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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 47 (penúltimo capítulo)

 



Novela de Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
PAULO
RAIMUNDA
REBECA
RAVENA
BEATRIZ
JORGE

FÁTIMA
KALEB
MARIA
PANDORA
DARLAN

Participação Especial:
HOMEM que abordou Maria, POLÍCIA, JUÍZ, CARLA, PRISCILA


CENA 01/ EXT/ AVENIDA/ NOITE

Maria vestida de forma provocante, caminha ao longo da avenida movimentada. Seu rosto está triste e cansado. Enquanto ela caminha, carros passam rapidamente, um diminui a velocidade e para ao seu lado.

 

HOMEM

(de dentro de um carro, gritando)

- Toda delicinha, hein minha cprincesa? Venha cá, entra aí, vamos dá uma volta!

 

Maria olha para o homem por um momento, sua expressão mostrando uma mistura de tristeza e resignação. Antes que ela possa responder, Darlan que está trabalhando no semáforo próximo, a vê ao longe. Ele corre em direção a ela.

 

DARLAN

(gritando)

- Maria! Maria não vá, espere!

 

Ele atravessa a rua correndo e se aproxima dela.

 

MARIA

(chorando)

- Me deixa Darlan, fique longe de mim!

 

DARLAN

- Não vou deixar cê fazer isso.

 

Darlan encara o homem no carro com uma expressão firme, deixando claro que ele não vai permitir que Maria vá com ele. O homem, percebendo a situação, decide afastar-se e acelera, deixando os dois a sós.

 

DARLAN

- Eu já sei de tudo meu amor, não vou deixar esse cara continuar lhe machucando. Venha comigo Maria, deixa eu lhe ajudar.

 

Mesmo em prantos, Maria decide acompanhar Darlan. 

 

CENA 02/ INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ NOITE

Rebeca, Laura e Pandora estão sentadas, enquanto conversam.  Kaleb está ao telefone, discutindo algo sério.

 

REBECA

- Mainha foi na delegacia ver painho. Não entendi muito bem não, viu Laura? Nem lhe contei, painho ficou famoso, passou na televisão. Aí ele comprou um barco bem grande, aí ficou lá dançando de cueca com o irmão Osvaldo e um monte de homem lá. Acho que mainha não gostou muito de ver painho dançando de cueca.

 

Pandora se acaba de rir.

 

PANDORA

- Ai tia, não aguento isso! Gente, ela misturou a história toda.

 

LAURA

(sorrindo, mas preocupada)

- Tô aqui preocupada com minha mãe, a coitada deve de tá arrasada, viu?

 

REBECA

- Se preocupe não, viu Laura? Mainha foi arrastada não, ela foi de carro. Logo tá aí.

 

PANDORA

(irônica)

- É bem capaz dela vim no barco que meu vô comprou.

 

REBECA

- Menina, é bem capaz mesmo, viu?

 

PANDORA

(sorrindo)

- Ah não, minha tia!

 

Nesse momento, Kaleb se aproxima, encerrando a ligação telefônica.

 

KALEB

(olhando para Laura)

- Bem, a polícia encontrou Ravena. Ela já foi levada de volta para o Acre. E cê vai ter que ir também Laura. Como já lhe falei, o julgamento vai acontecer lá.

 

Laura olha para Kaleb com uma expressão séria e determinada.

 

LAURA

- Eu sei, já tá tudo pronto. Kaleb, quero muito que cê defenda também Ravena.

 

KALEB

- Farei isso com prazer. Porém já lhe adianto, a situação dela vai ser bem mais séria que a sua. Pode ser que Ravena fique presa. Vamos tentar trabalhar na ideia de que tudo não passou de um acidente, e o que erro de cês duas foi negligência em não socorrer a vítima.

 

PANDORA

- E mãe Laura, também corre o risco de ser presa?

 

KALEB

- Esse risco não tá descartado. Mas farei de tudo para que tanto sua mãe Laura, quanto sua mãe Ravena, respondam em liberdade. 

 

CENA 03/ EXT/ RUA/ NOITE

Darlan e Maria estão sentados no meio-fio, enquanto conversam.

 

MARIA

- Ele sempre abusou de mim, viu Darlan? Desde de pequena. Nem sei lhe informar direito como tudo começou. Ele me chamava pra brincar, mas eu entendia que não era certo aquelas brincadeiras. Ele me tocava, pedia também para que eu o tocasse. Eu tinha muito medo dele me afastar de mainha. Ele falava que se eu contasse pra ela, ele iria embora. Mas nunca houve penetração, até ontem...

 

DARLAN

(assustado)

- Maria, ele lhe forçou algo ontem?

 

Maria balança a cabeça concordando que sim.

 

MARIA

(se acabando de chorar)

- Tô com nojo de mim mesma. Quero morrer, quero sumir, quero arrancar essa dor que tô sentindo. Por isso que resolvi me prostituir, assim como minha voinha fez quando foi abusada.

 

DARLAN
- Nem sei o que lhe dizer, Maria. Tô aqui em choque com tudo isso que cê tá me contando.

 

Maria se levanta agoniada.

 

MARIA

- Mas eu não deveria ter lhe contado, agora ele vai querer lhe matar Darlan. Cê tem que fugir por um tempo.

 

DARLAN

- Ninguém aqui vai fugir. A gente vai na delegacia, e cê vai contar tudo isso pra polícia. Maria, esse pesadelo tem que acabar.

 

MARIA

- E se ele lhe matar, matar Pandora?... Ave Maria meu Senhor do Bonfim e se ele matar mainha?

 

DARLAN

- Eu vou tá do seu lado, meu amorzinho o tempo todo, não se preocupe. A gente vai na polícia, eles vão saber nos instruir da melhor forma. Precisamos ir lá agora Maria.




CENA 04/ INT/ CASA DA JANA/ QUARTO DA MARIA/ NOITE

Jana entra, procurando por sua filha.

 

JANA

(sussurrando sozinha)

- Maria! Oxente, ela não tá aqui? Não me falou nada que iria sair.

 

Seus olhos se fixam na prateleira acima da escrivaninha onde está o diário de Maria. Ela relembra as palavras de Darlan, ecoando em sua mente.

 

DARLAN

(off)

- Olhe o diário, ler o diário de Maria. Se existe alguma coisa, na certa Maria escreveu lá.

 

Jana hesita por um momento, mas finalmente, decide pegar o diário. Abre o diário de Maria e começa a ler as palavras de sua filha, seus olhos percorrendo as páginas escritas com a dor e a confusão de uma jovem que sofreu em silêncio.

 

Me sentia despedaçada, vazia, sem amor. Ninguém pode compreender a dor que sinto. Estou em pedaços, e a única coisa que me restou foi o meu silêncio. Não sabia lidar comigo mesma. Pensar em chegar em minha casa, era sempre um desafio. Eu nunca sabia o que poderia me acontecer. Meu medo me atormentava. Eu sentia nojo de mim, não conseguia pensar em mais nada. Queria nunca ter existido, queria sumir, não ver ninguém. A angustia que eu sentia por ter sido abusada, era como uma ferida que não cicatrizava.

 

 À medida que lê, o choque e a tristeza se misturam no rosto de Jana. Lágrimas começam a escorrer pelo seu rosto.

 

 

CENA 05/ INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE ESTAR/ NOITE

Raimunda e Laura estão sentadas juntas conversando.

 

RAIMUNDA

(com voz firme)

- Sei que estamos passando por tempos difíceis, mas não vou desistir de minha caminhada. A minha fé em Deus é inabalável, e sei que Ele me dará a força para superar isso. Não vou permitir que essa situação me derrube. Mas desta vez o mandamento principal que irei seguir é o amor. Deixe que Deus julgue, deixe que Deus cobre da forma que ele achar que deve.

 

LAURA

(com carinho)

- A senhora não tá sozinha não, viu? Não sei como vai ficar minha situação, diante de tudo isso que também vem me acontecendo. Mas eu lhe prometo que se eu sair livre dessa, vou vim aqui e lhe ajudar na caminhada.

 

RAIMUNDA
- Oh minha filha, isso me deixaria feliz por demais! Aos pouquinhos a gente vai se erguendo, né mesmo?

 

LAURA

- Sei que já fui muito rebelde, mas tá na hora de voltar pra casa do pai, né?

(apontando para o céu)

- Daquele pai lá de cima.

 

RAIMUNDA
- Cê vai voltar sim, cê e toda sua família. Como lhe disse, aqui o mandamento agora é o amor, vamos deixar o julgamento só para Deus.

 

 

As duas se abraçam.

 

CENA 06/ INT/ CASA DA JANA/ QUARTO DA MARIA/ NOITE

Jana está sentada na cama, com o rosto marcado pelo choro, segurando o diário de Maria em suas mãos trêmulas. A porta se abre e Paulo entra, ofegante e com uma expressão desesperada.

 

JANA

(com raiva e tristeza)

- É mentira, né? Por favor, me diz que isso não é verdade. Cê não seria capaz de fazer isso com minha filha.

 

PAULO

(ofegante)

- Jana... eu não... A gente precisa conversar.

 

Jana possuída pela raiva e pela tristeza parte para cima de Paulo, golpeando-o com todas as suas forças.

 

JANA

(eufórica)

- Desgraçado! Como cê pôde? Eu te odeio desgraça! Vou lhe matar!

 

PAULO

(tentando se defender)

- Calma Jana! Vamos conversar!

 

Paulo tenta se defender, mas é dominado pela fúria de Jana. Em meio à briga, Paulo consegue jogar Jana no chão. Ele se afasta, tentando se recompor, mas está visivelmente abalado.

 

PAULO

(com nervosismo)

- Eu fiz com ela, o mesmo que o pai dela fez com cê. O que eu queria mesmo era ter matado aquele desgraçado, mas não o encontrei.

 

JANA

(em prantos)
- O que cê tá dizendo? Cê é um monstro Paulo, Maria não tem culpa de nada. Meu Deus, como nunca percebi isso?

(partindo novamente para cima de Paulo)

- Vou lhe mandar para o inferno, sua desgraça!

 

Paulo se protege, empurrando Jana novamente no chão. Ele vai se afastando de costa, e entra em seu quarto e pega uma arma que estava escondida. Ele a aponta para Jana, deixando-a em estado de choque e medo.

 

PAULO

- Fique longe! Não vem com seu ataque de fúria pra cima de mim, não!

 

JANA

(assustada)

- Paulo, cê faria isso? Cê tem coragem de me matar?

 

PAULO

- Não duvide disso! Não era pra nada disso ter acontecido. As coisas não eram pra ter terminado desse jeito.

(chorando)

- Maria não podia ter escrito essas coisas. Era o nosso segredo. Eu pedi pra ela não escrever. Porque ela fez isso? Tava tudo bem, ninguém sabia de nada, ela era só minha. Até aquele moleque atrevido aparecer e mudar a cabeça de minha menina.

 

JANA

- Darlan, ele tava certo. E eu burra não quis acreditar.

 

PAULO

(com ódio)

- Primeiro vou lhe matar, depois vou matar aquele moleque. E aí sim, vou viver com Maria. Eu a amo, e ela vai ser só minha e de mais ninguém. Jamais vou permitir que qualquer outro chegue perto dela.

 

 

CENA 07/ EXT/ RUA/ EM FRENTE A CASA DA JANA/ NOITE

O carro da polícia se aproxima da casa de Jana, com Darlan e Maria dentro. De repente, um tiro é ouvido, ecoando pela rua. Darlan e Maria ficam em estado de choque, seus olhos se encontram em um misto de terror e desespero.

 

MARIA

(desesperada)

- Mainha! Ele matou mainha, Darlan! Eu não podia ter contado pra ninguém, ele me falou que mataria ela se eu contasse. Foi minha culpa!

 

DARLAN

(abraçando Maria)

- Calma meu amor, cê não tem culpa de nada. Vamos manter a calma, a polícia tá indo lá ver.

 

 

A polícia entra rapidamente na casa. Maria está em lágrimas, tremendo de medo e choque. Darlan abraçado com ela tentando confortá-la.

 

MARIA

(soluçando)

- Não aguento mais. Tudo isso é um pesadelo.

 

CENA 08/ INT/ CASA DA JANA/ CORREDOR/ NOITE

Ao entrarem na casa, os policiais percebem a situação no corredor entre os quartos. Paulo está no chão, a arma ao lado dele, ainda em sua mão. Jana sentada à frente com as mãos sobre os joelhos e se derramando em lágrimas, totalmente em choque.

 

JANA

(voz embargada)

- Ele... ele iria me matar. Mas depois atirou nele mesmo! Eu quero minha filha, ondé que tá minha filha?

 

POLICIAL

- Calma senhora! Sua filha tá protegida.

(ordenando outro policial)

- Acompanhe ela até o camburão.

 

CORTE rápido para o lado de fora, mostrando o encontro entre mãe e filha, que se abraçam emocionadas.

 


CENA 09/ INT/ ACRE/ DELEGACIA/ SALA DE VISITA/ TARDE

Laura está sentada na sala aguardando. Ravena entra na sala algemada, aguardando julgamento. Laura levanta e se aproxima para beijar Ravena, mas ela estende a mão, impedindo-a.

 

RAVENA

(com frieza)

- Não precisa. Sente-se.

 

Laura, surpresa pela reação de Ravena, obedece e se senta, olhando-a com confusão.

 

RAVENA

- Foi cê que me entregou, não foi? Cê que falou pra polícia donde eu tava.

 

LAURA

(insegura)

- Ravena, eu... Oh meu amor, eu fiz o melhor que tinha que ser feito no momento. Não dava pra gente continuar fugindo. A gente precisava encarar isso de frente.

 

RAVENA

- Eu lhe contei pra onde eu tava indo, porque confiei em cê, Laura. Mas olhe onde vim parar. Agora tô perdida.

 

LAURA

- Eu conversei com Kaleb...

 

RAVENA

(interrompendo)

- Kaleb? Aquele Kaleb que queria casar com cê a força?

 

LAURA

- As coisas mudaram, né Ravena? Kaleb agora é advogado, e ele tá disposto em nos defender.

 

RAVENA

(rindo)

- Um homem? Poupe-me né Laura? Não preciso da defesa de nenhum macho escroto. Se preocupe não, viu minha linda? Já tenho minha defesa. Uma mulher incrível, que me acolheu sem nem ao menos me conhecer direito. Ela será minha advogada.

 

LAURA

- E nós duas, como vamos ficar?

 

RAVENA

- Cê traiu minha confiança... Não existe mais nós duas. Agora deixa eu voltar pra minha cela, vai lá atrás de seu macho.

 

 

CENA 10/ EXT/ CASA DOS FERNANDES/ JARDIM/ TARDE

Jana está sentada pensativa, Giovana se aproxima. Ela desabafa com a irmã e se culpa por não ter percebido antes o que estava acontecendo. As duas conversam sobre a pessoa do pedófilo, que muitas das vezes pode está do nosso lado e a gente não ver.

 

Jana está sentada em um banco, perdida em pensamentos. Giovana se aproxima, percebendo a angústia na expressão da irmã.

 

GIOVANA

(com preocupação)

- E aí mana! Tá tudo bem por aí?

 

Jana suspira, olhando para Giovana com olhos cheios de tristeza e arrependimento.

 

JANA

(com voz embargada)

- Me sinto tão culpada, Gih. Não percebi o que tava acontecendo com Maria. Como pude ser tão cega?

 

GIOVANA

(com empatia)

- Não se culpe, meu amor. Maria sempre foi assim, tímida, quietinha na dela. A gente sempre entendeu isso como um jeitinho dela. Quem imaginaria que aquele pai maravilhoso que Paulo demonstrava ser, estaria fazendo esse tipo de coisa?

 

JANA
- Ele fazia isso desde que ela era pequena, Gih. Imagina o quanto que minha filha sofreu. A pobrezinha tinha medo de me falar e ele fazer algo contra mim. Para me defender ela sofreu calada durante todos esses anos.

 

GIOVANA

- Ela também se sentia culpada, Jana. A vítima de pedofilia muitas das vezes acha que a culpa é dela. Ela sabia que aquilo era errado, mas não sabia de quem era o erro. Isso é só nos mostra o tanto de criança possa tá sofrendo por aí. Às vezes, o monstro está entre nós, disfarçado de normalidade. Podemos conviver com eles, sem suspeitar do que são capazes. É aterrorizante pensar nisso, mas é a realidade. Precisamos estar atentos, proteger uns aos outros e não deixar que esses monstros continuem a destruir vidas.

 

CENA 11/ JULGAMENTO / TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ACRE / SALA DE AUDIÊNCIAS

A sala está cheia. As pessoas cochicham, curiosas sobre o caso de Ravena e Laura. O Juiz toma seu lugar e a audiência começa. No banco dos réus estão Laura, Ravena e seus respectivos advogados, Kaleb e Priscila.

 

JUIZ

(sério, dirigindo-se ao júri)

- Senhoras e senhores jurados, estamos reunidos aqui para julgar o caso do Estado contra Laura Sirqueira e Ravena Montebelo, acusadas do crime de homicídio. Acusa-se que as rés, em um ato impulsivo, atropelaram e mataram Maciel Santos. A defesa de Laura é representada pelo advogado Kaleb Monteiro, e a defesa de Ravena é representada pela advogada Priscila Almeida. O Ministério Público será representado pela Promotora Carla Sampaio. Vamos começar.

 

O Juiz faz um gesto para que a Promotora comece suas argumentações.

 

CARLA

(firme)

- Senhoras e senhores do júri, este é um caso claro de homicídio. As rés deliberadamente atropelaram a vítima, deixando-a para morrer. Não há justificativa para tal ato, não importam as circunstâncias pessoais das acusadas.

 

Kaleb se levanta, seguro de si, para apresentar a defesa de Laura.

 

KALEB

(confiante)

- Excelência, senhoras e senhores do júri, minha cliente, Laura Sirqueira, era uma mera passageira no veículo no momento do ocorrido. É crucial lembrar que quem estava ao volante era Ravena Montebelo, a outra ré deste caso. Laura, por sua vez, pode ser acusada de negligência por não ter prestado socorro, mas essa negligência foi causada pela ação de sua companheira, que não parou o veículo. Peço ao júri que leve em consideração esse contexto ao analisar o caso de Laura.

 

PRISCILA

(determinada)

- Meu colega está querendo jogar toda a culpa pra cima de minha cliente. Porém senhoras e senhores do júri, a situação de minha cliente era extremamente delicada naquele momento. Maciel Santos, a vítima, vinha ameaçando sua família, colocando em risco não apenas a vida de Ravena, mas também a de sua filha, Pandora. O atropelamento ocorreu em um momento de pânico, em uma tentativa desesperada de proteger quem amava. Não podemos julgar o ato isolado de Ravena sem considerar o estado emocional e o perigo iminente que ela enfrentava.

 

Após ouvir os argumentos finais, o júri se retira para a sala de deliberação. Após uma longa discussão, eles chegam a um veredicto. O Juiz chama todos de volta à sala de audiências para anunciar a decisão.

 

JUIZ

(com seriedade)

- Com base no veredicto do júri, neste tribunal, eu, como juiz, pronuncio a sentença. Ravena Montebelo, você é considerada culpada por homicídio culposo, levando em conta as circunstâncias atenuantes. Devido ao contexto emocional e às ameaças que você e sua família enfrentaram, sua pena será de três anos de reclusão, com possibilidade de liberdade condicional após cumprir dois terços da pena, além de serviço comunitário e acompanhamento psicológico obrigatório durante o período de liberdade condicional.

 

Ravena escuta a sentença com uma expressão resignada, aceitando seu destino com dignidade.

 

JUIZ

(continuando)

- Laura Sirqueira, considerando as circunstâncias excepcionais deste caso e levando em conta seu papel como passageira no veículo, entendo que sua culpa é menos significativa. Portanto, concedo a você a suspensão condicional da pena. Você não será encarcerada, mas deverá cumprir determinadas condições durante um período de prova supervisionada. Estas condições incluirão a participação em programas de conscientização sobre segurança no trânsito, serviço comunitário e acompanhamento psicológico para lidar com o trauma deste evento.

 

Laura respira aliviada ao ouvir a decisão do juiz. Ela agradece Kaleb, com gratidão nos olhos. Ravena olha para Laura com um olhar fuzilante, sabendo que, ela ficaria presa, mas Laura não.

 

CENA 12/ EXT/ PRAIA/ PEDRAS/ DIA

Maria e Darlan estão sentados em algumas pedras à beira-mar, o som suave das ondas quebrando ao fundo.

 

MARIA

(hesitante)

- Posso lhe fazer uma pergunta bem íntima?

 

DARLAN

- Claro meu amor.

 

MARIA

- Durante o tempo em que cê esteve com Pandora, cês... Cê sabe. Aconteceu?

 

DARLAN

- Cê quer saber se eu e Pandora transamos, é isso?

 

MARIA
- Sim. Transaram?

 

DARLAN

(calmo)

- Sim, aconteceu. No início Pandora ficou meio com receio, ela não havia ficado com homem antes. Mas a gente foi deixando a coisa acontecer naturalmente, sem pressa.

 

MARIA

(franca)

- Darlan, não quero que cê fique chateado, mas... Não quero que role entre a gente. Acho tudo isso muito horrível.

 

DARLAN

(gentil)

- Oh meu amorzinho, não te preocupe com nada disso. O importante que estamos juntos. Não quero que cê faça nada que não tenha vontade, que não se sinta bem. Tô ao seu lado, vou esperar o tempo que for necessário. Quero que cê se sinta segura e confiante em nossa relação.

 

MARIA

- Darlan, e se eu não querer que aconteça nunca? Cê ainda vai querer continuar comigo?

 

DARLAN

- Claro, sua boba. Não tô contigo por causa disso. Não vamos ficar pensando nessas coisas, quero que a nossa relação seja leve. Faça apenas aquilo que cê sentir vontade, não se cobre em nada. Eu gosto de tá com cê, independente de qualquer coisa.

 

MARIA

(decidida)

- Lhe amo, viu Darlan? Acho que lhe amo desde que lhe vi pela primeira vez no colégio.

 

DARLAN

- Oxente, também lhe amo demais minha princesa.

 

MARIA

(fechando a cara)

- Não! Nunca me chame assim, por favor.

 

DARLAN

- Claro, me perdoe.

 

Os dois se beijam.

 

CENA 13/ INT/ TRIBUNAL / CORREDOR DE ESPERA / DIA

Estão Laura, Kaleb e Pandora conversando.

 

LAURA

(aliviada)

- Nem acredito, que alívio meu Deus! Por um instante pensei que fosse ficar aqui.

 

PANDORA

- Que bom minha mãe! Isso significa que vamos poder voltar pra Salvador.

 

KALEB

- Vai sim, mas sua mãe ainda tem cumprir algumas penas.

 

LAURA

- Quero fazer tudo certinho, como manda a lei.

 

Ravena passa algemada, lançando um olhar de puro ódio na direção de Laura. Laura a encara com firmeza. Priscila vai se aproximando de Laura.

 

PRISCILA

- Oi Laura!

 

LAURA

- Tudo bom?

 

PRISCILA
- Quero conversar depois com cê sobre sua separação com Ravena.

 

LAURA

- Minha separação? Olhe, Ravena ainda é minha mulher e não tô pretendendo largá-la aqui não.

 

PRISCILA

- Pensei que ela já tivesse conversado com cê sobre isso... Eu e Ravena agora estamos juntas, e pretendemos legalizar a nossa união. Se preferi posso conversar melhor com seu advogado, e tentar entrar em uma acordo que seja melhor para todos.

 

PANDORA

- Mãe Ravena é rápida, hein?

 

KALEB

- A gente entrará em contato com cê.

 

PRISCILA

- Com licença!

 

Priscila sai e Laura fica atônica.

 

LAURA

- Pelo o que entendi, Ravena já tava vivendo com essa mulher. Acho que realmente eu não tenho muita sorte com o amor.

 


CENA 14/ EXT/ RUA/ CARRO DE JORGE/ DIA

O carro de Jorge está em alta velocidade, cortando o trânsito movimentado da cidade. Ele está com pressa, dirigindo para o hospital, pois o filho de Fátima está prestes a nascer.

 

JORGE

- Calma Fátima, respira cachorrinho!

(imitando cachorro)

- Auu! Auu! Auu!

 

FÁTIMA

(em trabalho de parto)

- Que porra de cachorrinho! Te avexe homem, que minha filha tá nascendo!

 

O carro colide com outro veículo.

 

JORGE

- Mais essa! E agora?

 

FÁTIMA
- Minha filha vai nascer, não vou aguentar chegar no hospital.

 

Beatriz sai do outro carro, furiosa.

 

BEATRIZ

- Não presta atenção pra onde anda não, seu barbeiro de uma figa!

 

FÁTIMA

- Ah não, era só o que me faltava!

 

BEATRIZ

(reconhecendo)

- Jorge! Fátima!

 

JORGE

- Fátima tá aqui parindo, não sei o que fazer.

 

BEATRIZ

- Abre a porta do carro deixa eu ajudar.

 

FÁTIMA

- Não carece de sua ajuda não!

 

Fátima passa a mão na cabeça da criança que já tá coroando.

 

FÁTIMA

- Volte pra dentro minha filha, ande, obedece mainha!

 

BEATRIZ

- Deixe de bestagem! Eu ajudei colocar essa menina pra dentro, agora vou ajudar colocar ela pra fora. Faz força, vamo!




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