de Maurício.
CÁSSIA
(resignada)
- Tudo bem. Por favor, me perdoe,
sei que não devia. Mas é que... Enfim, me desculpe. Vou ao banheiro.
Maurício observa Cássia se afastar, sentindo-se
culpado por não poder satisfazer plenamente suas necessidades naquele momento.
CENA 12/
INT/ APT. DA CÁSSIA/ BANHEIRO/ NOITE
Cássia entra no banheiro, fechando a porta
atrás de si, buscando um momento de privacidade. Ela olha para o espelho,
respira fundo e tenta acalmar suas emoções, refletindo sobre a situação.
CÁSSIA
(sussurrando para si mesma)
- Se ele não me quis, é porque
ainda gosta dela. Ele ainda gosta de Dra. Beatriz.
Cássia lava o rosto, permitindo que a água fria
acalme seus pensamentos, tenta encontrar uma forma de lidar com a frustração e
a insatisfação sexual que a consumia.
CÁSSIA
- Ai meu Deus! Até quando vou
aguentar isso? Sei que não é culpa dele, nem minha. Oxente, hoje queria tanto.
Cássia enxuga o rosto, buscando recuperar sua
tranquilidade interior. Ao olhar para o lado, ela ver o bidê pendurado e tem
uma ideia. Ela o pegou e dá uma apertada, deixando a água ser lançada. Rapidamente
ela tira a sua calcinha e senta na privada. Abaixa o bidê entre as pernas e se
masturba.
CENA 13/ INT/
CASA DOS SIRQUEIRAS/ QUARTO DO CASAL/ NOITE
Raimunda entra no quarto silenciosamente e
observa Moisés, que continua dormindo tranquilamente na cama. Um suspiro de alívio
escapa de seus lábios enquanto ela se aproxima da cama, ajoelhando-se ao lado
dela.
RAIMUNDA
(sussurrando, em tom de prece)
- Obrigada, meu Deus, por me ajudar
a ir e voltar sem ser notada. Sou grata por esta oportunidade de ver minha
filha e de me reconciliar com ela. Mas, ao mesmo tempo, lhe peço perdão, viu?
Sinto-me uma mulher desleal, traindo a confiança de Moisés.
Raimunda fecha os olhos e suas mãos se unem em
frente ao peito enquanto ela continua sua oração, expressando seus sentimentos
e arrependimento.
RAIMUNDA
(em voz baixa)
- Sei que errei, que fui fraca e
cedi às emoções. Peço-lhe perdão e forças para seguir em frente. Meu coração tá
dividido por demais, preciso ser obediente ao meu marido. Mas também não posso
deixar minha filha em um momento tão crucial. Oh meu Deus, será que é tão
errado assim uma mãe querer ajudar sua filha?
Raimunda permaneceu de joelhos por mais alguns
instantes, em silêncio, buscando paz e clareza em sua mente.
CENA 14/
EXT/ PLANO GERAL
Gradualmente,
a escuridão começa a se dissipar à medida que uma tênue luz azul começa a
surgir no horizonte. À medida que o tempo passa, a luz aumenta, revelando
gradualmente os contornos da paisagem. O céu escuro se transforma em tons de
azul claro, e os primeiros raios de sol começam a aparecer no horizonte. As
sombras da noite são substituídas pela luz suave da manhã, e a cena se
transforma completamente de noite para dia.
CENA 15/ INT/ CASA DA RAVENA/ QUARTO/ DIA
Laura está sentada na cama, com uma expressão feliz
e ao mesmo tempo preocupada, enquanto Ravena está deitada ao seu lado. O
ambiente está tranquilo, iluminado pela luz do dia que entra pela janela.
LAURA
- Ravena, fiquei tão feliz em ver
mainha. Foi um momento tão especial, sabe? Ela ter saído da casa dela de madrugada
e vim aqui me ver. Nunca que esperaria. Mas tô preocupada com meu pai. Tenho
medo de como ele pode reagir se descobrir que mainha esteve aqui.
Ravena se senta na cama, virando-se para
encarar Laura. Seu rosto está sério, demonstrando determinação.
RAVENA
(firme)
- Laura, também fiquei contente com
a visita de sua mãe e com o momento entre cês duas. Mas tenho que lhe dizer uma
coisa. Não vou admitir a presença de seu pai aqui. Nossa casa é um lugar de
respeito, livre de qualquer forma de machismo e preconceito. Não vamos permitir
que nossa filha conviva com um homem machista como ele.
LAURA
(decidida)
- Não, cê tá certa. Não vou deixar
meu pai fazer com minha filha, o mesmo que fez comigo. Não quero que nossa
filha cresça em um ambiente onde o machismo prevalece. Mas, ao mesmo tempo,
sinto muita falta de mainha, viu? Ela é minha mãe, desejo muito que ela esteja
presente nesse momento.
RAVENA
(suavizando)
- Oxe, claro, meu amor. Sua mãe
pode vim aqui quando ela bem quiser.
(rindo)
- E também na hora que ela bem quiser.
Lembro quando cê me contou que ele saiu lhe arrastando pelas as ruas, como se cê
fosse uma coisa, uma propriedade dele. Lembro também quando esteve aqui em
casa, cheio de moral querendo invadir tudo. Minha filha não vai conviver com
esse homem. Ou melhor, nem com ele e nem com homem nenhum. Sua mãe é uma pessoa
importante em sua vida, e não vou negar a importância dela pro cê e para nossa
filha. Mas vamos encontrar uma maneira de conciliar isso, garantindo também que
a presença de sua mãe não prejudique os princípios que acreditamos.
Laura fica um pouco receosa com as palavras de Ravena.
CENA 16/ INT/
CASA DA JANA/ SALA DE ESTAR/ TARDE
Paulo bate à porta e Jana, surpresa, abre para
recebê-lo. Ambos estão visivelmente tensos com o encontro.
JANA
(ao abrir a porta)
- Paulo? Mas que cê faz aqui?
PAULO
- Pensei, repensei e criei coragem
pra vir até aqui.
JANA
- Entra!
Paulo adentra a sala de estar e Jana o
acompanha, fechando a porta atrás deles.
PAULO
(com sinceridade)
- Errei muito contigo, Jana. E queria
muito consertar tudo isso. Me dê mais uma chance, vamos criar nossa filha
juntos.
JANA
(surpresa)
- Nossa filha?
PAULO
- Fiquei possesso por lhe ver
grávida de outro homem, sabendo que não poderia dar o filho que cê tanto
desejava, né?
JANA
- Cê exigiu que eu matasse minha
filha, Paulo. Cê tem noção da gravidade disso?
PAULO
- Eu sei, hoje entendo que o que
lhe pedi foi uma insanidade. Fui um babaca, um egoísta. Sinto muito sua falta,
Jana.
JANA
(com dor)
- Dez anos de casados não são dez
meses, né Paulo? Temos uma história. Dez anos em que lutei pra conseguir
engravidar. E quando finalmente engravidei, cê me pede... Ou melhor, exige que
eu mate a criança que carrego no ventre.
PAULO
- Não é matar. Só sugeri isso por
causa da condição em que cê engravidou.
JANA
- Não importa a condição, era uma
vida crescendo dentro de mim. Olhe pra a Maria agora. Cê queria que eu matasse
aquela criança, só porque o homem que a gerou não presta!
Paulo olha pra Maria que está sentada no
carrinho.
PAULO
- Não importa quem a gerou. Eu sou
o pai dela. Me permite corrigir o erro que cometi. Quero reconhecer essa menina
como minha filha, quero dar meu nome a ela. Mesmo que cê nunca me perdoe, nunca
queira mais nada comigo. Mas me deixe ser pai dela?
JANA
(emocionada)
- Como queria ter ouvido isso lá
atrás. Preciso pensar sobre tudo isso. Por favor, me deixe sozinha com minha
filha.
PAULO
- Tudo bem, lhe entendo. Posso
apenas dar um abraço e um beijo nela?
JANA
- Claro.
Paulo se aproxima de Maria, abraçando-a com
ternura e depositando um beijo carinhoso em seu rosto.
PAULO
(emocionado)
- Sou seu painho, viu? Nunca
esqueça disso. Sou eu, seu painho.
Jana observa a cena com um misto de emoções,
sentindo a complexidade das circunstâncias e a possibilidade de uma
reconciliação dolorosa.
CENA 17/ INT/
CASA DA RAVENA/ QUARTO DO CASAL/ TARDE
Laura está no quarto, organizando suas coisas
para a ida à maternidade, quando de repente, sente as primeiras contrações. Ela
solta um grito de dor e rapidamente, Ravena entra no quarto, preocupada.
RAVENA
- Laura, que houve?
LAURA
- São contrações, Ravena! Acho que
o momento chegou!
Ravena se aproxima de Laura e a ajuda a se
levantar, cuidadosamente.
RAVENA
- Calma, meu amor, tô aqui com
cê, viu? Não se aperrei, te acalme. Precisamos ir pro hospital. Mas fique
tranquila que é assim mesmo.
Laura, segurando sua barriga, caminha com
dificuldade até a porta do quarto. Ravena a ampara, oferecendo apoio emocional
e físico.
LAURA
- Ai! As contrações tão ficando
mais intensas, Ravena!
RAVENA
- Respire fundo, Laura. Tô aqui ao
seu lado, cê não tá sozinha. Vai dá tudo certo, meu amor.
Ravena ajuda Laura a entrar no carro e, com
cuidado, acomoda-a no banco do passageiro. Ela corre para o lado do motorista e
rapidamente dá partida no veículo, seguindo em direção ao hospital.
CENA 18/ INT/
CASA DOS SIRQUEIRAS/ COZINHA/ TARDE
Raimunda está lavando a louça na pia,
concentrada em suas tarefas diárias. De repente, um pressentimento a invade e
ela deixa os pratos escorregarem da sua mão, fazendo um barulho ao caírem no
balcão da cozinha. Moisés, que está por perto, se aproxima, curioso.
MOISÉS
- Que foi isso mesmo, hein Raimunda?
RAIMUNDA
- Foi nada varão, apenas um
descuido.
Raimunda olha fixamente para o chão, perdida em
seus pensamentos. Algo a inquieta profundamente, mas ela não revela o motivo
para Moisés.
MOISÉS
- Tem certeza, mulher? Tá aí toda
atordoada!
RAIMUNDA
- Tô bem, já lhe disse que não foi
nada. Só preciso de um momento pra mim.
Raimunda enxuga as mãos rapidamente em um pano
de prato e, com um olhar decidido, deixa a cozinha em direção ao quarto.
CENA 19/ INT/
CASA DOS SIRQUEIRAS/ QUARTO/ TARDE
Raimunda fecha a porta do quarto atrás de si e
caminha em direção a sua cama. Ela se ajoelha diante dela, em uma postura de
oração.
RAIMUNDA
- Senhor, sinto que algo não tá
certo. Minha alma tá inquieta e meus pensamentos tão confusos. Peço-lhe
discernimento e orientação. Ajude-me a compreender o que tá acontecendo e a
tomar as decisões corretas.
Raimunda fechou os olhos e mergulha em suas
orações, buscando clareza e paz em seu coração.
CORTA PARA:
CENA 20/ INT/
HOSPITAL/ SALA DE PARTO/ NOITE
Laura está deitada na cama, com expressões de
dor enquanto está em trabalho de parto. Ravena está ao seu lado, segurando sua
mão e oferecendo apoio emocional.
RAVENA
- Cê tá indo tão bem, Laura.
Seja forte, meu amor. Estamos quase lá.
A médica está posicionada à frente de Laura,
pronta para auxiliar no parto, guiando-a e oferecendo instruções.
MÉDICA
- Isso mesmo, Laura. Faça força, cê
tá quase lá. Respire profundamente e solte.
Laura se concentra, respirando profundamente
conforme as instruções da médica. Após alguns momentos de esforço intenso,
finalmente, o choro de um bebê enche a sala de parto.
RAVENA
- Olhe, meu amor! Nossa
Pandora chegou! Ela é perfeita, assim como cê.
A médica segura a recém-nascida e a limpa
delicadamente, antes de colocá-la nos braços de Laura. A emoção toma conta de
todos no ambiente.
LAURA
(emocionada)
- Pandora... Minha filha! Tão
perfeita!
Laura segura a pequena Pandora, olhando-a com amor e admiração. As lágrimas escorrem por seu rosto, transbordando felicidade e gratidão.
CENA 21/
EXT/ PLANO GERAL
A
transição de cena começa à noite em Ondina, com as ondas suaves do mar e a lua
no céu estrelado. À medida que a CAM se move em direção ao mar, a cena fica
escura por um momento. Então, o dia nasce gradualmente, transformando o céu de
escuridão em tons de laranja e rosa. A praia de Ondina ganha vida à medida que
as pessoas aparecem para aproveitar o sol. A cena termina mostrando a fachada
da clínica de fertilização "BIO in Vitro".
CENA 22/ INT/
CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA
Jana e Cássia estão sentadas na recepção da
clínica, conversando enquanto trabalhavam.
CÁSSIA
- E agora? Cê tá pensando em dar mais
uma chance a ele?
JANA
- Paulo me magoou muito,viu Cássia? Ele me abandonou no momento em que
mais precisei dele. Não sei se consigo perdoá-lo... Mas ver ele ali brincando
com Maria, chamando-a de filha, encheu meu coração de alegria. É a cena que
esperei durante dez anos. Eu, ele e nossa filha. Nunca desejei outro pai pra
meus filhos além dele. Paulo foi meu primeiro e único amor.
CÁSSIA
- Então, dê mais uma chance a esse
amor, nega. É verdade que ele errou, fez um papel ridículo. Mas se agora tá
arrependido, talvez seja a chance de cês recuperarem o que ficou pendente. Não
acha?
JANA
- Ainda é cedo para perdoá-lo.
Preciso trabalhar esse turbilhão de sentimentos que se formou dentro de mim.
CÁSSIA
- Cê tá certa. Mas quer um
conselho? Deixa ele manter a convivência com Maria. Será bom pra ela ter a
figura paterna por perto.
JANA
- Vou fazer isso. Afinal, ele é sim
pai dela, né?
CENA 23/ INT/
HOSPITAL/ LEITO/ DIA
Laura está deitada em seu leito, dando de mamar
para Pandora. Enquanto olha para sua filha, ela se emociona e acaricia sua
pequena mãozinha.
LAURA
(emocionada)
- Olhe só, minha filha. Essas
mãozinhas pequeninas... Como cê é perfeita. Nem parece que saiu de dentro de
mim.
Ravena está ao lado de Laura, observando a cena
com ternura.
RAVENA
- Ela é linda, Laura. E cê ficou
mais linda ainda sendo mãe.
LAURA
(entristecendo)
- Às vezes, fico pensando... Se não
tivesse feito aquele aborto, como seria? Será que aquela criança seria tão
perfeita quanto essa? Fui covarde, viu Ravena? Assim como mantive essa
gravidez, também poderia ter mantido a outra.
Ravena se aproxima e segura a mão de Laura,
tentando confortá-la.
RAVENA
- Laura, não se torture com esses
pensamentos. Cê tomou uma decisão difícil naquele momento, baseada nas
circunstâncias que enfrentava. Não podemos mudar o passado. Foi o melhor,
acredite... O importante é que agora cê tem Pandora, a nossa filha que tá aqui
com cê. E a gente vai encher ela de amor e carinho. Não fica pensando bobagens,
era apenas um feto. Aquela criança ainda não existia.
Laura olha para Ravena com lágrimas nos olhos.
LAURA
- Existiu sim, e ao invés de
protegê-la eu a matei. Eu tive muito medo, me senti muito sozinha. Não sabia
como seria minha vida, sendo mãe. Por um pouco quase não matei Pandora.
RAVENA
- Oxente, mas que isso Laura? Meu amor não se torture assim. As coisas
aconteceram como deveriam acontecer, viu? Não se perde em arrependimentos. Cê
não teve culpa de nada.
LAURA
- Tá certo, passou né? Devo me
concentrar no presente e no amor que tenho pela minha filha. Pois agora não
tenho mais medo de nada, enfrentarei o mundo se for preciso pra defendê-la.
Ravena sorri passando a mão na cabeça de
Pandora com sentimento de posse.
RAVENA
- Nossa filha, Pandora é nossa
filha.
Laura olho sem graça para Ravena.
LAURA
- Claro, nossa filha!
CENA 24/ INT/
CASA DOS SIRQUEIRAS/ QUARTO DO CASAL/ TARDE
Raimunda está no quarto, separando algumas
coisas e organizando-as em uma bolsa. A bolsa repousa sobre a cama, enquanto
Rebeca observa curiosa ao lado.
REBECA
(curiosa)
- Mas mainha, por que tenho que
ficar na casa de tia Ester?
RAIMUNDA
- Já lhe expliquei, minha filha.
Mainha precisa ir ao hospital. Uma amiga de mainha teve um neném e vou levar
essas coisas pra ela.
REBECA
- Mas queria ver o neném!
RAIMUNDA
- Mas crianças não podem entrar em
hospitais, meu amor.
REBECA
- Oxe mainha, e como o neném de sua
amiga tá lá?
RAIMUNDA
- Ah, Rebeca, não me faça perguntas
complicadas! Cê vai ter que ficar na casa de tia Ester, e pronto. Oxe!
Moisés entra no quarto e flagra Raimunda
separando as coisas.
MOISÉS
- Que coisas são essas, mulher? Pra
onde cê tá indo?
REBECA
- Mainha tá indo ao hospital
visitar o neném!
Raimunda tenta desconversar, sentindo-se
nervosa com a presença de Moisés.
RAIMUNDA
(nervosa)
- É para uma amiga minha, varão. Tô
levando essas coisas pra ela.
MOISÉS
(estranhando)
- Amiga? Que amiga é essa? É alguém
da igreja? Não me lembro de nenhuma mulher grávida na igreja.
Raimunda fica ainda mais nervosa e começa a
fechar o zíper da bolsa apressadamente.
RAIMUNDA
- Ai, Moisés, tantas perguntas! É
só uma amiga que precisa de ajuda, e pronto. Ela não é da igreja, é uma parente
de irmã Ester.
MOISÉS
(desconfiado)
- Olhe pra mim, Raimunda.
Raimunda vira-se para Moisés.
MOISÉS
- Lábios mentirosos são abomináveis
ao Senhor. Cê não sabe mentir, mulher. Tá claro que o que tá dizendo não é
verdade. Agora me diga! Quem e fato tá no hospital? Ou não é no hospital que cê
tá indo?
Raimunda para por um instante, as lágrimas
começam a se formar em seus olhos.
RAIMUNDA
- É Laura. Nossa filha teve um
filho, Moisés. Ela precisa de mim, só quero tá com minha filha.
Moisés fica furioso ao ouvir a revelação e olha
para Raimunda com raiva.
MOISÉS
- Não lhe reconheço, mulher! Cê foi
contra minha ordem e procurou aquela pecadora.
Raimunda fica visivelmente abalada com a ameaça
de Moisés, mas ainda tenta argumentar.
RAIMUNDA
- Varão pelo o amor de Deus!
Entendo que cê não concorde com a situação, mas Laura ainda é nossa filha.
Tenho o direito de tá ao lado dela nesse momento importante.
Moisés se aproxima de Raimunda, encarando-a com
intensidade.
MOISÉS
(firme)
- Ela não é mais minha filha! Desde
que ela se afastou de Deus e escolheu esse estilo de vida pecaminoso, ela
deixou de ser minha filha! Se cê insistir em ir atrás dela, não terá mais lugar
nesta casa!
Raimunda abaixa a cabeça, lutando contra as
lágrimas que cai, enquanto Moisés sai do quarto com passos pesados. Rebeca,
assustada com a situação, permanece ali, observando a mãe com os olhos
arregalados.
Obrigado pelo seu comentário!