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ESPERANÇA - CAPÍTULO 05



ESPERANÇA

Capítulo 05

Novela criada e escrita por

Wesley Franco


CENA 1. EXT. FAZENDA BELLINI – NOITE

Do lado de fora, a cena é devastadora. A fazenda Bellini está em chamas, com o fogo se espalhando pelas plantações, o armazém, e agora pela casa. Os gritos de desespero de Francesca são ouvidos à distância.

FRANCESCA (GRITANDO) – Alguém me ajude! Socorro!

Ezequiel e seus capangas observam de longe, sem qualquer expressão de remorso. Eles montam em seus cavalos novamente, prontos para partir, enquanto o incêndio continua a devastar tudo o que encontra.

EZEQUIEL – Acabou!

Eles galopam em direção à escuridão, deixando para trás apenas destruição, com a fazenda Bellini transformada em cinzas.

CENA 2. INT. FAZENDA ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – ESCRITÓRIO - NOITE

Ainda no escritório, Marcos continua falando com Almeida após a saída de Matteo.

MARCOS – Você não está fazendo isso com os Bellini apenas por vingança por eu ter amado e ter sido completamente apaixonado pelo Vittorio Bellini, você está fazendo isso também porque você é ambicioso, sempre quer mais e mais. Não está satisfeito com tudo que tem e precisa o pouco que os outros tem, para aumentar o que você tem.

ALMEIDA – Todas as oportunidades que você teve na sua vida, você agradeça a mim e ao meu dinheiro. Dinheiro esse, conquistado pela forma que você tanto crítica, mas sabe usufruir como ninguém. Boas roupas, viagens, bons estudos. Nunca precisou tirar um prato da mesa, nem servir a própria comida. É graças a minha ambição que você vive essa vida!

MARCOS – Eu vivo essa vida porque estou preso dentro desta casa, preso as suas vontades Coronel, porque você não admite que ninguém viva a própria vida e faça suas próprias escolhas.

ALMEIDA – Pois saia da minha casa e viva a vida que você quiser viver, mas bem longe daqui e da minha cidade. Agora não conte com o meu dinheiro e com nada meu!

MARCOS – Era o que eu precisava ouvir! Não se preocupe eu vou embora dessa casa, e eu não vou levar que foi comprado com o seu dinheiro.

ALMEIDA – Pois que vá! E por favor não me incomode mais, estou no meio da minha festa e você está me irritando. A sua presença me incomoda. Vá! Vá embora de uma vez por todas!

Marcos olha profundamente para Almeida, se vira e sai do escritório, ele passa pelas pessoas na sala que dançam e conversam sem falar com ninguém e sobe para seu quarto.

                                                         CORTA PARA:

CENA 3. INT. BORDEL MADAME YVETTE – SALÃO – NOITE

O salão está vazio com poucos clientes bebendo e se divertindo. Madame Yvette está sentada no balcão enquanto Robervaldo prepara uma bebida, Zuleika e Florzinha se aproximam e se sentam nos outros banco vazios do balcão.

ZULEIKA – Eu nunca vi isso aqui tão vazio, hoje tá tão borocochó.

YVETTE – Estão todos na festa do Coronel Almeida, metade da cidade foi convidada e estão divertindo por lá.

FLORZINHA – O Coronel bem que podia ter convidado a gente para ir nessa festa, ele sempre vem aqui se divertir com a gente.

ROBERVALDO (RIR) – Convidar as putas da cidade para uma festa na casa dele? Você enlouqueceu florzinha.

ZULEIKA (IRRITADA) – É, mas são com as putas que todos os homens dessa cidade se divertem, com exceção de um, que prefere se divertir com você.

Robervaldo para de preparar a bebida e olha para Zuleika com um olhar bravo, e serve a bebida para Yvette.

YVETTE – O Robervaldo tem toda razão, essa festa de aniversário do Coronel Almeida, é uma festa para a sociedade esperancense, nós não somos bem-vindas neste tipo de festa. Nós somos mulheres para eles se divertirem e apenas isso, para as festas sociais eles vão acompanhado de suas esposas e ao lado de suas famílias. Vocês precisam entender o nosso lugar.

ROBERVALDO – Aproveitem a noite para descansar, porque amanhã eles vão voltar todos para cá com mais fome que o normal.

                                                         CORTA PARA:

CENA 4. INT. FAZENDA ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – SALA – NOITE

Os convidados do aniversário de Almeida estão todos reunidos ao redor um grande bolo, batendo palmas e cantando parabéns para Almeida. A música e as vozes enchem o ambiente festivo, e Almeida, com um sorriso orgulhoso no rosto, ao lado de sua filha Camila, sua mãe Eulália e sua esposa Dorotéia, observa os amigos e familiares celebrando.

TODOS (EM CORO) – Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida...

De repente, o som das palmas e da cantoria diminui quando as pessoas começam a notar algo inusitado na escada. Todos os olhares se voltam para Marcos, que desce as escadas completamente pelado, batendo palmas de forma provocativa enquanto encara seu pai. A atmosfera alegre rapidamente se transforma em uma mistura de choque e tensão.

MARCOS (SORRINDO IRONICAMENTE) – Parabéns, pai! Parabéns por mais um ano de ambição e tirania.

Almeida fica visivelmente furioso, mas tenta manter a compostura diante dos convidados. O silêncio pesa no ambiente enquanto Marcos continua a descer as escadas, com um olhar desafiador.

ALMEIDA (CONTIDO) – Marcos, suba já e coloque suas roupas. Agora não é hora para isso.

Marcos chega ao pé da escada, ignorando a ordem do pai, e se dirige ao centro da sala, onde todos os convidados o observam chocados com a cena.

MARCOS – Eu não vou me calar, pai. Não hoje! Já me calei e suportei tudo isso por muito tempo. Todos aqui precisam saber a verdade, precisam conhecer o verdadeiro coronel, isso se todos já não pensam exatamente como eu. Você é um homem egoísta, ambicioso, que só pensa em si mesmo. Não se importa com ninguém além de seu próprio poder!

Os convidados trocam olhares de confusão e desconforto. Almeida, cada vez mais irritado, tenta interrompê-lo, mas Marcos continua.

MARCOS – Você quer comprar a fazenda Bellini, e vai conseguir, porque você sempre dá um jeito de conseguir o que quer, mesmo que precise passar por cima de todos. Você quer a fazenda, não porque precisa dela, mas por vingança. Você não pode aceitar que seu filho se apaixonou por outro homem! Sim, eu fui e ainda sou apaixonado pelo Vittorio Bellini. E por causa disso, você usou toda sua influência para mantar o Vittorio lutar naquela maldita guerra, onde ele morre.

Um murmúrio choca os presentes, que ficam visivelmente desconcertados pela revelação. Em especial, Martina, tia de Vittorio que está na festa acompanhada de seu marido Jerônimo. Almeida perde a paciência.

ALMEIDA (GRITANDO) – Cale a boca, Marcos! Isso é uma vergonha!

MARCOS (GRITANDO) – Não vou me calar! Você sempre quer controlar tudo e a todos, mas comigo acabou. Eu vou embora daqui! Não vou levar nenhuma peça de roupa que foi comprada com seu dinheiro sujo.

Almeida, furioso, vai em direção a Marcos.

ALMEIDA – Você quer viver sem meu dinheiro? Vá, então! Mas não fique aqui se exibindo, falando mal de mim enquanto vive no conforto que eu te dei.

MARCOS – Eu não sou como você! Eu não vivo oprimindo os outros. Você é um tirado, um fascista, que acha que manda em todos nessa cidade.

Marcos e Almeida estão cara a cara, a tensão no ar é palpável. Almeida, furioso, agarra Marcos pelo braço e o puxa em direção à porta. Dorotéia tenta intervir.

DOROTÉIA (DESESPERADA) – Almeida, por favor, não faça isso! Ele é nosso filho!

Eles saem da casa, do lado de fora, Ezequiel está chegando a cavalo. Almeida o chama com urgência.

ALMEIDA – Ezequiel! Leve o Marcos e o prenda no estábulo até amanhã.

DOROTÉIA (CHOROSA) – Não! Isso é loucura, Almeida. Não faça isso!

Almeida, cego pela raiva, ignora o pedido de Dorotéia e, em um movimento brusco, dá um tapa violento no rosto dela, a fazendo recuar. Ela leva a mão ao rosto, assustada.

ALMEIDA – Entre e continue com a festa.

Dorotéia, humilhada, volta para dentro de casa. Ezequiel obedece às ordens e arrasta Marcos, que resiste, gritando.

MARCOS (GRITANDO) – Você não pode me prender! Não sou seu escravo!

Ezequiel o segura com firmeza e o joga com força dentro do estábulo da fazenda, trancando a porta pesada de madeira. Marcos cai no chão de terra, ainda nu, ofegante e derrotado. Ezequiel olha por um momento, depois se afasta, deixando Marcos sozinho no escuro.

Almeida volta para dentro da festa ao lado de Dorotéia.

ALMEIDA – Eu gostaria de pedir desculpas pelo triste episódio que vocês acabaram de acompanhar, meu filho Marcos não anda nada bem, como alguns de vocês mais próximos sabem, ele acabou de voltar de um período em uma clínica de repouso, devido a alguns problemas mentais, o que vocês acabaram de presenciar foi mais uma de suas crises. Peço que relevem e esqueçam esse episódio.

Todos ficam em silêncio, ainda perplexos com o que acabaram de assistir.

ALMEIDA – A festa ainda não acabou. Músicos por favor voltem a tocar, a festa continua!

Os músicos voltam a tocar e novamente a música toma conta da sala.

                                                         CORTA PARA:

CENA 5. EXT. FAZENDA BELLINI – NOITE

Matteo, Rodolfo e Isabella chegam à fazenda, eles param ao se depararem com uma imensidão de cinzas e fumaça diante deles. O cenário é bastante desolador, a casa está completamente destruída, ainda soltando brasas e fumaça preta. A plantação ao redor foi reduzida a carvão e cinzas. Matteo, com os olhos arregalados e a respiração entrecortada.

MATTEO (GRITANDO EM PÂNICO) - Mãe! Mãe!

Rodolfo e Isabella estão logo atrás, seus rostos estão em choque pelo horror ao perceberem a destruição. Rodolfo, começa a correr em direção à casa ainda fumegante, enquanto Isabella fica paralisada por um momento, a mão sobre a boca e os olhos marejados.

RODOLFO (DESESPERADO)- Mãe! Mãe, cadê você?

Ele corre em volta dos escombros, gritando, mas não há resposta. Matteo, com o coração na garganta, vai até a entrada destruída da casa, mas é interrompido pelo calor das brasas ainda vivas. Ele tenta entrar, mas percebe que é tarde demais.

MATTEO (GRITANDO DESESPERADO) - Não!

Isabella, desaba no chão, soluçando incontrolavelmente, enquanto Rodolfo se ajoelha ao lado dela abraçando-a. Os dois choram juntos, os gritos de desespero ecoam pela fazenda. Matteo em pé, tenta manter a compostura, mas seus olhos se enchem de lágrimas enquanto ele encara os restos da casa da família.

ISABELLA (CHORANDO)- Ela estava aqui...dormindo...Matteo, nossa mãe...

Matteo se ajoelha ao lado dos irmãos, tentando consolar Isabella e Rodolfo, mas suas mãos tremem. Ele olha fixamente para o fogo, o rosto se contorcendo de dor. A cada segundo, a realidade se torna mais insuportável, e a ficha vai caindo de que sua mãe está morta.

RODOLFO (CHORANDO) – O que a gente vai fazer agora, Matteo? Primeiro o Vittorio, depois o pai e agora a mãe.

MATTEO (CHORANDO) – Eu não sei Rodolfo, eu não sei.

Ele olha ao redor, a mente finalmente vai clareando. A fúria começa a tomar contra do semblante de Matteo. Ele se levanta de forma abrupta, seus olhos agora estão cheios de raiva. Ele sabe quem fez isso.

MATTEO – Isso não foi um acidente...Foi ele, foi o Coronel Almeida.

Rodolfo e Isabella olham para Matteo, ainda em choque, mas começando a entender. O fogo, a destruição, o que estava em jogo, tudo fazia sentindo agora.

ISABELLA (DESESPERADA) – Matteo...o que vamos fazer?

Matteo olha em direção da fazenda de Almeida com seu coração fervendo de ódio.

MATTEO – Nós vamos até ele. Isso não vai ficar assim.

Ele ajuda Isabella e Rodolfo a se levantarem. Os três, com os rostos ainda manchados de lágrimas, olham para a fazenda destruída uma última vez.

MATTEO (FIRME) – Eu vou acabar com isso. Ele vai pagar.

                                                         CORTA PARA:

CENA 6. INT. FAZENDA ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – SALA – NOITE

O clima de celebração na casa dos Almeida continua, apesar da confusão causada por Marcos. Almeida está no centro da atenção, cercado de convidados, ele conversa com o delegado Afrânio e o prefeito Fontes. De repente, o som pesado da porta se abrindo com violência interrompe a festa. Todos se voltam para entrada, onde Matteo surge, com o rosto coberto de suor e raiva estampada em cada movimento. O olhar de Matteo é fixo em Almeida.

MATTEO (GRITANDO) – Coronel Almeida! Seu Maldito!

A sala inteira se silencia instantaneamente. Todos param de falar, e os olhares se voltam para Matteo e seus irmãos que chegam logo atrás com os rostos inchados de tanto chorar. Matteo caminha em direção a Almeida e aponta o dedo em sua cara.

MATTEO (FURIOSO) – Você tocou fogo na minha fazenda! Você matou a minha mãe queimada, só para ficar com as nossas terras!

O choque toma conta dos convidados, em especial de Martina que fica em choque com o que ouve. Murmúrios começam a ecoar pelo salão, e os olhos de todos se movem entre Matteo e Almeida. Camila e Martina, visivelmente abaladas, observam a cena com espanto e horror. Almeida, que inicialmente parece surpreso, se recompõe rapidamente.

ALMEIDA – Do que você está falando? Isso é uma loucura! Eu estive aqui o tempo todo, todos aqui são testemunhas disso.

Almeida gesticula para os convidados ao redor, que começam a murmurar em concordância. A tensão continua no ar e Matteo, com os olhos cheios de lágrimas de ódio e dor, não acredita em uma palavra do que almeida diz.

MATTEO (GRITA) – Você pode ter estado aqui, mas mandou seus capangas fazerem o serviço sujo! Você queria nossa fazenda e fez isso! Covarde.

Matteo avança rapidamente e dá um soco no rosto de Almeida, que cambaleia para trás com o impacto. O clima na sala se torna caótico, gritos e exclamações ecoam por todos os lados enquanto convidados tentam recuar da cena violenta. Martina e Camila gritam em choque.

CAMILA (DESESPERADA) – Matteo, para! Por favor!

MARTINA (CHORANDO) – Matteo, não pode ser verdade. A Francesca está morta?

MATTEO (GRITANDO) – Ele a matou! Ele matou a minha mãe!

Matteo avança novamente contra Almeida e lhe dá um outro soco no rosto. Almeida, mesmo ferido, se recusa a revidar. Ele pressiona a mão no rosto, com sangue escorrendo do lábio, mas mantém a calma, com seus olhos fixos em Matteo, agora sendo segurado por Jerônimo e Dr. Romeo, que correm para intervir.

ROMEO – Matteo, para! Não é assim que você vai resolver isso!

JERÔNIMO – Se controla Matteo!

Matteo tenta se soltar, mas é contido pelos dois homens. Ele está fora de si, o rosto contorcido de dor e raiva.

MATTEO (GRITANDO) – Você vai pagar Almeida! Vai pagar por tudo isso! Seu assassino! Desgraçado! Maldito!

O delegado Afrânio, que estava entre os convidados, se aproxima, já com a mão no coldre da arma, seu olhar é frio e determinado.

AFRÂNIO – Isso aqui já passou dos limites. Matteo Bellini, você está preso por agressão!

Matteo tenta se soltar, mas não consegue. O delegado Afrânio retira uma algema do bolso e algema Matteo. Martina e Camila correm em direção a ele, desesperadas.

MARTINA (CHORANDO) – Não! Não prenda ele, ele acabou de perder a mãe, só está nervoso.

CAMILA – Solte ele delegado, o Matteo não fez por mal.

Afrânio ignora os pedidos e começa a levar Matteo algemado. Matteo continua a gritar, seu rosto está tomado pela fúria e desespero. Ele olha para Almeida com bastante ódio.

MATTEO (GRITANDO) – Isso não acaba aqui, Almeida! Você vai pagar caro por isso! Pode demorar, mas eu juro que você vai pagar!

Os convidados olham em choque, incapazes de acreditar no que estão vendo. A festa, antes animada, agora é um cenário de caos e tensão. Enquanto Matteo é levado para fora pelo delegado Afrânio, Camila e Martina tentam correr atrás dele, mas são detidas por alguns convidados que as impedem.

CAMILA (CHORANDO) – Matteo, não! Por favor! Pai, não deixe levar ele preso, por favor!

Almeida limpa o sangue no rosto com um tom frio.

ALMEIDA – Levem ele daqui. E que isso sirva de exemplo para quem tenta me desafiar.

Matteo é levado à força, seus gritos de revolta ecoam pela sala. Almeida, mesmo abalado, tenta recompor a dignidade na frente de seus convidados. Mas a festa, claramente, já está destruída.

                                                         CORTA PARA:

CENA 7. INT. CASA DE CANDOCA – COZINHA – DIA

A luz do amanhecer atravessa a janela da cozinha, preenchendo o ambiente com uma luz suave e calorosa. Chandra Dafni, Hismeria e Candona estão sentadas à mesa, tomando café da manhã. O clima é tranquilo, de conversas e risos contidos.

CANDOCA – Esse café está delicioso, hoje mesmo passo no armazém para comprar mais.

CHANDRA DAFNI – É verdade tia, ele é muito bom.

HISMERIA – A Angislanclécia ainda não acordou? Nem vi a hora que ela chegou da festa ontem.

CHANDRA DAFNI – Quando eu sair do quarto ela estava indo tomar banho, já deve estar descendo.

CANDOCA – Estou curiosa para saber como foi a festa.

Angislanclécia entra na cozinha apressada. Ela está vestida de forma prática, carregando uma bolsa e com os cabelos levemente despenteados. Angislanclécia se aproxima da mesa com rapidez, pegando uma xícara e enchendo-a de café com pressa, sem nem se sentar.

CANDOCA – Mas que correria é essa? Nem vai sentar pra tomar o café?

ANGISLANCLÉCIA – Não posso tia, tenho que correr pro jornal. Hoje vai ser um dia daqueles...

HISMERIA (CURIOSA) – E como foi a festa ontem à noite?

Angislanclécia para um por um segundo, com os olhos arregalados e com uma expressão que indica que tem muito para contar. Ela coloca a xícara de lado e se apoia na mesa, agora interessada em compartilhar os detalhes.

ANGISLANCLÉCIA – Vocês não leram o jornal? Eu cheguei tardíssimo hoje ajudando o seu Eriberto a escrever as matérias para capa do jornal de hoje. Vocês não têm ideia do que aconteceu! A festa foi um barraco daqueles. Primeiro o Marcos desceu as escadas...pelado! Sim, completamente pelado, batendo palmas pro pai dele.

Todos na mesa ficam boquiabertos, parando de mastigar e se olhando com espanto.

CANDOCA (CHOCADA) – Pelado? Não é possível!

CHANDRA DAFNI – Ele ficou louco?

ANGISLANCLÉCIA – Eu também pensei a mesma coisa! Mas não parou por aí, não. Ele começou a brigar com o pai, acusou o coronel de ter mandado o Vittorio Bellini pra guerra só porque...bom, porque o Marcos era apaixonado pelo Vittorio, pelo que entendi os dois tinham um caso.

A mesa explode em murmúrios de surpresa. Hismeria quase derruba a xícara de café enquanto Candoca leva a mão à boca, atônita.

CHANDRA DAFNI (BOQUIABERTA) – Não acredito! Isso na frente de todo mundo? Que pouca vergonha, meu senhor!

ANGISLANCLÉCIA – Na frente de todo mundo! E ainda tem mais! Matteo Bellini invadiu a festa e acusou o coronel Almeida de ter tocado fogo na fazenda da família dele. Gritou que a mãe dele morreu queimada no incêndio!

O choque se intensiva, todos na mesa ficam em silêncio por um momento, absorvendo a gravidade da situação.

HISMERIA (ASSUSTADA) – Meu Deus...que tragédia! E o coronel, o que ele disse?

ANGISLANCLÉCIA – Negou tudo, claro. Mas Matteo estava fora de si, acabou preso depois de dar um murro no coronel. Foi uma confusão só! Gente sendo presa, gritos, briga...Olha, nunca vi nada assim numa festa.

CANDOCA (EM CHOQUE) - Isso vai dar muito o que falar na cidade.

ANGISLANCLÈCIA – Já está dando! E eu preciso ir pro jornal agora, hoje vamos ter muito trabalho.

Ela se despede com um aceno rápido e sai apressada, deixando as outras ainda atônitas e trocando olhares entre si.

CHANDRA DAFNI – Quem diria que o coronel tinha um filho desviado! Que Deus tenha misericórdia da alma dele.

CANDOCA (PENSATIVA) – Essa cidade nunca vai ser a mesma depois de ontem à noite.

                                                        CORTA PARA:

CENA 8. INT. FAZENDA BELLINI – CASA DOS BELLINI – QUARTO DE ALMEIDA E DOROTÉIA – DIA

Almeida está em frente a um grande espelho de corpo inteiro, ajustando o terno com bastante precisão. Seu semblante é frio e concentrado. A portado quarto se abre e Dorotéia entra, seu rosto está cheio de preocupação.

DOROTÉIA – Almeida...não consegui dormir a noite. Preciso te perguntar uma coisa.

Almeida, sem tirar os olhos do espelho.

ALMEIDA – O que foi agora, Dorotéia?

DOROTÉIA – Você tem algo a ver com o incêndio na fazenda dos Bellini? A Francesca...ela morreu naquele incêndio.

O rosto de Almeida endurece, e ele passa a encarar Dorotéia.

ALMEIDA (IRRITADO) – Como ousa me acusar de uma coisa dessas? Está ficando louca?

DOROTÉIA – Eu não estou te acusando, Almeida. Eu só preciso que me prometa que você não teve nada a ver com isso. Promete pra mim, por favor.

Almeida respira fundo, seus olhos escuros perfuram os olhos de Dorotéia. Ele sorri de forma dissimulada, dando um passo em direção a ela, mais controlado.

ALMEIDA – Eu prometo, Dorotéia. Não tenho nada a ver com isso. Agora, satisfaça-se com minha palavra.

Dorotéia continua olhando para ele, tentando encontrar alguma verdade nas palavras do marido, mas ele é frio, impenetrável. Ela hesita por um segundo, então muda de assunto, ainda inquieta.

DOROTÉIA – E sobre o Marcos? O que você pretende fazer com nosso filho?

Almeida vira-se novamente para o espelho, endireitando o paletó como se a pergunta fosse irrelevante.

ALMEIDA – Já está decidido. O Marcos voltará para clínica e só sairá de lá quando estiver curado...dessa doença de depravado.

Dorotéia, visivelmente abalada, dá um passo à frente, tentando apelar à sensibilidade do marido.

DOROTÉIA (IMPLORANDO) – Almeida, por favor, reveja essa decisão. Ele é nosso filho, não podemos trata-lo assim.

ALMEIDA – Depois do que ele fez ontem, nada vai me fazer mudar de ideia. Já liguei para a clínica. A essa altura já devem estar a caminho para busca-lo.

Dorotéia leva a mão à boca, surpresa com a rapidez e frieza com que Almeida agiu. Almeida volta a se concentrar no espelho, ajustando seu paletó como se estivesse se preparando para um grande evento. Ele termina, dá um último olhar para Dorotéia e sai do quarto, deixando-a sozinha, envolta em sua angústia.

                                                        CORTA PARA:

CENA 9. INT. FAZENDA ALMEIDA – ESTÁBULO DA FAZENDA – DIA

Marcos está sentado no chão de terra, completamente pelado, com os braços abraçando os joelhos. Ela parece exausto, com o olhar perdido, ainda carregando a raiva e a dor da noite anterior. Do lado de fora, o som de passos pesados e murmúrios de homens se aproxima. A porta do estábulo é aberta, revelando um dos capangas da fazenda e dois funcionários da clínica psiquiátrica, vestidos de branco. Eles carregam uma maca dobrável e uma maleta com equipamentos médicos.

CAPANGA – Aí está ele. Façam o que precisam.

Marcos levanta o olhar ao ouvir as vozes, seus olhos se arregalam ao reconhecer os uniformes dos funcionários da clínica. Ele imediatamente tenta se levantar, mas está fraco e trêmulo. Mesmo assim, sua voz surge em desespero.

MARCOS (GRITANDO) – Não! De novo não! Eu não vou! Vocês não podem me levar!

Os funcionários se aproximam com calma, mas com firmeza. Um deles abre a maleta e retira uma seringa, enquanto o outro prepara a maca. Marcos, em pé, tenta correr para longe dele, mas acaba caindo de joelhos no chão do estábulo. Os funcionários avançam rapidamente. Marcos tenta lutar, gritando com todas as forças, mas está muito debilitado. Um dos funcionários o segura pelos braços enquanto o outro injeta a seringa em seu braço.

MARCOS (GRITANDO) – Pai! Eu te odeio! Eu te odeio!

Sua voz vai diminuindo à medida que o sedativo começa a fazer efeito. Seus movimentos ficam mais lentos, eu corpo relaxa nos braços dos funcionários e seus olhos se fecham completamente. Os funcionários da clínica deitam marcos na maca com facilidade e o levam para dentro da ambulância. O motor da ambulância liga, e o veículo se afasta pela estrada de terra, deixando uma nuvem de poeira no ar.

                                                         CORTA PARA:

CENA 10. INT. DELEGACIA – SALA DO DELEGADO – DIA

Coronel Almeida entra na delegacia, seguido de perto por Ezequiel. O delegado Afrânio, se levanta rapidamente da cadeira atrás da mesa, ajustando seu uniforme como sinal de respeito.

AFRÂNIO – Coronel Almeida...que honra recebe-lo aqui.

Almeida, com um sorriso sarcástico nos lábios, tira o chapéu devagar, olhando ao redor como se fosse o dono do lugar. Ele ajeita o paletó, mostrando sua presenta imponente.

ALMEIDA – Ah, Afrânio, não precisa de tanta formalidade. Vim apenas fazer uma...visita de cortesia ao nosso jovem Matteo. Me entregue a chave da cela dele.

Afrânio, hesitando por um momento, abre a gaveta e pega o chaveiro, pronto para ele mesmo ir abrir a cela. Porém, antes que ele consiga dar um passo, Almeida levanta uma mão, interrompendo-o com um gesto.

ALMEIDA – Não, não. Eu mesmo faço isso. Você fica aí, sentado onde está.

Afrânio obedece ao Coronel e entrega as chaves para Almeida, que as pega com um sorriso satisfeito e acena com a cabeça, como se estivesse em total controle da situação.

AFRÂNIO – Fique à vontade Coronel.

Almeida se dirige a áreas de celas, onde Matteo está preso. Até que ele chega em frente à cela onde Matteo está sentado em um canto, com os punhos cerrados, sujo e abatido, mas ainda com um olhar desafiador. Almeida se aproxima da porta da cela, ficando cara a cara com Matteo, que se levanta devagar, com os olhos queimando de ódio.

MATTEO (COM DESPREZO) – O que você veio fazer aqui?

Almeida solta uma risada curta, enquanto balança o chaveiro nas mãos.

FIM DO CAPÍTULO

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