Débora
CAPÍTULO 15
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
FADE
IN:
CENA 1: EXT.
CAMPO – PALMEIRA – DIA
De pé, Débora encara o rapaz parado
ao lado da carroça.
DÉBORA
(atônita) Não é
possível...
Apesar dos olhos marejados, o rapaz
sorri e se aproxima mais. Ela abre a boca involuntariamente e a tampa com a
mão...
DÉBORA
É mesmo
você?!
RAPAZ
Eu não
aguento mais esperar!...
LAPIDOTE (20 anos) dá os passos
restantes e abraça Débora firmemente. Lágrimas brotam dos olhos fechados do
rapaz. Os braços dela, porém, permanecem abaixados e, ainda confusa, ela encara
o nada enquanto é abraçada por ele.
De repente ela parece voltar a si:
se desvencilha dos braços de Lapidote e se afasta.
LAPIDOTE
Eu... Me
desculpe... (limpa o rosto) Está tudo bem?
Ainda muito abalada, Débora tenta
se recompor.
DÉBORA
Sim...
está.
LAPIDOTE
Não era
minha intenção ser inconveniente, mas não me aguentei de tanta saudade...
Ele a encara por alguns bons
segundos... Então sorri com genuína felicidade.
LAPIDOTE
É você
mesma!...
DÉBORA
Eu é que
digo isso... Pra você. (pequena pausa) Então você voltou...
LAPIDOTE
Sim. É...
Mais ou menos. Já há algum tempo que estou por perto...
DÉBORA
Eu sei.
LAPIDOTE
(franzindo
a testa) Sabe?
DÉBORA
Eu
encontrei... o lugar onde seu pai foi sepultado...
LAPIDOTE
Então...
você subiu o monte?
DÉBORA
Sim. Eu...
sinto muito, Lapidote.
Uma leve tristeza parece passar
pelo semblante do rapaz, que faz que sim com a cabeça.
LAPIDOTE
Já faz 8
meses. Ele pegou uma grave doença... No leito de morte me fez prometer que o
sepultaria em sua cidade natal.
Débora presta atenção sem desgrudar
os olhos de Lapidote.
LAPIDOTE
Quando ele
faleceu eu o trouxe para cá e realizei sua última vontade. Permaneci acampado
nos arredores até o período do luto passar, e depois me afastei um pouco mais.
DÉBORA
Do pouco
que vi do senhor Misael, me parecia um homem muito bom.
LAPIDOTE
E era.
DÉBORA
Pena que
não pude conhecê-lo melhor...
Lapidote busca palavras...
LAPIDOTE
Faz muito
tempo...
DÉBORA
6 anos.
LAPIDOTE
Você mudou,
Débora. Está ainda... mais bonita.
Lapidote volta a se aproximar e ela
fica sem jeito. Ele sorri e leva seu dedo ao rosto da garota, mas antes que
possa tocá-la, ela se afasta.
LAPIDOTE
Está mesmo
tudo bem?
DÉBORA
Ainda
estou... confusa, assustada...
LAPIDOTE
Não precisa
se assustar. Estou apenas admirando-a...
DÉBORA
Acontece
que nós... não podemos ficar muito próximos. É bom mantermos distância, já
que... que... que temos um... passado.
Lapidote parece se entristecer um
pouco.
LAPIDOTE
Tudo bem...
Tudo bem. Vou fazer conforme você queira, Débora, mas... por que quer isso?
Engolindo em seco e tentando
impedir que lágrimas brotem, Débora tenta explicar.
DÉBORA
Eu estou
noiva, Lapidote.
Lapidote
é pego de surpresa. Encara-a confuso...
CENA 2:
EXT. HAROSETE – RUA PRINCIPAL – DIA
O evento acabou, o rei se foi e o
povo se espalha pelas ruas.
Na rua principal, Najara abraça
Sísera enquanto Jeboão disfarçadamente tenta localizar Nira entre a multidão.
NAJARA
Meus
parabéns, meu filho. Finalmente alcançamos o que tanto buscamos.
Ela o solta.
SÍSERA
Obrigado,
mãe. Não teria conseguido sem a senhora.
Najara sorri.
NAJARA
Você vem
com nós ou já vai trabalhar?
SÍSERA
Nem um, nem
outro. Na verdade vou resolver uma coisa. Passarei no palácio apenas para pegar
um dinheiro que tenho direito.
NAJARA
(curiosa) E que
coisa é essa que tem para resolver?
SÍSERA
(disfarçando) Negócios.
Apenas entediantes negócios.
NAJARA
Hum... Peço
apenas que não se esqueça daquele favor que te pedi...
Sísera dá uma rápida olhada para o
pai, atento à multidão.
SÍSERA
Fique
tranquila, mãe. Vou resolver isso.
Jeboão, no entanto, ouviu e prestou
atenção.
JEBOÃO
Que favor é
esse?
NAJARA
Coisa entre
mãe e filho, Jeboão.
SÍSERA
Bom, eu já
vou indo. Até mais!
Najara faz que sim e Sísera sai.
JEBOÃO
Qual é o
problema de me contar as coisas, Najara?
NAJARA
Eu não
pergunto nada a você sobre suas coisas com Sísera!
JEBOÃO
Até porque
não tenho nada com ele.
NAJARA
Aí é
problema seu.
Najara vira e começa a se afastar.
Mas Jeboão ainda fica ali, procurando Nira com os olhos. Ao perceber que o
marido ficou para trás, ela para.
NAJARA
O que tanto
procura, Jeboão?
Ele toma um leve susto, mas logo
disfarça e vira para ela.
JEBOÃO
Nada...
Nada, não.
Então
ele toma o mesmo caminho e passa por Najara. Ela, desconfiada, o olha
firmemente.
CENA 3:
EXT. HAROSETE – RUAS – DIA
Sísera passa pelas pessoas e chega
ao beco onde ficam as meretrizes. Diferente do usual, agora todas o assediam e
se oferecem para ele inclinando-se, como se fizessem uma reverência. Ele sorri
de leve, mas continua, pois seu foco está em Hanna, separada das demais.
Ao nota-lo, ela o encara com um
olhar de total entrega. Sísera, com uma mão no cabo da espada e a outra
segurando um saco, se aproxima e para diante da mulher.
HANNA
Então você
cumpriu sua promessa.
Sem
perder tempo, Sísera a agarra de cima do palco de madeira e a leva para dentro
de uma casa ali ao lado.
CENA 4:
EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
Visivelmente decepcionado, Lapidote
encara Débora.
LAPIDOTE
Noiva...
DÉBORA
Sim.
LAPIDOTE
É claro...
Uma garota como você...
Ela franze a testa.
DÉBORA
Uma garota
como eu...? O que quer dizer?
LAPIDOTE
Talvez seja
melhor não dizer.
DÉBORA
Diga!
Ele desvia o olhar, respira
fundo... e volta a olhá-la.
LAPIDOTE
Especial...
Doce... Guerreira... Sonhadora... Linda...
O rosto de Débora adquire tons
rosados.
LAPIDOTE
Fora a
última característica, que é absolutamente perceptível, tenho certeza de que
todas as outras permanecem em você, se não tiverem aumentado. Por essa razão é bem
óbvio que alguém apareceria na sua vida.
DÉBORA
Não
apareceu. Meu pai é que foi atrás e firmou compromisso com um rapaz.
Lapidote engole em seco.
LAPIDOTE
Me
parece... que você não está feliz.
DÉBORA
(atrapalhada) É meu
noivo... Eu vou me casar... É claro que estou feliz, estou feliz sim!...
LAPIDOTE
Tem
certeza?
DÉBORA
Olha, eu
acho que... estamos passando do ponto. Isso não lhe diz respeito.
LAPIDOTE
Eu gosto de
você... Quero o melhor para você.
Débora o encara...
DÉBORA
Gosta
mesmo? Pois você voltou apenas há alguns instantes, depois de 6 anos de um
sumiço repentino, sem nenhuma explicação!
Lapidote fica um tanto
constrangido.
LAPIDOTE
Na ocasião
eu te disse que voltaria... Pedi que me esperasse...
Débora faz que não.
DÉBORA
Como eu
poderia esperar?! O tempo passando, nada mudando... Ainda que quisesse, eu era
muito nova. Nem meus pais e nem ninguém levaria a sério o compromisso entre
duas crianças.
LAPIDOTE
Eu entendo.
Eu tenho culpa nisso tudo, eu sei. Mereço a dor de imaginar que vai se casar...
DÉBORA
Em 15 dias.
Ele não sabia dessa informação.
Rapidamente ergue as sobrancelhas em admiração.
LAPIDOTE
Tão
repentino quanto o meu ato.
Débora respira fundo e olha para os
lados enquanto se recupera.
Por fim olha para ele.
DÉBORA
Muito bem.
Diga, Lapidote. Depois de todos esses anos, depois de toda essa confusão, diga
porque, afinal de contas, seu pai e você se mudaram às pressas de Betel.
Lapidote
não fica nada confortável.
CENA 5:
EXT. TEMPLO – FRENTE – DIA
Baraque passa por entre o povo na
rua e se aproxima da entrada do templo. Para e observa a edificação.
Mas não parece apenas admirá-la, e
sim analisa-la. Então dá uma olhada para o povo... e vai até uma pequena
entrada ao lado, um beco sem saída.
Ao
entrar ali, rapidamente ele agarra na parede e sobe. Chegando em cima, olha
para os lados e some.
CENA 6:
INT. CASA – DIA
É uma casa formada por apenas um
quarto, e o único móvel necessário ali é uma grande cama, nesse caso forrada por
moedas de ouro.
Sísera deita Hanna sobre as moedas
e a beija, passa a língua em sua pele, saboreia-a com intensidade.
Depois, durante o ato e por cima
dela, Sísera aprecia os semblantes de prazer da meretriz. Agarra os cabelos longos
dela misturados às moedas... Pega uma moeda e coloca na boca dela, que morde
com prazer.
Em outra posição, o rosto de Hanna
bate repetidamente num monte de moedas...
Depois, ela está deitada de barriga
para cima. Sísera cobre quase todo o corpo dela com uma camada de moedas. Por
fim sobe e eles se agarram com força.
Posteriormente, Sísera está de pé e
Hanna ajoelhada aos seus pés. Ele segura uma moeda que movimenta devagar para
lá e para cá, sob o olhar atento de Hanna.
SÍSERA
Quem eu
sou?
HANNA
(sensualmente) Sísera...
Sísera.
SÍSERA
E quem eu
sou pra você?
HANNA
O melhor, o
maioral, o supremo... O homem mais forte, o meu guerreiro... Vigoroso, poderoso
e imbatível!
Sísera
então encosta a moeda em seu peito e ela, sempre acompanhando, passa a língua
no local. Conforme ele arrasta a moeda em seu corpo, ela a segue com sua
língua. Sísera a observa com um olhar de absoluta superioridade.
CENA 7: EXT.
CAMPO – PALMEIRA – DIA
Lapidote encara Débora sem saber
como reagir.
DÉBORA
E então,
Lapidote? Não vai me dizer?
LAPIDOTE
Débora,
eu... Eu não sei se devo. Se eu disser, prejudicarei pessoas. Relacionamentos...
Débora fica muito confusa.
LAPIDOTE
Eu sinto
muito.
DÉBORA
Eu posso
aguentar, Lapidote. Por favor, não faça isso comigo. Eu esperei muito, 6
anos! Quando achava que nunca mais poderia saber a verdade, a chance me
apareceu! E eu sei que você sabe, porque me lembro de seu pai te dizer para não
me contar. Agora eu peço que me conte, e então nós nos entenderemos, nos
perdoaremos e nos reconciliaremos... ainda que nem tudo posso voltar a ser como
era.
LAPIDOTE
Eu gostaria
tanto, mas tanto de te dizer, de te contar tudo, porém, nesse momento,
eu enxergo um pouco além de você, Débora! Tenho ciência de que estou te
ferindo, mas não posso contar...
Num misto de raiva, tristeza e
revolta, Débora o encara por uns bons segundos. Então vira as costas e sai.
DÉBORA
Então não
diga nada!
LAPDIOTE
Débora,
espere!
Ela para e vira para ele.
DÉBORA
Por que
você voltou então, hein!?
Um tanto aflito, ele umedece os
lábios com a língua.
LAPIDOTE
Compreensível
da forma que você era, eu tinha esperança de que... de que você entendesse a
gravidade da situação, de que entendesse o que eu sinto, que eu quero
protege-la, proteger a sua família... e me aceitasse de volta como um velho
amigo.
DÉBORA
Amigos não
guardam segredos uns dos outros. E você se iludiu se pensou que eu faria isso. Eu
chorei muito, sofri muito, até andei muito por causa daquilo que fizeram. Então
não pense que vou simplesmente aceitar, entender e ficar por isso mesmo, porque
não vou!
Mais uma vez ela dá as costas a ele
e sai.
LAPIDOTE
Débora, me
ajude...
Ela para. Parece pensar no que
acabou de ouvir... Vira-se mais uma vez, mas devagar.
LAPIDOTE
Estou
cansado de viver acampado... De viver de pequenas plantações improvisadas...
Depois do que aconteceu com o meu pai, eu quero recomeçar. Quero também ser um
sapateiro em Betel, abrir a minha lojinha...
DÉBORA
Você não
precisa de mim para fazer nada disso.
LAPIDOTE
Preciso.
Preciso sim...
Ainda um tanto atordoada, ela
continua encarando-o.
LAPIDOTE
E, se assim
você fizer... eu te contarei tudo.
Débora fica mexida... Engole em
seco, se ajeita...
DÉBORA
Mesmo? Você
realmente fará isso ou está apenas se aproveitando? Pois aparenta um grande
medo em me contar...
LAPIDOTE
Sim, eu
farei. Eu prometo.
DÉBORA
Vejo
verdade em seus olhos... A mesma que via 6 anos atrás....
LAPIDOTE
Peço apenas
que, quando eu contar a verdade, nada mude entre você e as pessoas envolvidas
nisso tudo. Que não conte nada a elas, que não se vingue.
DÉBORA
Vingar...
Então é grave...
LAPIDOTE
É um
pouco...
DÉBORA
Estou
preocupada!
LAPIDOTE
Não
percamos mais tempo, por favor, vamos.
DÉBORA
Você tem
dinheiro?
LAPIDOTE
Nem uma
moeda. Vivo apenas do que a terra dá.
DÉBORA
Certo,
então o levarei para a minha casa.
LAPIDOTE
Débora, tem
certeza? Não acho que seja uma boa ideia.
DÉBORA
É sim,
minha mãe me ajudará a ajuda-lo.
LAPIDOTE
Mas o seu
pai--
DÉBORA
(interrompendo) Esqueça
isso. Vamos logo.
Lapidote
cobre a cabeça e puxa a carroça. Antes dá uma olhada na palmeira... Débora
percebe e fica meio sem jeito... Mas por fim eles vão.
CENA 8:
EXT. TEMPLO – DIA
Abaixado o máximo que consegue,
Baraque segue avançando pelo telhado do templo. De repente pisa em um galho que
faz um barulho alto! Para, aguarda... Nenhum sinal de algum desconfiado, então
ele continua.
Baraque tenta não fazer nenhum
barulho e também não rolar dali de cima, mas para de uma vez ao dar de cara com
uma das bordas do telhado. Logo ali embaixo está um ancião ensinando alguns
mais novos. Ele se esforça para não se mexer muito e causar barulho, mas logo
um pequeno pássaro pousa ao lado de seu pé e começa a bicar um de seus pequenos
machucados na canela. Baraque se assusta e olha... A cada bicada fica mais
agoniado, e suas tentativas de espantar o bicho são em vão.
Não se aguentando mais, ele faz um
movimento brusco com a perna, o que espanta o pássaro, mas atrai os olhares dos
anciães ali para cima.
ANCIÃO
Mas o que é
isso?
Com medo, Baraque corre pelo
telhado.
ANCIÃO
Há um
invasor no templo!
Vários servos então perseguem
Baraque por baixo, tentando não perde-lo de vista lá em cima.
BARAQUE
(correndo) No que fui
me meter?!
De repente ele tropeça e despenca
lá de cima. PÁH!
Dolorido, Baraque abre os olhos.
Várias pessoas o cercam, curiosas. São os servos e os anciães, e entre eles
Aliã.
ALIÃ
(olhando
Baraque no chão) O que significa isso?!
CENA 9:
INT. CASA – DIA
Suados, Sísera e Hanna, deitados
sobre as moedas um ao lado do outro, encaram o teto.
HANNA
Nossa...
Sísera sorri.
HANNA
Você fez
exatamente o que disse que faria... E agora estamos deitados sobre uma pilha de
ouro. Pelos deuses, isso nem parece real...
SÍSERA
O meu ouro.
Ela vira o rosto para ele.
HANNA
Claro,
trouxe todas essas moedas apenas para amaciar o próprio ego, para se vingar,
para que o meu cuspe caísse em meu próprio rosto.
Sísera continua encarando o teto.
HANNA
E de fato
caiu.
Ele dá um sorrisinho. Ela passa as
mãos pelas moedas.
HANNA
Apesar de
ser mais do que jamais vi, nós podemos ter muito mais, sabe, Sísera?
SÍSERA
Do que você
está falando?
HANNA
Do meu sonho.
Meu sonho de ter minha própria casa do amor. Ser a dona, a chefe...
SÍSERA
Hum.
HANNA
Agora que é
o Capitão e tem ouro, poder e influência, o que acha de ser meu sócio nesse negócio,
hum?
Sísera franze a testa. Respira
fundo, se levanta, senta na beira da cama, pega vinho e bebe. Hanna não tira os
olhos dele.
SÍSERA
Não sei,
não é uma boa ideia. Oficiais do reino são expressamente proibidos de se
envolverem economicamente em atividades como essa.
Hanna então acaricia a costa dele,
se aproxima mais e beija de leve sua nuca.
HANNA
(no ouvido
dele) Mas pode ser o nosso segredinho...
Sísera aproveita ela lhe beijando,
mas logo põe-se de pé e começa a se vestir.
SÍSERA
Depois
vemos isso. Agora eu preciso ir.
HANNA
E esse ouro
todo? Vai levar?
SÍSERA
Deixe aqui,
depois volto para pegar. Apesar de serem muitas, sei exatamente quantas há. Se
pegar uma moeda sequer, eu vou saber.
Ela cai deitada enquanto ele
termina de se arrumar. Por fim ele abre a porta.
SÍSERA
Quer saber?
Fique para você, eu não preciso.
Ele dá uma piscadela e sai.
HANNA
Rum.
Logo
ela sorri e rola sobre as moedas.
CENA 10:
INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
Enquanto Jabim, sentado, lê um
pergaminho, Sísera se aproxima do trono.
SÍSERA
Mandou me
chamar, soberano?
Sem olhá-lo, Jabim faz sinal para
ele aguardar.
Enquanto espera, Sísera consegue
ler algumas palavras no verso do pergaminho.
Finalmente o rei abaixa o documento
e olha para o Capitão.
JABIM
Sísera! É
um prazer revê-lo. Meus parabéns por todo o seu trabalho até aqui. Há tempos não
me sinto satisfeito com um servo como me sinto com você.
SÍSERA
Agradeço o
reconhecimento, meu senhor. É uma honra.
JABIM
Sísera,
mandei lhe chamar porque tenho uma missão para você. Assim que escolher o seu
Primeiro Oficial, deve ir à entrada da cidade para receber uma encomenda que
fiz com um grande ferreiro comerciante do reino de Zieron. Trata-se de meu mais
ambicioso projeto até agora. É o que nos colocará definitivamente como o reino
supremo de Canaã.
SÍSERA
E que
encomenda é essa que nos dará tanto poder? Mal posso imaginar as dimensões de
tal arma.
JABIM
(empolgado) Trata-se
de uma encomenda de 1000 carros de ferro!
Os olhos de Sísera arregalam um
pouco.
SÍSERA
1000
carros? De ferro?!
JABIM
Sim. O
preço foi tão alto que realizei o pagamento antecipadamente. Muita
matéria-prima foi utilizada.
SÍSERA
Estou
impressionado, meu senhor. Nunca ouvi sobre algum reino que tivesse 1000 carros
de ferro, nem nas mais estapafúrdias histórias de taberna. A grandiosidade de
tal feito é proporcional à magnitude de meu soberano. Mas o que também me
surpreende é eu não ter ouvido falar de tal encomenda.
JABIM
Por mais
alto que você seja em meu reino, Sísera, jamais saberá de tudo. Esse privilégio
cabe apenas ao rei.
Sísera faz que sim.
JABIM
Bem, a
encomenda chega ainda hoje. Já devem estar pertos. Leve dois soldados para
conduzirem cada carro até o local onde ficarão guardados. É assim que
funcionará a partir de nossa próxima batalha. Com os carros de ferro
esmagaremos qualquer exército em pouquíssimo tempo!
SÍSERA
Formidável!...
JABIM
Agora vá,
Sísera.
SÍSERA
Senhor, com
licença. Há pouco não pude deixar de notar que no pergaminho que segura há uma
menção a Israel. O rei por acaso tem interesse naquele povo?
Jabim, um pouco desconfortável, se
ajeita no trono.
JABIM
Não deve
manter os olhos em seu rei quando não lhe for permitida a fala, Sísera. Essa
lei vale para todos, sem exceção. Mas dessa vez passará.
SÍSERA
Entendido,
senhor.
JABIM
Esse é
outro dos assuntos que não lhe disse. Já há algum tempo em que venho testando a
reação dos hebreus. Ao final da gestão do nosso ex-Capitão, promovi alguns
movimentos na terra de Israel: aquele povo não reage de forma alguma, é
impressionante! São completamente fracos. Meros camponeses em uma terra
gigantesca, fértil e extremamente valiosa.
SÍSERA
Por acaso o
rei está pensando no que estou pensando?...
JABIM
Após
destruirmos os amonitas, vamos atacar Israel. Aniquilaremos qualquer resquício
de poderio militar e então os escravizaremos.
SÍSERA
Por que não
mata-los?
JABIM
Porque esse
povo tem em seu sangue a inclinação para o trabalho, além de serem especialistas
em sua terra. Os hebreus vão nos servir pelo resto da eternidade e nos ajudarão
como ninguém a sermos a maior nação do mundo! Agora vá, Sísera, cumpra sua
missão!
SÍSERA
Imediatamente,
meu senhor!
Sísera faz uma reverência e sai. Na
empolgação de Jabim, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Débora
leva Lapidote para sua casa. E Sísera tem uma surpresa ruim durante a entrega
dos carros de ferro.
Obrigado pelo seu comentário!