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ESPERANÇA - CAPÍTULO 23


ESPERANÇA

Capítulo 23

Novela criada e escrita por

Wesley Franco

CENA 1. INT. JORNAL O AMIGO DO POVO – REDAÇÃO – NOITE

Eriberto está em pé diante de um quadro-negro improvisado, enquanto Angislanclécia, Henrique, Dr. Romeo, Padre Olavo e Augusto estão reunidos em cadeiras ao redor. Matteo e Rodolfo entram.

ERIBERTO – Finalmente chegaram.

RODOLFO – Cheguei e trouxe mais uma pessoa para a nossa luta. Vocês já devem conhecer o meu irmão, Matteo. Agora ele está do nosso lado.

MATTEO – Sempre estive do lado de vocês, só não estava aqui presente. Essa cidade precisa mudar e eu vim para isso.

ERIBERTO – Sentem-se rapazes, temos muito a discutir.

Matteo e Rodolfo se sentam, e Eriberto começa a falar com intensidade sobre os últimos acontecimentos na cidade.

ERIBERTO – A prisão do Firmino é só mais um exemplo do abuso de poder do coronel. Ele controla tudo: o delegado, o comércio, até o silêncio do povo.

MATTEO – O Firmino não ficará preso por muito tempo, eu atuei como seu advogado e hoje mesmo dei entrada no seu pedido de soltura.

DR. ROMEO (CÉTICO) – Não quero desanimá-lo, Matteo, mas o juiz é aliado de Almeida. Isso pode complicar.

PADRE OLAVO – O velho juiz se aposentou, ele foi até a minha paróquia se despedir. O novo juiz é o Fernando, filho do Homero, não sabemos ainda que postura ele terá.

ERIBERTO – Homero é um grande amigo e aliado do Almeida, não podemos esperar muita imparcialidade deste novo juiz.

MATTEO (DETERMINADO) – Se esse juiz engar a soltura do Firmino, não vou desistir por aqui. Usarei meus contatos na capital para soltá-lo. Firmino será libertado, custe o que custar.

Os membros do grupo trocam olhares impressionados com a determinação de Matteo.

MATTEO – Eu voltei a essa cidade para acabar com o poder que o coronel Almeida exerce sobre Esperança. E se ele anunciou que será candidato a prefeito, eu também anuncio que enfrentarei ele nas urnas.

Há um silêncio chocado na sala. Aos poucos, os rostos do grupo começam a se iluminar com esperança. Rodolfo sorri com orgulho do irmão.

ERIBERTO – Está falando sério, Matteo?

ANGISLANCLÉCIA – Eu não me lembro quando foi a última vez que houve um candidato que enfrentasse um candidato do coronel.

MATTEO – Pois agora terá um, eu mesmo. E espero contar com o apoio de vocês.

PADRE OLAVO – Que Deus o abençoe nessa luta, meu filho.

ERIBERTO – Pode contar com todos nós, Matteo. Estaremos com você!

HENRIQUE – E buscaremos mais apoios. É nossa chance de fazer uma mudança de verdade nessa cidade.

AUGUSTO – Eu sei de uma pessoa muito importante que está disposta a te apoiar Matteo.

MATTEO – Quem?

AUGUSTO – O Prefeito Fontes.

Todos ficam surpresos com a fala de Augusto.

ERIBERTO – O Fontes? Mas o Fontes é aliado do Almeida há anos, duvido muito que ele vá contra o coronel.

AUGUSTO – Eu também duvidava disso, Eriberto. Mas a Hismeria, a secretária do Fontes contou hoje que ele confidenciou a ela que está indignado com as atitudes do Almeida e que ele apoiaria um outro candidato que rivalizasse com o coronel nas próximas eleições.

MATTEO – O apoio do prefeito seria muito bem-vindo, trazer um ex-aliado do Almeida para o nosso lado deixaria claro uma insatisfação com a forma de agir do coronel.

HENRIQUE – E é isso que temos que explorar: a insatisfação do povo. Todo mundo aqui deve ter uma insatisfação com alguma coisa, você representaria a mudança de ares nessa cidade.

ANGISLANCLÉCIA – O jornal pode ajudar com isso, todos os dias podemos publicar as insatisfações do povo e você Matteo pode ir se apresentando a cidade como a solução para esses problemas.

DR. ROMEO – Você precisa ser visto, Matteo. Apesar de você ser um filho desta cidade, ficou mais de dez anos fora, é hora de você começar a circular pela cidade, conversar com as pessoas, se impor como um líder político para elas.

MATTEO – Irei começar a jornada, meus caros, vou precisar da ajuda de todos vocês, porque a missão não é nada fácil, mas sairemos vitoriosos.

ERIBERTO – Pode contar conosco, faremos tudo que for necessário!

AUGUSTO – Eu vou trazer o prefeito para o nosso lado e assim daremos um grande passo contra o poderio do coronel.

                                                         CORTA PARA:

CENA 2. EXT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – ENTRADA – NOITE

Camila e Inácio estão no jardim na entrada da casa dos Almeida. Inácio observa Camila com expectativa, mas ela parece inquieta, segurando as flores com cuidado.

INÁCIO – Camila, você está bem? Parece preocupada.

CAMILA – Inácio, eu não sei como dizer isso sem te de decepcionar, mas acho que é hora de sermos sinceros um com o outro.

INÁCIO (PREOCUPADO) – Sinceros sobre o quê?

CAMILA – Eu não posso continuar aceitando flores suas, Inácio. Não posso corresponder ao que você sente por mim.

INÁCIO (SURPRESO) – Eu...eu pensei que estávamos construindo algo.

CAMILA – Você é um homem bom, Inácio, mas eu amo outra pessoa.

A decepção toma conta do rosto de Inácio, ele hesita antes de perguntar, mas quase em um sussurro acaba perguntando.

INÁCIO – Quem é ele?

CAMILA (DESVIANDO O OLHAR) – Não é o momento de você saber. Só peço que respeite isso.

INÁCIO – Respeitar? Camila, você sabe o quanto eu...

CAMILA (INTERROMPE) – Eu sei, e por isso não quero te machucar mais do que já estou machucando agora.

Há um silêncio pesado entre eles. Inácio suspira e tenta recuperar a compostura.

INÁCIO – Se é isso que quer, só me respeita respeitar. Mas me diga...ainda podemos ser amigos?

CAMILA (ALIVIADA) – Sempre.

Eles ficam em silêncio mais um momento antes de voltarem para a casa. Inácio caminha na frente, com o semblante abatido, enquanto Camila respira fundo antes de entrar.

                                                         CORTA PARA:

CENA 3. INT. CASA DE MARTINA E JERÔNIMO – SALA DE JANTAR – NOITE

Martina começa a recolher os pratos após o jantar, enquanto Jerônimo, sentado na ponta da mesa, serve-se de uma dose de cachaça em um copo pequeno. Ele observa Martina com um olhar fixo e predatório.

JERÔNIMO (SORRINDO CINICAMENTE) – Sabe, mulher, depois que terminar de limpar essa bagunça, vá tomar um banho. Quero você bem cheirosa pra mim hoje.

Martina para de recolher os pratos por um momento.

MARTINA – Jerônimo, eu estou cansada hoje. Passei o dia limpando a casa, minhas costas estão me matando.

Jerônimo bate o copo vazio na mesa, interrompendo-a, sua expressão é de irritação.

JERÔNIMO – Cansada? Desde quando você tem direito de me dizer não? Sou seu marido, Martina. Você tá aqui para me servir, pra me dar o que eu quero.

MARTINA – Jerônimo, eu só tô pedindo...amanhã. Amanhã eu fico cheirosa e faço o que você quiser, mas hoje eu não consigo.

Jerônimo se levanta bruscamente, derrubando a cadeira para trás.

JERÔNIMO – Amanhã? Eu não quero amanhã! Vai ser hoje! Quem manda aqui sou eu!

Ele dá passos largos até Martina, que recua instintivamente. Jerônimo agarra o braço dela com força, puxando-a para perto.

MARTINA (SUPLICANDO) – Por favor, Jerônimo...Eu tô pedindo só uma noite...

JERÔNIMO – Cala a boca! Você tá me desafiando? Mulher minha não me nega nada!

Jerônimo ergue a mão e dá um tapa violento no rosto de Martina. O som do tapa ecoa pela sala e Martina tropeça para trás colocando a mão no rosto. Antes que ela consiga se recompor, Jerônimo a empurra com brutalidade contra a mesa de madeira, fazendo os pratos restantes caírem no chão e se quebrarem.

JERÔNIMO – Nunca mais negue algo a seu marido!

Jerônimo puxa o vestido de Martina para cima com violência e em seguida abaixa a própria roupa ficando nu até o joelho. Martina tenta se debater, mas ele é muito mais forte. Martina, em lágrimas desiste de resisti. Jerônimo abusa dela com violência enquanto a puxa pelos cabelos.

                                                         CORTA PARA:

CENA 4. INT. CASA DE CANDOCA – COZINHA – NOITE

Candoca está servindo o jantar para ela e Chandra Dafni, até que Hismeria desce as escadas e se junta a elas.

CANDOCA (SURPRESA) – Vai jantar conosco? Pensei que fosse jantar com o Pedro.

HISMERIA – Sim, tia. O Pedro já tinha marcado de sair com os amigos pro bar. O jantar ficou para amanhã.

Chandra Dafni arqueia uma sobrancelha e solta um suspiro.

CHANDRA DAFNI – Amigos...sempre esses amigos. Ele tem saído bastante à noite ultimamente, não? Você deveria ficar de olho. Homens adoram aproveitar o tempo com os amigos para se distrair com outras coisas.

HISMERIA – Eu confio no Pedro, não vou perder meu tempo ouvindo suas insinuações.

CHANDRA DAFNI – Na confiança está o perigo.

CANDOCA – Chandra Dafni, deixe a menina em paz. Pedro sempre foi um rapaz correto, e Hismeria sabe cuidar do que é dela.

Candoca serve o jantar para Hismeria.

CHANDRA DAFNI (SORRINDO IRONICAMENTE) – Claro, claro. Mas eu só estou dizendo...Sete anos de noivado? Não acha que é tempo demais pra alguém que que realmente quer casar?

Hismeria fecha o semblante, mas mantém o tom calmo.

HISMERIA – Pedro e eu estamos felizes assim, Chandra Dafni. Se demoramos mais que o esperado, é porque ainda não temos dinheiro suficiente para viajar até o Uruguai para nos casarmos, uma vez que eu sou desquitada e não posso me casar novamente no Brasil.

CHANDRA DAFNI – Ele vai usar a desculpa do dinheiro para te deixar esperando para sempre. Mas tudo bem, depois não diga que eu não avisei.

CANDOCA – Já chega, Chandra! Não vamos transformar o jantar em uma sessão de provocações.

Chandra Dafni ergue a taça em um brinde irônico, enquanto Hismeria suspira profundamente e olha para o prato, tentando conter a irritação.

                                                         CORTA PARA:

CENA 5. INT. BORDEL DE MADAME YVETTE – SALÃO – NOITE

O bordel está em seu auge de movimento. Música alta e risadas ecoam pelo salão, enquanto Zuleika, Florzinha, Mara, Teodora e Carolina com vestidos provocantes circulam entre os clientes. Pedro entra pela porta principal, vestindo um paletó impecável e exibindo um sorriso confiante. Ele mal tem tempo de atravessar o salão antes de ser abordado por Robervaldo.

ROBERVALDO (SORRINDO) – Pedro! Que elegância, hein? Esse paletó está um luxo! E esse perfume...acho que até as flores do campo estão com inveja.

Pedro ri, enquanto tira o chapéu e dá uma tapinha amigável no ombro de Robervaldo.

PEDRO – Não se anima muito porque isso aqui não é para seu bico, é para as meninas. Mas obrigado pelo elogio, não posso decepcionar quando venho aqui.

ROBERVALDO – Não se preocupe, você não faz o meu tipo.

PEDRO (ALIVIADO) – Ainda bem!

ROBERVALDO – E cadê o Augusto? Vocês dois sempre chegam juntos.

PEDRO – O Augusto disse que tinha um compromisso com algum rabo de saia que ele arranjou por aí. Não quis contar quem era, tá cheio de mistério.

ROBERVALDO – Rabo de saia, é? E quem seria essa moça?

PEDRO – Não faço ideia. Ele não quis dizer, vai ver é uma dessas meninas daqui que ele tá pegando por fora de graça.

Antes que Robervaldo possa responder, Teodora, uma das mulheres do bordel, se aproxima sorridente. Ela passa a mão pelo peito de Pedro, que a encara com um olhar malicioso.

TEODORA (PROVOCANTE) – Pedro, querido...Que saudade de te ver por aqui.

Pedro segura a mão de Teodora e a beija de leve.

PEDRO – E eu de você, Teodora. Robervaldo, traga o melhor drink da casa para nós dois.

ROBERVALDO (SORRI) – Já vai sair, patrão.

Pedro passa o braço pela cintura de Teodora, levando-a até uma mesa no canto do salão. Enquanto se afastam, Robervaldo fica parado, bastante pensativo.

                                                         CORTA PARA:

CENA 6. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA - CASA DOS ALMEIDA – QUARTO DE CAMILA – NOITE

Camila está sentada na ponta da cama, inquieta, alisando o tecido do vestindo enquanto olha para a porta. Ela suspira de alívio quando Dorotéia entra no quarto, fechando a porta atrás de si com cuidado.

DOROTÉIA – Me chamou filha? Está tudo bem?

Camila levanta-se da cama, nervosa, mas decidida.

CAMILA – Sim, mamãe. Precisava falar com a senhora...Mas, por favor, o que eu vou dizer tem que ficar entre nós.

Dorotéia segura a mão de Camila e a acaricia.

DOROTÉIA – Claro, minha menina. O que está acontecendo?

CAMILA (INSPIRA PROFUNDAMENTE) – Eu voltei a ver o Matteo. E, mamãe...ele é o amor da minha vida.

Dorotéia arregala os olhos, surpresa, mas permanece em silêncio para que Camila continue.

CAMILA – Nós estamos juntos. Dessa vez, nem o papai vai conseguir nos separar. Estou disposta a enfrenta-lo, custe o que custar, porque eu não vou abrir mão do Matteo de novo.

Dorotéia leva a mão ao peito, preocupada.

DOROTÉIA (APREENSIVA) – Camila, você sabe como seu pai é...Almeida nunca vai aceitar o Matteo como genro.

CAMILA – Eu sei, mamãe. Mas isso não importa mais! Se ele não aceitar, eu me casarei com o Matteo mesmo assim, sem a aprovação dele. Mas...

Camila hesita por um instante, mas olha profundamente nos olhos da mãe.

CAMILA – Eu quero sua bênção. Quero saber que pelo menos da senhora, eu tenho apoio para viver esse amor.

Dorotéia se emociona, seus olhos marejam enquanto segura firme as mãos da filha.

DOROTÉIA (CARINHOSA) – Minha filha, eu jamais negaria minha bênção a você. Se o Matteo é o homem que faz o seu coração bater mais forte, então é com ele que você deve estar.

Camila sorri, emocionada, abraçando Dorotéia com força.

CAMILA – Obrigada, mamãe. Isso significa muito pra mim.

DOTOTÉIA – mas preciso ser sincera com você, Camila. Não será fácil. Seu pai fará de tudo para impedir que vocês fiquem juntos. Almeida não aceita perder o controle da situação. Vocês precisam tomar cuidado.

Camila se solta do abraço.

CAMILA – Eu sei disso, mas o Matteo e eu estamos dispostos a lutar. Ele já sofreu demais por causa do papai, e eu também. Dessa vez nada vai nos separar.

DOROTÉIA – Eu vou rezar para que tudo dê certo, minha filha. Vocês vão precisar de força e de muita coragem.

Camila sorri novamente, enxugando os olhos antes de abraçar a mãe outra vez.

                                                         CORTA PARA:

CENA 7. INT. CASA DE HOMERO – COZINHA – NOITE

É madrugada, a cozinha está quase escura, iluminada apenas por um pequeno abajur no canto. Fernando, de pijama, está encostado na pia, bebendo um copo de suco. Constância entra na cozinha, vestindo apenas um robe de cetim que desliza suavemente pelo corpo. Ao vê-lo, ela para abruptamente, surpresa.

CONSTÂNCIA – Fernando! Não sabia que estava aqui, me desculpe pelo traje. Vim pegar um copo de água, a jarra do quarto estava vazia.

Fernando fica visivelmente desconcertado, desviando o olhar, mas incapaz de esconder o incômodo ao lembrar do passado dos dois.

FERNANDO – Tudo bem, Constância, essas coisas acontecem.

Ela caminha lentamente até a geladeira, abrindo-a e pegando uma garrafa de água. Fernando tenta se concentrar em beber seu suco, mas seu olhar involuntário a segue. Constância derrama água em um copo, mas deixa parte escorrer de propósito, molhando o robe.

CONSTÂNCIA – Ah, que desastrada eu sou.

Constância puxa o robe para o lado, revelando sutilmente parte de seu ombro e uma silhueta insinuante. Fernando engole seco, tentando desviar os olhos, mas seu desconforto é evidente.

FERNANDO (HESITANTE) – Acho que deve ter uma tolha aqui por perto.

Constância lança um olhar provocativo enquanto ajeita seu robe.

CONSTÂNCIA – Não se preocupe, eu resolvo isso lá no quarto.

Constância passa por Fernando, e ele não consegue esconder sua reação, desviando o olhar para o chão enquanto tenta se recompor. Ela para na porta e o encara com um sorriso discreto, antes de sair sem dizer mais nada. Fernando imóvel na cozinha, claramente perturbado e perdido em seus pensamentos, suspira profundamente e deixa o copo de suco na pia.

                                                         CORTA PARA:

CENA 8. INT. JORNAL O AMIGO DO POVO – REDAÇÃO – NOITE

A redação do jornal está escura, com apenas uma lâmpada oscilante iluminando o ambiente. A porta é arrombada com um chute, e Ezequiel entra com outros jagunços, todos encapuzados. Eles carregam pedaços de madeira e armas improvisadas. Começam a destruir móveis e equipamentos.

EZEQUIEL (GRITANDO) – Acabem com tudo! Quero essa porcaria de jornal no chão antes do amanhecer.

Os homens avançam, quebrando máquinas de escrever e arrancando papéis. De repente, Matteo que estava escondido se levanta e aponta a arma para eles.

MATTEO (BERRANDO) – Ninguém se mexe ou eu atiro!

Os jagunços param por um momento, mas logo sacam suas próprias armas. Matteo dispara, atingindo um dos jagunços na perda. Rodolfo, Eriberto e Henrique que também estavam escondidos, aparecem e entram em luta corporal com os jagunços. Um dos jagunços dispara contra Henrique, acertado seu braço.

HENRIQUE (GRITANDO DE DOR) – Fui atingido!

Rodolfo derruba um jagunço no chão e Matteo luta com outro jagunço. Ezequiel percebe que estão em desvantagem e ordena a retirada.

EZEQUIEL (GRITA) – Vamos embora!

Os jagunços fogem pela porta arrombada, exceto por um que é pego por Rodolfo e Eriberto. Eles o seguram enquanto ele tenta se soltar.

ERIBERTO – Você não vai a lugar nenhum, desgraçado!

Matteo entrega a arma para Rodolfo.

MATTEO – Levem ele para a delegacia. Ele vai nos dizer quem foi o mandante dessa destruição. Enquanto isso, eu vou chamar o Dr. Romeo para cuidar do Henrique.

Rodolfo e Eriberto arrastam o jagunço para fora. Matteo ajuda Henrique, pressionando o ferimento para estancar o sangue.

                                                         CORTA PARA:

CENA 9. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – SALA – NOITE

Ezequiel anda de um lado para o outro, visivelmente nervoso. Almeida desce as escadas vestido em um robe e com uma expressão irritada.

ALMEIDA – Isso é hora de me acordar, Ezequiel? Que inferno aconteceu?

EZEQUIEL – Foi no jornal, coronel! Nós invadimos como o senhor mandou, mas eles estavam esperando!

ALMEIDA (IRRITADO) – O quê? Como assim esperando?

EZEQUIEL (DESESPERADO) – Os jornalistas, o Matteo e aquele irmão dele armaram uma emboscada, e estavam armados. Nós tentamos, mas um dos nossos foi pego e outro baleado.

Os olhos de Almeida se estreitam, ele respira fundo antes de explodir em fúria.

ALMEIDA (FURIOSO) – Imbecil! Eu mando você acabar com aquele jornalzinho e você me traz mais um problema?

EZEQUIEL – Coronel, eu não sabia que eles...

ALMEIDA (INTERROMPENDO) – Cale a boca! Você sabe o que isso significa? Eles vão arrancar a verdade dele, e aquele jagunço maldito vai confessar que fui eu o mandante. Depois isso vai parar na capa do jornal, quem sabe até chamando atenção de outros jornais do país.

Ezequiel abaixa a cabeça, envergonhado. Almeida começa a andar pela sala, esfregando o queixo enquanto pensa.

ALMEIDA – Nós não podemos deixar isso acontecer. Precisamos resolver antes que ele abra a boca.

EZEQUIEL – O que o senhor quer que eu faça?

ALMEIDA – Reúna os homens. Eles devem ter levado o jagunço pra delegacia, vá até a delegacia e resolva isso. E resolva agora.

EZEQUIEL (CONFUSO) – O senhor está dizendo...

ALMEIDA – Estou dizendo que faça o que for necessário. Entendeu?

Ezequiel assente rapidamente e sai apressado. Almeida volta a subir as escadas, murmurando para si mesmo.

                                                         CORTA PARA:

CENA 10. INT. DELEGACIA – NOITE

Na delegacia, o ambiente é sombrio e silencioso. Apenas um policial de plantão está presente, sentado atrás de uma mesa e falando ao telefone. Rodolfo e Eriberto aguardam, inquietos. O policial finalmente desliga o telefone e olha para eles.

POLICIAL – O delegado Afrânio disse que só vem pela manhã.

RODOLFO (INDIGNADO) – O quê? Nós trouxemos um criminoso que tentou destruir a redação do jornal e ele acha que pode esperar até amanhã?

POLICIAL – Ele vai ficar preso junto com o Firmino, e pela manhã quando o delegado chegar será interrogado.

RODOLFO – Isso é um absurdo!

ERIBERTO – Nós voltaremos de manhã, mas esperamos que o delegado arranque desse homem quem foi o mandante desta ação.

Rodolfo e Eriberto trocam olhares irritados, mas acabam saindo.

                                                         CORTA PARA:

CENA 11. EXT/INT. DELEGACIA – DIA

O sol nasce sobre a cidade de Esperança. Matteo, Rodolfo e Eriberto chegam à delegacia ao mesmo tempo que o delegado Afrânio, que está ajustando seu chapéu e parece despreocupado.

AFRÂNIO (SORRINDO) – Que pontuais! Não pensei que estariam tão cedo aqui.

MATTEO (SÉRIO) – O que nos traz aqui é muito importante, delegado. E você também sabe.

AFRÂNIO – Não precisa me ensinar a fazer meu trabalho, Matteo.

Eles entram na delegacia. Afrânio vai até sua sala e pede ao policial para trazer o jagunço preso. Momentos depois, o jagunço é trazido, mas sua roupa está ensanguentada e sua boca coberta de sangue. Todos na sala ficam chocados.

RODOLFO – O que aconteceu com ele?

Afrânio se ergue da cadeira, sério.

AFRÂNIO – Quem fez isso?

O jagunço tenta falar, mas apenas sons abafados saem. Ele então abre a boca e aponta para ela. Todos percebem então que ele teve a língua arrancada.

FIM DO CAPÍTULO

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