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Alto Mar - Capítulo 1 (Estréia)







ALTO MAR                                                        
GÊNERO WEBSÉRIE
            ESCRITA POR GABRIEL PRETTO
REALIZAÇÃO RANABLE WEBS
CAPÍTULO 1
_________________________________________________________________________________
Puerto Limon, Costa Rica
10 de Agosto de 1987
06:15 AM

Cena 1: Avenida Coyol/Puerto Limon/Dia/

A câmera vai mostrando o céu da cidade enquanto voa em direção a janela abertura 
de uma casa da Avenida Coyol. As cortinas estão fechadas e balançam com o vento. A câmera 
adentra na casa e nos deparamos com um homem dormindo em um quarto.

Ludim (Narrando em off):  Me disseram que começar essa conversa seria a parte mais difícil, 
especialmente não sabendo o que dizer. Então achei que seria melhor já dizer isso de cara. 
Pronto, a conversa já se iniciou. Mas isso não é uma conversa que eu gostaria de ter, aliás, 
eu preferiria mil vezes que eu estivesse contando uma história chata e clichê sobre o amor 
de qualquer príncipe com qualquer princesa que qualquer criança iria pegar pra escutar e 
iria esquecer rapidamente e que não teria nenhum impacto na sua vida. Qual será impacto 
disso que eu estou fazendo? Nenhum! Qualquer pessoa que escutar isso simulará pena e 
empatia sem nem saber o que de fato aconteceu comigo e com todos. Já fazem 33 anos 
e o que as pessoas lembram disso? Exatamente. Nada.

O despertador toca e o homem acorda. Ele se senta na cama por um instante. Logo após, 
ele se levanta e vai em direção a janela.

Ludim (Narrando em off): Prazer, Ludim Muñoz Jimenez, 59 anos, costa-riquenho
morando no Brasil e marinheiro aposentado. Tá rindo de quê? Do meu nome? Pode rir. 
Eu não me importo. Mas fique sabendo que isso não é uma comédia fictícia como eu gostaria 
que fosse. Esse era eu à 33 anos atrás. Tão ingênuo e fraco. Se bem que pensando melhor, 
ele está acordando em um lugar muito melhor que o meu. Sim, minha vida continua sendo em uma
favela cafona e fedorenta, mas eu acho que aquilo era melhor.

O narrador diz isso enquanto Ludim abre as cortinas e admira a ‘’vista’’ matinal do seu bairro. 

Batidas são ouvidas na porta do quarto.
Ludim: Entre.
A porta se abre e é seu pai.
Carlos: Oi filho
Ludim: Oi pai.
Carlos: O que você tá fazendo?
Ludim: Nada demais...só apreciando a vista.
Carlos: Então, é hoje o grande dia...não é?
Ludim: É...é hoje.
Carlos: Você...vai se arrumar?
Ludim: Sim...já to indo.
Carlos: Tá bom. E...o café tá na mesa, ok?
Ludim: Ok.
Carlos: E...que horas você tem que estar lá?
Ludim: Olha...o navio vai sair daqui às nove e meia, mas o capitão quer que eu chegue lá por umas 
oito horas. Sabe como é, né? Para apresentar todo o ambiente, fazer as preparações finais, 
essas coisas.
Carlos: Sim, claro...eu sei. Bom, eu vou deixar você se arrumar e vou te esperar lá em baixo.
Ludim: Tá bom.

Carlos sai do quarto e fecha a porta. Ludim faz uma cara feia. Ludim pega uma toalha em seu 
armário, vai até o banheiro, tira a roupa, entra no box e começa a tomar banho. 
Enquanto se lava, ouvimos sua narração em off.

Ludim (Narrando em off): Achou a conversa morna? Bem, vá se acostumando. 
Eu acho importante explicar como era a minha relação com meu pai. Assim como eu, 
ele também foi um marinheiro por muitos anos. Ele era um oficial radiotécnico enquanto eu trabalhei 
como segundo oficial. Quando eu era uma criança, ele sempre me contava sobre as suas 
viagens no mar. Inventava as histórias mais malucas e irreais possíveis. Eu não sei o porquê eu não 
ria das suas invenções. Eu tenho quase certeza que todas as vezes que ele me contava essas 
histórias, ele estava bêbado.  Ele não se dava nada bem com a minha mãe. Primeiro de tudo, 
ele quase nunca estava em casa. Estava sempre no mar navegando em navios cargueiros. 
E quando ele estava em casa, vivia dizendo que estava cansado e passava o dia todo assistindo 
televisão e ouvindo notícias do rádio. E segundo, e não menos importante, ele queria a todo 
custo que no futuro eu trabalhasse no mar assim como ele. Porém eu tenho que assumir, 
eu nunca gostei de transporte marítimo, mas fui obrigado a fazer um curso de adaptação a 
segundo oficial de Náutica da Marinha Mercante depois que terminei a escola, que era o 
único curso que a minha mãe podia pagar. Sim, eu fui obrigado. Tudo o que eu queria era 
emprego e não ‘’emprego’’.‘’Então por que você continuou nesse emprego?’’. A minha mãe, 
coitada dela, nem diploma tinha e muito menos dinheiro pra pagar uma faculdade. 
Estou esquecendo de algo? Ah sim, eu começaria a trabalhar para a transportadora 
Coimbra naquele dia após quatro anos na Caribbean Oil. Eu precisava desesperadamente 
de dinheiro, porque a minha mãe estava doente. Com câncer de mama a aproximadamente 
7 meses. Ficou internada num hospital de quinta categoria que oferecia um preço ridiculamente 
alto por quimioterapia e aquele infeliz do meu pai nem se deu o trabalho de procurar emprego 
pra ajudar a esposa. Ta pouco? Quer mais? Acho que não. Bem, não é a melhor forma de começar
uma conversa, mas tá valendo, eu acho.

Ludim termina de se lavar, sai do box se veste e se olha no espelho.

Cena 2: Avenida Mannati/Casa da família Fuentes/Interior/Cozinha/

Uma mulher está fazendo café da manhã enquanto uma menina está sentada na mesa. 
Um homem entra no ambiente. Ele se abraça na mulher

Diego: Oi amor.
Paola: Que que foi? 
Diego: Bom dia.
Paola: Bom dia pra você também. Me solta um pouquinho que eu tô fazendo café?
Diego solta Paola.

Paola: Quer comer alguma coisa?
Diego: Não. Eu já tomei um café mais cedo.
Leonor: Mãe, eu já vou indo pra escola.
Paola: Tem certeza? Não quer que eu te leve?
Leonor: Não, eu vou sozinha.
Paola: Tá bom. Não esqueça que o seu irmão vem cuidar de você depois. Se comporta com ele.
Leonor: Tá, entendi. Bom, eu já vou indo. Boa viagem.
Paola: Tá bom. Tchau filha. Boa aula.
Diego: Tchau gatinha.
Leonor: Tchau.

Leonor sai de casa pela porta da frente.

Diego: Olha Paola, sobre o divórcio…
Paola: Escuta, eu acho que esse não é um momento bom pra falar nesse assunto. 
Vamos falar sobre isso depois da viagem, tá bom? Eu não quero que isso estrague meu dia.
Diego: Tá bom. Olha, o Keylor vai vir aqui hoje de tarde.
Paola: Sim, eu já sei disso. 
Diego: E como ele vai entrar em casa?
Paola: Leonor já estará em casa na hora que ele chegar. Ela abrirá a porta para ele. 
Olha, eu vou guardando as coisas aqui e vou me arrumar. Logo a gente vai sair, ta bom?
Diego: Tá bom.

Diego sai da cozinha e Paola fica sozinha.

Cena 3: Casa de Lorenzo/Gijón/Tarde/

 A câmera mostra o espelho de um quarto e através dele vemos Lorenzo colocando um 
roupão verde. Ele vai até a cozinha e a câmera o segue mostrando apenas seus pés 
descalços. Ao chegar lá, ele se senta na cadeira e podemos finalmente enxergar seu rosto.

Lorenzo: Ô Lupita!

Lupita, a empregada de Lorenzo, chega.

Lupita: O senhor me chamou, senhor Hidalgo?
Lorenzo: Chamei sim. Estou com sede. Você pode pegar um suco de laranja na geladeira?
Lupita: Claro, um momento.

Lupita pega a jarra com o suco e um copo.

Lorenzo: Lupita, eu fiquei sabendo que você vai se casar. É verdade?
Lupita: É sim.
Lorenzo: Quando vai ser o casamento?
Lupita: Ainda não tem uma data agendada.
Lorenzo: Hum...que chato. Bom, seja quando for, eu faço questão de ir.
Lupita: Hã, então eu faço questão de convidar o senhor. Aqui está seu suco.
Lorenzo: Obrigado.

O telefone toca.

Lorenzo: Lupita, atende pra mim por favor?
Lupita: Claro.

Lupita atende o telefone.

Lupita: Alô?
Lorenzo toma seu suco.

Lupita: Quem gostaria?

Lorenzo observa Lupita falando ao telefone.

Lupita: Um momento.
Lorenzo: Quem é?
Lupita: Um tal de Laerte Aviles.
Lorenzo: E o que ele quer?
Lupita: Disse que quer falar com o senhor.
Lorenzo: Tá, então deixa eu falar com ele.

Lorenzo pega o telefone.

Lorenzo: Alô?
Laerte (No telefone): Lorenzo!
Lorenzo: Tudo bem, Laerte?
Laerte: Tudo bem. E com você?
Lorenzo: Ah, eu to aqui tomando um suquinho. Acabei de tomar um banho também.
Laerte: Olha, eu queria fazer um convite.
Lorenzo: Qual?
Laerte: Eu tenho uma reunião mais tarde com os meus empresários e eu gostaria que você 
comparecesse nela para eles conhecerem você. Você está disponível?
Lorenzo: Claro. Que horas seria a reunião?
Laerte: Às três da tarde, já é uma.
Lorenzo: Ok. Quer que eu vá até aí agora?
Laerte: Pode ser. Outra coisa. Queria te agradecer pelo imenso suporte que você tem dado 
a mim em relação a Coimbra. Você sabe o quanto essa empresa significa para mim. Não sabe?
Lorenzo: Mas...eu só trabalho pra você a duas semanas.
Laerte: E essas duas semanas já bastam para mim perceber que você é alguém que eu possa 
confiar.
Lorenzo: Hum, Obrigado então. Vou me trocar. Preciso desligar. Até daqui a pouco.
Laerte: Até mais, sócio.

Lorenzo desliga.

Lupita: Tem algum compromisso, senhor Hidalgo?
Lorenzo: Agora tenho. Bom, vou me trocar. Chame o meu Motorista.
Lupita: Pode deixar.

Cena 4: Casa de Ludim/Puerto Limon/Dia/

Ludim desce as escadas que levam até a cozinha. Ele carrega uma bolsa com algumas 
roupas, documentos e pertences que irá levar para a viagem. Seu pai está comendo um 
sanduíche e olhando o telejornal. Ele está com uma cara triste. Ludim senta na mesa e 
pendura a bolsa na cadeira, mas o pai não percebe a sua presença.

Ludim: Pai...pai?

Ele não tem nenhuma resposta. Ludim bate palmas para chamar a atenção do pai.

Ludim (batendo palmas): Ei!
Carlos: Ai. O que foi?
Ludim: Pai, você não notou a minha presença?
Carlos: Ai, não notei não. Me desculpe. Eu te deixei esperando por uma resposta, não é?
Ludim (em pensamento): Claro que não, homem imbecil.
Carlos: Eu deixei, não é?
Ludim: Não se preocupa com isso.

Ludim pega uma maçã que estava na fruteira, lava ela com água e a come.

Carlos: Filho, posso te perguntar uma coisa?
Ludim: Claro que pode.
Carlos: O seu novo navio é seguro?
Ludim: Por que ele não seria? Por que um navio desse porte de uma empresa tão grande quanto 
a Coimbra seria inseguro?
Carlos: Ah, vai saber. Eu ouvi dizer que essa empresas...sabe...dizem que elas não põem muitas
fichas na América Latina.
Ludim: Pai, a Coimbra é uma empresa que anda em constante crescimento nos últimos anos 
e muitas das suas transnacionais mais relevantes e algumas das suas sedes estão na Espanha, 
México, Guatemala e Costa Rica. E a empresa também está expandindo bastante seu comércio e 
reputação na Europa. Por que um dos navios da empresa teria falhas técnicas? Se um acidente 
grave fosse causado por imprudência deles isso seria um escândalo. E visto o estágio da empresa 
agora, eles não iam querer arriscar isso. 
Carlos: É...eu acho que você tem razão.
  
Ludim repara no rosto triste do pai. Para não se incomodar depois e procurando 
mostrar uma postura de bom filho, ele questiona o pai sobre isso.

Ludim: Pai, tá tudo bem com o senhor? 
Carlos: Como assim bem?
Ludim: Tipo se tá tudo bem com o seu emocional. Você pareceu meio cabisbaixo.
Carlos: Eu to bem. 
Ludim: Não, o senhor não tá bem. Deixa de ladainha e fala o que te incomoda. 
Carlos (nervoso): Eu to bem sim. Eu só bebi demais. Eu não quero que você se incomode por minh-
Ludim: Me incomodar com o quê? Eu vou ficar incomodado de verdade se eu sair de viagem 
sabendo que você não está bem. E se o senhor não me cont-
Carlos (nervoso): Filho, a sua mãe morreu ontem a noite!

Ludim fica em choque

Ludim (nervoso): C...c…como assim morreu? Você tem certeza?
Carlos (chorando): Absoluta
.
Ludim fica em silêncio por uns instantes e começa a chorar.

Ludim (soluçando): Que horas ela morreu!? Não! Como ela morreu, alias!?
Carlos: Ontem a noite...quando você foi se deitar...eu fiquei aqui em baixo vendo televisão. E...eu 
fiquei com um pouco de sede e fui beber água. O telefone tocou e eu atendi. Era do hospital dizendo 
que a sua mãe tinha piorado e pedindo para que alguém fosse até lá. Eu me vesti e dirigi o mais 
rápido possível até lá. Quando eu cheguei, pedi autorização pra ir vê-lá. Chegando no quarto, 
encontrei com o médico da sua mãe. Ele disse que…
Ludim (alterado): Ele disse o quê? Vamos! Desembucha!
Carlos (nervoso): Que o câncer tinha se espalhado pro pulmão!
Ludim: Meu deus…
Carlos (chorando): Quando eu me aproximei dela, ela já estava quase fechando os olhos. 
Não deu tempo de dizer muita coisa, mas ela pediu que nós cuidássemos da casa e que nós 
não deveríamos nos preocupar com ela.
Ludin (chorando): Ela...falou de mim?
Carlos: Sim. Perguntou se poderia ter sido uma mãe melhor.
Ludim: Como assim uma mãe melhor?
Carlos: Uma mãe melhor. Se ela poderia ter cuidado melhor de você.
Ludim: Cuidado melhor de mim?
Carlos: S...sim
Ludim (chorando): Mentiroso.
Carlos: Filho isso n-
Ludim (alterado): MENTIROSO!

Ludim bate na mesa e fica de pé.

Ludim: Eu sempre dizia pra minha mãe que ela sempre foi mais do que uma mãe excepcional pra 
mim. Porque ela fazia não só papel dela de mãe, mas também fez o papel de homem que você
empenhou na vida!
Carlos: Como assim?
Ludim: É isso mesmo que você ouviu!
Carlos: Filho...você está se equivocando.
Ludim: Não tô não! Eu to falando a verdade!
Carlos: Por que você me chamou de mentiroso?
Ludim: POR QUE SERÁ? Você tá inventando tudo o que ela falou, não é? Justamente por que você 
não sabe o que você tá falando.

Carlos se levanta.

Carlos: Você tá me tirando do sério. Para com iss-
Ludin (irritado e alterado): ‘’É para NÓS cuidarmos da casa dela.’’ Ela não ia dizer isso. 
Ela provavelmente ia dizer pra mim tomar conta da casa dela. Porque você nunca fez absolutamente 
nada por sua esposa. Sempre ficava jogado na porra do sofá coçando o saco. Não se incomodou em 
ir procurar emprego de verdade pra ajudar a pagar o tratamento.
Carlos (nervoso): Eu não estou brincando.
Ludim (gritando): E eu muito menos! Você foi um marido infiel!

Carlos dá um tapa em Ludim. Ele encara o pai com ódio.

Carlos (transtornado): Para e olha o que você está falando.
Ludin (sarcástico): E eu tô falando alguma mentira?
Carlos (chorando): Você perdeu completamente a linha, Ludim. Eu sei que você está revoltado com 
isso tudo. E você tem todo o direito de estar assim. Mas eu não admito que você se refira a mim 
dessa forma.
Ludim: Então de que forma você quer que eu me refira a você Carlos?. Já sei! Fracassado, pode ser?
Carlos (gritando): ME RESPEITE!

Carlos acerta outro tapa no filho, que cai no chão, encara com desgosto o seu pai e 
se levanta. Carlos fica antenado novamente e percebe o que fez.

Carlos: Ludim…
Ludin (em um tom ameaçador): Você falou as suas ‘’verdades’’...e agora eu vou falar as minhas. 
E você vai ouvir sem dar UM piu. Você tá me entendendo?
Carlos (nervoso): Espera! Eu tenho mais coisas para dizer! Depois você me faz a sua sentença!
Ludin (revoltado): ENTÃO FALA DE UMA VEZ! Fala de uma vez pra eu não ter que ouvir merda 
depois.
Carlos: Eu sei que provavelmente você vai me matar por isso, mas eu vou assumir o que fiz. 
Eu sei que eu deveria ter te ligado logo após eu receber a notícia, mas eu fui pro bar beber.
Ludim (incrédulo): Quê?
Carlos (deprimido): Eu fui beber no bar.
Ludim (revoltado): Não, não. Você só pode tá de brincadeira comigo. SÓ FALTAVA ESSA!
Carlos (nervoso): Eu ainda não terminei!
Ludim: Então termina!
Carlos: O velório está agendado para quarta feira. Eu devia ter te ligado pra termos uma chance de 
mudar a data, mas agora já era.
Ludim: Não...você não fez isso.
Carlos: Eu fiz...e estou falando agora porque é melhor já diz-
Ludim (gritando): Eu não acredito QUE EU TO OUVINDO ISSO!

Ludim dá um soco no pai, que cai no chão. Carlos fica muito assustado

Carlos (assustado): V...vo...você...m...me...
Ludin (irritado): Sim, eu te bati. BATIA DE NOVO! 

Carlos começa a chorar em desespero

Ludin (revoltado): Você para de chorar, fique de pé e olhe nos meus olhos!

Carlos se levanta e olha para o filho.

Ludim (irritado): Escuta aqui seu velho cretino, eu vou falar só uma vez. E é uma única vez mesmo. 
A minha mãe NUNCA te amou. Eu também nunca te amei. 
Carlos: É assim que você me retribui? Eu te dô casa, curso, form-
Ludim (revoltado): Você me deu uma vista pra favela, um trabalho de gente pobre e uma vida 
miserável ao lado de gente fedorenta que nem você. Você me da casa? Será que dá? Essa casa não 
é sua! É da minha mãe. E eu achando que trabalhando você ia me tirar desse inferno. Burro! Burro 
que eu sou. Não me deu casa, mas me deu uma vista pra favela. Não se incomodou em proporcionar
uma vida melhor para a sua família.
Carlos (deprimido): Você sabe que usando o termo ‘’gente fedorenta’’ você está indiretamente se 
referindo a sua mãe, não sabe?
Ludim (em um tom amedrontador): Ela era uma exceção. Ela não merecia a vida que levava. 
Você nem se deu o trabalho de procurar emprego para ajudar a esposa. Foi beber depois do óbito dela. 
Olha, sabe por que ela morreu? Por falta de amor. Você não deu nenhum amor à ela. 
Só ficou em casa atolado em cachaça!
Carlos (transtornado): CHEGA!

Ludim começa a chorar de raiva.

Carlos (chorando): Olha, eu vou te dizer duas coisas. Primeiro, eu sei que eu sou um fracasso, 
eu sei que eu não consegui ajudar a minha esposa quando ela mais precisava, eu sei que eu estou 
errado em ter ido pro bar encher a cara após receber uma notícia tão trágica quanto essa, eu sei que 
a única coisa que eu te dei na vida foi uma vista pra favela, e olha que eu não fiz nada mais que a 
minha obrigação, eu sei que eu não tenho defesa alguma, mas eu amei a Elena e eu amo você. 
Da minha maneira fracassada eu te amo. Segundo, eu poderia deixar de te levar até o porto depois 
do que você fez. Mas eu não vou. 
Ludin (debochado): Você não vai nem tentar se defender? 
Carlos: Não, não vou. Porque fracassado como eu tem que só obedecer as vontades e exigências 
alheias.
Ludim: Ainda bem que você sabe.
Carlos: É. Ainda bem mesmo. Eu vou me arrumar lá em cima e nós já vamos saindo.

Ludim (narrando em off): Como você pode ver...essa foi uma bela forma de começar o meu dia.  

Carlos sobe as escadas arrasado enquanto Ludim pega suas coisa, senta na mesa e começa 
a chorar por causa de sua mãe.

Cena 5: Central de comando/Atena/Porto de Puerto Limon/Manhã/

O terceiro oficial da embarcação está tomando um café quando o capitão adentra o local.

Marcel: Bom dia comandante
Marijo: Bom dia.

Os dois ficam em silêncio por algum tempo

Marcel: Então, é hoje que aquele tal de Ludim começa a trabalhar aqui.
Marijo (sorrindo): É. É hoje sim
Marcel: E como é que ele é?
Marijo (sorrindo): Um moleque de respeito pelo que dizem. Cheio de garra e determinação. 
Marcel: Moleque?
Marijo: Sim. Ele só tem 26 anos.
Marcel: E quanto tempo de experiência?
Marijo: Quatro anos pelo o que eu vi.
Marcel (debochado): Vish.
Marijo: ‘’Vish’’ por quê?
Marcel: Como assim por quê? Gente jovem dessa idade sempre demora até que comece a engrenar. 
Eu tenho anos de experiência e é sempre a mesma coisa.
Marijo: Ah, Pare com essas neuras. Eu tenho certeza de que ele não é assim.
Marcel: Bem, basta esperar pra ter certeza.
Marijo: Pois é.

Cena 6: Sala de reuniões da Coimbra/Gijón/Tarde
  
Laerte e seus funcionários estão discutindo a proposta de um novo navio para a Coimbra. 
Lorenzo está sentado ao lado de Laerte.

Laerte: Bom senhores, acho que a nossa proposta está lançada e podemos encerrar a nossa 
reunião.

Todos ficam de pé.

Laerte: Antes de terminar, eu gostaria de introduzir a vocês o meus mais novo sócio. Lorenzo Hidalgo. 
Ele só tem duas semanas comigo, mas já tem ajudado um monte com a administração da empresa. 
Acho que ele merece uma salva de palmas.

Laerte coloca sua mão sobre o ombro de Lorenzo e todos aplaudem o novo sócio. A câmera 
foca em Lorenzo.

Lorenzo (em pensamento): Estranho. Eu não fiz nada além de comparecer em reuniões nessas 
duas semanas. Bem, que se dane. Elogio é sempre bom.

Os funcionários vão se retirando e Lorenzo também. Um deles fica na sala com Laerte.

Funcionário (debochado): Poxa senhor Aviles. Tem certeza que você não fez um movimento errado 
ao contratar esse tal de Lorenzo. Ele tem uma fama de não fazer bons investimentos. 
Pelo que eu vi ele está à beira da falência.
Laerte (rindo): Huh, e você acha que eu não sei disso? Você tinha que ver a cara dele ao se 
candidatar para esse posto. Ai, Cara de cachorro de rua que tá desesperado por comida. 
Sabe como é? Ele está desesperado por dinheiro e eu precisava de alguém que me obedecesse
sem me questionar. E ele é ‘’perfeito’’ para isso. Não se preocupe. 
Vou despachá-lo quando for a hora certa.
Funcionário: Hum, entendo. Então pode se dizer que o senhor fez uma sacada de mestre.
Laerte (arrogante): Eu sei disso.

Os dois saem da sala.

Cena 7: Corredores do Atena/Manhã/

Diego e Paola estão vagando pelos corredores do navio com seus uniformes

Diego: Paola.
Paola: Diga.
Diego: Olha, eu quero que você saiba que se você quiser falar sobre o-
Paola (ofendida): Sobre o divórcio? Será que você não entendeu que eu não estou com 
cabeça para conversar sobre isso no meu ambiente de trabalho? Eu não quero tocar nesse 
assunto agora, Diego.
Diego (constrangido): Ta bom...desculpa por ter te ofendido.

Enquanto os dois caminham pelo corredor, eles passam por um faxineiro. 
Ele faz olhares de assédio e de preconceito em direção a Paola pelo fato dela ser uma mulher 
trabalhando em um navio. Ela fica muito ofendida com a situação e começa a soluçar. Diego 
percebe o entristecimento da esposa e tenta a consolar.

Diego: Paola, tá tudo bem?
Paola (cabisbaixa): Sim.
Diego: Tem certeza?
Paola (quase chorando): Tenho. Olha, eu vou no banheiro rapidinho e depois te encontro no convés.

Paola sai apressada para o banheiro. Ao chegar lá, ela entra e começa a chorar em frente 
espelho.

Cena 8: Entrada do Porto de Puerto Limon/Dia/

    Um carro para em frente a entrada do porto. É o carro de Carlos que está levando Ludim 
até o porto. Ao longe, se vê o Atena sendo preparado para zarpar. A câmera mostra Ludim no 
banco de trás do carro. 

Carlos (deprimido): Filho.
Ludim (debochado): O que foi?
Carlos: Nada, Só queria te desejar uma boa viagem.
Ludim (arrogante e ofensivo): Hã, boa viagem? Depois do que 
tu falou de mim hoje de manhã tu quer agir como se nada tivesse acontecido?
Carlos (deprimido): Deixa de ser grosso. Só estou sendo educado.
Ludim (furioso): Tu fala como se nada tivesse acontecido e depois 
eu que sou o grosso? Por favor, né?
Carlos: Tá bom. Me desculpa, esqueci que gente fracassada como eu só tem que fazer a 
vontade dos outros e não pode reclamar.
Ludim (arrogante): Deixa de drama.

Ludim abre a porta do carro e sai.

Carlos: Ludim, espera. Eu ainda não term-

Antes que Carlos possa terminar, Ludim fecha a porta e segue até o portão de embarque.

Carlos (pela janela): Ludim, espera. Volta aqui, por favor.

O filho não dá atenção aos berros do pai, que começa a chorar.

Carlos (gritando e chorando): Ludim! Não faz isso comigo Ludim!

Ao ver que o filho já está muito longe, Carlos sai com o carro e dirige de volta para casa.

Ludim chega até o portão de embarque do navio, onde ele encontra com um homem.

Ludim (escondendo a raiva): Bom dia. Meu nome é Ludim Jimenez. Eu vou começar 
a trabalhar como segundo oficial nesta embarcação.
Homem: Eu sei. Todos tem falado muito bem de você. A sua documentação por favor.
Ludim: Claro. Um momento.

A câmera corta para Carlos dirigindo. Ele está visivelmente abalado pela situação e chorando 
muito. Ao fundo, podemos ouvir as vozes de Ludim xingando o pai durante a briga.

A imagem volta novamente para Ludim, que está recebendo seus documentos de volta do 
homem.

Homem: Aqui está. Tudo certo. Seja muito bem vindo a bordo.
Ludim: Obrigado. Tenha um bom dia.

Ludim adentra no navio e é recebido pelo comissário.

Comissário (alegre): Ludim, que bom te conhecer.
Ludin (respeitoso): O prazer é todo meu.
Comissário: Venha, eu vou lhe levar até o seu quarto para você se trocar e logo depois, irei te guiar 
até a central de comando para o capitão te ver.

Ludim segue o comissário. A câmera foca no protagonista que só consegue pensar na mãe.

A imagem volta para Carlos que agora está em casa. Ele está sentado na mesa bebendo 
cerveja.

Carlos (para si mesmo e cabisbaixo): Fracasso...

Ele fica ofegante.

Carlos (transtornado): FRACASSO!

Carlos joga o copo na parede, expondo toda a sua fúria.

A imagem corta para a ponte de comando do Atena. Marijo está olhando pela janela enquanto 
toma uma xícara de chá. O comissário adentra no ambiente acompanhado de Ludim. 
Ele já está vestindo seu uniforme de trabalho. Camisa e calças brancas com riscos amarelos, 
sapatos pretos e quepe branco com cobertura preta que tem ainda listras amarelas e o nome 
da transportadora Coimbra. 

Comissário: Capitão Mora?

Ele se vira na direção de Ludim.

Comissário: Esse é o seu novo segundo oficial.  Ludim Jimenez. Ludim, capitão Mora.
Marijo: Ah, Ludim. Aí está você. Eu estava esperando a sua chegada a dias. Você têm sido
muito elogiado pela minha tripulação. E eu vejo que você parece um homem de respeito. Capitão
Marijo Mora. É um prazer ter você a bordo.
Ludim (um pouco nervoso): O prazer é todo meu.

Ludim aperta a mão de Marijo.

A imagem congela em Ludim. O fundo fica desfocado e toda a imagem fica azulada.

FIM DO CAPÍTULO
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