JANA
LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
ELIETE
PAULO
RAIMUNDA
REBECA
RAVENA
CÁSSIA
BEATRIZ
FÁTIMA
MARIA
PANDORA
SÉRGIO
RAUL
KIRA
Participação Especial:
VINÍCIUS
CENA 01/
EXT/ PLANO GERAL
A cena
começa com uma visão panorâmica de Salvador, destacando suas paisagens naturais
e urbanas, incluindo praias, o Farol da Barra e o Pelourinho. A câmera sobrevoa
a cidade, capturando sua vibração cultural e pontos turísticos, como o Elevador
Lacerda e a Igreja do Bonfim. O som das ondas e a animação das ruas preenchem o
cenário. Um letreiro na tela indica: “DOZE ANOS DEPOIS”. A cena retorna mostrando a
Salvador atualizada, com prédios altos e infraestrutura moderna, mantendo seu
charme histórico.
CENA 02/ INT/
CASA DA RAVENA/ SALA DE ESTAR/ DIA
Ravena, Laura e
Pandora entram em sua casa em Salvador depois de anos no Acre. Elas abrem as
portas e janelas, permitindo que a luz do sol inunde o ambiente. A sala de
estar é revelada com seus móveis e decoração, que permaneceram intocados ao
longo dos anos, cobertos por lençóis. Pandora, agora mais crescida, explora a
sala com curiosidade, seus olhos brilhando com a sensação de familiaridade e
novidade ao mesmo tempo. Enquanto ela olha ao redor, flashes de lembranças do
dia em que Maciel invadiu a casa passam por sua mente. Ela olha para Ravena e
Laura, sua expressão misturando curiosidade e confusão.
PANDORA
- O que aconteceu aqui?
LAURA
(preocupada)
- Tudo bem meu amor?
PANDORA
(confusa)
- Sei lá, ao entrar nessa casa tive
alguns flashes de memória. Lembrei de um homem que entrou aqui com violência,
ele estava armado e nos ameaçava...
Ravena e Laura
trocam olhares rapidamente, parecendo preocupadas.
RAVENA
- Oxe,
que isso filha? Isso é fruto de sua imaginação, cê deve tá cansada por conta da
viagem.
PANDORA
- Não é
fruto da minha imaginação, sei que não é. Alguma coisa aconteceu aqui. Eu era
muito pequena, não lembro direito, só veio alguns flashes. Vocês tão me
escondendo alguma coisa?
LAURA
- Oh meu
amor, o que a gente estaria te escondendo?
PANDORA
- Não
sei, muito estranho essa nossa vinda repentina pra cá. Cês nunca me explicaram
direito. E quando morávamos aqui, porque mesmo que fomos para o Acre?
RAVENA
- Cê já
sabe por que fomos para o Acre. Fomos apoiar as meninas do
"Amazonas"... Pandora, cê fica assistindo esses vídeos no celular e
começa a confundir a ficção com a realidade. Não houve nada nesta casa, viu? Vá
tomar seu banho e desfaça suas malas. Venha, vou lhe mostrar seu quarto.
Enquanto Ravena leva
Pandora para mostrar seu quarto, Laura fica sozinha na sala, inquieta e pensativa.
CENA 03/ EXT/
CAMPA/ PÁTIO/ TARDE
Giovana está parada em um
palco montado no pátio, diante de uma multidão formada por maioria de mulheres
de diferentes idades e origens. Ela
veste uma camiseta preta com a palavra "CAMPA" escrita em letras
brancas, e uma calça jeans desbotada.
Ela segura um microfone em uma mão e um bloco de notas na outra. À sua
volta, há vários cartazes coloridos com slogans feministas e mensagens de apoio
às mulheres.
GIOVANA
(sorrindo)
-
Boa tarde, meninas! E também os meninos, né? Que sempre tão aqui nos
ajudando... Tô muito feliz por tá aqui hoje, e poder compartilhar com cês um
pouco sobre o projeto CAMPA. Como cês sabem, nosso objetivo é fornecer apoio e
assistência às mulheres que tão em situações difíceis. Queremos ser uma casa de
acolhimento para aquelas que precisam de ajuda e orientação.
Ela dá uma breve pausa,
olhando para a multidão enquanto suas palavras ecoavam pelo pátio. Depois, dá
continuidade.
GIOVANA
-
Olhe, sempre me questionei, sobre o que as feministas estão fazendo pelas
mulheres que realmente precisam. Afinal, o que é feito para ajudar aquelas que
vivem em áreas periféricas, que enfrentam a violência todos os dias, que lutam
para sobreviver? Andar pelas ruas mostrando os nossos peitos, com palavras de
efeito e algumas vezes até com violência não pode ser o suficiente, né?
A multidão de mulheres
olha atentamente para Giovana, algumas acenando com a cabeça em concordância e
outras com uma expressão séria. Kira está no meio da multidão e se aproxima
mais do palco encantada com as palavras de Giovana.
GIOVANA
(continuando)
- Foi então que trabalhei a ideia de construir o projeto CAMPA – Casa de Acolhimento a mulheres que Precisam de Ajuda. O nosso ambiente é equipado com quartos, cozinha e uma área comum para atividades em grupo. As mulheres que chegam aqui recebem suporte emocional, jurídico e psicológico. O objetivo do projeto é oferecer um ambiente seguro e acolhedor para essas mulheres em situação de vulnerabilidade, como vítimas de violência doméstica, abuso sexual ou em situação de rua. Há uma equipe de profissionais que atuam no CAMPA, incluindo psicólogos, assistentes sociais, advogados, médicos e voluntários. O projeto é financiado por doações e parcerias com empresas e organizações que apoiam a causa feminista. Obrigada a todos por estar aqui hoje, e juntos, vamos continuar lutando pelos direitos das mulheres.
Ao
terminar sua palestra, Giovana recebe um grande aplauso.
GIOVANA
-
Muito obrigada!
A
multidão começa a se dispersar, orientada por voluntários que mostram o
trabalho do CAMPA. Giovana ainda permanece no palco, organizando alguns papéis.
Kira se aproxima.
KIRA
(entusiasmada)
-
Com licença, sou Kira. Não posso acreditar no que cês tão fazendo aqui. É
incrível seu projeto, viu?
GIOVANA
(grata)
-
Obrigada! Sou Giovana é um prazer lhe conhecer.
KIRA
-
O prazer é todo meu, né minha linda? Virgem Maria, eu amei tudo isso.
Raul se aproxima e Giovana
o apresenta.
GIOVANA
(orgulhosa)
-
Este é Raul, meu marido. Foi juntamente com ele que o projeto CAMPA se tornou
possível.
Kira se aproxima de Raul e
eles apertam as mãos calorosamente.
KIRA
(grata)
- É
um prazer conhecê-lo, Raul.
RAUL
-
O prazer vai ser maior ainda se pudermos contar com cê aqui nos ajudando como
voluntária.
KIRA
(animada)
-
Ah, mas pode contar comigo.
GIOVANA
(carinhosa)
-
Raul é a força por trás de tudo isso. Sem ele, o CAMPA não seria o que é hoje.
CENA 04/
INT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ TARDE
Raimunda está no
púlpito da igreja, conduzindo um momento com os jovens.
RAIMUNDA
- A oração é um dos pilares da
nossa fé. É através dela que nos conectamos com Deus, buscamos orientação e força
pra enfrentar os desafios da vida...
Rebeca levanta a mão tentando falar.
RAIMUNDA
- Pois não Rebeca, fale!
REBECA
- Não acho a oração poderosa não,
viu mainha?
Os jovens na igreja
olham surpresos, enquanto Raimunda tenta entender.
RAIMUNDA
- Que isso menina? E porque cê não
acha a oração poderosa?
REBECA
- Ora, um dia desses eu tava com
meu celular descarregado. Fiz uma oração pedindo a Deus pra carregar meu
celular e meu celular não carregou.
Os jovens na igreja
começam a rir discretamente, enquanto Raimunda tenta conter um sorriso.
RAIMUNDA
- Minha filha, por misericórdia,
né? Não podemos usar Deus como um carregador de celular. A oração é pra
questões espirituais e não pra nossas conveniências pessoais.
REBECA
- Oxente, mas não tá na Palavra que
se a gente pedi pra uma montanha se jogar no mar, ela se joga? Se uma montanha
pode se jogar no mar, porque o meu celular não pode ser carregado?
RAIMUNDA
- Vale-meu Senhor, dá-me
discernimento para lidar com essa menina!
A igreja inteira
irrompe em risos, enquanto Raimunda tenta continuar com o momento de oração da
melhor maneira que pode.
CENA 05/ INT/
CASA DA RAVENA/ QUARTO DA PANDORA/ TARDE
Pandora está
mergulhada em sua arte, criando grafites na parede de seu quarto. Um desenho em
progresso mostra um berço e, ao lado, a sombra de uma figura com uma arma
apontada. A expressão de Laura ao ver o desenho é uma mistura de surpresa e
preocupação.
LAURA
- Pandora,
que isso? Que desenho mais macabro, filha.
Pandora continua a
trabalhar, concentrada em sua arte.
PANDORA
- Estou
apenas colocando pra fora o que tá na minha mente, minha mãe.
Laura fica
desconcertada com a resposta da filha. Ela se aproxima e senta na cama, ficando
mais próxima de Pandora.
LAURA
- Não
gostei desse desenho, transmite uma sensação ruim.
Pandora não se abala
e continua desenhando.
PANDORA
- Vai
ficar melhor ainda quando eu terminar. Tô pensando em pintar o restante da
parede do quarto de preto.
LAURA
- Coisa mais bizarra. Pra que isso,
meu amor?
PANDORA
- Preto, é a cor que define o que tá
acontecendo na minha cabeça agora.
Laura tenta se
aproximar da filha, preocupada com sua expressão.
LAURA
- Eu sei o porquê da sua tristeza.
Tem a ver com Michele, né? Oh filha, cê mesma me disse que o lance entre cês
duas era algo casual, sem muita importância. Cê vai gostar aqui de Salvador,
vai conhecer pessoas novas. Depois a gente vai dá umas voltas e vou lhe mostrar
vários lugares bacana.
(animando)
- Ah, você nunca andou de Ferry boat, né? Vamos combinar com sua
mãe Ravena, e a gente passar um dia lá na ilha de Itaparica. Que cê acha?
Pandora, sem
rodeios, entra direto no assunto que a preocupa.
PANDORA:
- Só quero saber uma coisa. O porquê
de vocês ter fugido do Acre?
Laura muda a
fisionomia e fica visivelmente desconfortável com a pergunta direta da filha.
LAURA:
- Oxe, e quem foi que fugiu? Aqui é
minha cidade natal, minha e de sua mãe Ravena. Nós apenas decidimos que era
hora de voltar.
Pandora parece
insatisfeita com a resposta e insiste na conversa.
PANDORA
- Eu não lembro muito bem, eu era
muito pequena. Mas sei que vocês fugiram daqui de Salvador para o Acre. E
agora, novamente, vocês fugiram pra cá. Por que tão sempre fugindo? Só diga a
verdade, minha mãe. Aquele homem armado da minha lembrança... ele era o meu pai
biológico, né?
Laura arregala os
olhos e fica sem saber como responder. Nesse momento, Ravena entra no quarto e
percebe a tensão entre as duas.
RAVENA
- O que é mesmo que tá acontecendo?
De novo essa história, Pandora?
PANDORA
- De novo, é claro, vocês nunca me
falam a verdade.
RAVENA
- Vá bem. Tá certo, então, vou lhe
falar a verdade...
Laura olha pra Ravena preocupada. Ravena troca um olhar significativo com
Laura antes de falar.
RAVENA
(firme)
- O homem que cê se lembra... Ele
não é seu pai, de onde cê tirou isso? Você foi inseminada, e cê já tá casada de
saber dessa história, né mesmo? Mas o tal homem que invadiu nossa casa é alguém
do meu passado, um antigo namorado que não aceitava a minha relação com Laura. Naquele
dia ele veio aqui tirar satisfação comigo como se eu ainda o devesse alguma
coisa. É por isso que sempre lhe alerto que homem nenhum presta. Aquele homem
me bateu naquele dia, tive que chamar a policia... Satisfeita?
Pandora olha entre
suas mães, processando essa nova informação.
PANDORA
- Está bem, então.
RAVENA
- Por favor, filha, não me faz
ficar lembrando dessas histórias. É um passado que já enterrei e não quero que
volte a tona.
Pandora parece não
estar completamente convencida, mas por enquanto, ela aceita a explicação das
mães.
CENA 06/ INT/
CASA DA JANA/ QUARTO DA MARIA/ TARDE
Maria está em seu
quarto, sentada em sua escrivaninha, concentrada em escrever em seu diário. A
porta se abre lentamente, e ela fica visivelmente amedrontada. Paulo entra no
quarto, criando um clima tenso. Maria fecha rapidamente seu diário, abraçando-o
com força, com uma expressão preocupada. Ele percebe que Maria estava
escrevendo algo e pergunta curioso.
PAULO
- O que tanto escreve aí?
MARIA
- Não é nada demais, são apenas
coisas minhas. Por favor, painho, me deixe sozinha.
Paulo mantém seu
olhar atento e sua expressão séria.
PAULO
(ameaçador)
- Cê toma muito cuidado com o que
escreve nesse diário, ouviu bem Maria?
Maria olha para
Paulo, seus olhos cheios de medo. Nesse momento, Jana entra no quarto.
JANA
(sorrindo)
- Opa! Tudo certo por aqui?
PAULO
- Sim. Só vim dá um cheiro na minha
princesinha.
JANA
- Que painho mais coruja esse seu,
hein Maria?
Maria dá um sorriso
sem graça, e a tensão no ar parece diminuir.
JANA
- Adivinha quem tá lá na sala?
MARIA
(curiosa)
- Sei não. Quem é?
JANA
(sorrindo)
- Seu voinho! Ele veio nos visitar
e trouxe um presente especial pro cê.
MARIA
(se animando)
- Voinho? Sério? Que legal!
Ela rapidamente
guarda o diário na gaveta de sua escrivaninha, enquanto Paulo observa
atentamente o movimento.
JANA
- Vá lá na sala e dê um abraço
nele. Cê vai adorar o que ele trouxe.
Maria sorri, mas seu
olhar encontra o de seu pai, que ainda parece desconfiado. Ela sai do quarto
para encontrar seu avô, enquanto Paulo fica ali por um momento, seus olhos
fixos na gaveta onde Maria escondeu o diário.
JANA
(chamando Paulo)
- Venha meu amor, vamos lá também.
Paulo finalmente se
move, seguindo Jana para a sala, mas seu olhar permanece intrigado.
CENA 07/ INT/
CASA DA JANA/ SALA DE ESTAR/ TARDE
Genivaldo está na
sala, sentado segurando um enorme embrulho e esperando. Maria chega radiante. Ela
corre em direção ao avô e o abraça calorosamente.
MARIA
- Voinho! Já tava com saudade!
Genivaldo retribui o
abraço com carinho.
GENIVALDO
- Oxe, mas que delícia de abraço.
Também tava morrendo de saudade.
(entregando)
- Tenho um presentinho pro cê.
Os olhos de Maria
brilham de expectativa.
MARIA
(admirada)
- Não é o que tô pensando, é?
Genivaldo sorri e
faz um gesto convidando-a a abrir o embrulho.
GENIVALDO
- Só abrindo pra saber, né mesmo?
Maria rasga o papel
de presente com empolgação, revelando um violão. Ela fica sem palavras, seus
olhos se enchem de lágrimas de alegria.
MARIA
- Um violão! Ave Maria, é lindo por
demais.
GENIVALDO
- Que bom que cê gostou!
Ela olha para
Genivaldo com gratidão e empolgação, incapaz de conter sua alegria. Jana e
Paulo estão em pé ao lado, assistindo à cena com sorrisos em seus rostos.
JANA
- Muito lindo mesmo, viu meu pai!
Agora Maria vai poder compor melhor suas músicas.
MARIA
- Amei meu presente, muito obrigada
voinho!
Maria abraça o avô
com carinho e depois se vira para abraçar a mãe. Paulo estende os braços,
esperando ser abraçado por Maria, mas ela fecha a cara e o evita, mantendo-se
distante dele.
CENA 08/ EXT/ PLANO GERAL
A cena começa com uma tarde animada na Praia,
com pessoas aproveitando o sol e o mar. A transição gradual mostra o pôr do sol
e a mudança para a noite no Pelourinho, com suas ruas históricas iluminadas e
música tradicional da Bahia ao fundo. Finalmente, a CAM destaca a fachada do
CAMPA.
CENA 09/ INT/
CAMPA/ CANTINA/ NOITE
A cantina do CAMPA
está iluminada com luzes suaves, criando um ambiente acolhedor. Giovana e Kira
estão sentadas a uma mesa, conversando e se conhecendo melhor.
KIRA
- Olhe Giovana, fiquei realmente
encantada com tudo que vi aqui. Isso aqui é muito necessário. Mais uma vez
parabéns pelo o projeto.
GIOVANA
(sorrindo)
- Sempre sonhei com esse lugar.
Depois que comecei a frequentar alguns movimentos feministas fui vendo a
necessidade que algumas mulheres tinham de ter um ponto de apoio. Uma rota de
fuga mesmo. Entende? Aí comecei a fazer faculdade de psicologia, e lá conheci
Raul. E foi juntamente com ele que meu sonho foi se tornando realidade.
KIRA
- Incrível! Já vou logo dizendo,
pode contar comigo quero ser voluntaria nesse projeto.
GIOVANA
- Ah, mas isso é muito bom. Temos
muito trabalho aqui, quanto mais gente melhor.
KIRA
- Ah
isso, com certeza.
(olhando o relógio)
- Nossa, o tempo passou tão rápido
hoje, que mal percebi.
GIOVANA
(gentil)
- Se o tempo passou rápido, é
porque o momento foi agradável, não acha?
KIRA
(concordando)
- Muito!
Viraria a noite aqui tranquilo, conversando com cê.
RAUL
(se aproximando)
-
Meu amor, precisamos ir embora. O trânsito a essa hora tá complicado.
KIRA
(curiosa)
- Cês têm filhos?
GIOVANA
(sorrindo)
-
Ainda não, mas é algo que planejamos para o futuro. Não é meu bem?
RAUL
(apressando)
- Com
certeza. É melhor irmos logo, o trânsito vai ficar um caos.
KIRA
(rindo)
- E
eu que ainda vou chamar um carro de aplicativo, tô sem carro, menino.
GIOVANA
(prestativa)
-
Onde cê mora, Kira?
KIRA
(mencionando)
-
Moro em Vila Laura.
GIOVANA
(oferecendo)
- Se quiser, podemos lhe dar uma carona. Não é problema. Podemos
né Raul?
KIRA
(agradecida)
- Sério? Isso seria maravilhoso!
Mas não quero atrapalhar, posso pegar um taxi ou um carro de aplicativo, de boa.
RAUL
(gentil)
- Não
se preocupe, será um prazer lhe levar para casa.
KIRA
- Ah sendo assim, fico grata. Não
vou dispensar a carona, né?
A cena encerra com
os três saindo juntos.
CENA 10/ INT/
CASA DA RAVENA/ QUARTO DO CASAL/ NOITE
Ravena tá deitada na cama mexendo no celular
enquanto Laura sentada ao lado passando um creme nas pernas.
LAURA
- Porque cê falou pra Pandora que
Maciel era seu ex namorado, e não meu? Faz alguma diferença?
RAVENA
- Claro que faz. Afinal foi você
quem engravidou dela. Eu não quis deixar brecha pra que Pandora fizesse
qualquer associação entre ela e esse cara. Vamos esquecer que esse cara existiu
em nossas vidas.
LAURA
- A Pandora ficou fazendo perguntas
sobre o Acre. Ela estranhou o fato da gente ter voltado pra cá de uma forma tão
repentina.
RAVENA
(séria)
- Preste atenção, Laura. O que
aconteceu no Acre ficou no Acre. Esse assunto tá extremamente proibido dentro
dessa casa. Tá me ouvindo?
LAURA
- Eu sei meu amor. Concordei com
cê, não concordei?
RAVENA
- Que bom. Vamos dormir que amanhã
o dia promete.
Ravena coloca o celular em cima do criado mudo
e se ajeita na cama. Laura dá uma olhada para a esposa, guarda o creme e também
se deita na cama.
CENA 11/
INT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ NOITE
Eliete, está no
púlpito da igreja pregando com agressividade. Sua voz ecoa pela igreja, e os
fiéis estão em silêncio, ouvindo atentamente.
ELIETE
- Irmãos e irmãs, Deus tem me
revelado visões poderosas! Tenho visto muitos de cês em visões, e, oh, irmãos,
muitos de cês estavam no fogo do inferno, viu? Humm, isso mesmo! Deus tem me
revelado muitas coisas. Principalmente vocês, jovens, que seguem todas essas
modinhas do mundo, com roupas indecentes e músicas do demônio! Esses telefones
celulares, essas redes sociais, tudo obra do diabo! Deus me mostrou que o mundo
tá mergulhado no pecado, e cês precisam se afastar dessas tentações! Só assim
herdarão o reino dos céus! Olha o celular, viu Vanessa, daqui tô vendo!...
Agora Rebeca vai passar aí com a cestinha pro cês depositar a coleta.
Após a pregação,
Raimunda se aproxima de Eliete com uma expressão preocupada.
RAIMUNDA
- Irmã Eliete, os jovens tão aqui
tudo assustado. Essas visões da senhora são perturbadoras. Esses assuntos
precisam serem abordados com mais cuidado.
Eliete olha para
Raimunda com firmeza.
ELIETE
- Achou que peguei pesado, foi?
Ora, irmã Raimunda, não podemos nos acomodar na tibieza. A palavra do Senhor é
como fogo, como martelo que esmiúça a pedra. Se não for quente, é melhor ser
frio, pois o morno vomita. Precisamos acordar essas almas para a verdade, mesmo
que seja doloroso. E a senhora é testemunha disso, lembra bem o que aconteceu
com sua filha Laura, viu?
Raimunda suspira e
acaba concordando com Eliete.
RAIMUNDA
- A senhora tá certa.
ELIETE
- E pastor Moisés, irmã Raimunda
como tá indo lá no congresso em Angra? Tem falado com ele?
RAIMUNDA
- Falo sempre que possível, não
posso mandar muita mensagem que atrapalha, né?
ELIETE
- Ah, mas isso é verdade. Aquele
homem é um santo, viu? Enquanto muitos vão pra Angra dos Reis curtir praia, ele
vai pra pregar a palavra de Deus. Queria eu que Genivaldo tivesse a metade da
fé de pastor Moisés. A senhora é uma mulher abençoada, viu irmã? Tem que
levantar as mãos para o céu e agradecer.
RAIMUNDA
(rindo sem graça)
- Eu faço isso sempre.
CENA 12/ EXT/
PLANO GERAL
A cena noturna se desvanece lentamente, cedendo
espaço à luz do novo dia. As estrelas começam a se apagar no céu, enquanto o
sol começa a despontar no horizonte. A escuridão cede lugar à claridade suave
da manhã.
CENA 13/ INT/
CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA
Cássia e Jana estão
atrás do balcão da recepção, preenchendo alguns documentos e conversando
enquanto trabalham.
CÁSSIA
(suspirando)
- Ai, Jana, os gêmeos tão quase me
deixando louca. Cê não faz ideia do que é ter dois adolescentes em casa. Eles
parecem que não desligam. Tão pior agora do que quando eram pequenos.
JANA
(rindo)
- Pelo jeito, a fase da
adolescência não tá sendo fácil por aí, hein?
CÁSSIA
- Não tá mesmo não, viu? O bom que
Maurício me ajuda muito. E agora moça, eles resolveram entrar para um time de
futebol, só pra me deixar ainda mais de cabelo em pé.
JANA
- Pelo menos tão fazendo alguma
atividade física, né mesmo? É melhor do que ficarem trancados em casa o tempo
todo, pregados em celular que é a moda do momento.
CÁSSIA
- É, cê tem razão. Precisam gastar
essa energia toda em algum lugar, né? Mas olhe, Jana, eu já não sei o que
fazer. Luiz é mais tranquilo, já Roberto vive se quebrando todo, só o braço já
quebrou duas vezes. Cê lembra, né?... E Maria como tá?
JANA
(suspirando)
- Maria... Bem, ela tá se trancando
cada vez mais no quarto. Ando tão preocupada, Cássia. Parece que não tem ânimo
pra nada. Queria tanto que ela tivesse um pouco mais de entusiasmo pela vida.
CÁSSIA
- Oh, nega, isso é só uma fase,
acredite em mim. A adolescência é complicada, eles passam por altos e baixos.
Coisa de hormônios, né? Logo ela vai se animar de novo.
JANA
(preocupada)
- Na verdade é que Maria nunca foi
animada, Cássia. Ela vive trancafiada naquele mundinho particular dela. E agora
deu pra implicar bastante com Paulo, o que me deixa ainda mais angustiada. Oxente,
ele sempre foi um pai tão dedicado. Cê mesma já viu. Ela é ingrata não repara
nisso.
CÁSSIA
(sacudindo a cabeça)
- Liga não boba, adolescente adora
implicar com os pais, parece que é uma regra. O importante é que ele tá lá por
ela, mesmo com toda a implicância. Já vi sim, Paulo sempre foi um paizão, ela
vai perceber isso em algum momento.
JANA
(assentindo)
- Cê tem razão, Cássia. Vamos
torcer pra que tudo isso seja só uma fase passageira.
CENA 14/
INT/ CENTRAL/ SALA DE AULA/ DIA
Maria está sentada em sua carteira lendo um
livro. Sérgio vai se aproximando e senta em uma cadeira ao lado dela e fica a
encarando. Ela olha pra ele timidamente e volta a se concentrar no livro.
SÉRGIO
- Cê tá ficando uma gracinha, viu?
Sabia que antes, eu daria moral pro cê não. Cê era feinha desajeitada. Mas
agora eu pegaria de boa, tá sabendo?
MARIA
(sem graça)
- Por favor, queria ficar sozinha.
Vai ter prova, quero estudar.
SÉRGIO
- Duvido cê tirar nota baixa, cê é
a maior CDF da turma. Larga esse livro aí, vamo lá fora, lhe pago um lanche.
MARIA
- Obrigada, mas não quero. Prefiro
ficar aqui, tá?
SÉRGIO
- Qualé garota? As meninas aqui da
escola são tudo doida por mim. Tô aqui lhe dando moral e cê fica frescando.
Sérgio pega o livro que tá com Maria e começa a
colocar dentro da mochila.
SÉRGIO
- Vamos guardar esse livro aqui,
guarda suas coisas aí e vamos curtir o intervalo, moça...
MARIA
(gritando)
- Pera! Só quero ficar no meu canto
quieta. Será que não posso?
Sérgio para e fica assustando com os gritos de
Maria.
SÉRGIO
- Tu é chata pra porra, heim! Fique
aí, ó, sua calunduzenta! Por isso que aqui na escola ninguém gosta de cê.
Esquisita!
Sérgio sai e bate a porta da sala.
CENA 15/ INT/
CASA DA JANA/ QUARTO DA PANDORA/ DIA
Laura bate na porta e entra no quarto de
Pandora.
LAURA
- Bom dia meu amor! E aí, cê dormiu
bem?
PANDORA
- Dormir sim. Fiquei sonhando com
um monte de coisa. A ansiedade por tá aqui, uma vida nova, né? Mas consegui
descansar.
Laura observa as
mudanças que Pandora fez em seu quarto e comenta.
LAURA
- Que bom! Gostei das mudanças que
cê fez em seu quarto, finalmente tá ficando com sua cara. Só não gostei daquele
desenho macabro, é claro.
PANDORA
- E mãe Ravena, onde tá?
LAURA
- Ela saiu pra ver se acha um ponto
pra gente montar a nossa boutique, assim como a gente tinha lá no Acre.
PANDORA
- Muito estranho, viu? A boutique
tava bombando, lucrando muito e de repente largar tudo pra vim pra cá.
LAURA
- Ah, meu amor, não vamos começar
com isso de novo. Vai se arrumar, precisamos ir ao colégio fazer sua matrícula.
PANDORA
- Está bem, só me dê um momento.
Laura sai do quarto
enquanto Pandora se prepara para o dia que está por vir.
CENA 16/
INT/ APARTAMENTO DOS REIS/ COZINHA/ DIA
Giovana está ocupada preparando o café da
manhã. Ela quebra ovos em uma tigela enquanto ouve passos se aproximando. Raul
entra apressado na cozinha e imediatamente se aproxima de sua esposa,
beijando-a carinhosamente.
RAUL
(apressado)
- Bom dia, meu amorzinho. Desculpe
a correria, já tô atrasado para o consultório.
Giovana sorri e olha para o marido.
GIOVANA
- Bom dia, meu lindo! Te acalme,
homem! Ainda dá tempo. Preparei uma panqueca pro cê.
Raul olha para a panqueca, mas sem apetite.
RAUL
- Na verdade, tô sem muita fome. Acho que vou pular o café.
GIOVANA
(preocupada)
- Raul, cê mal jantou ontem, agora
não quer comer. Meu amor cê já tá emagrecendo. Precisa cuidar de si mesmo.
Ele tenta sorrir para tranquilizá-la.
RAUL
(sorrindo)
- Cê sempre pensando em mim.
Depois, eu peço pra Helinha comprar alguma coisa pra mim na padaria e como lá
mesmo no escritório. Agora preciso ir, ou vou me atrasar ainda mais.
Raul dá um beijo rápido em Giovana,
despedindo-se novamente.
RAUL
(apressado)
- Tenha um bom dia, minha linda.
Lhe amo, viu?
GIOVANA
- Também lhe amo!
Giovana o observa enquanto ele se despede e
sai.
CENA 17/ INT/
CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DA BEATRIZ/ DIA
Fátima está sentada na sala de consulta da
Beatriz. Ela está ansiosa e um pouco nervosa. Beatriz está sentada em sua mesa,
ouvindo atentamente a história de Fátima.
FÁTIMA
- Dra. Beatriz, eu queria muito
engravidar de novo. Sabe? É o sonho do meu marido ter outros filhos. Nós já temos
um filho de doze anos, mas nunca mais consegui engravidar. Tive duas gestações,
mas ambas não foram adiante. Meu marido nunca reclama, mas sempre diz que
deseja uma família grande.
BEATRIZ
- Fátima, essa decisão de ter outro
filho é realmente o que cê deseja, ou é simplesmente para agradar seu marido?
Fátima hesita por um momento, ponderando a
pergunta de Beatriz.
FÁTIMA
- Não, é um desejo que tenho. Quero
muito ter esse filho... Dra. Beatriz, a senhora não imagina como era o
tratamento de meu marido comigo quando eu tava grávida do meu filho Vinicius.
Ele era todo romântico, me tratava como se eu fosse uma rainha. Senhora
acredita que ele contratou até uma moça pra trabalhar lá em casa, pra que eu
não tivesse nenhum trabalho? Nas outras gravidez também foi do mesmo jeito, mas
não consegui segurar as crianças. Eu quero muito fazer o tratamento, eu preciso
ter esse filho.
BEATRIZ
- Fátima, cê acabou de descrever
que não é seu filho que lhe impulsiona, mas sim o desejo de que seu marido a
trate como antes. Na minha opinião cê deveria rever melhor o seus conceitos. A
gravidez e a maternidade devem ser uma escolha sua, baseada em seus desejos e
sonhos. E não do seu marido.
FÁTIMA
- Mas é um desejo meu, sim. A muito
tempo que tô tentando ter esse filho, e todas as minhas tentativas tão sendo
fracassadas. E a gente vai ficando mais velha, as coisas vão complicando mais
ainda, né verdade? Mas agora com sua ajuda tenho certeza que vai dá tudo certo.
BEATRIZ
- Vá bem, então vamos começar com o
tratamento. Vamos começar por uma bateria de exames pra entender melhor a causa
das gestações anteriores não terem sido bem sucedidas. Faremos análises
hormonais, testes genéticos e avaliaremos a saúde de seu útero e das trompas de
falópio pra garantir que esteja tudo em ordem.
Fátima assente com um misto de
apreensão e determinação.
BEATRIZ
- Uma vez que tenhamos os
resultados desses exames, poderemos desenvolver um plano de tratamento mais
específico pra você. Vou encaminhar os pedidos de exames e, assim que tivermos
os resultados, nos reuniremos novamente para discutir o próximo passo.
FÁTIMA
- Ave Maria, fico feliz por demais!
Obrigada doutora!
BEATRIZ
- Vou lhe acompanhar até a porta.
V
CENA 18/ INT/
CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DE ESPERA/ DIA
Beatriz sai da sala de consulta acompanhada de
Fátima e se depara com Vinicius sentado em uma das cadeiras, estralando os
dedos de maneira inquieta. Enquanto observa Vinicius, Beatriz tem um breve
flashback de Jorge, também estralando os dedos.
FÁTIMA
- Dra. Beatriz, este é meu filho,
Vinicius. Vinicius, essa é a Dra. Beatriz, a médica que vai nos ajudar.
Cumprimenta a doutora, menino!
Beatriz olha para Vinicius, impressionada com a
semelhança com Jorge.
VINICIUS
- E aí tudo bem? Agora já podemos
ir mainha?
FÁTIMA
- Que avexamento é esse meu filho?
Desculpe Doutora, jovens não tem muita paciência. Ele é viciado no celular,
confisquei o celular dele, agora fica assim agoniado.
BEATRIZ
- Tudo bem. Tenha um bom dia!
Fátima e Vinicius saem da sala de espera,
deixando Beatriz um pouco atônita com a sensação de déjà vu. Jana se aproxima
segurando a agenda de Beatriz, notando o comportamento incomum da médica.
JANA
- Tudo bem, Dra. Beatriz? Parece
até que viu um fantasma ali.
Beatriz balança a cabeça, tentando dissipar a
sensação estranha que a invadiu.
BEATRIZ
- Não sei, Jana. Aquele garoto, me
pareceu muito familiar. Me lembrou muito uma pessoa do meu passado... Será que é
filho dele?
Obrigado pelo seu comentário!