A Promessa
CAPÍTULO 21
webnovela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
No capítulo anterior: Noemi e Tani relembram com saudade os tempos de mocidade. Elimeleque convida Neb para partir com eles, mas ele diz que talvez os tempos de viagem já tenham passado. Aylla aparece no quarto das sacerdotisas e diz a Rute que não consegue dormir, está tendo pesadelos. Rute acaba por deixar a menina dormir com ela, mas precisará sair antes que amanheça e sejam descobertas. Elimeleque, Noemi, Malom e Quiliom oram e saem de casa. Na saída da cidade, Tamires aparece e os chama de covardes e ofende Noemi. Malom e Quiliom explodem, desembainham suas espadas e as colocam no pescoço de Tamires.
FADE IN:
CENA 1: EXT. BELÉM – ENTRADA DA CIDADE – NOITE
Malom e Quiliom mantém suas espadas no pescoço de Tamires, presa na parede e com os olhos esbugalhados.
MALOM
Ficou louca, é isso, mulher???!!!
QUILIOM
Perdeu a noção do perigo???!!! Quer morrer???!!! Quer???!!!
Neb chega ali e fica confuso com a cena.
NEB
O que está acontecendo?!...
Rapidamente Elimeleque se aproxima e puxa os filhos.
ELIMLEQUE
Saem! Saem! Afastem-se!
QUILIOM
(apontando a espada, mas sendo afastado) Ouse abrir a boca pra falar de minha família de novo, mulher!
Com os filhos já longe de Tamires, o próprio Elimeleque se aproxima de Tamires.
ELIMELEQUE
Quanto a você--
Nesse momento, ouve-se um barulho vindo da escuridão além do portão da cidade. Logo os ruídos aumentam, e Malom e Quiliom apontam as espadas para o desconhecido lá fora.
MALOM
Alto lá!
ELIMELEQUE
Será que dá para abaixarem essas espadas?!
Malom e Quiliom abaixam-nas.
QUILIOM
Quem chegaria na cidade a essa hora, meu pai?
Elimeleque não responde e se aproxima dos filhos. Todos olham atentos para o que está se aproximando.
Os vultos começam a ganhar forma. E, de repente, duas carroças e 4 pessoas emergem da escuridão e atravessam o portão de Belém. Na carroça da frente, lotada de objetos com certo valor, está um casal de idosos, e na de trás, dois rapazes. Elimeleque franze o cenho e aperta os olhos.
ELIMELEQUE
Ora, ora...
MALOM
O quê?
ELIMELEQUE
Se não são eles...
O homem mais velho, ao ver aquele povo todo, para a carroça e os observa.
HOMEM VELHO
De tudo e todos que eu esperava encontrar, nada chegava perto de Elimeleque e sua família reunidos na entrada da cidade pouco antes do sol nascer.
Elimeleque sorri. Neb se aproxima observando bem o recém-chegado.
NEB
Tio Salmon?! Tia Raabe?!
Sorrindo, Neb vai para o lado e olha um dos rapazes da carroça de trás.
NEB
Primo Boaz?!
Tani sorri. Noemi, Yuri, o Ancião e os dois rapazes da segunda carroça observam curiosos. Tamires se afasta para a penumbra, mas assiste a tudo. O homem da carroça da frente começa a sorrir para Elimeleque e Neb.
ABERTURA
CENA 2: EXT. BELÉM – RUA – ENTRADA DA CIDADE – NOITE
Interessada, Tamires não desgruda os olhos daquelas pessoas. Os dois grupos já estão em pé e de frente uns para os outros. Elimeleque abraça SALMON (65 anos) e RAABE (62 anos).
ELIMELEQUE
O que é que os senhores estão fazendo em Belém?!
SALMON
Motivos para isso não faltaram. Mas antes, deixe-me apresentar os rapazes para todos. Esse é Boaz, meu orgulho, minha descendência, e esse é seu servo e grande amigo Josias.
ELIMELEQUE
Minha esposa Noemi, nossos filhos Malom e Quiliom, nossos amigos e irmãos Tani e Yuri e o Ancião de nossa cidade e querido da família.
BOAZ (26 anos, cabelo escuro) e JOSIAS (26 anos, loiro) cumprimentam a todos.
SALMON
(apontando Tamires com a cabeça) E aquela, quem é?
ELIMELEQUE
Ahn, uma das moradoras... É, e então, tio? Posso lhe chamar assim?
SALMON
Mas é claro, Elimeleque! Não é porque sou parente mais próximo de Neb que também não sou seu tio. Sou seu tio e vai ter que aceitar isso.
Elimeleque ri.
RAABE
Conte para eles de uma vez, meu marido.
SALMON
Claro, claro... Bom, nós estávamos indo muito bem em Laquis, assim como Deus tem dado a graça de ter sido a vida toda. Mas de um tempo pra cá os campos passaram a não produzir como antes. Pouco a pouco, a situação foi ficando preocupante.
ELIMELEQUE
Nós entendemos. A crise aqui já é grave.
SALMON
Eu soube da crise, mas no caminho. Quando saímos de Laquis a situação ainda não era tão grave. Mas era ruim o bastante para nos preocuparmos com o futuro de Boaz. Raabe e eu concluímos que iniciarmos nossos negócios em outro lugar seria o melhor para nosso filho prosperar e formar família.
BOAZ
Meus pais e sua conversa de casamento...
MALOM
Nós te entendemos.
QUILIOM
Não imagina o quanto.
NOEMI
Rum.
SALMON
Hoje mais cedo, na parte do dia, ficamos sabendo da tempestade que atingia Belém, nosso destino. Tínhamos esperança de que o estrago não fosse tão grande... Apesar da escuridão, é possível notar que os campos estão limpos e, bem... (olhando ao redor) a destruição...
ELIMELEQUE
É exatamente por isso tudo que eu e minha família estamos indo embora agora mesmo, tio.
SALMON
E para onde estão indo?
ELIMELEQUE
Não sei, não sabemos... O senhor sabe de algum lugar que não tenha sido atingido por essa fome miserável?
SALMON
Não sei de nada, infelizmente.
NOEMI
(para Raabe) Lamento muito não poder ficar com a senhora. Amaria passar os dias conversando, escutando suas grandes histórias...
RAABE
(sorrindo) Oh, Noemi...
SALMON
Neb, meu sobrinho... Será que você pode nos hospedar por alguns dias?
Neb fica todo desconcertado.
NEB
Hospedar? É que, bem... eu... eu... Eu não tenho onde ficar, entende...
ELIMELEQUE
Há a hospedaria, tio. Sempre há bons quartos desocupados por lá.
SALMON
Ótimo! Servirá até comprarmos um lugar para nos estabelecer.
NOEMI
Prósperos como eram, logo serão os mais prósperos de Belém.
SALMON
Junto à minha família maravilhosa – e você Josias está incluso – lutarei para reerguer Belém da fome e ajudar nossos irmãos.
NOEMI
Creio, senhor Salmon, que a luta será mais espiritual que material.
ELIMELEQUE
Não demorará muito e o senhor entenderá.
NOEMI
Quanto ao lugar para ficarem, por que não compram nossa casa? Está vazia, agora.
SALMON
Não, não, não... Não faz sentido algum. Muito em breve vocês voltarão!
NOEMI
Assim esperamos.
ELIMELEQUE
Bom, meu tio, gostaria de desejar ao senhor e à sua família uma excelente estadia em Belém. Que Deus os abençoe.
SALMON
Amém! Mas vocês precisarão de ainda mais bênçãos. Cuidem uns dos outros, protejam-se, façam vigílias durante a noite... A caminhada no deserto pode surpreender de muitas formas.
Elimeleque sorri e abraça seu tio. Depois abraça os outros. Noemi, Malom e Quiliom fazem o mesmo.
ELIMELEQUE
Bom, é isso... Shalom.
SALMON, RAABE, BOAZ, JOSIAS
Shalom.
Tani se atira no pescoço de Noemi e a abraça bem forte.
TANI
Eu vou estar esperando por vocês.
NOEMI
Ore por nós, minha amiga...
TANI
Sempre.
YURI
Quando puderem, mandem um mensageiro com notícias.
ANCIÃO
Que o Senhor os guie no caminho.
NEB
Parece que fazem mil anos que saíamos e entrávamos nas cidades e vilarejos.. E agora é só você.
ELIMELEQUE
Se cuida, primo.
Auxiliada por Elimeleque, Noemi sobe na carroça. Os dois e Malom e Quiliom falam “Shalom” para os que ficam. Neb certifica-se de que ninguém está olhando e pega rapidamente da carroça do primo um copo brilhoso e o esconde nas vestes. Elimeleque e os filhos começam a andar, guiando o cavalo.
Tani, Yuri, Neb, o Ancião, Salmon, Raabe, Boaz e Josias observam a família adentrar a escuridão e sumir.
ANCIÃO
Eles farão falta...
YURI
Belém nunca mais será a mesma...
TANI
Que Deus os proteja...
NEB
Ao menos agora eu tenho meus tios e meu primo Boaz.
Neb sorri e olha para a família recém-chegada, que ainda observa a escuridão lá fora.
NEB
(sorrindo) E Josias, também. Novo companheiro.
Boaz e Josias olham simpático para Neb e viram, indo embora com Salmon e Raabe. Neb fica para trás, mas corre e os alcança. Começa a acompanhá-los.
Tristes, Tani, Yuri e o Ancião também dão meia volta e vão embora. Tamires os observa e em seguida olha de volta para a escuridão além de Belém.
TAMIRES
Essa foi a última vez que nos vimos, Noemi... Até nunca.
CENA 3: EXT. BELÉM – RUA – NOITE
Salmon, Raabe, Boaz, Josias e Neb caminham observando a cidade.
SALMON
É lamentável que nosso povo tenha deixado a situação chegar a esse ponto...
RAABE
Acha que isso é consequência de atos malignos, Salmon?
SALMON
Você ouviu Elimeleque e Noemi... Os hebreus estão distantes do Senhor em todas as tribos.
Neb caminha ao lado dos rapazes, mas alonga os passos e alcança Salmon e Raabe.
NEB
Meu tio, minha tia, gostaria apenas de dizer-lhes que estou aqui para o que precisarem. Não nasci nessa cidade maravilhosa, mas como morador há 25 anos, creio que posso ser-lhes mui útil aqui.
RAABE
Agradecemos muito, Neb. É um homem prestativo.
NEB
Estou às ordens. Por favor, me acompanhem. Eu os levarei à hospedaria.
Salmon e Raabe sorriem. Boaz joga um olhar de cumplicidade a Josias e continuam a caminhar.
CENA 4: EXT. BELÉM – CAMPOS – ALVORADA
Os primeiros raios de luz começam a surgir no horizonte. Pouco a pouco, o escuro da noite vai dando lugar ao azul.
Elimeleque guia o cavalo que puxa a carroça onde está Noemi e a maioria dos objetos de casa. Malom e Quiliom vem logo atrás, guiando as ovelhas. Caminham pelo campo desolado. É extremamente nítido as marcas dos raios e do vendaval que deixou o chão em solo nu.
Pouco depois, eles passam por uma carroça retorcida e que ainda arde melancolicamente em chamas. É aquela que foi carregada da cidade e atingida por um raio no ar. Elimeleque e Noemi olham com certa angústia e continuam a caminhar.
No horizonte ao lado deles já há uma claridade considerável, mas o céu acima ainda é escuro e as estrelas persistem em brilhar. Notam, ao longe, animais à procura de comida, aves fugindo...
Então chegam ao pé de uma elevação. Elimeleque olha para a subida, abraça Noemi e vão.
Alguns momentos depois, eles chegam no alto da elevação e param cansados. Malom nota algo lá atrás e olha. Todos o percebem e fazem o mesmo: é Belém. A destruição é perceptível, e de alguns pontos ainda sobe uma fumaça escura.
Noemi soluça enquanto lágrimas escorrem por seu rosto. Elimeleque a abraça e a vira para que partam.
E eles partem.
FADE OUT:
FADE IN:
CENA 5: FLASHBACK: EXT. PLANÍCIE DESÉRTICA – DIA
Rute está de volta ao dia da batalha contra os amorreus. Ela mais uma vez despeja um pouco de óleo na testa da menina deitada na mesa de pedra. Depois espalha com o dedo enquanto Orfa amarra as mãos da garota.
A Sacerdotisa Myra desembainha um punhal, se aproxima e ergue a arma apontada para a menina.
MYRA
Deuses de Moabe!
Diferente do que aconteceu na realidade, Rute começa a se mexer incomodada. Balança a cabeça, franze o cenho...
MYRA
Menina, prepare-se para conhecer o bafo quente de Mot, o grande e invencível senhor da morte!
Rute se desespera, mas não reage a altura. Continua a olhar pra lá, pra cá e para a lâmina prestes a desferir o golpe.
MYRA
Salve Baal!
A voz de Myra escoa.
MYRA
Baal, Baal, Baal, Baal...
Rute está tremendamente aflita.
MYRA
Que essa morte seja a morte de todos os amorreus!
Então Rute olha para a menina, mas já não é ela que está ali, e sim Aylla!
Rute arregala os olhos. Também desesperada, Aylla olha com dificuldade para Rute.
AYLLA
Me ajude...
Myra corta o ar com a lâmina na direção do peito de Aylla.
RUTE
(desesperada) NÃO!!!
CENA 6: INT. TEMPLO – QUARTO DAS SACERDOTISAS – AMANHECER
Rute acorda subitamente. Assustada, respira ofegante. Logo percebe que está suada. Os primeiros raios de luz adentram o quarto.
Olha para Aylla, que dorme confortavelmente em seus braços. Por alguns segundos, como que de forma a se confortar, ela contempla a menina dormindo. Acaricia seu cabelo.
RUTE
(sussurrando) Aylla. Aylla. Aylla...
Aylla se mexe e abre os olhos um pouquinho.
RUTE
Você precisa ir, Aylla... Ninguém pode nos ver aqui, ou seremos eternamente castigadas... Preciso leva-la.
Momentos depois, Rute acompanha Aylla, grogue de sono. Certifica-se de que Orfa está dormindo e vai para a porta. Rute abre, olha para os dois lados do corredor e sai com a menina.
O que não percebem é que no meio tempo, Orfa acordou e as notou.
CENA 7: INT. TEMPLO – CORREDOR – AMANHECER
Guiando Aylla, Rute se espreita silenciosamente pelo corredor. Caminham com discrição, atentas.
De repente, um barulho vindo de um corredor que acaba naquele. Rute paralisa.
RUTE
(sussurrando) Alguém está vindo...
AYLLA
(com medo) E agora?...
Rute está visivelmente apavorada. Olha para a porta do quarto lá atrás, mas muito distante.
RUTE
É nossa única chance, não temos escolha. Vamos logo.
Rute e Aylla vão o mais rápido que podem. A todo momento ela olha para trás. O quarto ainda está muito longe quando ela nota sombras vindo daquele corredor. Então para.
AYLLA
Por que parou?! Não íamos voltar?!
RUTE
Shh.
O dono da sombra aparece e vira o corredor: é Myra. Ao nota-las, Myra para.
MYRA
Rute?...
Rute e Aylla olham para Myra.
MYRA
O que está fazendo com a candidata à oferenda?
Em Rute engolindo em seco, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Sem saber que está sendo observada por Orfa, Rute tenta se explicar com Myra. E a Caravana da Morte parte para alcançar Elimeleque e sua família.
Obrigado pelo seu comentário!