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A Promessa - Capítulo 26


A Promessa
CAPÍTULO 26

webnovela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

livre adaptação do livro de Rute

No capítulo anterior: Maya e Iago comemoram o filho que esperam. Tamires fica furiosa com o insucesso da Caravana em matar a família de Noemi e Segismundo diz que só irão atrás deles novamente depois de passarem por um treinamento. Salmon e Raabe convidam Tani para ajudarem no plano de tirar Belém da fome. Pretendem comprar alguns campos e plantar, e paralelamente orar e pregar para o povo. Tani aceita. À noite, Malom e Quiliom conseguem caçar e eles jantam. Elimeleque conversa com Noemi sobre a possibilidade de a Promessa não se referir a ele e nem mesmo a um casamento. Noemi não entende e é categórica ao afirmar que é óbvio que  a Promessa se refere ao amor dos dois.

FADE IN:

CENA 1: INT. TEMPLO – JARDIM – NOITE

Rute caminha tranquilamente pelo jardim, aproveitando a noite fresca e estrelada. Orfa passa por ali.
ORFA
Não vai dormir, Rute?
RUTE
Vou ficar mais um pouco apreciando as estrelas, sentindo a brisa da noite...
ORFA
Certo... Até mais, então.
Orfa sai. Rute vai até um banco de madeira, senta e fica olhando para o céu.
De repente, um barulho vindo do outro lado do jardim. Ela olha, mas não consegue enxergar direito por causa de algumas plantas ao seu lado. Então levanta um pouco e consegue notar, do outro lado, Faruk passando furtivamente. Rute franze o cenho, estranha aquele comportamento cuidadoso e discreto do Sumo Sacerdote.
Faruk garante que ninguém está lhe vendo e corre para um corredor que sai do jardim. Rute se abaixa e senta novamente. Confusa, ela pensa no que acabou de ver. Então se levanta como se fosse atrás, mas desiste e volta a sentar. Está curiosa, incomodada... Levanta de novo e para, mas em pé... Olha para os lados, pensa... e finalmente vai atrás.

CENA 2: INT. TEMPLO – CORREDORES – NOITE

Rute corre de forma mais silenciosa possível. É atenta a cada novo corredor que toma.
A sacerdotisa para em uma virada ao finalmente encontrar Faruk andando rápido, porém discreto.
RUTE
(ofegante) Está indo... para a câmara de sacrifícios?...
Rute espera ele se distanciar e vai atrás.
Faruk chega à entrada da câmara. Rute se joga para trás de um pilar. Ele olha para trás, conferindo se ninguém o seguiu, e entra na câmara. Rute sai de trás do pilar e vem correndo.
Ao chegar na entrada, ela para e espia lá dentro. Um grande pilar na entrada impede a visão completa da câmara, mas ela consegue ver Faruk, parado, observando um servo trazer um menino de 10 anos à força. O garoto grita, mas em vão. Estão aos pés de um púlpito onde há uma mesa de pedra. E atrás, na parede, uma grande estátua de um monstro, algum deus moabita.
MENINO
Me solta, me solta! Socorro! Me solta, me larga! O que vocês querem?! Socorro!

CENA 3: INT. TEMPLO – CÂMARA DE SACRIFÍCIOS – NOITE

Rute está chocada. Ela entra no comecinho da câmara e fica escondida atrás do pilar. Respira ofegante. Está cansada e abismada com o que está acontecendo ali.
FARUK
Garantiu que tudo foi feito com discrição?
SERVO
Sim, senhor. Os poucos que presenciaram pensaram ser um sequestro comum. A família acha que foi levado por mercadores de escravos.
FARUK
Ótimo, bom trabalho.
Rute cada vez pior... Ela tampa a boca com a mão, seus olhos estão arregalados. O garoto chora amargamente.
FARUK
Cale-o.
O servo molha um pano com um líquido e coloca na boca do garoto que, momentos depois, desmaia. Pega uma corda e amarra suas mãos. Rute arrisca uma olhada... Não acredita que aquilo está acontecendo.
De repente, ela se desequilibra e faz um barulho involuntário com os pés. Faruk olha assustado para a entrada da câmara. De onde está, ele não consegue ver o corredor por conta do pilar.
FARUK
Vá checar.
O servo larga tudo e vai para a entrada. Rute escuta seus passos se aproximando. Ao chegar no pilar, o servo é cuidadoso. Vai pela direita... Rute, extremamente atenta aos ruídos, se afasta um pouco para a esquerda. Muita tensão. Se ela for para o corredor, será vista. Se tiver que ir demais para a esquerda, aparecerá do outro lado e será vista por Faruk.
O servo aproxima mais pela direita, está na lateral do pilar. Rute aflita por estar se aproximando demais da outra lateral, onde será vista pelo Sumo Sacerdote. Então, ao olhar para sua mão no pilar, ela parece ter uma ideia.
Rute arranca um de seus anéis, o olha e então o joga por cima de onde o servo se aproxima. Ele não nota o anel que voa sobre sua cabeça e cai do outro lado, entre várias mesas e estantes. Rute está no limite de ser vista, tanto por um  quanto pelo outro, quando os dois se assustam com o barulho e voltam sua atenção para aquele canto onde o anel caiu. Rute aproveita para correr para o corredor.

CENA 4: EXT. TEMPLO – JARDIM – NOITE

Rute corre como se fugisse de um monstro. Perto do banco onde estava anteriormente, ela tropeça e cai. Não há ninguém ali para ver. Rapidamente ela se levanta e senta no banco, ofegante e assustada. Olha para o corredor de onde veio... respira fundo... e vai embora.
ABERTURA

CENA 5: INT. CASA DE YURI – SALA – NOITE

A ESPOSA de Yuri pega o filho pequeno do chão e vai para a mesa, onde estão Yuri e Tani.
YURI
Nós resolvemos te chamar, Tani, porque é a única amiga de verdade que nos restou depois de Elimeleque e sua família terem ido embora. Ela tem as vizinhas como amigas, mas todos ainda estão muito assustados com o que aconteceu ontem.
TANI
Entendo... Então vão mesmo partir de Belém.
YURI
Vamos tentar reiniciar nossas vidas na minha terra natal, Hebrom.
ESPOSA
Tani, você realmente não quer ir conosco?...
TANI
Agradeço o convite, mas prefiro ficar aqui e ajudar os que estão dispostos a reconstruir a cidade. Também quero esperar por Noemi e sua família. Vou cuidar da casa deles, garantir que nada se perca em sua ausência...
YURI
Noemi e Elimeleque...
TANI
Onde estarão a essa hora?...

CENA 6: EXT. DESERTO – NOITE

Elimeleque está deitado, mas acordado. Então se senta. Confere se Noemi, ao seu lado, está dormindo, e põe-se de pé. Olha para os filhos, logo ali; também dormem. Então ele se afasta para longe do calor e da luz da fogueira quase apagada.
A algumas dezenas de metros de sua família, em meio à escuridão, Elimeleque observa o céu forrado de estrelas. De repente ele desaba e cai de joelhos. Olhando para as estrelas, ele desabafa.
ELIMELEQUE
(sussurrando) Senhor... Meu Senhor... Apesar de me mostrar confiante com eles, a cada momento que passa... eu fico mais temeroso. Por outro lado, eu sei que se tivesse ficado em Belém seria pior...
Seus olhos começam a marejar.
ELIMELEQUE
Apenas Te peço, Senhor... que não nos deixe desfalecer no deserto. Guie-nos... Ilumine a minha mente para que eu não falhe com minha família. Para que eu não os leve ao padecimento.
Elimeleque chora.

CENA 7: EXT. HOSPEDARIA – ENTRADA – NOITE

Boaz e Josias conversam escorados na entrada da hospedaria. Então Neb passa por eles, saindo do local.
NEB
Shalom.
BOAZ, JOSIAS
Shalom...
JOSIAS
Sujeito engraçado esse Neb.
BOAZ
Josias, você percebeu a alergia à casamento que ele tem?
Eles riem.
JOSIAS
Boaz, vamos aprontar uma com ele...

CENA 8: EXT. BELÉM – RUA – NOITE

Neb está andando. Boaz e Josias se aproximam por trás.
BOAZ
Neb! Neb...
Neb para e olha.
NEB
Boaz, Josias... Sim?
BOAZ
Neb... Você havia comentado sobre ajudar, ser útil, algo assim, não foi?
NEB
Sim, sim, é meu desejo--
BOAZ
(interrompendo) Há algumas moças aqui perto que estão com dificuldade para organizar suas coisas. Estão na porta de casa. Por que não nos acompanha até lá?
NEB
Bom, eu... me referia a ajudar... a sua família, Boaz.
BOAZ
Quem ajuda a um belemita ajuda à minha família, Neb.
Josias segura para não rir.
NEB
É, tudo bem... Vamos lá ver isso.
Boaz, Joias e Neb se aproximam de uma casa onde algumas moças tentam arrumar objetos pesados.
BOAZ
Shalom.
Todas respondem.
BOAZ
Estávamos passando por aquela rua quando vimos as moças com dificuldades... Aceitam que as ajudemos?
MOÇA 1
Ah, se puderem...
MOÇA 2
Seria ótimo!
MOÇA 3
Chegaram na hora certa!
BOAZ
Pois bem. Vamos.
Os três se espalham e cada um ajuda de uma forma.
JOSIAS
Neb... E aquela história sua de não querer casar?
As mulheres olham Neb de canto de olho.
NEB
Não querer casar? Minha história? Mas que absurdo... É claro que... é claro que eu... que eu... (espirra!) que eu quero casar.
Algumas riem.
JOSIAS
Bem que suspeitávamos, han, Boaz?!
BOAZ
Bastou estar perto das moças e a alergia passou!
JOSIAS
Curou!
Boaz e Josias riem. Algumas se constrangem, mas a maioria sorri timidamente. Neb começa a ficar vermelho e a tremer. Olha feio para eles.
NEB
Do que é que-que estão falando? Não estou entenden-den-dendo essas gracinhas... O que estão apron-pron... aprontando?!
Uma das moças sorri diferente. Apesar da timidez, ela olha para Neb aparentando interesse. Boaz e Josias percebem e a indicam com o olhar para Neb. Cada vez mais vermelho e mais trêmulo, ele começa a espirrar. E espirrar. E espirra sem parar!...
Boaz e Josias não se aguentam e caem na gargalhada. Algumas moças fazem o mesmo. É quando Tamires aparece por ali e se aproxima.
TAMIRES
Mas que falta de vergonha, hein! Que insensibilidade!
Todos ali param de rir e olham para ela.
TAMIRES
A cidade toda ardendo em sofrimento, e vocês aqui, algazarrando como cabras acasalando. Problema de quem não tem o que fazer!
MOÇA 1
Até parece que você se importa com a cidade. Vi como tratou a senhora Noemi e a senhora Tani na rua há um tempo. Essas sim se importavam com Belém.
Tamires, encarando a moça, se aproxima dela.
TAMIRES
Quem é você para falar assim comigo, garota?
A moça encara Tamires. Essa então vira para Boaz e Josias.
TAMIRES
Vão embora, os dois.
Boaz é firme ao encará-la.
BOAZ
Ao contrário do que disse, nós temos sim o que fazer. Viemos ajudar essas moças, justamente para que o sofrimento da cidade diminua um pouco que seja.
TAMIRES
É muito conveniente que tenham vindo ajudar justo as moças.
BOAZ
Espere, você... não é aquela mulher da entrada?...
TAMIRES
Boa memória. E já que são novos em Belém, comecem a aprender as regras daqui.
Neb espirra e Tamires olha para ele.
TAMIRES
E quanto a você, não tem que estar se misturando com esse povo, que nem é da tua idade.
NEB
Estou apenas ajudando-os. Dê um tempo, Tamires. Não tenho que te dar satisfações do que faço.
Tamires olha feio para ele. Depois para todos os outros.
TAMIRES
É bom trabalharem mesmo. Bem direitinho. Para que tudo volte a ser como era antes.
Então ela vira com o nariz empinado e sai caminhando cheia de si. Os dois e as moças a encaram com raiva.
NEB
Ela gosta de mim.
Eles olham para ele com estranheza.

CENA 9: INT. TEMPLO – QUARTO DAS SACERDOTISAS – NOITE

Rute entra no quarto correndo e cai sentada em sua cama, de boca aberta.
ORFA
Valha-me, Rute! Mas o que é isso?! Que aconteceu?!
RUTE
Eu... eu... eu... eu... Não consigo!...
Assustada, Orfa serve água em um copo e entrega para Rute, que bebe de um só gole.
ORFA
Agora respire. Isso, respire fundo...
Rute respira fundo algumas vezes. Orfa lhe seca o suor da testa.
ORFA
Pronto? Acalmou?
Rute engole em seco e respira fundo uma última vez.
RUTE
Apenas o suficiente para te contar.
ORFA
Pois conte, Rute. O que te deixou assim?!
Rute conta tudo o que viu, desde Faruk furtivo no jardim até sua fuga usando o anel. Orfa, impressionada, se afasta.
ORFA
Isso é mesmo verdade, Rute?!
Rute começa a chorar de desespero.
RUTE
Posso te garantir que sim... Aquilo tirou meu chão, Orfa... Sempre vi o Sumo Sacerdote como um homem justo, incorruptível, fiel aos deuses... Mas fazer isso... utilizar uma criança sequestrada para realizar um sacrifício... sequestrar uma criança!...
Ela gesticula muito.
RUTE
Ver ele fazer aquilo, uma coisa tão... tão...
Mexe as mãos energicamente, mas não encontra palavras. Olha para Orfa.
RUTE
E agora?!
Orfa a encara aflita. Rute, sem chão e com os olhos vermelhos e molhados, chora desiludida.
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: Tani e Tamires discutem, Rute não sabe como agir depois do que presenciou e o tempo passa.

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