ESPERANÇA
Capítulo 12
Novela criada e escrita por
Wesley Franco
CENA 1. INT.
CASA DE MARTINA E JERÔNIMO – QUARTO DE ISABELLA - NOITE
Jerônimo
entra silenciosamente no quarto de Isabella, onde a jovem está dormindo
pacificamente. O quarto está parcialmente iluminado pela luz da lua que entra
pela janela. Jerônimo para por um momento, observando Isabella dormindo, ele se
aproxima da cama e se mantém ali, observando-a, seu olhar se torna cada vez
mais perturbador e pesado. Jerônimo então puxa a coberta de Isabella, revelando
seu corpo vestido em uma camisola, ele então começa a tocá-la, acariciando suas
pernas e seus peitos. Isabella acorda e percebe os toques do tio, assustada ela
pensa em gritar, mas Jerônimo rapidamente tampa sua boca com suas mãos.
JERÔNIMO
(AMEAÇADOR) – Não grita! Estão todos dormindo, se
você gritar vai ser pior para você!
Isabella
olha para Jerônimo com um olhar de medo e o desespero toma conta da sua
expressão. Jerônimo continua a acaricia-la, até que solta a mão da sua boca.
Ele vai até a porta e passa a chave, volta a olhar para Isabella e começa a
tirar a própria roupa ficando completamente pelado. Isabella assiste tudo com
um olhar desesperador.
JERÔNIMO
(ORDENA) – Tira a roupa!
ISABELLA
(ASSUSTADA) – O que você quer? O que você vai
fazer?
Jerônimo
não responde Isabella, parte para cima dela e rasga sua camisola com muita
violência, deixando-a nua em cima da cama. Isabella fica bastante assustada,
mas não grita. Jerônimo então se deita sobre ela e a beija de forma forçada,
Isabella tenta resistir virando o rosto, mas Jerônimo a segura com força.
JERÔNIMO
– Não tenta resistir porque vai ser pior para você.
ISABELLA
(CHORANDO) – O que você quer comigo?
JERÔNIMO
(ALUCINADO) – Quero te fazer mulher!
Jerônimo
volta a agarrar Isabella a força, ela tenta resistir, mas é muito mais fraca
que ele e não consegue se soltar. Após abusar de Isabella, Jerônimo se levanta
e começa a se vestir, enquanto observa com um olhar sádico Isabella deitada na
cama paralisada com lágrimas caindo em seu rosto.
JERÔNIMO
– Se você contar para alguém o que aconteceu aqui, eu mato o
seu irmão e a sua tia, e depois mato você.
Com
Isabella ainda deitada, Jerônimo puxa o lençol que está marcado com o sangue de
Isabella, ele enrola e coloca dentro de um saco, ele então pega outro lençol e
entrega ela.
JERÔNIMO
– Se levanta, se ajeita e ajeita a cama com esse lençol novo.
Esse aqui infelizmente vou ter que jogar fora, se eu pudesse guardava de recordação,
a mancha de sangue da sua virgindade que foi minha.
Jerônimo sai
do quarto, deixando Isabella deitada na cama, assim que ele sai ela se desaba
ainda mais em choro.
CORTA PARA:
CENA 2. INT.
FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – QUARTO DE DOROTÉIA E ALMEIDA – DIA
Dorotéia
está em frente a um grande espelho, terminando de ajustar seu chapéu elegante.
Ela dá os últimos retoques no cabelo e em sua maquiagem com precisão, claramente
focada e pensativa. Ao fundo, a porta do quarto se abre e Coronel Almeida
entra, com seu olhar firme e severo. Ele caminha até Dorotéia, que o observa
pelo espelho.
ALMEIDA
(FIRME) – Você sabe o que tem que fazer.
Quero que você deixe muito claro para o Marcos, que se ele não aceitar esse
casamento com a Helena, ele vai apodrecer naquela clínica. Ele precisa entender
que não tem escolha.
Dorotéia
para de ajustar o chapéu por um momento e respira fundo. Ela se vira lentamente
para encarar Almeida, seu rosto expressa uma mistura de cansaço e resignação.
DOROTÉIA
– Eu sei, Almeida, eu sei. Eu vou falar com ele, mas você
sabe como ele é, ele nunca aceitou muito bem suas imposições. Isso só vai deixá-lo
mais revoltado.
Almeida se
aproxima colocando as mãos nos ombros de Dorotéia a encarando com um olhar
frio.
ALMEIDA
– Ele não tem que gostar, ele tem que me obedecer. Tudo que
estou fazendo é para o bem dele e para o nosso também. Esse casamento vai
colocar um fim em qualquer escândalo sobre o Marcos. Ele vai aprender a ser um
homem de verdade, nem que seja à força.
DOROTÉIA
– Eu vou fazer o que for preciso para que o Marcos entenda
que essa é a melhor saída.
Almeida dá
um leve aceno de aprovação, ele afasta as mãos dos ombros de Dorotéia que se
endireita e ajeita o vestido. Almeida caminha em direção à porta.
ALMEIDA
– Não tenha piedade, ele precisa ouvir a verdade, mesmo que
doa.
Almeida
sai do quarto, Dorotéia se vira novamente para o espelho e respira fundo.
CORTA PARA:
CENA 3. INT. JOCKEY CLUB – SALÃO - DIA
O Jockey
Club é um ambiente luxuoso, com ares aristocráticos. Homens e mulheres
elegantemente vestidos circulam pelo salão, conversando e rindo. Nas mesas
espalhadas pelo salão, o burburinho é constante. Ernesto e Matteo entram no
clube, impecavelmente vestidos em ternos, chamando a atenção de alguns olhares
curiosos.
ERNESTO
(ANIMADO) – Bem-vindo ao Jockey Club, o coração
da elite paulistana.
Matteo
apenas assente, ainda impressionado com o ambiente ao redor. Eles caminham até
uma mesa onde três jovens, Calebe, Venâncio e Flora, já estão sentados. Os dois
vestem ternos caros, enquanto ela veste um lindo vestido, cada um com um copo
de bebida á mão. Ao ver Ernesto se aproximar, eles se levantam brevemente para cumprimenta-lo.
CALEBE
(SORRINDO) – Ora, ora, se não é o grande Ernesto!
VENÂNCIO
(BRICALHÃO) – Chegando com estilo, como sempre.
FLORA
(SORRINDO) – E desta vez muito bem acompanhado.
Ernesto ri
e faz um gesto de respeito antes de apertas a mão de Calebe e Venâncio, e
beijar a mão de Flora.
ERNESTO
– Senhores e senhora, que honra! Este aqui é Matteo, afilhado
meu pai, acabou e chegar do interior. Agora vai morar conosco aqui em São
Paulo. Tratem de recebê-lo bem.
Matteo, um
pouco tímido, estende a mão para cumprimentar os dois.
CALEBE
(APERTANDO A MÃO DE MATTEO) – Seja bem-vindo
à cidade, Matteo. São Paulo tem muito a oferecer.
VENÂNCIO
(SORRINDO) – Muito mesmo. Prepara-se rapaz,
porque sua vida vai mudar por aqui.
Matteo
sorri e cumprimenta Flora com um beijo na mão, ela devolve o sorriso com um
brilho no olhar.
FLORA
(SORRINDO) – Bem-vindo Matteo, me chamo Flora e
estou ao seu dispor.
Matteo
sorri, embora um pouco desconcertado com a atenção. Ele observa Ernesto e seus
amigos com curiosidade, tentando se adaptar ao ambiente.
VENÂNCIO
– Então, Ernesto, já apresentou o melhor da cidade para o
nosso novo amigo?
Ernesto
solta uma risada maliciosa e dá um leve tapinha nas costas de Matteo.
ERNESTO
– Calma senhores. Estou apresentando as coisas aos poucos,
mas o melhor eu vou deixar para a noite.
Calebe,
Ernesto e Venâncio riem, deixando Matteo ainda mais intrigado.
MATTEO
(CURIOSO) – Do que vocês estão falando?
Ernesto
faz uma expressão misteriosa e coloca o braço ao redor de Matteo.
ERNESTO
– Você vai saber logo, logo, não fica bem falar na frente de
uma dama. Só garanto uma coisa: você vai gostar muito.
Matteo
observa Ernesto e os amigos rindo, tentando entender o que o espera, enquanto
Flora finge não entender do que os rapazes estão falando. Calebe, ainda rindo,
puxa um relógio de bolso e verifica a hora.
CALEBE
– Está na hora, senhores. Vamos fazer nossas apostas antes
que a corrida comece. Flora, nos acompanha?
FLORA
– Claro rapazes.
CORTA PARA:
CENA 4. INT.
JOCKEY CLUB – PISTA DE CORRIDA - DIA
SONOPLASTIA:
BOOGIE WOOGIE BUGLE BOY – CLUSTER SISTERS
Ernesto,
Matteo, Calebe, Venâncio e Flora estão entre a multidão, com seus bilhetes de
apostas em mãos. Ao longe, os cavalos estão alinhados, prontos para a corrida.
O grupo observa ansiosamente enquanto o sinal de largada é dado, e os cavalos partem.
Os cinco torcem intensamente, com Ernesto gritando mais alto que todos. Os
cavalos se movimentam depressa, ao final da corrida, o cavalo em que Ernesto apostou
cruza a linha de chegada em primeiro lugar.
ERNESTO
(VIBRANDO) – É isso! Ganhei!
Ernesto
ergue os braços em celebração, rindo e comemorando, enquanto os outros se
juntam à sua euforia.
SONOPLASTIA OFF
CORTA PARA:
CENA 5.
INT. CASA DE HOMERO – SALA – DIA
Homero
está em pé, próximo à janela, segurando um copo de whisky. Ele observa o
exterior com um olhar pensativo. Fernando desce as escadas com uma mala, o
rosto demonstrando cansaço e determinação. Ao passar pela sala, Homero se vira
e o observa.
HOMERO
– Para onde você vai com essa mala?
FERNANDO
– Decidi ir para São Paulo. Vou retomar meus estudos.
HOMERO
(SURPRESO) – São Paulo? E por que tão de
repente? Ontem sua mãe morreu, e hoje você decide partir?
FERNANDO
– Não tenho mais nada que me prenda nesta casa, pai. Eu só
estava aqui por causa da mamãe, e agora que ela se foi, não há mais motivo para
ficar.
Homero
abaixa o olhar, visivelmente abalado pela dureza nas palavras de Fernando. Ele
dá um passo em direção ao filho.
HOMERO
– Gostaria que ficasse...pelo menos um pouco mais. Não quero
ficar sozinho nesta casa, ainda é tudo muito recente.
FERNANDO
– Sozinho? E o que acha que a mamãe sentiu durante todo esse
tempo? Você dedicou seu tempo ao trabalho e às farras no bordel, enquanto ela
estava aqui implorando pela sua presença. Agora sinta o gosto da mesma solidão
que ela sentiu.
Homero
fica sem palavras, engole em seco, claramente arrependido.
HOMERO
– Eu me arrependo de tudo isso. Será que algum dia você vai
me perdoar?
Fernando
respira fundo, mantendo seu semblante firme, ele pega a mala novamente.
FERNANDO
– O tempo dirá.
Fernando
se afasta, e sem se despedir, sai pela porta, deixando Homero sozinho, olhando
para a janela com o copo de whisky ainda em mãos.
CORTA PARA:
CENA 6. INT.
CLÍNICA DE REPOUSO – DIA
Marcos é
trazido por uma equipe de enfermeiros até uma sala onde sua mãe, Dorotéia, está
à espera. Ele caminha lentamente, abatido, com uma aparência visivelmente
deteriorada pelos tratamentos intensos e medicamentos que lhe são dados na
clínica. Seus olhos estão vidrados e o corpo fraco. Ao entrar, ele avista
Dorotéia e, em um gesto desesperado, corre para abraça-la.
MARCOS
(CHORANDO) – Mãe...me tira daqui, mãe, por
favor, eu não aguento mais!
Dorotéia,
visivelmente emocionada e surpresa com o estado do filho, o envolve num abraço
apertado, mas sua expressão é de dor ao vê-lo assim.
DOROTÉIA
– Meu filho, o que eles fizeram com você?
MARCOS
(CHORANDO) – Eles me prendem na cama, me enchem
de remédios, me aplicam choques. É uma tortura infinita! Eu não aguento mais
isso! Eu prefiro morrer a ter que continuar aqui. Eu já cansei de pedir a Deus
para que me leve embora, mas não me deixe sofrendo aqui.
Dorotéia
fica horrorizada com o que ouve, as suas mãos estão trêmulas e acariciam o
rosto de Marcos, tentando reconforta-lo, mas ela não consegue conter a emoção e
lágrimas começam a escorrer de seus olhos.
DOROTÉIA
– Eu vou te tirar daqui meu filho, mas para isso eu preciso
que você aceite a condição do seu pai.
MARCOS
– Que condição? Me diga, eu faço qualquer coisa para sair
daqui.
DOROTÉIA
(TRÊMULA) – Seu pai exige que você se casa com
a Helena ou você ficará aqui para sempre.
Marcos
parece congelar, incapaz de processar o que ouve. Ele começa a balançar a
cabeça, tentando recusar.
MARCOS
(DESESPERADO) – Como vou me casar com a Helena se
eu não sinto desejo por mulheres? Mãe, você sabe disso e ele também!
Dorotéia
segura as mãos de Marcos com firmeza, tentando manter a calma, mas claramente
desesperada.
DOROTÉIA
– Por favor, filho, faça um esforço. Eu não posso mais suportar
te ver aqui sofrendo, aceite a exigência do seu pai e volte para casa. Nós podemos
encontrar uma maneira de lidar com isso depois, mas aceite para que a gente
possa sair daqui juntos.
Marcos
abaixa a cabeça, lágrimas escorrem pelo rosto. Ele fica em silêncio por alguns
instantes, sentindo o peso da sua realidade.
MARCOS
– Tudo bem, eu aceito, não tenho outra saída. Eu me caso com
a Helena.
Dorotéia o
abraça novamente, chorando, aliviada e ao mesmo tempo devastada. Ela acaricia
os cabelos do filho enquanto soluça baixinho.
DOROTÉIA
– Obrigada, meu filho...Obrigada...
Marcos
permanece em silêncio, preso em um abraço apertado, sentindo o peso de sua
decisão.
CORTA PARA:
CENA 7. INT.
CASA DE MARTINA E JERÔNIMO – COZINHA – DIA
Isabella
está de costas, lavando os pratos concentrada, até que Jerônimo entra
silenciosamente na cozinha. Sem dizer nada, ele se aproxima por trás dela e de repente
a abraça, envolvendo seus braços ao redor de sua cintura e beija seu pescoço.
ISABELLA
(ASSUSTADA) – Jerônimo! O que está fazendo? Minha
tia Martina está em casa e meu irmão Rodolfo também.
Ela se
fasta dele e o olha com indignação, claramente desconfortável. Jerônimo, sem se
abalar, sorri de forma dissimulada e retira do bolso um frasco pequeno de
perfume. Ele entrega para Isabella.
JERÔNIMO
(SORRINDO) – Use isso hoje a noite, durma sem
roupa, se cubra apenas com o lençol. Quando eu for te visitar no seu quarto quero
te cheirar e sentir esse perfume.
Isabella
olha para o perfume, seu rosto demonstra repulsa. Ela balança a cabeça em
negação.
ISABELLA
(FIRME) – Eu me recuso e exijo que você para de
ir ao meu quarto, isso é nojento e tem que acabar!
Jerônimo,
ao ouvir a recusa, muda seu semblante. O sorriso desaparece, e uma expressão
ameaçadora surge em seu rosto. Ele dá um passo à frente, aproximando-se de
Isabella.
JERÔNIMO
(AMEAÇA) – Você está aqui para me obedecer,
e eu vou te usar quando eu quiser e da forma que eu quiser. E eu já te avisei
uma vez e volto a repetir, se você se negar a deitar comigo, eu mato a sua tia,
eu mato o seu irmãozinho e depois eu mato você.
Isabella,
tomada pelo medo, abaixa sua cabeça.
JERÔNIMO
– Muito bem, é assim que eu gosto.
Jerônimo a
empurra contra a pia da cozinha e sai.
CORTA PARA:
CENA 8. EXT.
CASA DE CANDOCA – NOITE
Pedro e
Hismeria caminham lado a lado, trocando olhares e sorrisos discretos. A
conversa entre eles flui naturalmente, com uma atmosfera leve e agradável.
Chegam em frente à casa de Candoca, onde vive Hismeria.
HISMERIA
(SORRINDO) – Obrigada por me acompanhar, você
tem sido uma companhia incrível esses dias.
PEDRO
(SORRINDO) – Eu que agradeço. Tenho gostado muito
de passar esse tempo com você, muito mesmo.
Há um
breve momento de silêncio entre os dois.
HISMERIA
– Eu também estou gostando de você, Pedro.
Pedro
sorri, sentindo uma faísca de alegria.
PEDRO
– Quem sabe...um dia desses a gente pode sair para beber e
dançar um pouco? O que acha? Conheço um lugar muito bom.
HISMERIA
(SORRINDO) – Eu adoraria.
O clima
entre eles fica mais íntimo. Hismeria, ainda com um sorriso nos lábios, se
aproxima de Pedro e, antes de entrar, lhe dá um beijo doce e rápido nos lábios.
Pedro fica surpreso, mas logo sorri. Hismeria, já na porta, olha para ele uma
última vez antes de entrar em casa.
HISMERIA
– Até logo.
PEDRO
(SORRINDO) – Até logo, Hismeria.
Hismeria
entra em casa e fecha a porta. Pedro fica parado por alguns segundos,
assimilando o momento, ainda com um sorriso no rosto, antes de se virar e ir
embora.
CORTA PARA:
CENA 9.
EXT. SÃO PAULO – DIA
SONOPLASTIA: CLOSE
TO YOU – CIDIA E DAN
Sequência
de imagens mostrando a cidade de São Paulo. Vemos os grandes edifícios, as
avenidas principais, pedestres andando pelas calçadas, pessoas entrando e
saindo dos comércios e escritórios. O clima é movimentado, típico de uma grande
cidade.
ALGUMAS
SEMANAS DEPOIS
SONOPLASTIA OFF
CORTA PARA:
CENA 10. INT.
MANSÃO DE FLÁVIO – SALA DE JANTAR – DIA
Uma mesa
comprida está parcialmente posta para o café da manhã. Flávio está sentado à
cabeceira da mesa, com uma xícara de café à sua frente e uma expressão série.
Matteo entra na sala, caminha até a mesa e se senta com Flávio.
MATTEO
– Bom dia.
FLÁVIO
– Bom dia, Matteo.
MATTEO
– Ainda não me acostumei com a fartura desse café da manhã, é
tudo tão gostoso.
FLÁVIO
(SORRI) – Pois se acostume porque todos os
dias são assim.
Matteo
começa a se servir.
FLÁVIO
– E o Ernesto? Já acordou?
MATTEO
– Acho que ele não dormiu em casa. A gente saiu ontem à
noite, fomos a um bar com alguns amigos, mas eu voltei mais cedo e ele resolveu
ficar.
Flávio
solta um suspiro profundo, claramente frustrado. Ele coloca a xícara na mesa
com um leve baque, revelando sua irritação.
FLÁVIO
– O Ernesto continua irresponsável, como sempre. Não se
importa com nada além de sua própria diversão. Nós tínhamos uma reunião marcada
para hoje, alguns investidores importantes para empresa estarão presentes hoje,
é uma oportunidade impar para o grupo, e Ernesto com meu futuro sucessor,
deveria estar à frente desses assuntos. Mas ele nunca se interessa, nunca se
compromete, ele prefere dedicar seu tempo aos rabos de saia.
Matteo
fica em silêncio por alguns segundos, claramente desconfortável com a situação.
Ele evita o olhar direto de Flávio, sentindo-se encabulado por estar ali.
MATTEO
– Talvez ele só tenha perdido a hora.
FLÁVIO
– Não adianta, Matteo. Eu conheço bem meu filho. Ele
simplesmente não se importa. Prefere viver no mundo da boemia e ter que
enfrentar a responsabilidade que o espera. Um dia ele vai perceber o erro, mas talvez
seja tarde demais.
Flávio
volta a pegar a xícara, dando um gole lento, enquanto Matteo permanece sentado,
sem saber muito bem como responder.
CORTA PARA:
CENA 11.
INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – QUARTO DE MARCOS – DIA
Marcos
está terminando de arrumar seu paletó para o casamento, sua expressão é triste,
sem nenhum sinal de alegria ou empolgação. Ele ajeita a gravata com um olhar
vazio. A porta se abre e Camila, sua irmã, entra no quarto. Ela está vestida
para o casamento, com um vestido longo e elegante.
CAMILA
(SORRINDO) – A festa lá fora está linda. Vai ser
uma cerimônia muito bonita.
Marcos não
responde, apenas continua ajustando o paletó, com uma expressão melancólica.
Camila percebe o desconforto do irmão.
CAMILA
– Eu sei que você não está se casando por vontade própria,
que isso tudo aqui é uma imposição do papai.
Marcos
apenas confirma com um aceno de cabeça.
CAMILA
– Você sempre amou o Vittorio, não é? Eu nunca entendi bem
como você pode gostar de alguém do mesmo sexo, mas eu respeito isso. E sinto
muito que você tenha que viver esse casamento só para ser aceito aqui na nossa
casa e pela sociedade.
As
palavras de Camila tocam fundo em Marcos, que finalmente desaba em lágrimas,
sem conseguir conter a dor que estava guardando dentro de si.
MARCOS
– Não está sendo fácil, Camila...é tão doloroso ter que viver
uma vida que não é a minha.
Camila se
aproxima, com lágrimas nos olhos também. Ela coloca as mãos no ombro de Marcos,
tentando reconforta-lo.
CAMILA
– Eu sei que é difícil, mas por favor, tenha forças. Um dia,
as coisas vão mudar. Eu torço para que um dia as pessoas possam amar quem
quiserem, sem medo, sem essa dor. Que você...que todos nós possamos viver ao
lado de quem amamos de verdade.
Camila o
abraça, apertando-o com carinho e compreensão.
CORTA PARA:
CENA 12. INT.
BAR – DIA
O bar está
vazio, Ernesto está sentado no balcão, já visivelmente embriagado. Ele
gesticula desajeitadamente e está com a fala arrastada. O garçom, o observa com
uma expressão séria.
ERNESTO
(BALANÇANDO O COPO VAZIO) – Mais uma dose, vamos
lá, amigo, só mais uma para fechar a noite!
GARÇOM
– Noite? Já são quase 10h da manhã! Desculpe, senhor, mas
você já bebeu demais. Não posso te servir mais nada.
ERNESTO
(IRRITADO) – Ah, que é isso! Só uma! Eu tô bem,
olha pra mim...eu aguento!
O garçom
balança a cabeça negativamente.
GARÇOM
– Não vou te servir mais. Vai pra casa, senhor.
ERNESTO
– Tá bom, tá bom, vou embora. Mas quem perde é você, eu vou
procurar um lugar melhor.
Ernesto se
levanta de forma brusca e sai cambaleando, esbarrando em alguns objetos no
caminho.
CORTA PARA:
CENA 13.
EXT – RUA – DIA
Ernesto
chega ao seu carro, um Tucker torpedo vermelho, com uma leve tremedeira nas
mãos. Ele tenta abrir a porta do carro, falhando algumas vezes antes de
finalmente conseguir. Entra no carro, ligando o motor.
ERNESTO
(FALANDO PARA SI MESMO) – Ninguém manda em mim,
ninguém!
Ele pisa
fundo no acelerador, o carro dá um salto para frente, cantando os pneus.
Ernesto dirige pelas ruas da cidade, completamente fora de controle. A cada
curva, o carro balança perigosamente, quase batendo em postes e outros
veículos. Ernesto segue acelerando, fazendo zingue zangue entre as faixas, mal
conseguindo manter o carro na pista. Ele ultrapassa sinais e quase colide com
outros veículos, que buzinam furiosamente. Ernesto ri, desorientado, sem noção
do perigo. Ele acelera ainda mais, o carro se aproxima perigosamente de uma
curva acentuada, com a visão turva e o reflexo lento, não consegue perceber o
perigo. Ele faz uma manobra brusca, mas o carro derrapa, perdendo completamente
o controle. O carro de Ernesto colide violentamente contra um poste de luz e
capota várias vezes. O carro finalmente para, tombado de lado, completamente
destruído. Dentro do carro, Ernesto está inconsciente com o corpo preso nas
ferragens e coberto de sangue.
FIM DO CAPÍTULO
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