Débora
CAPÍTULO 44
Antepenúltimo Capítulo
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
CENA 1: EXT.
QUEDES – RUA – NOITE
Maravilhado, contemplativo e extasiado,
Baraque, caído de joelhos no meio da rua vazia, olha para a estrela brilhante
no céu.
DEUS
Baraque.
BARAQUE
(trêmulo) Estou
aqui, Senhor...
DEUS
Vá,
Baraque, e leve gente ao monte Tabor. Tome contigo dez mil homens dos filhos de
Naftali e dos filhos de Zebulom.
Baraque continua a encarar a
estrela.
DEUS
E, no
ribeiro de Quisom, levarei a ti Sísera, capitão do exército de Jabim, com os
seus carros e com a sua multidão; e o darei na tua mão.
A estrela então começa a
desaparecer. Baraque levanta as mãos.
BARAQUE
Senhor,
espere! Como devo fazer isso?! Como vou--
Ele se interrompe; a estrela se
foi. Baraque começa a respirar ofegante... Está abalado.
Por fim faz força e põe-se de pé;
encara o nada, está pensativo e afetado. É quando a porta da casa se abre e
Renê e Abinoão saem apressados.
RENÊ
Baraque!
ABINOÃO
Baraque?!
Ele pisca... e olha devagar para
eles.
RENÊ
(sorridente) Baraque,
Sara acordou!
Ele começa a voltar a si... Pisca
bastante e abre a boca tentando falar.
BARAQUE
Acordou?...
ABINOÃO
Venha, meu
filho! Venha vê-la!
O curandeiro então sai ali fora.
CURANDEIRO
Estavam
falando de Sara?
RENÊ
Agora
mesmo.
CURANDEIRO
Eu
realmente não sei o que aconteceu... Amanhã bem cedo venho fazer alguns testes,
mas ela de fato está bem.
Renê e Abinoão franzem a testa com o
jeito de Baraque.
ABINOÃO
Baraque,
está tudo bem?!
Devagar,
Baraque olha para o pai.
CENA
2: EXT. MEROZ – RUA – NOITE
Agachado na rua, Elói abre o
pequeno baú e seus olhos brilham diante da quantidade de moedas de ouro que há
ali. Todo o povo ao redor se aproxima para contemplar tamanha beleza.
Elói
então pega as moedas, levanta-as na altura de seus olhos e, sorrindo
maravilhado, deixa-as cair devagar de volta ao baú. Todos ali estão
alegríssimos.
CENA
3: INT. TENDA DE JAEL – SALA – NOITE
Enquanto Jael termina de preparar a
comida, Sísera e Héber conversam e bebem sentados à mesa.
HÉBER
Senhor
Sísera, queira me perdoar por não termos preparado coisas melhores para
servi-lo... Não sabíamos que teríamos a honra de receber outra visita sua.
SÍSERA
Não se
preocupe com o jantar, Héber. Vim apenas para beber com você.
Sísera bate na costa de Héber, que
ri. Apesar de referenciá-lo, Sísera olha é para Jael e o movimento do seu corpo
enquanto trabalha. Mas rapidamente volta o olhar para Héber.
HÉBER
E então,
senhor? Como estão as coisas lá em Hazor?
SÍSERA
Indo...
Essa tensão com Israel... Com Débora... Se esses malditos ainda fossem
escravos, não estariam cobrando impostos como o Elói está.
HÉBER
Quem diria
que os hebreus não mais são escravos...
JAEL
Menos mal.
Sísera olha para ela.
SÍSERA
“Menos
mal”? Por que acha isso, Jael?
Jael para e vira para ele.
JAEL
Porque
acredito que todos têm direito à liberdade. Homens e mulheres não nasceram para
serem escravos. E além disso, sinto grande asco por tiranos.
Toda essa fala irrita profundamente
Sísera, que então não tira seus olhos flamejantes de Jael. Percebendo, Héber,
totalmente desconfortável, olha para a esposa.
HÉBER
Jael! Não
vê que suas opiniões incomodam nosso visitante?! Por favor, cuide aí da comida!
Jael
vira para as suas coisas. Apesar da raiva contida, Sísera dá uma olhada em
Héber e toma mais um gole de vinho. E Héber olha para Sísera preocupado em não
desagradá-lo.
CENA
4: INT. CASA DE GADI E LAÍS – QUARTO – NOITE
Gadi e Laís dormem...
Mas as pálpebras dele estão um
pouco trêmulas... Os olhos lá dentro parecem virar de um lado para o outro
constantemente...
De repente Gadi abre os olhos e vê:
um rosto sorridente em cima dele com uma mão segurando uma faca em posição de
ataque! Ele grita e senta na cama subitamente. O vulto então corre e se esconde
na penumbra do quarto. Nisso Laís também acorda.
LAÍS
Gadi! O que
foi?! Por que você gritou?!
Ele olha para a penumbra.
GADI
Fique aqui.
Gadi se levanta e se aproxima um
pouco do canto escuro.
GADI
Micaela...
Micaela, é você? Venha aqui, Micaela.
LAÍS
Micaela
está aqui?!
Conforme se aproxima, Gadi consegue
notar, em meio à penumbra, a pequena figura de Micaela em pé e com a faca na
mão. Ela parece grunhir...
GADI
Micaela...
Venha aqui tranquilamente...
De repente ela tenta correr para a
porta, mas Gadi a agarra e consegue tomar a faca. A menina, no entanto,
continua agressiva. Tenta se soltar dos braços dele arranhando-o e até
mordendo-o.
LAÍS
(apavorada) Gadi!
Com certa dificuldade Gadi consegue
conter a menina e leva-la para o corredor. Laís, assustada, vai até a porta.
Logo Gadi volta.
GADI
Eu a prendi
em seu quarto.
Eles ouvem um barulho alto vindo do
outro quarto. Laís encara o marido já desesperada.
LAÍS
Gadi, ela
tentou te atacar enquanto dormia?!
Ele hesita, mas a olha e faz que
sim.
LAÍS
Gadi!...
Gadi, eu não vou conseguir dormir!...
GADI
Ela está
trancada...
LAÍS
Mesmo
assim, não dá!
GADI
Amanhã eu a
levarei aos curandeiros.
Laís
continua aflita e muito assustada...
CENA
5: INT. TENDA DE JAEL – SALA – NOITE
As horas se passam...
Na mesa, Sísera percebe que Héber
finalmente adormeceu em sua cadeira após beber muito. E, do outro lado, Jael
está bem acordada, porém olha para baixo.
Constrangida por ser a única
acordada com Sísera, ela se levanta.
JAEL
Com
licença.
Jael retira os pratos e vasilhas e
os carrega para a cozinha, divida da sala por uma cortina.
Sísera,
mal-intencionado, dá mais uma olhada em Héber, conferindo se continua a
dormir... Continua. Então, em silêncio, ele se levanta e caminha silenciosamente
para a cozinha...
CENA
6: INT. TENDA DE JAEL – COZINHA – NOITE
Sísera passa pela cortina e para.
Ao nota-lo, Jael se assusta e para de limpar os pratos imediatamente; vira-se
para ele.
JAEL
Senhor...
SÍSERA
Shh...
JAEL
Senhor...
Não é bom que estejamos aqui a sós...
SÍSERA
Também não
é bom que você abra a sua boca para opinar, mas ainda assim o faz.
Jael começa a se afligir mais.
JAEL
Senhor, por
favor--
Jael é interrompida pois Sísera,
que avança, agarra-a com uma mão e tampa sua boca com a outra. Estão de frente
um para o outro...
SÍSERA
Shh...
Quietinha... (cheirando-a) Tem que ficar quietinha, Jael... Bem
quietinha...
O ato de cheirá-la se transforma em
lambidas no pescoço, mas, mediante o grito abafado dela, Sísera para, arranca
seu punhal e mostra-o a ela bem próximo de seu olho.
SÍSERA
É bom você
ficar bem calada, está entendendo?! Não quero um pio!
Sempre mantendo uma mão na boca
dela, a outra ele desce por seu corpo sobre a veste até lá embaixo, onde enfia
a mão dentro do vestido. Jael, presa, chora, e Sísera vai subindo a mão por
entre as coxas dela... Ela se desespera... Ele vai subindo... Ela chora mais
forte na mão dele... E um barulho!
Sísera paralisa e olha para trás...
Tenta ouvir algo mais... Então olha para ela.
SÍSERA
Se falar a verdade,
eu mato você e ele!
E a joga com força no chão. Nesse
instante a cortina se abre e Héber entra ali.
HÉBER
O que está
acontecendo?
Sem que Héber perceba, Sísera
guarda o punhal. Olha de Jael caída para Héber, embriagado e confuso.
SÍSERA
Você adormeceu
na mesa, Héber. Em seguida Jael retirou a mesa e eu fiquei lá, bebendo e
meditando... Foi quando ouvi um barulho de queda vindo aqui da cozinha... Um
barulho feio. Ainda o chamei para que fosse conferir se sua esposa estava bem,
mas você estava num sono pesado demais. Então vim aqui e encontrei Jael
caída... Pensei que fosse mais grave, mas ela apenas tropeçou em uma vasilha
que não percebeu que estava caída... Não é, Jael?
Jael os encara.
JAEL
Sim...
SÍSERA
Pois bem.
Ainda bem que você veio, Héber. Ajude sua esposa, homem.
Héber franze a testa, mas se
aproxima e ajuda Jael a se pôr de pé.
SÍSERA
(sorrindo) Não pensou
mal de mim aqui com sua esposa, pensou, Héber?
Héber sorri para agradar.
HÉBER
Não, meu
senhor, é claro que não! Sei que é um homem honrado.
Sísera faz que sim.
SÍSERA
Bem... Já
está tarde, vou embora. Pode me acompanhar até a saída, Héber?
CENA
7: INT. PALÁCIO – CASA – SALA – NOITE
Sísera chega em casa e encontra
Najara sentada à mesa e mordiscando um biscoito.
SÍSERA
Mãe?
NAJARA
Hum.
Sísera se aproxima e também senta à
mesa.
SÍSERA
Preocupada?
Najara respira fundo.
NAJARA
Na verdade
eu estou pensando... Na verdade eu gostara de saber... como a filha de Nira
conseguiu envenenar meu leite.
SÍSERA
Estou investigando
se houve alguma falha no processo desde a ordenha até o servir.
NAJARA
Eu confio
em Eloá e Danilo...
SÍSERA
Eu não
confio em ninguém, só na senhora. E dia desses já dei um aviso bom pra esses
dois. Se forem culpados, serão severamente punidos.
Najara
faz que sim devagar.
CENA
8: EXT. HAROSETE – RUA – DIA
A noite passa e amanhece.
Gadi e Laís arrastam pelo braço Micaela.
Agressiva, ela tenta se soltar, mas eles insistem.
Chegam
numa casa grande, e sobem a escada para a porta principal; batem.
CENA
9: INT. CASA DOS CURANDEIROS – SALÃO - DIA
Pouco depois, Gadi e Laís terminam
de contar para o Curandeiro-Chefe tudo o que aconteceu envolvendo a menina. Essa,
por sua vez, se recusa a olhar nos olhos do homem.
GADI
O
acontecido de ontem foi o que nos deixou mais abalados...
LAÍS
E o que nos
fez trazê-la aqui.
MICAELA
Me soltem!
Me soltem!!!
O homem então franze a testa e se
ajeita para olhar direito o rosto dela.
CURANDEIRO-CHEFE
(suspeitando) Esperem só
um momento...
Gadi segura o rosto da filha e o vira
para o curandeiro, que, ao vê-la, se afasta de uma vez; está assustado.
LAÍS
Senhor, o
que foi?!...
GADI
Por que
reagiu assim?!
Ele olha para ela.
CURANDEIRO-CHEFE
Ela... não
é quem vocês pensam que é.
Laís franze a testa.
GADI
Quê?!
CURANDEIRO-CHEFE
Essa pessoa
aqui... sofre de uma doença rara, mas que já se ouviu falar na Babilônia e nas longínquas
terras do Oriente. Trata-se de uma doença... que não deixa a criança crescer e se
desenvolver, ficando com aspecto de criança... para o resto da vida.
Gadi e Laís o olham completamente
abalados. Micaela, agora quieta, olha apenas para baixo.
CURANDEIRA-CHEFE
Micaela...
é, na verdade... uma mulher de mais de 25 anos.
De repente Micaela se solta da mão
de Gadi, arranca uma faca do bolso da veste e a crava na barriga de Laís.
GADI
Não!!!
Ela arranca a faca e tenta correr.
Laís cai. Gadi, desesperado, corre atrás de Micaela e a agarra antes de ela
alcançar a porta. Porém, ela o arranha tentando se soltar, e até morde seu
braço. Mas logo outros homens que ali trabalham se aproximam e conseguem segurá-la
e prendê-la; eles a levam para dentro.
Gadi então corre até Laís, caída e
sangrando.
CURANDEIRO-CHEFE
Aqui!!!
Urgente, tragam uma maca!!!
GADI
Laís! Laís,
Laís, Laís!
CURANDEIRO-CHEFE
Senhor,
tenha calma! Ela está muito ferida, mas está viva! Vamos cuidar dela!
Logo
outros curandeiros chegam ali, colocam Laís na maca e a levam.
CENA
10: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
Débora termina de atender dois
irmãos.
DÉBORA
Fico feliz
que tenham se reconciliado.
IRMÃO 1
Graças a
senhora.
IRMÃO 2
Que Deus a
abençoe.
DÉBORA
(sorrindo) Amém.
Nisso, um moço chega ali na tenda.
MOÇO
Débora, líder
de Israel?
Débora franze a testa.
DÉBORA
Sim.
MOÇO
Sou
mensageiro, e trago um recado de Jabim, rei de Hazor.
Débora estranha e se ajeita. Os
dois irmãos viram totalmente para o moço.
MOÇO
Assim diz o
soberano de Canaã: “Jabim, rei de Hazor, a Débora, líder de Israel. Seu sacerdote,
aquele que chamam de ancião, está em nossa posse”.
Nisso, os dois irmãos intentam
avançar contra o moço.
DÉBORA
Não! Deixem-no.
Eles olham para ela.
DÉBORA
Não se
ataca portadores de mensagens.
MOÇO
“Se tanto
preza pela vida de seu sacerdote, venha busca-lo em Harosete, Débora. E traga
todos os hebreus, pois a segurança da cidade foi reforçada”.
Débora
escuta preocupada...
CENA
11: EXT. HAROSETE – ARREDORES – DIA
Todos
os 900 carros de ferro estão do lado de fora de Harosete e, conduzidos por um
soldado cada, são estacionados um ao lado do outro, de costa para a muralha da
cidade e de frente para o deserto, de modo a formar um perímetro circular de
carros e cavalos externamente à muralha. Fica livre apenas a passagem do portão.
CENA
12: EXT. PALÁCIO – TOPO DA ESCADA – DIA
Jabim e Sísera, escoltados no topo
da escada, assistem as manobras de estacionamento dos carros e cavalos com um
brilho no olhar e um ar de satisfação.
JABIM
O mensageiro
que enviei ontem depois da festa já deve ter chegado em Betel. (esperançoso)
Quem sabe até amanhã ela e os seus não estejam aqui...
Sísera
faz que sim.
CENA
13: EXT. PALÁCIO – ARENA DE TREINO – DIA
Trata-se de um pátio ao ar livre cujo
chão é em areia. Dezenas de objetos para treino dos soldados estão espalhados
por ali, entre eles bonecos rústicos, lanças, toras de madeira...
Najara, segurando um arco e uma
flecha, está acompanhada de Darda.
DARDA
Senhora
Najara... Desculpe perguntar, mas a senhora por acaso está receosa com a tal
filha de Nira?
Najara respira fundo. Então, olhado
para o arco e a flecha, faz que sim.
NAJARA
Sim... Essa
maldita conseguiu abalar o meu emocional.
Darda esconde o prazer em seu
olhar.
NAJARA
Sempre fui boa
no manuseio de punhais, mas acho que está na hora de treinar combate à
distância. Nunca se sabe quais são as habilidades físicas dessas pessoas...
Então ela encaixa a flecha no arco,
mira o alvo a algumas dezenas de metros... e atira. A flecha não acerta o centro
do alvo, mas bem próximo.
DARDA
Essa foi excelente.
Darda então pega um arco ali perto.
NAJARA
Ei!!!
Ela se assusta e olha para Najara.
NAJARA
Largue isso
e coloque onde achou!
Darda então devolve o arco ao
lugar.
NAJARA
Só eu mexo com
essas coisas aqui, entendeu?!
DARDA
Sim,
senhora. Desculpe-me.
Najara prepara outra flecha, e o
olhar de Darda não desgruda do arco que acabou de tocar...
Então,
depois do tiro de Najara, Darda parece ter uma ideia.
DARDA
Senhora, agora
que já treinou bastante, o que acha de beber?
Najara considera.
NAJARA
Não é uma
má ideia... Hum, então vamos.
Najara
guarda seu arco com a flecha e as duas vão.
CENA
14: EXT. CASA DE BARAQUE – FRENTE – DIA
Ali na frente da sua casa, Baraque
amarra sacos de pano, porém seu olhar é perdido, está pensativo...
De tanto divagar, suas mãos chegam
a parar o serviço que vinha fazendo. Sara então sai de dentro da casa e se aproxima
por trás dele.
SARA
Baraque?
Está tudo bem, meu amor?
Baraque parece sair de seu transe.
BARAQUE
Sim, sim...
SARA
(estranhando) Certeza?
BARAQUE
Sim...
SARA
Baraque,
você não tem nada pra me contar?
Um pouco confuso, ele a olha.
BARAQUE
Não. Estou
apenas... aliviado por você ter sido... milagrosamente salva.
Sara, sorrindo, faz que sim.
SARA
Foi graças
a Deus.
Baraque então dá uma olhada nas
pessoas caminhando ali pela rua. Os homens, os jovens, os mais fortes, os mais
idosos, os mais alegres, os mais cansados...
BARAQUE
Sara...
Você acha que o povo estaria preparado para lutar?
Sara franze a testa e pensa...
SARA
Bom... As espadas
são escassas... Escudos inexistentes... Lanças nunca se viu por aqui... Só
estaria preparado se fosse por Deus, mesmo...
Baraque, entendendo, faz que sim.
SARA
Você está
muito estranho, sabia?
BARAQUE
Hum...
SARA
Bom, vou
fazer meus serviços. Pense bem se não quer conversar.
Sara
vira e volta para dentro de casa. Baraque, sem saber direito como agir, respira
fundo.
CENA
15: EXT. BETEL – PRAÇA – DIA
A praça e as ruas em volta estão
abarrotadas de gente. Todo o povo de Betel e mais gente de fora estão ali. No
centro, Débora, em cima de um palco de madeira improvisado, discursa a todos.
DÉBORA
E foi isso
o que o mensageiro me falou. Infelizmente, o senhor Aliã está mesmo em posse
dos hazoritas.
Um burburinho surge entre o povo e cresce
rapidamente.
DÉBORA
Eu vou
ficar em constante oração! A fim de que Deus me diga o que devemos fazer, se é
que devemos fazer algo. E peço encarecidamente a todos que me ajudem em oração!
Peçam a Deus que revele o Seu querer! (pequena pausa) Que Deus abençoe a
todos, Shalom.
CENA
16: EXT. TENDA DE JAEL – CURRAL – DIA
Atrás da tenda, onde há um pequeno
cercado para as ovelhas, Héber alimenta os animais. Jael chega ali.
JAEL
Héber...
HÉBER
Sim?
Jael se apoia no cercado e respira
fundo.
JAEL
Héber, ontem
à noite algo muito grave aconteceu...
HÉBER
Você tropeçou
na própria vasilha?
JAEL
Isso... foi
apenas a justificativa daquele homem.
HÉBER
Olha como
fala de Sísera... Ele é o Capitão de Hazor, um homem honrado.
JAEL
Esse homem
honrado... se aproveitou de mim.
Héber para e a olha.
JAEL
Foi até a
cozinha, onde eu estava enquanto você dormia na mesa, me agarrou... e passou
suas mãos nojentas pelo meu corpo... Por muito pouco não foi pior.
Héber, com um semblante de
estranheza, apenas a encara por alguns instantes...
Então dá de ombros e continua a
cuidar das ovelhas.
HÉBER
Ah, Jael,
por favor! Inventando histórias?!
JAEL
Não estou
inventando, Héber! Por que faria isso?! É tudo verdade! Sísera me tratou como
se eu fosse uma prostituta!
HÉBER
Não gostar
do homem tudo bem, mas criar esse tipo de coisa?!
Héber nem mesmo a olha, parece se
recusar a enxergar a verdade.
Jael, ressentida, o encara...
JAEL
Então é
assim que me trata... Você não se importa comigo.
Jael
vira as costas e sai brava. Héber a olha... Sabe que pode sim haver algo de
verdadeiro naquilo.
CENA
17: INT. PALÁCIO – CASA – SALA – DIA
Najara e Darda estão sentadas à
mesa, e ambas bebem. Najara, já tendo bebido bastante vinho, ri muito com algo
que acabaram de conversar. Darda, no entanto, parece mais estar fingindo que
bebeu muito.
DARDA
Ah,
senhora, nunca imaginei esse tipo de coisa...
NAJARA
Pois é, nem
eu poderia, na época...
DARDA
E o senhor
Sísera?
Najara bebe.
NAJARA
Ah, o
Sísera foi um pouco diferente... Sabe, em quase tudo ele se diferencia do
restante... Esse meu filho só me orgulha, Darda. E tudo o que ele se tornou foi
graças a mim.
Darda faz que sim.
NAJARA
Aliás, tudo
em sua pessoa veio de mim, e tenho muito orgulho de dizer isso. Falo de boca
cheia!
DARDA
Ele é
parecido com o pai?
Najara abaixa o olhar e apenas
saboreia o gosto de vinho em sua boca.
NAJARA
Eu não
gosto de falar sobre isso...
DARDA
Eu já ouvi
pelos corredores... outras servas falando sobre o pai de Sísera... um tal
Jeboão.
NAJARA
Rum... Dia
desses eu corto fora a língua dessas servas. Mas elas nem sabem de nada...
DARDA
O que quer
dizer, senhora?
NAJARA
Jeboão...
Esse estrupício... Ele não é o verdadeiro pai de Sísera.
Darda franze a testa e sua boca se
abre um pouco involuntariamente.
DARDA
Não?!
Najara faz que não.
NAJARA
Sísera não
sabe disso, e jamais pode saber... Mas ele é filho de um homem do povo...
Plebeu... Um homem chamado Anate... meu amante.
Darda escuta impressionada...
NAJARA
(nostálgica) Ah,
Anate... Que saudade de nossas tórridas noites em sua cama... Na época, eu
estava há meses sem me encontrar com Jeboão, se é que me entende... Então
Sísera só pode ser filho de Anate.
DARDA
Sísera... é
um...
NAJARA
Bastardo...
Sim.
Darda encara a mesa, ainda surpresa.
Najara olha para ela.
NAJARA
(apontando
o dedo) Não conte isso a ninguém.
DARDA
Claro...
CENA
18: INT./EXT. DIVERSOS LUGARES – DIA
O dia vai passando...
Débora, na tenda sob a palmeira, ora
a Deus quase constantemente...
Em sua casa, Baraque parece cada vez
mais aflito. Apesar de saber bem o que deve fazer, não consegue nem mesmo
contar à família...
Héber passa por Jael dentro da
tenda e fora, mas ela não o olha e se afasta quando ele se aproxima.
Na casa dos curandeiros, Gadi se
aflige cada vez mais com Laís, ferida e inconsciente na maca. Os curandeiros continuam
a cuidar dela...
A
noite cai.
CENA
19: INT. CASA DOS CURANDEIROS – QUARTO – NOITE
Micaela, totalmente acordada, está
amarrada na maca de um dos quartos.
Uma curandeira abre a porta e Gadi,
com semblante de raiva, entra e se aproxima; senta-se ao lado.
GADI
Por que fez
aquilo?
Micaela sorri.
GADI
Você foi
tão bem recebida... Nós fize--
Gadi, inconformado, se interrompe e
muda de pergunta.
GADI
Por que você
finge ser uma criança?!
Micaela então olha para o teto.
MICAELA
Quando eu
era mais jovem... o povo zombava de mim... Eram muitos os que faziam isso, mas,
principalmente os soldados. Os malditos soldados. Não podia andar na rua sem que
um grupo deles me apontassem os dedos, rissem, gesticulassem como se estivessem
segurando um bebê, sem que fizessem apostas sobre minha idade... Cansada e sem
ninguém, resolvi ir para um abrigo de órfãos... Decidi que iria esperar por um
soldado que fosse adotar uma criança e faria minha vingança. Mas esses malditos
são vigorosos, conseguem fazer a esposa gerar mesmo se ela não puder... Então eu
nunca demonstrava vontade de ir com as famílias que ali iam, mas quando o vi
chegar com Laís, percebi que era a minha hora, e demonstrei vontade de ter você
e ela como meus papais...
Micaela ri. Gadi apenas a observa
com uma expressão de surpresa e raiva.
MICAELA
Minha intenção
era mata-lo. Matar os dois!
Nesse instante o curandeiro-chefe
entra ali e a olha rindo.
CURANDEIRO-CHEFE
Senhor
Primeiro Oficial, a mente dessa mulher é completamente bagunçada.
GADI
(para
Micaela) Garantirei que você fique presa para sempre.
Gadi sai para fora do quarto, e o
curandeiro-chefe o segue. Ali fora eles se encontram.
GADI
Senhor... E
minha esposa?
CURANDEIRO-CHEFE
Não vou
mentir, Gadi, a situação não é fácil. Ela já devolveu muito e houve alguns sangramentos
intensos no local... Mas estamos tentando mantê-la.
Gadi, preocupadíssimo, faz que sim.
GADI
Faço tudo o
que for possível.
O homem faz que sim.
CURANDEIRO-CHEFE
Com
licença.
Ele
sai. Gadi fica ali... Aflito, respira fundo.
CENA
20: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
Os dias se passam...
Débora, apesar de muito orar, nada
sente sobre o caso de Aliã.
Grupos de hebreus se juntam na
tenda e a cobram sobre isso.
DÉBORA
Nós todo
precisamos ter paciência sobre isso, meus irmãos! Eu ainda não senti nada! Se
Deus não falou, é porque ainda não é hora! Por favor, vamos apenas esperar e
continuar buscando!
CENA
21: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
Sísera se aproxima do trono de
Jabim.
SÍSERA
Mandou me
chamar, soberano?
JABIM
Sim... Sísera,
eu não sei o que está acontecendo. Débora não reage!
SÍSERA
É mesmo muito
esquisito. Se é uma estratégia, não vejo objetivo concreto nisso.
JABIM
É por esse
motivo que enviei um mensageiro a ela dizendo que o tal sacerdote está morto.
SÍSERA
Morto?
Disse isso?
Jabim faz que sim.
SÍSERA
O senhor
acha que agora ela virá?
JABIM
Se não vir,
já vou providenciar que venha.
SÍSERA
Outro plano?...
JABIM
Sim.
Sísera, eu quero uns 10 hebreus aqui no palácio. E 2 deles devem ser os pais
de Débora. Entre esses também quero alguns de Quedes. É uma cidade grande e
próxima a Hazor.
Sísera sorri.
SÍSERA
Mas que
ótimo, meu senhor! Providenciarei isso e enviarei os soldados agora mesmo!
CENA
22: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
Centenas de pessoas estão ali ao
redor da tenda de Débora, entre elas Tamar, Elian e Lapidote. Ela está cantando
com o povo... Um cântico que fala sobre fé e esperança.
Ao terminar, ela nota alguém
passando com dificuldade pelo povo e se aproximando. Quando chega ali, ela vê
que é o mensageiro.
DÉBORA
Trouxe uma
mensagem de Jabim?
MOÇO
Sim.
DÉBORA
Pois bem.
Diga de uma vez.
MOÇO
O que o rei
Jabim me pediu que lhe dissesse é que...
Ele dá uma olhada no povo ao redor.
MOÇO
É que o seu
sacerdote... está morto.
Débora não consegue ocultar a
tristeza em seu semblante. Os murmúrios aumentam exponencialmente, e as pessoas
da frente intentam atacar o moço e linchá-lo.
DÉBORA
CHEGA!!!
O povo silencia.
DÉBORA
Isso é tudo?
O moço faz que sim.
DÉBORA
Vá embora. (para
o povo) E estão todos proibidos de tocar nesse moço!
MOÇO
Débora, não
devo levar nenhum recado seu ao rei Jabim?
DÉBORA
Não.
Ele faz que sim. Ainda receoso, vira
e passa por entre as pessoas, que lhe lançam olhares de ódio.
HEBREU 1
Por que
Deus deixou que isso acontecesse ao senhor Aliã?!
HEBREU 2
O ancião
merecia sofrer?! Não poderia ser livrado?! Precisava sofrer a dor pelas mãos
desses incircuncisos?!
HEBREU 3
Desses
idólatras?!
DÉBORA
Deus não
tem compromisso algum com a carne! Mas com a alma. Pode nos parecer cruel, mas,
por maior que seja o sofrimento aqui nessa terra, nunca se comparará à infinitude
dos prazeres que sentiremos quando estivermos no santuário das maravilhas de
Deus!
O povo a escuta atento.
DÉBORA
Agora o
ancião Aliã está descansando nos braços do Senhor. Ele está bem... está em paz.
HEBREU 1
Senhora
Débora, não podemos avançar contra Hazor e atacá-los de uma vez?
DÉBORA
Não, não
podemos! Já disse e volto a dizer: agiremos apenas quando Deus ordenar!
O
povo se aquieta, mas ainda parecem ansiosos...
CENA
23: EXT. CASA DOS CURANDEIROS – SANTUÁRIO – DIA
Gadi,
prostrado diante de várias estátuas de deuses, ora fervorosamente em prol da
cura de Laís...
CENA
24: EXT. QUEDES – RUA – DIA
Andando sem muita expressão no
semblante, Baraque observa o povo que passa por ele.
Então para. Está diante de várias
pessoas que anda por ali. Encara-as como se fosse finalmente discursar... Abre
a boca... Mas nada sai.
Sem
forças, ele abaixa a cabeça.
CENA
25: INT. CASA DE ADÉLIA – LOJA – DIA
Setur, em uma das mesas, sorri
agradecendo para Laila, que acabou de lhe servir.
LAILA
Esses já
não têm o ingrediente fatídico.
Setur, no entanto, observa Adélia, cabisbaixa
do outro lado do balcão.
SETUR
Laila... Sua
irmã está bem? Ela é quem sempre me atende, e toda alegre...
Laila dá uma olhada em Adélia e de
volta para Setur.
LAILA
Bem... A
verdade, Setur... É que toda aquela confusão com o ingrediente... foi porque ela
estava tentando... (olha rapidamente para Adélia) criar um bolo do amor,
que fizesse você... se apaixonar por ela. Foi tudo por você.
Setur fica admirado.
SETUR
Mesmo?! (pequena
pausa) Laila, chame-a aqui, por favor.
Adélia fica surpresa e um pouco constrangida,
mas vai até ele.
ADÉLIA
Pois
não?...
SETUR
Sente-se,
Adélia.
Ela estranha, mas senta; encara-o.
SETUR
Adélia...
Tudo aquilo, o ingrediente, as receitas... você fez tudo isso por mim?
Adélia parece ficar em choque. Mas
logo quebra isso: constrangida e com raiva de Laila, ela se levanta.
SETUR
Espere!
Ela para.
SETUR
Isso que
fez... foi admirável... foi bonito.
Ela o olha surpresa.
SETUR
Nunca vi
uma atitude assim de uma moça... Você não se aquietou, foi à luta. Mas não agiu
como um homem. Tentou de toda forma com recursos bem elaborados... Uma atitude
incrível.
Adélia, corada, mal sabe o que
dizer.
SETUR
Confesso
que, nos últimos dias, tenho pensado mais em você... Não da forma que pode
estar parecendo, é porque você sempre me atendeu tão bem, tão alegre e cheia de
vida! Mas agora... acho que a estou vendo de uma forma mais diferente...
Adélia, o que você acha de--
ADÉLIA
(interrompendo) Namorar
com você?!
Ele para e a encara; sorri.
SETUR
Bom, não
exatamente isso, mas... ia propor para que nos conheçamos melhor. Quem sabe uma
saída...
Adélia deixa escapar um genuíno
sorriso.
ADÉLIA
Ai...
Obrigada, Setur. Eu... aceito sim!
SETUR
Que bom!
Ele pega os doces, se levanta e se aproxima
dela.
SETUR
Eu tenho
que ir, comerei no caminho. Porém... voltarei para combinarmos nosso passeio.
Ele então pega a mão dela e a beija
suavemente. Caminha para a porta e vai embora.
Ainda sem entender direito o que
aconteceu, Adélia vira para a irmã no balcão... respira ofegante...
LAILA
(com as
mãos na boca) Adélia!...
Então
Adélia grita e vai até a irmã pulando! Elas se abraçam.
CENA
26: EXT. TENDA DE JAEL – FRENTE – DIA
Jael amarra uma das cordas da tenda
à uma estaca que se soltou do chão. Nisso, Héber, constrangido, se aproxima.
HÉBER
Jael...
Ela nada diz, apenas martela a
estaca usando o maço. Ele se aproxima mais.
HÉBER
Jael, meu
amor... Já tem tempo que você só me ignora... Isso não está legal.
Ela então larga as ferramentas,
põe-se de pé e vira para ele.
JAEL
Ainda finge
que não sabe?! É cínico, Héber?!
HÉBER
Está bem...
Eu sei que errei. Não devia ter tratado seu relato daquela forma...
Ela continua olhando-o.
HÉBER
É por essa
razão que eu peço desculpas...
Ela hesita, mas faz que sim
devagar.
JAEL
Tudo bem.
HÉBER
E, para
prevenirmos que aquilo se repita, sempre que Sísera vier buscar as goculemas,
você ficará distante. Não precisará nos servir nada.
Jael respira fundo.
HÉBER
Não tenho o
que fazer numa situação dessa, Jael. Se negarmos a atendê-los com as goculemas,
podem nos fazer mal...
Ele se aproxima e passa a mão no
rosto dela.
HÉBER
Fique
tranquila. Nós lidaremos com isso.
Ela
nada diz.
CENA
27: EXT. BETEL – RUAS – DIA
O dia passa.
Dezenas de soldados se aproximam à
cavalo de Betel. Ao vê-los, o povo corre desesperado. A comitiva hazorita se
divide: uma parte vai para o campo, e a maior parte segue para dentro da
cidade.
A confusão é total. Os soldados vão
agarrando pessoas aleatórias que encontram. Homens tentam fechar suas lojas,
mas são puxados de dentro. Barracas são viradas e casas invadidas...
Pouco
depois, os cavaleiros saem da cidade levando 5 hebreus, homens e mulheres.
CENA
28: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
Em sua tenda Débora está com Lapidote
e Elian. Eles estão se despedindo dela; Lapidote com um beijo e Elian com um abraço
e um beijo no rosto. É aí que eles são surpreendidos pelos cavaleiros, que saem
do meio das árvores pouco depois do som dos cascos dos cavalos os denunciarem.
LAPIDOTE
Meu Deus!
DÉBORA
Lapidote, leve
meu pai para a cidade! Rápido!!!
LAPIDOTE
E você?!
DÉBORA
Eu vou
depois! Vá!!!
Lapidote e Elian correm da tenda,
mas logo dois cavalos se aproximam: um soldado chuta Elian. O outro segura
Lapidote. Débora corre até eles, mas o soldado agarra Elian e o coloca em cima
do cavalo. Lapidote tenta se desvencilhar do soldado; consegue aplicar-lhe uma
cotovelada no rosto. O homem cai e Lapidote corre para alcançar o outro, mas o
cavalo é rápido demais.
DÉBORA
PAI!!!
Débora então se aproxima do soldado
caído, mas ele, percebendo-a, se levanta e saca sua espada; aponta para ela.
SOLDADO
Fique longe!!!
Ela ainda intenta se aproximar...
SOLDADO
LONGE!!!
O homem rapidamente sobe em seu
cavalo.
DÉBORA
Por que
estão fazendo isso?!
O soldado a ignora. Bate as rédeas,
sai a toda disparada e some entre as árvores.
As pessoas ali ao redor estão em
choque. Tamar de repente chega ali.
TAMAR
(chorando) Débora! O
seu pai! O seu pai, Débora! Estavam vindo quando os vi! Eles o pegaram! Eles pegaram
o seu pai!
DÉBORA
Calma, mãe,
calma...
Débora a abraça. Lapidote chega
ali.
DÉBORA
Calma,
tenha calma...
Apesar
de sua fala, Débora está muito preocupada.
CENA
29: INT. CASA DE BARAQUE – SALA – DIA
Baraque, desconfortável, está à
mesa, porém nem sentado, nem de pé; apoia-se na cadeira com apenas um joelho e
inclinado sobre a mesa. Em sua mão, uma taça de vinho pela metade...
BARAQUE
Por que eu?!...
Por que não Débora?! Será... Será que foi um delírio? Será que...
Está
aflito demais, não sabe o que pensar...
CENA
30: INT. CASA DE DÉBORA – QUARTO – DIA
Sozinha em seu quarto e em silêncio,
Débora se abaixa e abre um baú. Tira algumas coisa de cima e, lá embaixo, ela
encontra: a espada na bainha. Leva a mão e a pega.
Seus olhos lacrimejam com tudo o
que acabou de acontecer... Então ela tira a espada da bainha e a analisa de ambos
os lados. É quando Lapidote chega ali na porta e a flagra com a espada e
chorando. Ele entra e se aproxima devagar...
LAPIDOTE
Sei o que
está pensando...
Ela arqueia as sobrancelhas e olha
para ele.
DÉBORA
É uma
tentação, Lapidote... Mas não cairei.
Ela então coloca a espada na bainha
e a guarda no fundo do baú.
DÉBORA
Deus não me
quer usando isso. Vamos confiar que seremos salvos da forma que Ele quer.
Lapidote
faz que sim. Débora então coloca as coisas de volta no baú e o fecha.
CENA
31: EXT. BETEL – PRAÇA – DIA
Débora está novamente diante de
centenas e centenas de hebreus que se espremem ali na praça e nas ruas ao
redor.
Sem perder tempo, ela cobre sua
cabeça e se ajoelha; o povo faz o mesmo.
DÉBORA
Senhor!
Nosso eterno Deus! Estamos diante da Sua presença para, dessa vez, pedir por um
sinal! Pois não entendemos, Senhor, o que deve ser feito! Por favor, mostre-nos
um sinal, Senhor!
Débora espera de olhos fechados...
De repente, um vento bate contra ela... Ela se impressiona... Está recebendo
algo...
Então o vento cessa.
Débora respira fundo. Abre os
olhos. Põe-se de pé, está séria.
DÉBORA
Um mensageiro,
por favor!
Logo um homem se voluntaria erguendo
o braço.
DÉBORA
Vá até a
cidade de Quedes e chame Baraque, filho de Abinoão, imediatamente. Vá à
cavalo.
MENSAGEIRO
Sim, senhora!
O homem corre dali. O povo não
entende e murmura.
DÉBORA
Tenham paciência!
Deus já está tomando os caminhos.
CENA
32: EXT. QUEDES – ARREDORES – DIA
Uma parte do dia se passa...
Sama, com Melissa ao lado brincando,
lava roupas no riacho.
Perto dali, vindo da cidade, Jaziel
para ao nota-las.
JAZIEL
(bravo) De novo?!
Por que somos sempre empurrados um ao outro se não deve haver nada entre nós?!
É nesse momento que Jaziel houve um
barulho estranho: as folhagens o impedem de ver direito, então caminha para o
lado. Um grito! Ele corre... Finalmente consegue ver: um soldado hazorita
empurra Melissa, que cai, e agarra Sama; coloca-a em cima do cavalo.
JAZIEL
Não!!!
Jaziel dispara, mas o soldado monta
e parte dali.
JAZIEL
Desgraçado!!!
Jaziel para derrapando ao lado de Melissa,
que chora caída ali na margem do riacho.
JAZIEL
Melissa!
Melissa!...
Ele a levanta e confere se ela não
está machucada.
JAZIEL
Melissa,
calma, calma...
Então Jaziel a abraça...
JAZIEL
Estou com você...
Apesar de assustado, ele tenta
acalmá-la...
Pouco depois, Jaziel chega perto da
entrada de Quedes. Ele se impressiona, pois aqueles mesmos cavaleiros saem da
cidade levando mais gente. E lá dentro, Baraque observa o caos da cidade com um
aperto no coração e um aparente sentimento de culpa.
Jaziel
nada pode fazer. Apenas segura Melissa firmemente em seu colo e observa a nuvem
de poeira que fica para trás dos cavalos.
CENA
33: INT. PALÁCIO – CELA – DIA
Sísera chega à cela, onde está um
soldado.
SOLDADO
Senhor, 12
hebreus.
Entre os 12 hebreus está Elian em
um lado e Sama no outro.
SOLDADO
(apontando
Elian e uma mulher ao lado) Os pais de Débora.
Sísera sorri e se aproxima deles. É
aí que Sama parece perceber que seu tio Elian está ali.
ELIAN
Ela não é
minha mulher.
SÍSERA
Não importa.
Apenas pelo pai, Débora virá.
ELIAN
Você... é
Sísera, não é? Você não sabe nada sobre minha filha.
Sísera então abre a mão e dá uma
bofetada forte no rosto de Elian.
Elian se recupera da agressão e
olha para Sísera.
ELIAN
Débora
virá... apenas se Deus mandar. E, se tivermos que morrer... vai ser assim. Eu
aprendi... que não são vocês hazoritas que decidem o nosso futuro.
Sísera ri bastante.
SÍSERA
Sou
justamente eu quem decide o futuro de todos vocês. Decido quem vive e quem
morre. E acabei de decidir que todos vocês serão chicoteados.
Sísera
se afasta e faz sinal para o soldado, que pega um chicote e sai distribuindo
chicotadas em todos. Gritos de dor... Sama tenta se proteger com o rosto entre
os braços...
CENA
34: EXT. QUEDES – RUA – DIA
Jaziel, carregando a chorosa
Melissa, se aproxima de Baraque, agachado, arrasado e sozinho no meio da rua.
JAZIEL
Ei,
amigo... Você...
Baraque o olha sem entender.
JAZIEL
Você... não
é aquele rapaz... que uma vez foi em Betel atrás de um tesouro...
Baraque se levanta.
BARAQUE
Sou eu.
Baraque.
JAZIEL
Lembra-se
de mim? Jaziel. Amigo de Débora.
Baraque arqueia as sobrancelhas.
BARAQUE
Mesmo?
JAZIEL
Sei que não
é o melhor momento para isso, mas... Estou há dias aqui e só agora te vi...
Precisamos nos unir contra isso.
BARAQUE
Como? Para
quê? Já aconteceu...
Nisso, um cavalo entra ali na
cidade. Algumas pessoas se assustam, mas é apenas o mensageiro vindo de Betel.
MENSAGEIRO
Baraque,
filho de Abinoão! Baraque!
BARAQUE
Aqui!
O mensageiro o localiza e se
aproxima; desce do cavalo e vai até eles.
MENSAGEIRO
Baraque...
A juíza Débora o chama. Ela quer a sua presença imediata em Betel.
BARAQUE
A juíza?!...
Impressionado,
Baraque olha para Jaziel...
CENA
35: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
O dia cai, a noite passa e chega o
dia seguinte.
Muita gente está ali perto da tenda
de Débora... Então o mensageiro, acompanhado de Baraque, se aproxima. Todos os
olham com certa curiosidade.
Ao nota-los, Débora para e os espera.
MENSAGEIRO
Senhora,
eis aqui Baraque, filho de Abinoão.
Débora encara Baraque com uma
expressão séria.
BARAQUE
Senhora Débora...
Há quanto tempo.
Débora não responde, apenas o
encara.
BARAQUE
Senhora...
O que fiz de errado para que me olhe dessa forma?
DÉBORA
Porventura
o Senhor Deus de Israel não deu ordem a você dizendo: “Vá, Baraque, e leve
gente ao monte Tabor. Tome contigo dez mil homens dos filhos de Naftali e dos
filhos de Zebulom”?
Baraque arregala os olhos e empalidece.
DÉBORA
“E, no
ribeiro de Quisom, levarei a ti Sísera, capitão do exército de Jabim, com os
seus carros e com a sua multidão; e o darei na tua mão”.
BARAQUE
(impressionado)
Senhora!... Foi... exatamente isso. Porém... não posso fazer isso sozinho. O
povo não sabe quem eu sou, não confiarão em mim para colocarem suas vidas em
risco contra o exército mais poderoso de que já ouviram falar.
DÉBORA
Se Deus te
mandou, apenas faça!
BARAQUE
Não... Não
dessa forma.
Débora franze a testa.
BARAQUE
Se for
comigo, irei. Porém, se não for comigo... não irei.
DÉBORA
Baraque,
Deus não me mencionou! A missão é sua! Vá, obedeça a Deus!
BARAQUE
O povo
confia em você, Débora! Se for junto, eles se sentirão mais fortes e mais confiantes!
DÉBORA
A fé em
Deus deveria bastar! Se Ele mandou fazer isso é porque estará conosco nessa
batalha.
BARAQUE
Débora...
Por favor...
Débora então faz que sim.
DÉBORA
Muito bem,
Baraque. Muito bem. (respira fundo) Certamente irei com você, porém não
será tua a honra pela jornada que fará. Pois à mão de uma mulher o Senhor
entregará Sísera.
BARAQUE
Você?...
Débora o olha por alguns segundos,
então se afasta, olha para todo o povo que está ali e anuncia a todos o que
Deus mandou Baraque fazer e o que eles farão.
HOMEM
Mas nós não
sabemos lutar, Débora!
DÉBORA
Deus é quem
lutará essa guerra por nós! Paus e espadas rústicas serão como a própria mão do
Senhor!
O povo conversa entre si.
DÉBORA
Vocês todos
não confiam em mim?!
POVO
Sim!
DÉBORA
Pois devem
confiar 70 vezes 7 mais em Deus, que é Quem nos dará a vitória!
O povo parece ficar um pouco mais
confiante. Débora vira para Baraque.
DÉBORA
Vamos. Partiremos
para Quedes e convocaremos as tribos de Naftali e Zebulom. A hora de enfrentarmos
nossos opressores chegou.
Baraque faz que sim. No semblante
determinado de Débora, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No penúltimo capítulo: Elian, Sama e os outros hebreus sequestrados
são humilhados em Hazor. Débora e
Baraque reúnem 10.000 homens. Sísera convoca todo o seu exército e avança
contra os hebreus. A batalha final entre o bem e o mal.
Obrigado pelo seu comentário!