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Lar Doce Lar - Capítulo 11



*Lar doce Lar*
*Capítulo 11*
*Baseado no livro De Volta Para Casa de Karen White*
...


Helena estava no sótão da casa. Fazia muito tempo que não estava ali para visitar seu passado. Bem cansada, ela abriu um a tampa de um baú.
Sam se inclinou sobre o ombro dela.

Sam: Espere, parece pesado. Deixa eu fazer isso.
Sem contestar, Helena saiu da frente e o deixou erguer a tampa.

Helena: Obrigada, Sam. Não sei onde foi parar toda minha força nesses dias.
Ele lhe olhou com carinhosos olhos azuis.
Sam: Joe disse que você ainda está amamentando Amanda. Talvez seja
hora de parar, pra que você possa recobrar as forças.

Helena: Acho que vou. Só estou amamentando de noite agora, mas ela toma mamadeira com o mesmo entusiasmo, então é bem provável que eu pare mesmo.
Sam continuou a olhar ela de perto.
Sam: Há algo mais que não está me contando? Você está dormindo bem?
Ela deu uma risadinha.
Helena: Sam, tenho cinco filhos. A mais nova ainda usa fraldas. Claro que não
durmo o suficiente. Faz parte.
Sam afastou-se um pouquinho.
Sam: Sei. Bem, tente se cuidar.

Helena: Eu sei, e prometo que vou tentar. Mas agora estou mais interessada em saber como você está se sentindo.
Ele esticou o braço dentro do baú e pegou algumas coisas.

Sam: Eu? Estou bem. Por que a pergunta?
Ela tocou a mão dele.

Helena: É com o seu coração que estou preocupada, e com seus sentimentos
por Cassie.
Ele ficou examinando o cadeado do baú um bom tempo.

Sam: Meus sentimentos por Cassie deviam ter sido trancados aqui neste sótão, com o resto destas coisas, há muito tempo. Não são mais relevantes. Ela está noiva, tem uma carreira importante em Nova York e as pessoas
acham que estou quase noivo da Maryane. Cassie e eu somos de dois mundos muito diferentes e temos objetivos diferentes na vida. Acho que continuarei a admirá-la de longe e seguirei com a minha vida.

Ele se agachou e Harriet puxou a manga da camisa de Sam para chamar sua atenção de novo.
Helena: Para alguém que estudou em Yale e Harvard, você consegue ser bem idiota. Do meu ponto de vista, você e Cassie têm muito mais em comum do que pensam. Acho que ela ainda está passando por um choque cultural,
tudo o que precisa é de tempo.  E deve haver uma razão para você ter namorado Maryane durante todos esses anos e nunca ter ficado noivo dela. Pense nisso.

Sam: Cassie nunca soube que eu existia. E agora me pergunto se a Cassie que eu conheci é a mesma. Ela se esforça bastante para nos provar que não é.

Cassie: Mas ela te fez rir quando você não tinha muitos motivos para isso.
Sam suspirou.

Sam: Ela estava sempre fazendo maluquices para chamar atenção, acreditando ser essa a única maneira de fazer as pessoas repararem nela. E a lealdade a você e àqueles que amava. Não se encontra isso em muitas pessoas, e essa combinação é irresistível.

Helena riu alto com uns objetos na mão.

Helena: Eu me lembro desses objetos!
Ao ver o que era, Sam também começou a rir.

Cassie estava no topo da escada do sótão, curiosa, com as mãos na cintura.
Sam se levantou.
Sam: Não acho que deveria usar saltos com seu tornozelo, Cassie.

Cassie: Meu tornozelo está bem. O que vocês estão olhando?

Helena: Ah, nada. Apenas algumas coisas antigas do colégio.
Cassie espiou dentro do baú.
Cassie: O que estava tão engraçado?
Ela olhou para as mãos de Helena, que tampavam a evidência.
Cassie: O que é isso?
Cassie tirou duas bolas brancas da mão de Helena.

Cassie: Nossa... meus... Meus enchimentos de sutiã! Não posso acreditar que alguém tenha guardado isso.
Helena não estava conseguindo esconder sua risada.
Helena: Acho que é coisa da tia Lucinda. Ela não gosta de jogar nada fora.
Sam nem tentou esconder sua alegria.
Sam: Estávamos lembrando quando você, de uma noite para outra, passou de um sutiã tamanho 40 para um 44, no primeiro ano de ensino médio, como se ninguém fosse notar.
Os dois desistiram de qualquer tentativa de esconder o divertimento e soltaram verdadeiras gargalhadas.

Cassie ficou parada por um instante, mas depois começou a chorar de rir com eles.

Quando Cassie se recompôs, deu um cutucão em Helena.

Cassie: Foi tudo culpa sua, sabe. Era constrangedor ter uma irmã mais nova
com seios maiores.

Sam: Ficou parecendo que você tinha pegado uma bola de futebol e enfiado dentro da camiseta.
Os três se curvaram de tanto rir de novo, e Helena sentiu um pouco de sua exaustão diminuir.
Cassie pegou algo do fundo do baú.
Cassie: Meu vestido de rainha kudzu!
Helena estendeu o braço para pegá-lo e Cassie o largou sobre o braço à espera.
Enquanto Cassie vasculhava o baú, ela disse:
Cassie: Eu não usaria isso como modelo para Maddie, se eu fosse você. Acho que o Festival Kudzu não tem a cara dela.

Helena: Eu sei, mas não é só culpa minha. Lucy Spafford é a maior culpada.

Cassie examinou um monte de bonecas Barbies, todas amarradas juntas com elásticos no pescoço, e as jogou no chão do lado de fora do baú.
Cassie: Quem é Lucy Spafford?
Helena suspirou franzindo a testa.
Helena: O carma de Maddie. Desde o começo do ensino fundamental, Lucy faz parte do time de animadoras de torcida e Maddie não. Não seria tão ruim se ela fosse uma menina legal. No entanto, ela fica se exibindo para Maddie, que fica furiosa de ver ela com a saia de animadora. Minha filha jura que isso tudo é por causa da mãe de Lucy, lembra da Dora Cagle? Ela
era a líder do grupo.
Helena colocou o vestido verde sobre o braço e se esticou para pegar as Barbies.

Cassie: Mas o que isso tem a ver com seu vestido kudzu?
Helena se ajoelhou na frente do baú ao lado de Cassie.
Helena: Lucy é a rainha kudzu deste ano. Acho que Maddie  está planejando pegar uma pneumonia no dia da festa para não precisar ver ela no carro alegórico.

Sam: Eu me lembro do ano em que você foi rainha, Helena. Foi quando alguém colocou sutiã e calcinha na Estátua da Liberdade e encheu o chafariz de espuma de banho. Eu ri muito. Mas quando Cassie apareceu de
trás de seu carro alegórico com um porco vestido de kudzu, quase me matei de rir.

Eles continuam vasculhando as coisas.

Sam: Ei, o que é isso?
Sam encontrou uma escrivaninha antiga.
Ele caminhou até Helena e Cassie e a colocou sobre o chão na frente delas, levantando uma nuvem de poeira. Sam apontou para
uma chave presa no trinco.
Sam: Não deve ser muito difícil, não é mesmo?
Cassie se moveu para olhar melhor a placa.
Cassie: “HRM”. Certamente essas iniciais dizem respeito a pelo menos 50 pessoas. Em todas as gerações de nossa família houve um Harry Robert Madison, exceto na nossa. Papai não teve um filho para dar este nome.
Helena interrompeu.
Helena: Eu que o acabei recebendo. É tipo uma versão de Harry.

Distraída, Cassie esfregou a placa.
Cassie: Acho que ele estava esperando uma de nós usá-la.
Ela olhou para Helena.

Cassie: Bom, pode ter pertencido a papai, embora nunca a tenha visto antes. Quer abrir?
Helena fez que não com a cabeça.
Helena: Não, você é a mais velha, pode abrir.
Cassie virou a chave com cuidado e um leve clique soou pelo sótão silencioso. Ela parou antes de abri-la.
Cassie: Eu gostaria que houvesse um pouco mais de mistério até encontrarmos uma caixa de cartas trancada no sótão. Foi um pouco fácil demais, parece que queriam que a achássemos.

Com uma última olhada para Sam e Helena, ela abriu a tampa. Os três espiaram o seu
interior. Espalhados no fundo, havia envelopes selados com letras elegantes na parte da frente. Só podia ter sido uma mulher quem escreveu. No topo do envelope, havia uma velha fotografia, em branco e preto, de um homem e uma mulher diante de um pequeno carro esporte de duas portas.

Com cuidado, Cassie levantou a foto e a mostrou a Helena.

Cassie: Olha, é o papai e seu antigo carro. Essa não é mamãe, tenho certeza.

As duas examinaram de perto a mulher da foto.
Helena pegou a foto e ficou olhando para ela por um momento.
Helena: Com certeza não é mamãe.

Cassie esticou os braços para dentro da caixa e espalhou alguns envelopes que estavam por cima da superfície para ver se encontrava
embaixo outro igual àquele. Todos estavam endereçados ao pai, para aquela casa. Ela checou os carimbos postais, e só encontrou os de Walton, com exceção de um, que veio de Atlanta. Todas as datas estavam entre
1973 e 1974. Ela fez um cálculo mental e ergueu os olhos animada.

Cassie: Essas talvez sejam da mamãe!
Helena pegou a carta e elas ficaram em silêncio enquanto Helena lia.

10 de abril de 1974
Meu querido Tom,
Nossa criança nasceu nesta manhã às 2h38 pesando apenas um quilo e meio, e eu soube, sem o doutor precisar me falar, que ela não estava mais neste mundo. Nosso bebê morreu às 4h10 em meus braços, tendo conhecido apenas amor e segurança naquelas breves duas horas de vida. Esse pensamento me trouxe de certa forma algum consolo, e tenho muita esperança de que traga o mesmo para você. Meu pai tentará fazer com que o bebê tenha um enterro digno, e um dia terei forças para visitar o túmulo. Decidi que seria melhor você não saber se teve uma menina ou um menino, assim seus sonhos com nossa criança terminarão na infância e você não a imaginará se tornando um moço ou uma moça. Contudo, espero que sempre a tenha em seu coração, assim como eu, e lembre-se do amor que compartilhamos e que foi responsável por gerar uma vida humana. Me conformei com o fato de seu coração pertencer a outra pessoa e, mesmo que suas intenções fossem boas ao se oferecer para me transformar numa mulher honrada e ser o pai do meu filho, eu estava ciente de que eu não poderia ficar no meio de sua felicidade. A amargura encontraria o caminho até nossa casa e destruiria todo amor que ali existisse. Prefiro ver esse amor morrer agora do que ver desaparecer aos poucos. Desta forma, posso me agarrar às minhas belas recordações e nunca ter que encarar a perda. Talvez eu seja covarde, ou talvez orgulhosa demais, mas, para a segurança de ambos, essa é a maneira como tudo deve acontecer.
Eu me contentarei em saber que um dia te amei e que esses foram os dias mais felizes de minha vida. Sempre os estimarei. Por favor, não tente me encontrar. Meus pais estão me mandando para Atlanta por dois meses, para visitar alguns parentes, e depois para a Europa, para uma longa viagem. Quando eu voltar, tudo isso fará parte de nosso passado. Você nem precisará me cumprimentar quando me vir passando na rua. Entenderei. Desejo-lhe apenas felicidade e alegria para o resto de sua vida. Te amo.
Para sempre, E.

Helena ficou olhando para a carta com a garganta seca.
Cassie: Nossa mãe se chamava Ana Catarina. Se isso não é dela, então...?

O olhar dela se voltou para a mulher na foto.

Sam: O que é?
Helena pegou a carta.

Helena: Você acha que ele devia ver isto Talvez... saiba de alguma coisa.
Cassie olhou para Sam com uma expressão indecifrável.

Cassie: Vai manter segredo?
Sam: Claro.
Ele pegou a carta de suas mãos e a leu.
Cassie largou o corpo, se encostando no enorme baú.
Sam; Não posso acreditar nisso.
Sam se agachou na frente de Helena e lhe devolveu a carta. Sentindo que tinha invadido a privacidade de alguém, ela colocou rapidamente a carta e a foto no topo da pilha e fechou a tampa da caixa.

Helena se sentou ao lado da irmã.
Helena: É tão triste a parte da morte do bebê, mas mais triste ainda é a história dessa pobre mulher.

Cassie colocou a caixa sobre o colo e a abraçou com força com uma expressão dura no rosto.
Cassie: A mulher dormiu com papai e teve um filho na mesma época em que ele devia estar namorando mamãe. Não consigo sentir pena dela.
Sam passou a mão sobre a caixa de cartas, encostando nos dedos de Cassie.
Sam: Isso foi antes de seus pais terem se casado, o que dá a entender que seu pai era fiel à sua mãe. Essa carta parece mais um prova do quanto ele a amava. Essa “E.”, seja lá quem for, sabia que o que havia entre seus pais era um sentimento verdadeiro e, corajosamente, saiu de cena.
Helena sorriu pálida.

Helena: É até meio romântico, na verdade.

Cassie se virou para ela com um olhar severo.

Cassie: Aposto que acharia romântico ler sobre um triângulo amoroso em que alguém é descartado. Acredite em mim quando digo que não há nada de romântico em ser posta de lado.

Helena sentiu arrancarem o ar de seu pulmão.

Helena: Você tem razão, me desculpa.

Com uma expressão de arrependimento no rosto, Cassie colocou a mãos sobre o braço da irmã.
Cassie: Não, eu que peço desculpas. Não devia ter dito isso. Não quis dizer isso. Só acho que estou um pouco chocada...
Sam se levantou, esfregando as mãos na calça. Com um olhar de reprovação para Cassie, ele se dirigiu a Helena, dando a mão para levantá-la.

Sam: Concordo, vocês acabaram de ter uma enorme surpresa e vai demorar um pouco para se acostumarem. Vocês acham que vão ler o resto das cartas?
Cassie fez uma cara de dúvida.
Cassie: Por quê?
Sam: Bem, essa senhora “E.” mencionou passar por ele na rua, portanto, ela deve ter vivido em Walton. Ou talvez ainda está viva. Não acho que consiga se esquecer disso antes de descobrir tudo. Você costumava ser como um cachorro atrás do osso quando tinha um problema ou alguma coisa para resolver.
Ela o encarou por um momento, então balançou a cabeça devagar.
Cassie: Alguém deveria ler elas, eu acho.
Ela olhou para Helena.
Cassie: Você gostaria de fazer as honras?
Helena fez que não com a cabeça.
Não. Acho que você deveria fazer isso primeiro e depois falar comigo. Mais ou menos como você costumava fazer, sempre me protegendo de algo que pudesse me magoar.

Com uma risada torta, Cassie teve dificuldade em se levantar, ainda agarrada à caixa de cartas.
Cassie: Eu sabia que não devia ter subido até o sótão. Essa casa é como areia movediça, quanto mais tento me livrar dela, mais difícil fica
para sair.
A voz de Sam estava serena, cuidadosamente controlada.
Sam: Com medo, Cassie?
Cassie se virou a tempo de sua irmã perceber o olhar atormentado no rosto dela. Helena se magoou ao vê-la daquele jeito. O que Cassie tanto temia? Será que ela temia se esquecer da pessoa na qual havia se transformado, ou será que ela estava se dando conta de que, na verdade, não havia mudado tanto assim? Ou talvez temesse que as punhaladas que
estava sentindo não fossem no pé, mas no coração...

Cassie passou por Sam sem olhar para ele e seguiu em direção à escada.

Cassie: Não, não estou. Mas estou triste. Como se sentiria se descobrisse que seu pai tinha uma amante antes de se casar com sua mãe?
Ela balançou a cabeça respirando profundamente.
Cassie: Nunca deveria ter subido aqui.
Sam a segurou com a mão.
Sam: Talvez esta seja uma oportunidade para conhecer melhor seu pai. Mesmo agora, que ele já se foi.
Ela se soltou.

Cassie: Esse pedaço dele eu não quero conhecer.
Endireitando os ombros, ela encarou Helena.
Cassie: Fique aqui em cima o quanto quiser. Tenho alguns negócios para resolver.
Helena se recostou no baú, completamente esgotada.
Helena: É bem provável que eu olhe algumas outras caixas antes de parar. Sei como está ansiosa para acabar com tudo isso.
Ela fez um leve aceno e Cassie concordou fazendo um gesto com a cabeça.
Helena olhou a irmã descer a escada com a caixa de cartas no braço e segurando sua corrente de coração de ouro com a outra mão.




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