JANA
LAURA
GIOVANA
PAULO
RAIMUNDA
REBECA
RAVENA
BEATRIZ
JORGE
FÁTIMA
KALEB
MARIA
PANDORA
DARLAN
Participação Especial:
HOMEM que abordou Maria, POLÍCIA, JUÍZ, CARLA, PRISCILA
CENA 01/ EXT/
AVENIDA/ NOITE
Maria vestida de
forma provocante, caminha ao longo da avenida movimentada. Seu rosto está
triste e cansado. Enquanto ela caminha, carros passam rapidamente, um diminui a
velocidade e para ao seu lado.
HOMEM
(de dentro de um carro, gritando)
- Toda delicinha, hein minha
cprincesa? Venha cá, entra aí, vamos dá uma volta!
Maria olha para o
homem por um momento, sua expressão mostrando uma mistura de tristeza e
resignação. Antes que ela possa responder, Darlan que está trabalhando no
semáforo próximo, a vê ao longe. Ele corre em direção a ela.
DARLAN
(gritando)
- Maria!
Maria não vá, espere!
Ele atravessa a rua
correndo e se aproxima dela.
MARIA
(chorando)
- Me
deixa Darlan, fique longe de mim!
DARLAN
- Não
vou deixar cê fazer isso.
Darlan encara o
homem no carro com uma expressão firme, deixando claro que ele não vai permitir
que Maria vá com ele. O homem, percebendo a situação, decide afastar-se e acelera,
deixando os dois a sós.
DARLAN
- Eu já
sei de tudo meu amor, não vou deixar esse cara continuar lhe machucando. Venha
comigo Maria, deixa eu lhe ajudar.
Mesmo em prantos, Maria decide acompanhar Darlan.
CENA 02/ INT/
CASA DOS SIRQUEIRAS/ NOITE
Rebeca, Laura e
Pandora estão sentadas, enquanto conversam.
Kaleb está ao telefone, discutindo algo sério.
REBECA
- Mainha
foi na delegacia ver painho. Não entendi muito bem não, viu Laura? Nem lhe
contei, painho ficou famoso, passou na televisão. Aí ele comprou um barco bem
grande, aí ficou lá dançando de cueca com o irmão Osvaldo e um monte de homem
lá. Acho que mainha não gostou muito de ver painho dançando de cueca.
Pandora se acaba de
rir.
PANDORA
- Ai
tia, não aguento isso! Gente, ela misturou a história toda.
LAURA
(sorrindo, mas preocupada)
- Tô
aqui preocupada com minha mãe, a coitada deve de tá arrasada, viu?
REBECA
- Se
preocupe não, viu Laura? Mainha foi arrastada não, ela foi de carro. Logo tá
aí.
PANDORA
(irônica)
- É bem
capaz dela vim no barco que meu vô comprou.
REBECA
-
Menina, é bem capaz mesmo, viu?
PANDORA
(sorrindo)
- Ah
não, minha tia!
Nesse momento, Kaleb
se aproxima, encerrando a ligação telefônica.
KALEB
(olhando para Laura)
- Bem, a polícia encontrou Ravena. Ela
já foi levada de volta para o Acre. E cê vai ter que ir também Laura. Como já
lhe falei, o julgamento vai acontecer lá.
Laura olha para
Kaleb com uma expressão séria e determinada.
LAURA
- Eu sei, já tá tudo pronto. Kaleb,
quero muito que cê defenda também Ravena.
KALEB
- Farei isso com prazer. Porém já
lhe adianto, a situação dela vai ser bem mais séria que a sua. Pode ser que
Ravena fique presa. Vamos tentar trabalhar na ideia de que tudo não passou de
um acidente, e o que erro de cês duas foi negligência em não socorrer a vítima.
PANDORA
- E mãe Laura, também corre o risco
de ser presa?
KALEB
- Esse risco não tá descartado. Mas farei de tudo para que tanto sua mãe Laura, quanto sua mãe Ravena, respondam em liberdade.
CENA 03/ EXT/
RUA/ NOITE
Darlan e Maria estão sentados no meio-fio,
enquanto conversam.
MARIA
- Ele sempre abusou de mim, viu
Darlan? Desde de pequena. Nem sei lhe informar direito como tudo começou. Ele
me chamava pra brincar, mas eu entendia que não era certo aquelas brincadeiras.
Ele me tocava, pedia também para que eu o tocasse. Eu tinha muito medo dele me
afastar de mainha. Ele falava que se eu contasse pra ela, ele iria embora. Mas
nunca houve penetração, até ontem...
DARLAN
(assustado)
- Maria, ele lhe forçou algo ontem?
Maria balança a cabeça concordando que sim.
MARIA
(se acabando de chorar)
- Tô com nojo de mim mesma. Quero
morrer, quero sumir, quero arrancar essa dor que tô sentindo. Por isso que
resolvi me prostituir, assim como minha voinha fez quando foi abusada.
DARLAN
- Nem sei o que lhe dizer, Maria. Tô aqui em choque com tudo isso que cê tá me
contando.
Maria se levanta agoniada.
MARIA
- Mas eu não deveria ter lhe
contado, agora ele vai querer lhe matar Darlan. Cê tem que fugir por um tempo.
DARLAN
- Ninguém aqui vai fugir. A gente
vai na delegacia, e cê vai contar tudo isso pra polícia. Maria, esse pesadelo
tem que acabar.
MARIA
- E se ele lhe matar, matar
Pandora?... Ave Maria meu Senhor do Bonfim e se ele matar mainha?
DARLAN
- Eu vou tá do seu lado, meu
amorzinho o tempo todo, não se preocupe. A gente vai na polícia, eles vão saber
nos instruir da melhor forma. Precisamos ir lá agora Maria.
CENA 04/ INT/
CASA DA JANA/ QUARTO DA MARIA/ NOITE
Jana entra,
procurando por sua filha.
JANA
(sussurrando sozinha)
- Maria!
Oxente, ela não tá aqui? Não me falou nada que iria sair.
Seus olhos se fixam
na prateleira acima da escrivaninha onde está o diário de Maria. Ela relembra
as palavras de Darlan, ecoando em sua mente.
DARLAN
(off)
- Olhe o diário, ler o diário de Maria. Se existe alguma
coisa, na certa Maria escreveu lá.
Jana hesita por um
momento, mas finalmente, decide pegar o diário. Abre o diário de Maria e começa
a ler as palavras de sua filha, seus olhos percorrendo as páginas escritas com
a dor e a confusão de uma jovem que sofreu em silêncio.
“Me sentia despedaçada, vazia, sem
amor. Ninguém pode compreender a dor que sinto. Estou em pedaços, e a única
coisa que me restou foi o meu silêncio. Não sabia lidar comigo mesma. Pensar em
chegar em minha casa, era sempre um desafio. Eu nunca sabia o que poderia me
acontecer. Meu medo me atormentava. Eu sentia nojo de mim, não conseguia pensar
em mais nada. Queria nunca ter existido, queria sumir, não ver ninguém. A
angustia que eu sentia por ter sido abusada, era como uma ferida que não
cicatrizava”.
À medida
que lê, o choque e a tristeza se misturam no rosto de Jana. Lágrimas começam a
escorrer pelo seu rosto.
CENA 05/ INT/
CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE ESTAR/ NOITE
Raimunda e Laura
estão sentadas juntas conversando.
RAIMUNDA
(com voz firme)
- Sei que estamos passando por
tempos difíceis, mas não vou desistir de minha caminhada. A minha fé em Deus é
inabalável, e sei que Ele me dará a força para superar isso. Não vou permitir
que essa situação me derrube. Mas desta vez o mandamento principal que irei
seguir é o amor. Deixe que Deus julgue, deixe que Deus cobre da forma que ele
achar que deve.
LAURA
(com carinho)
- A senhora não tá sozinha não,
viu? Não sei como vai ficar minha situação, diante de tudo isso que também vem
me acontecendo. Mas eu lhe prometo que se eu sair livre dessa, vou vim aqui e
lhe ajudar na caminhada.
RAIMUNDA
- Oh minha filha, isso me deixaria feliz por demais! Aos pouquinhos a gente vai
se erguendo, né mesmo?
LAURA
- Sei que já fui muito rebelde, mas
tá na hora de voltar pra casa do pai, né?
(apontando para o céu)
- Daquele pai lá de cima.
RAIMUNDA
- Cê vai voltar sim, cê e toda sua família. Como lhe disse, aqui o mandamento
agora é o amor, vamos deixar o julgamento só para Deus.
As duas se abraçam.
CENA 06/ INT/
CASA DA JANA/ QUARTO DA MARIA/ NOITE
Jana está sentada na
cama, com o rosto marcado pelo choro, segurando o diário de Maria em suas mãos
trêmulas. A porta se abre e Paulo entra, ofegante e com uma expressão
desesperada.
JANA
(com raiva e tristeza)
- É mentira, né? Por favor, me diz
que isso não é verdade. Cê não seria capaz de fazer isso com minha filha.
PAULO
(ofegante)
- Jana... eu não... A gente precisa
conversar.
Jana possuída pela
raiva e pela tristeza parte para cima de Paulo, golpeando-o com todas as suas
forças.
JANA
(eufórica)
-
Desgraçado! Como cê pôde? Eu te odeio desgraça! Vou lhe matar!
PAULO
(tentando se defender)
- Calma
Jana! Vamos conversar!
Paulo tenta se
defender, mas é dominado pela fúria de Jana. Em meio à briga, Paulo consegue
jogar Jana no chão. Ele se afasta, tentando se recompor, mas está visivelmente
abalado.
PAULO
(com nervosismo)
- Eu fiz com ela, o mesmo que o pai
dela fez com cê. O que eu queria mesmo era ter matado aquele desgraçado, mas
não o encontrei.
JANA
(em prantos)
- O que cê tá dizendo? Cê é um monstro Paulo, Maria não tem culpa de nada. Meu
Deus, como nunca percebi isso?
(partindo novamente para cima de Paulo)
- Vou lhe mandar para o inferno,
sua desgraça!
Paulo se protege, empurrando
Jana novamente no chão. Ele vai se afastando de costa, e entra em seu quarto e
pega uma arma que estava escondida. Ele a aponta para Jana, deixando-a em
estado de choque e medo.
PAULO
- Fique
longe! Não vem com seu ataque de fúria pra cima de mim, não!
JANA
(assustada)
- Paulo, cê faria isso? Cê tem
coragem de me matar?
PAULO
- Não duvide disso! Não era pra
nada disso ter acontecido. As coisas não eram pra ter terminado desse jeito.
(chorando)
- Maria não podia ter escrito essas
coisas. Era o nosso segredo. Eu pedi pra ela não escrever. Porque ela fez isso?
Tava tudo bem, ninguém sabia de nada, ela era só minha. Até aquele moleque
atrevido aparecer e mudar a cabeça de minha menina.
JANA
- Darlan, ele tava certo. E eu
burra não quis acreditar.
PAULO
(com ódio)
- Primeiro vou lhe matar, depois
vou matar aquele moleque. E aí sim, vou viver com Maria. Eu a amo, e ela vai
ser só minha e de mais ninguém. Jamais vou permitir que qualquer outro chegue
perto dela.
CENA 07/ EXT/
RUA/ EM FRENTE A CASA DA JANA/ NOITE
O carro da polícia se aproxima da casa de Jana, com Darlan e Maria dentro. De repente, um tiro é ouvido, ecoando pela rua. Darlan e Maria ficam em estado de choque, seus olhos se encontram em um misto de terror e desespero.
MARIA
(desesperada)
-
Mainha! Ele matou mainha, Darlan! Eu não podia ter contado pra ninguém, ele me
falou que mataria ela se eu contasse. Foi minha culpa!
DARLAN
(abraçando Maria)
- Calma
meu amor, cê não tem culpa de nada. Vamos manter a calma, a polícia tá indo lá
ver.
A polícia entra
rapidamente na casa. Maria está em lágrimas, tremendo de medo e choque. Darlan abraçado
com ela tentando confortá-la.
MARIA
(soluçando)
- Não aguento mais. Tudo isso é um
pesadelo.
CENA 08/ INT/ CASA DA JANA/
CORREDOR/ NOITE
Ao entrarem na casa,
os policiais percebem a situação no corredor entre os quartos. Paulo está no
chão, a arma ao lado dele, ainda em sua mão. Jana sentada à frente com as mãos
sobre os joelhos e se derramando em lágrimas, totalmente em choque.
JANA
(voz embargada)
- Ele...
ele iria me matar. Mas depois atirou nele mesmo! Eu quero minha filha, ondé que
tá minha filha?
POLICIAL
- Calma
senhora! Sua filha tá protegida.
(ordenando outro policial)
-
Acompanhe ela até o camburão.
CORTE rápido para o
lado de fora, mostrando o encontro entre mãe e filha, que se abraçam
emocionadas.
CENA 09/ INT/
ACRE/ DELEGACIA/ SALA DE VISITA/ TARDE
Laura está sentada
na sala aguardando. Ravena entra na sala algemada, aguardando julgamento. Laura
levanta e se aproxima para beijar Ravena, mas ela estende a mão, impedindo-a.
RAVENA
(com frieza)
- Não precisa. Sente-se.
Laura, surpresa pela
reação de Ravena, obedece e se senta, olhando-a com confusão.
RAVENA
- Foi cê
que me entregou, não foi? Cê que falou pra polícia donde eu tava.
LAURA
(insegura)
- Ravena, eu... Oh meu amor, eu fiz
o melhor que tinha que ser feito no momento. Não dava pra gente continuar
fugindo. A gente precisava encarar isso de frente.
RAVENA
- Eu lhe contei pra onde eu tava
indo, porque confiei em cê, Laura. Mas olhe onde vim parar. Agora tô perdida.
LAURA
- Eu conversei com Kaleb...
RAVENA
(interrompendo)
- Kaleb? Aquele Kaleb que queria
casar com cê a força?
LAURA
- As coisas mudaram, né Ravena?
Kaleb agora é advogado, e ele tá disposto em nos defender.
RAVENA
(rindo)
- Um homem? Poupe-me né Laura? Não
preciso da defesa de nenhum macho escroto. Se preocupe não, viu minha linda? Já
tenho minha defesa. Uma mulher incrível, que me acolheu sem nem ao menos me
conhecer direito. Ela será minha advogada.
LAURA
- E nós duas, como vamos ficar?
RAVENA
- Cê traiu minha confiança... Não
existe mais nós duas. Agora deixa eu voltar pra minha cela, vai lá atrás de seu
macho.
CENA 10/ EXT/
CASA DOS FERNANDES/ JARDIM/ TARDE
Jana está sentada pensativa, Giovana se
aproxima. Ela desabafa com a irmã e se culpa por não ter percebido antes o que
estava acontecendo. As duas conversam sobre a pessoa do pedófilo, que muitas
das vezes pode está do nosso lado e a gente não ver.
Jana está sentada em
um banco, perdida em pensamentos. Giovana se aproxima, percebendo a angústia na
expressão da irmã.
GIOVANA
(com preocupação)
- E aí mana! Tá tudo bem por aí?
Jana suspira,
olhando para Giovana com olhos cheios de tristeza e arrependimento.
JANA
(com voz embargada)
- Me sinto tão culpada, Gih. Não
percebi o que tava acontecendo com Maria. Como pude ser tão cega?
GIOVANA
(com empatia)
- Não se culpe, meu amor. Maria
sempre foi assim, tímida, quietinha na dela. A gente sempre entendeu isso como
um jeitinho dela. Quem imaginaria que aquele pai maravilhoso que Paulo
demonstrava ser, estaria fazendo esse tipo de coisa?
JANA
- Ele fazia isso desde que ela era pequena, Gih. Imagina o quanto que minha
filha sofreu. A pobrezinha tinha medo de me falar e ele fazer algo contra mim.
Para me defender ela sofreu calada durante todos esses anos.
GIOVANA
- Ela também se sentia culpada,
Jana. A vítima de pedofilia muitas das vezes acha que a culpa é dela. Ela sabia
que aquilo era errado, mas não sabia de quem era o erro. Isso é só nos mostra o
tanto de criança possa tá sofrendo por aí. Às vezes, o monstro está entre nós,
disfarçado de normalidade. Podemos conviver com eles, sem suspeitar do que são
capazes. É aterrorizante pensar nisso, mas é a realidade. Precisamos estar
atentos, proteger uns aos outros e não deixar que esses monstros continuem a
destruir vidas.
CENA 11/ JULGAMENTO / TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ACRE / SALA DE AUDIÊNCIAS
A sala está cheia.
As pessoas cochicham, curiosas sobre o caso de Ravena e Laura. O Juiz toma seu
lugar e a audiência começa. No banco dos réus estão Laura, Ravena e seus
respectivos advogados, Kaleb e Priscila.
JUIZ
(sério, dirigindo-se ao júri)
- Senhoras e senhores jurados,
estamos reunidos aqui para julgar o caso do Estado contra Laura Sirqueira e Ravena
Montebelo, acusadas do crime de homicídio. Acusa-se que as rés, em um ato
impulsivo, atropelaram e mataram Maciel Santos. A defesa de Laura é
representada pelo advogado Kaleb Monteiro, e a defesa de Ravena é representada
pela advogada Priscila Almeida. O Ministério Público será representado pela
Promotora Carla Sampaio. Vamos começar.
O Juiz faz um gesto
para que a Promotora comece suas argumentações.
CARLA
(firme)
- Senhoras e senhores do júri, este
é um caso claro de homicídio. As rés deliberadamente atropelaram a vítima,
deixando-a para morrer. Não há justificativa para tal ato, não importam as
circunstâncias pessoais das acusadas.
Kaleb se levanta,
seguro de si, para apresentar a defesa de Laura.
KALEB
(confiante)
- Excelência, senhoras e senhores
do júri, minha cliente, Laura Sirqueira, era uma mera passageira no veículo no
momento do ocorrido. É crucial lembrar que quem estava ao volante era Ravena
Montebelo, a outra ré deste caso. Laura, por sua vez, pode ser acusada de
negligência por não ter prestado socorro, mas essa negligência foi causada pela
ação de sua companheira, que não parou o veículo. Peço ao júri que leve em
consideração esse contexto ao analisar o caso de Laura.
PRISCILA
(determinada)
- Meu colega está querendo jogar
toda a culpa pra cima de minha cliente. Porém senhoras e senhores do júri, a
situação de minha cliente era extremamente delicada naquele momento. Maciel
Santos, a vítima, vinha ameaçando sua família, colocando em risco não apenas a
vida de Ravena, mas também a de sua filha, Pandora. O atropelamento ocorreu em
um momento de pânico, em uma tentativa desesperada de proteger quem amava. Não
podemos julgar o ato isolado de Ravena sem considerar o estado emocional e o
perigo iminente que ela enfrentava.
Após ouvir os
argumentos finais, o júri se retira para a sala de deliberação. Após uma longa
discussão, eles chegam a um veredicto. O Juiz chama todos de volta à sala de
audiências para anunciar a decisão.
JUIZ
(com seriedade)
- Com
base no veredicto do júri, neste tribunal, eu, como juiz, pronuncio a sentença.
Ravena Montebelo, você é considerada culpada por homicídio culposo, levando em
conta as circunstâncias atenuantes. Devido ao contexto emocional e às ameaças
que você e sua família enfrentaram, sua pena será de três anos de reclusão, com
possibilidade de liberdade condicional após cumprir dois terços da pena, além
de serviço comunitário e acompanhamento psicológico obrigatório durante o
período de liberdade condicional.
Ravena escuta a
sentença com uma expressão resignada, aceitando seu destino com dignidade.
JUIZ
(continuando)
- Laura
Sirqueira, considerando as circunstâncias excepcionais deste caso e levando em
conta seu papel como passageira no veículo, entendo que sua culpa é menos
significativa. Portanto, concedo a você a suspensão condicional da pena. Você
não será encarcerada, mas deverá cumprir determinadas condições durante um
período de prova supervisionada. Estas condições incluirão a participação em
programas de conscientização sobre segurança no trânsito, serviço comunitário e
acompanhamento psicológico para lidar com o trauma deste evento.
Laura respira
aliviada ao ouvir a decisão do juiz. Ela agradece Kaleb, com gratidão nos
olhos. Ravena olha para Laura com um olhar fuzilante, sabendo que, ela ficaria
presa, mas Laura não.
CENA 12/ EXT/
PRAIA/ PEDRAS/ DIA
Maria e Darlan estão
sentados em algumas pedras à beira-mar, o som suave das ondas quebrando ao
fundo.
MARIA
(hesitante)
- Posso lhe fazer uma pergunta bem
íntima?
DARLAN
- Claro meu amor.
MARIA
- Durante o tempo em que cê esteve
com Pandora, cês... Cê sabe. Aconteceu?
DARLAN
- Cê quer saber se eu e Pandora
transamos, é isso?
MARIA
- Sim. Transaram?
DARLAN
(calmo)
- Sim, aconteceu. No início Pandora
ficou meio com receio, ela não havia ficado com homem antes. Mas a gente foi
deixando a coisa acontecer naturalmente, sem pressa.
MARIA
(franca)
- Darlan, não quero que cê fique
chateado, mas... Não quero que role entre a gente. Acho tudo isso muito
horrível.
DARLAN
(gentil)
- Oh meu amorzinho, não te preocupe
com nada disso. O importante que estamos juntos. Não quero que cê faça nada que
não tenha vontade, que não se sinta bem. Tô ao seu lado, vou esperar o tempo que
for necessário. Quero que cê se sinta segura e confiante em nossa relação.
MARIA
- Darlan, e se eu não querer que
aconteça nunca? Cê ainda vai querer continuar comigo?
DARLAN
- Claro, sua boba. Não tô contigo
por causa disso. Não vamos ficar pensando nessas coisas, quero que a nossa
relação seja leve. Faça apenas aquilo que cê sentir vontade, não se cobre em
nada. Eu gosto de tá com cê, independente de qualquer coisa.
MARIA
(decidida)
- Lhe amo, viu Darlan? Acho que lhe
amo desde que lhe vi pela primeira vez no colégio.
DARLAN
- Oxente, também lhe amo demais
minha princesa.
MARIA
(fechando a cara)
- Não! Nunca me chame assim, por
favor.
DARLAN
- Claro, me perdoe.
Os dois se beijam.
CENA 13/ INT/
TRIBUNAL / CORREDOR DE ESPERA / DIA
Estão Laura, Kaleb e Pandora conversando.
LAURA
(aliviada)
- Nem acredito, que alívio meu
Deus! Por um instante pensei que fosse ficar aqui.
PANDORA
- Que bom minha mãe! Isso significa
que vamos poder voltar pra Salvador.
KALEB
- Vai sim, mas sua mãe ainda tem cumprir
algumas penas.
LAURA
- Quero fazer tudo certinho, como
manda a lei.
Ravena passa
algemada, lançando um olhar de puro ódio na direção de Laura. Laura a encara
com firmeza. Priscila vai se aproximando de Laura.
PRISCILA
- Oi
Laura!
LAURA
- Tudo
bom?
PRISCILA
- Quero conversar depois com cê sobre sua separação com Ravena.
LAURA
- Minha
separação? Olhe, Ravena ainda é minha mulher e não tô pretendendo largá-la aqui
não.
PRISCILA
- Pensei
que ela já tivesse conversado com cê sobre isso... Eu e Ravena agora estamos
juntas, e pretendemos legalizar a nossa união. Se preferi posso conversar
melhor com seu advogado, e tentar entrar em uma acordo que seja melhor para
todos.
PANDORA
- Mãe
Ravena é rápida, hein?
KALEB
- A
gente entrará em contato com cê.
PRISCILA
- Com
licença!
Priscila sai e Laura
fica atônica.
LAURA
- Pelo o
que entendi, Ravena já tava vivendo com essa mulher. Acho que realmente eu não
tenho muita sorte com o amor.
CENA 14/ EXT/
RUA/ CARRO DE JORGE/ DIA
O carro de Jorge
está em alta velocidade, cortando o trânsito movimentado da cidade. Ele está
com pressa, dirigindo para o hospital, pois o filho de Fátima está prestes a
nascer.
JORGE
- Calma Fátima, respira
cachorrinho!
(imitando cachorro)
- Auu! Auu! Auu!
FÁTIMA
(em trabalho de parto)
- Que porra de cachorrinho! Te
avexe homem, que minha filha tá nascendo!
O carro colide com
outro veículo.
JORGE
- Mais essa! E agora?
FÁTIMA
- Minha filha vai nascer, não vou aguentar chegar no hospital.
Beatriz sai do outro carro, furiosa.
BEATRIZ
- Não presta atenção pra onde anda
não, seu barbeiro de uma figa!
FÁTIMA
- Ah não, era só o que me faltava!
BEATRIZ
(reconhecendo)
- Jorge! Fátima!
JORGE
- Fátima tá aqui parindo, não sei o
que fazer.
BEATRIZ
- Abre a porta do carro deixa eu
ajudar.
FÁTIMA
- Não carece de sua ajuda não!
Fátima passa a mão na cabeça da criança que já
tá coroando.
FÁTIMA
- Volte pra dentro minha filha, ande,
obedece mainha!
BEATRIZ
- Deixe de bestagem! Eu ajudei colocar
essa menina pra dentro, agora vou ajudar colocar ela pra fora. Faz força, vamo!
Obrigado pelo seu comentário!