ESPERANÇA
Capítulo 06
Novela criada e escrita por
Wesley Franco
CENA 1. INT. DELEGACIA – SALA DO DELEGADO – DIA
Almeida se dirige a áreas de celas, onde Matteo está
preso. Até que ele chega em frente à cela onde Matteo está sentado em um canto,
com os punhos cerrados, sujo e abatido, mas ainda com um olhar desafiador.
Almeida se aproxima da porta da cela, ficando cara a cara com Matteo, que se
levanta devagar, com os olhos queimando de ódio.
MATTEO (COM DESPREZO) – O que você veio fazer aqui?
Almeida solta uma risada curta, enquanto balança o
chaveiro nas mãos.
MATTEO – O que você quer? Quer ver as cinzas da sua
vitória?
ALMEIDA – Quem falou de vitória? Isso aqui...é apenas
o começo. Eu vim aqui para te dar uma chance de você cair na real. Você está
sozinho, garoto. Sua mãe está morta, seu pai está morto, seu irmão está morto,
sua fazenda está queimada, e agora...você está trancado atrás dessas grades.
Matteo, com os punhos cerrados, avança até as grades,
ficando o mais próximo possível de Almeida.
MATTEO (RAIVOSO) – Você pode me trancar aqui, mas isso não vai
apagar o que você fez. Minha mãe morreu por sua causa! Por sua ganância! Eu vou
te derrubar, Almeida. Custe o que custar.
Almeida permanece calmo, mas seu olhar se torna frio e
calculista. Ele se aproxima um pouco mais das barras de ferro, quase face a
face com Matteo.
ALMEIDA – Você acha que pode me derrubar? Eu controlo
essa cidade, esses homens...e até a lei, Matteo. Você...não é nada além de um
obstáculo. E obstáculos...eu simplesmente removo.
Almeida olha fixamente para Matteo enquanto abre
lentamente a fechadura da cela. Assim que a porta da cela se abre, Ezequiel
entra e se posiciona ao lado de Matteo. Matteo está de pé, desafiador, seus
olhos fixos em Almeida com uma mistura de raiva e desprezo.
ALMEIDA – Sabe, Matteo...eu sempre admirei a coragem.
Mas você está confundindo coragem com estupidez.
Almeida faz um sinal com a cabeça, e antes que Matteo tenha
tempo de reagir, Ezequiel o agarra pelos braços, imobilizando-o com força.
Matteo tenta se soltar, lutando com toda sua força, mas Ezequiel é muito mais
forte e o mantém firmemente de pé, com os braços presos para trás. Matteo tenta
se soltar, mas não consegue.
MATTEO – Me solta, maldito!
ALMEIDA – Hoje você vai começar a pagar pelo que fez
ontem.
Almeida caminha até Matteo, a expressão no rosto de
Matteo é de puro ódio. Almeida dá o primeiro soco direto na barriga de Matteo.
O impacto é forte, e Matteo solta um gemido abafado de dor, seu corpo dobra-se
um pouco, mas ele mantém o olhar fixo em Almeida, resistindo. Almeida dá um
outro golpe em sua barriga.
ALMEIDA – Vai continuar resistindo? Vai continuar
acreditando que tem alguma chance contra mim?
Almeida dá mais dois socos rápidos na barriga de Matteo.
Matteo geme de dor, mas não cede, seus olhos permanecem fixos nos de Almeida,
cheio de fúria.
MATTEO (COM DIFICULDADE) – Você...não passa...de um covarde.
Almeida, visivelmente irritado com a resistência de
Matteo, dá mais socos na mesma região, seu rosto agora demonstra um prazer
sádico ao ver Matteo sofrer. Matteo se contorce, seu corpo sente o impacto, mas
ainda assim se mantém de pé com a ajuda de Ezequiel que o segura, seu olhar
permanece sempre em direção a Almeida.
ALMEIDA – Eu poderia acabar com você agora mesmo. Mas
prefiro te ver se destruindo aos poucos.
Almeida, após uma última sequência de socos, faz um gesto
para Ezequiel. Ezequiel, sem dizer uma palavra, joga Matteo violentamente no
chão da cela. Matteo cai de lado, gemendo de dor, mas rapidamente se move para
tentar se levantar, mesmo com o corpo visivelmente machucado.
Ezequiel e Almeida saem da cela, Almeida ajusta seu paletó,
enquanto Ezequiel fecha a cela.
ALMEIDA – Se eu fosse você, começaria a rezar...porque
o que vem a seguir, garoto, vai ser muito pior do que essas grades. Fica aí,
aproveite sua cela...e sua derrota.
Almeida dá meia volta e caminha em direção à sala do
delegado. Ezequiel o acompanha de perto. Quando chegam à sala de Afrânio, o
delegado que os observa de pé, tenta disfarçar o nervosismo. Almeida estende a
mão com as chaves da cela, e Afrânio as recebe com uma expressão preocupada.
AFRÂNIO – Coronel, precisamos conversar. Não posso
manter o rapaz preso por muito tempo.
ALMEIDA – E por que não?
AFRÂNIO (NERVOSO) – Matteo tem apenas 17 anos, coronel. Não
deveria nem estar preso aqui. O que fiz foi uma...exceção. Diante de tudo que aconteceu,
das acusações públicas que ele fez contra o senhor na sua casa, eu precisava
dar uma resposta para a cidade.
Almeida dá um sorriso frio, andando calmamente pela sala
enquanto Afrânio fala.
ALMEIDA – Esqueça essas bobagens de certo e errado,
delegado. Você vai manter ele preso pelo tempo que eu julgar necessário. E no
momento certo, eu mesmo darei a ordem para soltá-lo.
AFRÂNIO – Coronel, o problema é que a cidade...o povo
vai começar a questionar. Já tem gente comentando sobre a prisão de um menor, e
isso pode complicar as coisas.
ALMEIDA – O assunto está encerrado, delegado. Não se
atreva a me desobedecer!
Almeida vira as costas sem esperar mais respostas e ele
sai da delegacia, Ezequiel vai logo atrás. Afrânio, visivelmente perturbado,
fica parado, segurando as chaves e olhando para porta onde Almeida saiu.
CORTA PARA:
CENA 2. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – QUARTO DE CAMILA – DIA
Camila está deitada na cama, pensativa. Ela olha para o
teto, presa em seus pensamentos, até que sua mãe entra no quarto.
DOROTÉIA – Filha, você não vai almoçar?
Camila, sem responder, se senta na cama e encara sua mãe,
com uma expressão séria.
CAMILA – Mãe, todas aquelas acusações que o Marcos e
o Matteo fizeram contra o papai...eram verdade?
Dorotéia, visivelmente desconcertada, tenta disfarçar o
desconforto. Ela anda até a penteadeira, arruma alguns objetos, evirando o
olhar de Camila.
DOROTÉIA – Camila, não se preocupe com isso agora. Seu
pai tem o jeito dele. As coisas nem sempre são simples.
CAMILA – Não desconversa, mãe. Eu quero saber. É
verdade?
Dorotéia suspira profundamente, percebendo que não pode
mais fugir da pergunta. Ela finalmente vira para encarar a filha.
DOROTÉIA – As acusações do Marcos...em parte, são
verdade. Marcos e Vittorio tiveram um caso. Seu pai descobriu e nunca aceitou
isso. Ele usou sua influência para mandar o Vittorio para a guerra. Ele queria
afastar o Marcos dessa...dessa vida com outro homem.
Camila se levanta de repente, surpresa e chocada.
CAMILA (DESOLADA) – Então o papai destruiu a vida deles...tudo
por causa do preconceito dele?
Dorotéia abaixa a cabeça, envergonhada. Camila começa a
andar pelo quarto, indignada.
CAMILA – E o incêndio na fazenda dos Bellini? Foi
ele, não foi? Ele matou a mãe do Matteo queimada?
DOROTÉIA (TENSA) – Seu pai prometeu que não teve nada a ver com
o incêndio, mas...eu fiquei com um pé atrás.
Camila olha para Dorotéia com um misto de decepção e
tristeza.
DOROTÉIA – Dias antes, ele me disse que estava muito
interessado em comprar a fazenda Bellini. Ele até tentou fazer uma oferta, mas
eles recusaram.
CAMILA – O Marcos está certo, ele faria qualquer
coisa para conseguir o que quer, não é?
Dorotéia começa a chorar, sentindo a pressão da situação.
Ela se senta na cama, com a mão tremendo enquanto tenta segurar as lágrimas.
CAMILA – E o Marcos? Onde ele está?
Dorotéia limpa os olhos com a mão e responde com a voz
trêmula.
DOROTÉIA (CHORANDO) – Seu pai o mandou de volta para a clínica.
Ele disse que o Marcos não sairá de lá até estar curado.
Camila, fica devastada pela notícia. Ela balança a
cabeça, furiosa e desiludida.
CAMILA (COM RAIVA) – Curado de que? O Marcos não está doente! E
você o deixou fazer isso? Você não fez nada para impedir?
DOROTÉIA – Eu tentei, mas seu pai estava implacável
depois do que o Marcos fez ontem. Ele não mudaria de ideia, não importa o que
eu dissesse.
Camila, com lágrimas nos olhos, encara a mãe por um
momento antes de tomar uma decisão.
CAMILA – Eu não posso tirar o Marcos de lá, mas eu
vou até a cidade e vou tirar o Matteo da cadeia. Não é justo ele ficar preso,
depois de tudo que aconteceu com ele e com a família dele.
Dorotéia se levanta, desesperada, tentando impedir a
filha.
DOROTÉIA – Camila, você não pode contrariar seu pai! Ele
vai ficar furioso.
CAMILA – Eu não me importo. Alguém precisa fazer o
que é certo. Se você não teve coragem de fazer, eu tenho.
Camila sai do quarto, deixando Dorotéia sozinha, ainda em
lágrimas.
CORTA PARA:
CENA 3. INT. CASA DE MARTINA E JERÔNIMO – SALA – DIA
Martina vestida de preto, em luto, está sentada no sofá
da sala. Seus olhos, cheios de tristeza, observam Rodolfo e Isabella, que estão
sentados ao seu lado, cabisbaixos e em silêncio.
MARTINA – Eu sei que está sendo difícil para
vocês...perder a mãe, ver o Matteo preso...mas vamos passar por isso juntos, como
uma família.
Rodolfo e Isabella olham para Martina com olhos tristes,
sem palavras. Martina estende a mão, acariciando o cabelo de Isabella e
apertando a mão de Rodolfo.
MARTINA – Sei que dói muito, e parece que a dor nunca
vai passar...mas a Francesca estará sempre com vocês, ela agora estará lá de
cima cuidando de nós. E o Matteo, nós vamos tirá-lo de lá.
Jerônimo entra na sala, sua expressão é séria. Martina
percebe sua presença e se volta para as crianças.
MARTINA – Rodolfo, Isabella, subam para o quarto o
pouquinho. Preciso falar com o tio Jerônimo.
Rodolfo e Isabella se levantam ainda tristes e sobem as
escadas. Martina se volta para Jerônimo.
JERÔNIMO – Já resolvi tudo sobre o velório e o enterro
da Francesca. Falei com o padre Olavo, e ele vai conduzir a missa de corpo
presente.
MARTINA – Obrigada. Eu não sei como estaria lidando
com tudo isso sozinha.
Há um silêncio tenso no ar. Martina olha para Jerônimo,
hesitante, e então decide tocar no assunto que mais a incomoda.
MARTINA – Jerônimo...e o Matteo? Ele ainda está preso.
Isso não está certo. Ele é apenas um garoto.
Jerônimo suspira profundamente, ele passa a mão pelo
cabelo, visivelmente desconfortável.
JERÔNIMO – Martina, você sabe que eu trabalho para o
Coronel Almeida. Não posso me meter nisso. Matteo fez as escolhas dele e agora
precisa arcar com as consequências.
MARTINA (IMPLORANDO) – Ele é seu sobrinho, Jerônimo! E um garoto!
Você mais do que ninguém sabe que ele não deveria estar preso, ele só está
preso porque enfrentou o coronel. Ele precisa de ajuda, e você como advogado
pode defende-lo. Por favor!
Jerônimo, visivelmente irritado, dá um passo em direção a
Martina, sua voz se eleva com frustração.
JERÔNIMO (BRUSCO) – Matteo foi um irresponsável! Ele invadiu a
festa, acusou o coronel na frente de todo mundo e ainda partiu para cima dele.
O que você quer que eu faça? Que finja que isso nunca aconteceu?
Martina com os olhos marejados, olha para o marido com
uma mistura de raiva e decepção.
MARTINA – Ele perdeu a mãe! Ele está sozinho, sem
saber o que fazer. E você como advogado, tem o dever de ajudar quem precisa. O
Matteo é nossa família.
JERÔNIMO – Eu não posso me envolver. Ele se meteu nisso,
agora que se vire.
Martina, dá um passo para trás, chocada com a frieza do
marido. Lágrimas escorrem lentamente pelo seu rosto enquanto Jerônimo se
afasta, indiferente.
CORTA PARA:
CENA 4. INT. IGREJA – SACRISTIA – DIA
Padre Olavo e Chandra Dafni estão sentados em uma mesa,
cercados por papéis e anotações. O padre segura uma caneta enquanto Chandra
revisa a lista de preparativos para a quermesse.
CHANDRA DAFNI (ANIMADA) – Estamos quase com tudo pronto para a
quermesse, Padre. Já falei com cada membro da comunidade, e as barraquinhas estão
sendo montadas. Vai ser uma festa linda!
PADRE OLAVO (PENSATIVO) – Sim, Chandra, mas com tudo o que aconteceu
na cidade recentemente, o incêndio, a morte da Francesca, e agora o menino
Matteo preso, acho que deveríamos adiar a quermesse.
Chandra Dafni baixa os olhos, sua empolgação diminui. Ela
respira fundo, processando a sugestão do padre.
CHANDRA DAFNI (TRISTE) – Eu entendo...já estávamos tão adiantados com
os preparativos, mas o senhor tem razão. O clima não está para festas.
O padre Olavo coloca a mão gentilmente sobre a dela, com
um gesto de apoio.
PADRE OLAVO – Vai chegar o momento, Chandra. Precisamos
respeitar o luto e o que está acontecendo com a família Bellini.
Nesse momento, Camila entra na sacristia, visivelmente
nervosa e determinada. Ela faz uma breve reverência ao padre e se aproxima.
CAMILA – Padre Olavo, preciso da sua ajuda. É urgente!
O padre e Chandra trocam olhares de curiosidade e
preocupação. Olavo faz um sinal para que Camila continue.
PADRE OLAVO – Claro, minha filha. O que aconteceu?
Camila respira fundo, suas mãos tremem de ansiedade
enquanto fala.
CAMILA – O Matteo está preso injustamente, o senhor
estava lá e viu tudo que aconteceu. E o delegado só faz o que meu pai manda.
Ele não vai soltar o Matteo enquanto meu pai não der a ordem, e todos sabem
disso. Mas, se mostrarmos que o povo está contra essa prisão, que há uma
insatisfação geral, talvez o delegado ceda à pressão.
PADRE OLAVO – Entendo sua angústia, mas o que você tem em
mente?
CAMILA – Quero organizar um protesto na frente da
delegacia. Se o povo se unir e exigir a soltura do Matteo, o delegado não terá
escolha a não ser agir. E eu preciso da sua ajuda para reunir o maior número de
pessoas.
Padro Olavo se recosta na cadeia, pensativo. Chandra
Dafni que até então estava em silêncio, olha para Camila.
CHANDRA DAFNI – Eu vou ajudar. Vou falar com todas as
mulheres da cidade que vem à missa. Elas vão querer se juntar a nós, o que está
acontecendo com o Matteo é uma grande injustiça.
PADRE OLAVO – Se isso é o que vai ser necessário, pode
contar comigo, eu também vou ajudar. Vamos reunir as pessoas, mas lembrem-se,
deve ser um protesto pacífico. Vamos demonstrar nossa força pela união e não
pela violência.
Camila sorri com gratidão, sentindo que finalmente tem
uma chance de ajudar Matteo.
CAMILA – Obrigada, Padre. Obrigada, Chandra.
O padre se levanta da mesa, ele pega seu chapéu e se
volta para as duas.
PADRE OLAVO – Vamos começar a mobilizar as pessoas, eu vou
até o jornal falar com o Eriberto. A cidade precisa saber que a justiça não
pode ser manipulada. Matteo não pode continuar preso por causa de rancores
pessoais.
Chandra Dafni pega seus papéis e sai da sacristia
apressada, já planejando falar com as mulheres da cidade.
CORTA PARA:
CENA 5. INT. CASA DE MARTINA E JERÔNIMO – QUARTO DE
MARTINA E JERÔNIMO – DIA
Martina está remexendo uma velha caixa de madeira. Papéis
amarelados, fotografias antigas e pequenos objetos pessoais estão espalhados
pela cama, todos retirados de dentro da velha caixa de madeira.
MARTINA – Onde está, onde você está?
Ela continua procurando, seus dedos ágeis movendo
rapidamente os papéis até que, finalmente ela para. Seus olhos brilham levemente
quando ela encontra uma carta antiga cujo remetente é Flávio, padrinho de
Matteo.
MARTINA (ALIVIADA) – Aqui está!
Ela segura a carta com carinho por um momento, refletindo
sobre o aquilo representa. Logo, ela se senta à mesa, pega papel e caneta, e
começa a escrever uma carta para Flávio pedindo ajuda.
MARTINA (NARRANDO EM VOZ BAIXA ENQUANTO ESCREVE)
– Querido Flávio, o nosso
Matteo está em perigo. Preciso de sua ajuda mais do que nunca. Ele foi preso
injustamente, e nesse momento só você pode me ajudar a tirá-lo de lá...
Martina continua escrevendo a carta pedindo ajuda ao
padrinho de Matteo.
CORTA PARA:
CENA 6. INT. CASA DE MÉRCIA E ALFREDO – QUARTO DE MÉRCIA
E ALFREDO – DIA
Em um quarto semiescuro, Ernesto está transando com
Mércia, uma mulher casada. O quarto está iluminado apenas pela luz do sol que
entra pelas cortinas. Do lado de fora, se ouve passos de alguém se aproximando
e a porta começa a ser forçada.
ALFREDO (GRITANDO) – Abre essa porta, agora!
Ernesto e Mércia se assustam. Ernesto rapidamente se
levanta da cama, desesperado. O marido arromba a porta e entra furioso no quarto.
Ernesto, completamente pelado, apanha seu chapéu e corre para a janela, pulando
do segundo andar da casa, mal conseguindo se vestir.
ALFREDO (GRITANDO) – Covarde! Volta aqui!
Ernesto cai no jardim, pelado, e corre pela rua tampando sua
nudez apenas com o chapéu.
CORTA PARA:
CENA 7. INT. MANSÃO DE FLÁVIO – SALA DE JANTAR – DIA
Flávio, pai de Ernesto e padrinho de Matteo, está sentado
na sala de jantar, almoçando e conversando tranquilamente com a empregada,
Magali. Ao fundo, Ernesto entra em casa, tentando passar despercebido, pelado,
se cobrindo com o chapéu. Ele corre para o quarto e se deita.
FLÁVIO – Ernesto ainda está dormindo? Já passou da
hora de acordar.
MAGALI – Parece que sim. Não vi ele sair, na verdade
eu não vi nem a hora que ele chegou.
Flávio se levanta, caminha até o quarto de Ernesto e o
encontra deitado na cama, aparentemente exausto. Ele abre todas as cortinas, inundando
o quarto de luz.
FLÁVIO (IRRITADO) – Levanta, Ernesto! Já passou da hora de tomar
jeito na vida. Chega de chegar tarde e dormir até meio-dia!
Ernesto cobre o rosto com o travesseiro, incomodado com a
luz.
ERNESTO – Eu vou tomar jeito pai, só não vai ser hoje.
Fecha as cortinas, por favor, estou cansado.
FLÁVIO – Cansado de que? De ficar vagabundeando por
aí? Eu te avisei que ia viajar para o Rio hoje, e preciso que me leve até
estação. Já dei folga ao motorista.
Ernesto suspira profundamente, percebendo que não tem
saída. Ele se levanta, pelado, e começa a se vestir.
CORTA PARA:
CENA 8. INT. CASA DE HOMERO – QUARTO DE NATÁLIA – DIA
Fernando está sentado ao lado da cama de sua mãe,
Natália, que está pálida e visivelmente enfraquecida. Fernando termina de
contar os eventos caóticos da festa do Coronel Almeida.
FERNANDO – E foi assim que tudo terminou, o Marcos fez
um escândalo e o Matteo acabou preso por acusar o Coronel Almeida.
Natália mesmo debilitada, arregala os olhos em surpresa.
Ela solta um leve suspiro, sua expressão alternando entre choque e uma estranha
diversão.
NATÁLIA (COM UM SORRISO CANSADO) – Bem, parece que não faltou entretenimento
naquela festa.
Fernando sorri com ela, apreciando o leve momento de
humor, apesar da gravidade dos eventos. Os dois compartilham um pequeno momento
de cumplicidade, entre mãe e filho.
NATÁLIA – E seu pai? Há dias que peço para ele vim
aqui e ele não vem.
Fernando fica desconfortável, ele desvia o olhar, claramente
relutante em responder, escolhendo as palavras com cuidado.
FERNANDO – Na verdade mãe, ele não tem vindo aqui
porque tem passado muito tempo no banco. Hoje mesmo o Coronel Almeida pediu
para falar com ele, mal acordou e já precisou ir ao banco.
Natália tenta disfarçar sua decepção, mas a expressão em
seu rosto a entrega. Ela sabe que Homero tem se afastado dela, e a dor
emocional é visível.
NATÁLIA (TRISTE) – Entendo...sempre o trabalho. Sempre foi a
prioridade dele.
Fernando pega a mão de sua mãe, tentando confortá-la.
FERNANDO – Ele está com muitas preocupações, mãe, mas eu
estou aqui, sempre.
Natália aperta levemente a mão de Fernando, agradecida.
CORTA PARA:
CENA 9. INT. BANCO DA CIDADE – SALA DA PRESIDÊNCIA – DIA
No luxuoso escritório do presidente do Banco da cidade, Coronel
Almeida está em pé, olhando por uma janela enquanto fuma um charuto. Homero
está sentado na poltrona presidencial, com documentos à sua frente.
ALMEIDA – Homero, preciso que acelere o processo do
leilão da fazenda Bellini. Não posso perder tempo com burocracia. Quero comprar
essa terra o quanto antes.
HOMERO – Mas, Coronel, o processo precisa seguir os
trâmites legais. Não podemos simplesmente pular etapas.
ALMEIDA – Pule o que for necessário. Eu já esperei demais
por isso. Eles já não teriam condições de pagar essa dívida, e agora com a
fazenda em cinzas, muito menos.
HOMERO – Eu farei tudo que estiver ao meu alcance
Coronel, mas te adianto que não será tão simples.
Homero faz uma anotação nos papéis, enquanto Almeida
apaga o charuto com firmeza.
CORTA PARA:
CENA 10. EXT. DELEGACIA – DIA
Um grupo de manifestantes se reúne em frente a delegacia.
Camila, Chandra Dafni, Padre Olavo, Candoca, Eriberto, Angislanclècia, e outros
moradores da cidade gritam palavras de ordem, segurando cartazes pedindo a
libertação de Matteo. O clima é tenso, mas cheio de determinação.
MANIFESTANTES (GRITANDO EM CORO) – Soltem Matteo! Justiça para Matteo!
O delegado Afrãnio sai furioso da delegacia, ajeitando o
chapéu, claramente irritado com o barulho e a manifestação
AFRÂNIO (GRITANDO) – Dispersar! Agora! Vocês estão atrapalhando a
ordem pública!
ERIBERTO – Nós só sairemos daqui quando você parar de
ser o capacho do Coronel Almeida e cumprir a lei! Matteo é menor de idade e deve
ser solto!
Afrânio, furioso, perde a paciência. Ele saca sua arma e
dispara alguns tiros para o alto, assustando os manifestantes.
FIM DO CAPÍTULO
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