Débora
CAPÍTULO 04
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
FADE
IN:
CENA 1:
EXT. TORRE – TERRAÇO – NOITE
Parado na rua lá embaixo, Elian
observa Débora e Lapidote, no alto da torre, trocando um delicado beijo sob o
luar.
Então os lábios de ambos se
desgrudam e eles ficam levemente constrangidos; sorriem desconcertados.
Tendo visto o suficiente, Elian dá
meia volta e vai embora. Lá em cima, Lapidote parece ter uma ideia.
DÉBORA
O quê?...
Então ele ajoelha só uma das pernas
diante da garota, que fica um tanto surpresa.
LAPIDOTE
Débora...
Ela o olha com expectativa.
LAPIDOTE
Você aceita
se casar comigo?
Ela, impressionada, começa a ficar
eufórica.
DÉBORA
Casar?!...
LAPIDOTE
(sorrindo
apaixonado) Sim!
DÉBORA
Casar...
Mas, Lapidote... Nós não temos idade para casar... Não deixariam...
LAPIDOTE
Até termos
idade e condições, será apenas um namoro...
Entendendo, Débora sorri. Mexe a boca
tentando falar...
DÉBORA
Eu... não
esperava passar por isso tão cedo...
Lapidote continua parcialmente
ajoelhado.
DÉBORA
Mas eu
sinto algo... por você... Eu gosto de você...
Lapidote sorri ainda mais.
DÉBORA
Você é um
garoto incrível...
Ele continua aguardando a
resposta... Débora respira fundo.
DÉBORA
Sim... Sim,
eu aceito.
Felicíssimo, Lapidote se levanta e
eles se abraçam!
DÉBORA
(soltando-o) Mas você
precisa falar com a minha mãe.
LAPIDOTE
Seu pai,
você quer dizer...
Débora age como se dissesse
“Então...”.
DÉBORA
Sempre foi
só minha mãe. Não estou certa de que meu pai tem condições de decidir isso.
LAPIDOTE
Pois irei
agora mesmo falar com eles.
DÉBORA
Tem certeza
que quer ir hoje? Agora?
LAPIDOTE
Toda a
certeza.
Débora sorri e pegam a mão um do
outro. Viram para a cidade e apreciam a paisagem por alguns instantes...
DÉBORA
(NAR.)
Depois de
12 anos de vida, finalmente eu havia descoberto o amor.
Então
os dois viram e vão embora.
CENA 2:
INT. CASA DE TAMAR – COZINHA – NOITE
Tamar olha muito atentamente para
Elian.
TAMAR
Você tem
certeza disso?
ELIAN
Absoluta!
Foi agora mesmo, vim direto de lá!
Tamar parece pensar.
TAMAR
Isso é tão
estranho... Débora nunca demonstrou nada, nenhum sinal. É como se... ela ainda
tivesse 8 anos.
ELIAN
Tamar, nós
dois a vimos muito próxima de Lapidote.
TAMAR
Eu nem sei
o que dizer, Elian! Estou muito surpresa...
ELIAN
Uma coisa é
certa: nós precisamos cortar isso. E quanto antes, melhor.
TAMAR
Cortar?
ELIAN
Sim, Débora
é muito nova. Precisa se concentrar no trabalho, nos seus afazeres, não pode se
casar. Esse garoto não pode fazer isso, ainda mais sendo filho de um sapateiro.
TAMAR
E qual é o
problema nisso?
ELIAN
Ora, ele
pode não ter como sustentar nossa filha, Tamar.
Tamar suspira.
TAMAR
Olha, se
eles estão mesmo namorando, conhecendo minha filha do jeito que conheço, logo
ela me contará. E eu não concordo em separá-los. Se Débora, se a Débora
está namorando, é porque esse moço é um ótimo partido! Nas poucas vezes em que
falamos sobre casamento, ela me disse que só se casaria se fosse com um rapaz
de características sensacionais. Coisas que eu nem acho que exista!
ELIAN
Mas esse é
o problema, Tamar. Essas coisas não acontecem pela razão... Nessa idade os
sentimentos afloram e aí não tem jeito! A razão se esfarela e só o que sobra é
a loucura da paixão!
TAMAR
Eles podem
se amar... O amor juvenil, puro...
ELIAN
Tamar, como
eu disse, nós precisamos sim reservar alguém para ela, mas tem que ser alguém
que seja mais responsável, que tenha mais perspectiva de futuro, para que nossa
filha não venha a ser mais uma dessas mulheres insatisfeitas no casamento, que
sofrem sem contar para os pais, com marido que também se frustra com as mazelas--
TAMAR
(interrompendo) Chega,
chega, chega, Elian! Chega.
Ele fica olhando para ela.
TAMAR
Eu não
quero discutir com você, tudo bem? Não quero que a gente fique novamente de mal
um com o outro, mas você voltou muito recentemente, e é óbvio que ainda não
sabe tudo sobre a Débora, diferente de mim. E eu estou achando muito exagero da
sua parte. Não pretendo separar os dois. Caso realmente haja algo ali, vou
deixar que namorem. Claro, com respeito e decência. Se tiver que ser, Deus
preparará todos os caminhos. Se não, uma hora o sentimento passará ou alguma
outra coisa vai acontecer e eles se afastarão. Mas não vou impedir a felicidade
de minha filha, não. Isso não vai acontecer. E espero que concorde porque, com
todo o respeito ao homem da casa que você voltou a ser, isso já está decidido.
Nada
satisfeito, Elian apenas encara a esposa.
CENA 3:
EXT. CASA DE TAMAR – FRENTE – NOITE
Débora e Lapidote estão chegando em
casa quando ele para. Ela o olha.
DÉBORA
O que foi?
Está nervoso?...
Lapidote força um sorriso e olha
para ela.
DÉBORA
Não precisa
ter vergonha de dizer...
LAPIDOTE
Sim... Um
pouco.
DÉBORA
Não se
preocupe, minha mãe é um doce, você vai ver.
LAPIDOTE
O problema
é o seu pai.
DÉBORA
Ah, isso
não é problema algum. Venha, vamos entrar.
Eles
andam os passos finais e Débora abre a porta; entram.
CENA 4:
INT. CASA DE TAMAR – COZINHA – NOITE
Elian, sentado à mesa, e Tamar, cozinhando,
olham para os recém-chegados. Débora fecha a porta.
TAMAR
(notando
Lapidote) Filha...
DÉBORA
Shalom... Mãe...
(olha para Elian) Pai... Certamente já o conhecem, mas esse é Lapidote.
Elian se levanta e se aproxima um
pouco.
ELIAN
Claro, claro...
É o seu amigo.
Débora não diz nada por uns
instantes... Então, com um sutil tom de desafio, fala a verdade.
DÉBORA
Lapidote,
meu namorado.
Tamar e Elian os encaram. Lapidote
parece cada vez mais nervoso.
ELIAN
Eu os vi na
torre.
Débora fica surpresa.
DÉBORA
Viu?...
LAPIDOTE
(atropelado) Senhor, eu
não tinha a intenção de desrespeitar sua filha. Muito menos de desonra-la...
Eu... amo sua filha.
ELIAN
Vocês são
muito novos.
LAPIDOTE
Entendo,
senhor, mas minha intenção é que namoremos até termos idade de firmar
compromisso diante de Deus e das leis de Moisés.
ELIAN
Ahn, as
leis de Moisés... Lembra-se delas?
Ainda um tanto nervoso, Lapidote
faz que sim.
ELIAN
“Não
adulterarás”... “Não furtarás”... “Honra a teu pai e a tua mãe”... “Não cobiçarás
a mulher do teu próximo”...
TAMAR
Elian, por
favor! É óbvio que o rapaz conhece as leis.
LAPIDOTE
Eu gostaria
então... de pedir a permissão dos senhores... para namorar com Débora.
Elian, com semblante de
insatisfação, olha para Tamar. Então volta para mesa e se senta.
TAMAR
(sorrindo) Está
permitido, meu rapaz. Vocês podem namorar.
Feliz e antes mesmo de abraçar
Lapidote, Débora corre para a mãe e a abraça forte.
DÉBORA
Obrigada,
minha mãe!
Lapidote, no entanto, fica
preocupado com a postura e o semblante de Elian.
LAPIDOTE
Senhor
Elian... O senhor tem algo a dizer sobre isso?...
Elian olha para ele.
ELIAN
De minha
parte tudo bem. Apenas não tenham pressa de se casarem.
Lapidote sorri.
LAPIDOTE
Obrigado,
senhor.
TAMAR
Por favor,
vamos sentando, vamos sentando que o jantar já está quase pronto! E aí
poderemos fazer os combinados de como o namoro deverá proceder.
Débora
e Lapidote sentam à mesa, mas Elian ainda está visivelmente contrariado. O
jovem casal sorri um para o outro.
CENA 5: EXT.
CASA DE TAMAR – FRENTE – DIA
Conforme o tempo passa, o namoro de
Débora e Lapidote avança. A maioria de seus encontros é na frente de casa,
vigiado de perto pelos pais.
Apesar do romance, a idade de ambos
não permite que deixem de fazer algumas peraltices juntos e, também nesses
momentos, Jaziel se dá bem com os dois.
Num
desses dias, diante do olhar de insatisfação de Elian, Tamar o repreende, e ele
tenta disfarçar.
CENA 6:
EXT. CAMPO – DIA
Em outro dia, Débora e Lapidote
correm pelo campo, por entre as várias tamareiras! Até que ela, cansada, para sob
a maior e mais bela daquela região.
LAPIDOTE
Alcancei
você!...
DÉBORA
Mas demorou
mais dessa vez...
LAPIDOTE
É... Você
está ficando mais rápida mesmo.
Débora ri e senta ao pé da árvore.
DÉBORA
Nunca te
contei, mas foi exatamente aqui que eu nasci. Sob essa palmeira.
LAPIDOTE
Uau... Isso
é fantástico! Isso faz desse lugar--
DÉBORA
(interrompendo) Sagrado?
Para mim?
LAPIDOTE
Especial,
no mínimo.
DÉBORA
É... É
especial, sim. Não venho o tanto de vezes que gostaria, mas eu me sinto bem
quando estou aqui.
Lapidote pega algumas tâmaras que
encontra, senta-se ao lado dela e eles comem.
Logo ele encontra uma semente caída
perto deles. Alcança-a e pega-a.
DÉBORA
O que é
isso?
LAPIDOTE
Uma semente
de tamareira. E pensar que uma igual a essa deu origem a essa palmeira linda...
Débora pega a semente, a olha um
instante e devolve.
LAPIDOTE
Pensei numa
coisa... Pensei em selar o nosso amor aqui.
DÉBORA
Selar? Como
assim?
LAPIDOTE
Veja.
Então ele pega uma pedra pontuda e
começa a riscar a superfície da semente.
DÉBORA
O que está
fazendo?
Lapidote não responde, mas continua
a, aparentemente, desenhar na semente. Em seguida faz de forma parecida no
outro lado. Terminado, limpa-a e mostra a Débora.
DÉBORA
Eu sei o
que significa esse sinal!
Ele sorri.
DÉBORA
É a
primeira letra do meu nome!
LAPIDOTE
Isso, você
está certíssima!
DÉBORA
E o outro?
LAPIDOTE
Esse é a
inicial do meu.
DÉBORA
É bonito...
Gosto desse sinal.
Então eles pegam juntos na semente.
LAPIDOTE
Somos nós
dois... Juntos.
Ela o encara com os olhos
brilhando. Então ele pega algo no bolso da veste, um pequeno cordão. Débora o
observa unir a semente ao cordão por meio de um nó, e entregar o conjunto a
ela.
LAPIDOTE
Pegue. É o
símbolo do nosso compromisso até podermos ficar juntos definitivamente.
DÉBORA
(pegando,
admirada, o cordão com a semente) É lindo, Lapidote... Vou guardar
com muito carinho! Obrigada!
Débora
então o abraça e eles trocam um suave beijo.
CENA 7:
INT. SAPATARIA – DIA
Em outro dia, Lapidote ajuda seu
pai Misael nos trabalhos da sapataria que eles finalmente conseguiram montar na
cidade de Betel. Trata-se de uma oficina na esquina, com uma grande entrada, o
que torna o local bem iluminado e arejado.
LAPIDOTE
Ah, pai, a
Débora é uma menina fantástica! Ela tem uma energia, uma alegria! O jeito dela
me fascina... A voz, o amor por Deus...
MISAEL
Que
maravilha, meu filho, que maravilha! Fico muito contente em saber disso! Mas me
fale uma coisa: e Elian? Como está reagindo o pai dessa menina?
LAPIDOTE
Bom...
Confesso que, às vezes, acho que se dependesse do senhor Elian nós nem
namoraríamos. Por outro lado, a senhora Tamar parece ter mais voz em casa.
Curioso, não?
MISAEL
Nada
curioso, dada a história deles... Você mesmo me contou. Ele ficou anos fora,
foi expulso de casa. Claro que ela manda mais que ele. Mas olha, meu filho,
seja respeitoso com essa menina, ouviu bem? Não se esqueça de tudo o que eu te
ensinei desde criança! Seja respeitoso, cuidadoso, para que Elian não venha ter
motivos para emperrar o namoro de vocês dois.
LAPIDOTE
Claro, meu
pai, eu jamais a desrespeitaria.
MISAEL
Mas eu faço
é muito gosto nessa união! Oh, se faço! Queira Deus que esse negócio tenha
futuro!
LAPIDOTE
Amém! Bom,
mas agora vou lá fazer essa entrega. Graças a Deus os serviços estão
aumentando!
MISAEL
Isso, meu
filho, graças ao bom Pai! Agora vá, faça mais um hebreu feliz com nossos
sapatos.
LAPIDOTE
Já volto.
Lapidote sai, mas na entrada ele
encontra Elian chegando.
LAPIDOTE
Shalom,
senhor Elian...
ELIAN
Shalom...
Lapidote não para por completo,
segue seu caminho. Na rua, olha para trás, mas continua. Misael percebe Elian
entrando na sapataria.
MISAEL
(conhecendo-o) Shalom...
ELIAN
Shalom!
Como vão as coisas?
MISAEL
Graças a
Deus tudo vai muito bem!
Elian faz que sim.
MISAEL
Elian,
antes de mais nada eu peço perdão por ainda não ter conversado com o senhor e
com a sua esposa sobre a união de nossos filhos.
Lá fora, Lapidote se esconde atrás
de um andaime de madeira e observa o pai e o sogro conversando. Porém, não ouve
nada.
ELIAN
Eu vim
falar justamente sobre isso, Misael.
Misael fica levemente apreensivo.
MISAEL
Hum. Mesmo?
Tudo bem, podemos conversar sim.
ELIAN
Como todo
bom pai, eu prezo pelo futuro de minha filha. Tenho certeza que você me
entende.
MISAEL
Claro, claro.
ELIAN
Pois bem. E
acontece que, apesar de as coisas estarem indo bem com vocês, isso aqui não é o
suficiente para sustentar uma família. Para sustentar Débora.
Misael começa a ficar mais
desconfortável.
MISAEL
Eu vivo bem
com Lapidote, Elian.
ELIAN
Não, meu
amigo, você acha que vive bem, mas isso aqui não é vida. Débora merece
mais.
MISAEL
Ela... lhe
contou algo? Confidenciou alguma insatisfação?
ELIAN
Não. Vim
por conta própria, Misael.
MISAEL
Então você
está sugerindo que Lapidote consiga outra ocupação, uma que seja mais lucrativa
que trabalhar com seu pai sapateiro?
ELIAN
Não. Eu
estou sugerindo que acabe o namoro entre nossos filhos, e que vocês dois vão
embora de Betel.
Misael franze a testa e encara
Elian por alguns segundos.
MISAEL
Quê?!...
ELIAN
Eu lhe
pagarei uma boa quantia para sumir com seu filho dessas terras.
Na surpresa e preocupação de
Misael, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Elian diz
para Misael aproveitar a vinda dos filisteus e ir embora com o filho. Débora
percebe o distanciamento de Lapidote. E os filisteus chegam à cidade.
Obrigado pelo seu comentário!