Júlia
Capítulo 08
Novela criada e escrita por Ramon Fernandes
CENA 01. MANSÃO ASSUNÇÃO. JARDIM. EXTERIOR. NOITE
Continuação imediata do capítulo anterior.
DAVI ENCARANDO LEANDRO, QUE RI. DAVI NÃO ENTENDE.
DAVI — Não entendi o motivo da risada. Eu contei alguma piada?
LEANDRO — Desculpa, meu irmão, mas acho que sim, Davi. (Tenta seriedade) Apaixonado pela Júlia? Davi, isso que aconteceu entre vocês, esse casinho foi a mais de cinco anos.
DAVI — E daí? Você acha que realmente, se fosse um "casinho", como você tá dizendo aí, eu ainda sentiria isso tão forte, como eu sinto?
LEANDRO O ENCARA, SÉRIO. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.
LEANDRO — Você tá tentando arrumar motivo pra não casar/
DAVI — (Por cima/ Tom) Eu já disse que eu não quero casar com a Vitória. Eu só aceitei por pressão do papai, por pressão familiar. Mas você sabe o que eu sinto pela Vitória.
LEANDRO — Cê nunca se amarrou sério em ninguém, meu irmão.
DAVI — (Rebate) Nem você!
LEANDRO SENTE AS PALAVRAS. CONCORDA.
LEANDRO — Mas eu não fico me iludindo com um namoro de adolescência que aconteceu há anos, e vivo isso como se fosse uma verdade absoluta.
DAVI CONCORDA. LEANDRO COLOCA A MÃO EM SEU OMBRO.
LEANDRO — Esquece isso. Você conhece tão bem o nosso pai, como eu conheço. Você sabe que ele não vai desistir de casar você com a Vitória, não sabe? Esquece, Davi! Pro nosso bem!
DAVI O OLHA, PENSATIVO. LEANDRO LHE VIRA AS COSTAS E SAI EM DIREÇÃO A CASA. DAVI FICA ALI, OLHANDO SEU REFLEXO NA ÁGUA NA PISCINA.
M. EDUARDA — (OFF) Inferno! Não pode ser! Tudo de novo na minha vida, não!
CORTA PARA
CENA 02. MANSÃO ASSUNÇÃO. ESCRITÓRIO. INTERIOR. NOITE
ROBERTO EM SUA CADEIRA, ATRÁS DA MESA. MARIA EDUARDA DE PÉ, NERVOSA. LEANDRO ALI TAMBÉM.
M. EDUARDA — Essa empregadinha voltando pra acabar com a nossa vida de novo, não! Voltou pra virar a cabeça do seu irmão!
LEANDRO — Como se alguém precisasse virar a cabeça sem juízo do Davi, mãe.
ROBERTO — Eu já sabia que essa garota tinha voltado, mas eu pensei que ia demorar pra esse encontro acontecer.
M. EDUARDA — (Encara séria) Pensou, Roberto? Pensou? Pensou errado! Você achou mesmo que essa filha do motorista ia ficar a vida inteira em Paris, comendo croissant na beira do Sena? Faça-me o favor, Roberto Assunção!
MARIA EDUARDA BUFA, PASSA A MÃO PELOS CABELOS, MUITO NERVOSA. LEANDRO SENTA-SE NA FRENTE DO PAI.
LEANDRO — Ele ainda é apaixonado por ela. Ele é apaixonado pela Júlia!
ROBERTO PENSATIVO. ENCARA LEANDRO.
ROBERTO — Você sabe que eu só confio em você pra salvar a nossa família do buraco em que estamos, não sabe, meu filho?
LEANDRO — Mas o que o senhor quer que eu faça?
ROBERTO — É simples, Leandro. Eu preciso que você tire a Júlia do nosso caminho. Eu preciso que você afaste a filha do motorista de uma vez por todas da vida do Davi.
LEANDRO — Como eu vou fazer isso?
ROBERTO RESPIRA FUNDO. MARIA EDUARDA OS OLHANDO, EM SEGUNDO PLANO. ATENTA.
ROBERTO — Dê o seu jeito! Eu confio em você, Leandro. Você é a minha única esperança.
LEANDRO PERDIDO COM O APELO DO PAI. EM ROBERTO.
CORTA PARA
CENA 03. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA
MÚSICA: “Subeme La Radio” – Enrique Iglesias ft. Descemer Bueno, Zion e Lennox
TAKES DO RIO AMANHECENDO. DIA A DIA DA CIDADE SENDO MOSTRADO. ÚLTIMO PLANO NA FACHADA DO PRÉDIO DA CONSTRUTORA ASSUNÇÃO.
CORTA PARA
CENA 04. CONSTRUTORA ASSUNÇÃO. SALA DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO. INTERIOR. DIA
MÚSICA SEGUE. SALA AMPLA, JANELÕES ATRÁS DO RECRUTADOR. ALGUMAS MENINAS POR ALI, FAZENDO ENTREVISTAS PESSOAIS.
CORTA PARA CAROL COM O RECRUTADOR. ELA FALA EM OFF. SEMPRE MUITO SORRIDENTE E SIMPÁTICA. O RECRUTADOR A CUMPRIMENTA. ELA AGUARDA POR ALGUNS INSTANTES. O RECUTRADOR ENTRA NA SALA NOVAMENTE, AS MENINAS APREENSIVAS. EM CAROL.
CORTA PARA
CENA 05. CONSTRUTORA ASSUNÇÃO. FRENTE. EXTERIOR. DIA
MÚSICA OFF. CAROL SAI DO PRÉDIO DA CONSTRUTORA, CELULAR NA MÃO. ELA SORRIDENTE.
CAROL — (Cel.) Amor? Consegui, Will! Consegui o emprego de recepcionista na construtora Assunção. Ai, tô tão feliz, amor! Tô sentindo que a minha vida vai mudar!
NELA.
CORTA PARA
CENA 06. MANSÃO BACELAR. ACADEMIA. INTERIOR. DIA
ACADEMIA MONTADA, ÁREA AGRADÁVEL. WILLIAM, EM PRIMEIRO PLANO, CONVERSA AO CELULAR. SORRI, COMEMORANDO A NOTÍCIA DA NAMORADA. EM SEGUNDO PLANO, INGRID NA ESTEIRA, OLHA DE CANTO PARA O PERSONAL. NA BICICLETA ESTÁ GABY, ELA FAZ O EXERCÍCIO, MAS ESTÁ CONVERSANDO AO CELULAR COM ALGUÉM. DIGITA RAPIDAMENTE.
WILLIAM — (Cel.) Coisa boa, meu amor. Tô muito feliz por você. Por nós, né? Tenho certeza que a nossa vida daqui pra frente só vai melhorar.
WILLIAM AINDA AO CELULAR. INGRID PARA A ESTEIRA E SE APROXIMA DE GABY.
INGRID — Essa namorada do William não se toca? Ligando no meio do trabalho do rapaz. Coisa desagradável!
GABY — Mãe, por favor, né? Agora vai implicar com o rapaz no celular, falando com a mulher? Me poupe, dona Ingrid.
GABY VOLTA SUA ATENÇÃO AO CELULAR. INGRID INCOMODADA AO VER WILLIAM FELIZ COM A NAMORADA EM LIGAÇÃO. VOLTA PARA GABY.
INGRID — Você também, Gabriela, o que tanto faz nesse celular?
GABY — Mãe, não enche. Tô conversando. Posso?
INGRID — Conversando com quem? Posso saber?
GABY — (A encara) Um amigo!
INGRID — (Sorri) Amigo? Hum, sei. Quem é esse amigo?
GABY — A senhora não conhece.
INGRID PEGA O CELULAR DA MÃO DE GABY E VAI FUÇAR SUA CONVERSA.
GABY — (Tom) Mãe! Devolve meu celular! Que falta de educação!
INGRID — Gabriela, eu sou a sua mãe! Quero só ver com quem você anda conversando.
INGRID MEXE NO CELULAR DELA. GABY PARA O EXERCÍCIO, E SAI DA BIKE, MUITO OFEGANTE E CHATEADA.
GABY — Devolve!
INGRID APONTA A TELA PARA GABY. FAZ UMA EXPRESSÃO INCOMODADA.
INGRID — É esse pretinho que você tá conversando, Gabriela?
GABY — (Chocada) O que a senhora falou?
INGRID — É isso que você ouviu. É com esse mulatinho que você tá conversando?
GABY OLHA PARA A MÃE, EM UM MISTO DE REVOLTA E DECEPÇÃO.
CORTA PARA
CENA 07. GRAND BISTRÔ. FRENTE. EXTERIOR. DIA
O CARRO DE JULIANO VEM ESTACIONANDO EM FRENTE AO GRAND BISTRÔ. ELE ABRE O PORTA-MALAS E VAI TIRANDO ALGUNS INSUMOS PARA O RESTAURANTE. NA CALÇADA EM FRENTE, VEM PASSANDO HELENA. ELA OLHA JULIANO, SORRI, SE APROXIMA.
HELENA — Olha se não é você de novo.
JULIANO — (Sorri) Oi, Helena. Tudo bem?
HELENA — Tudo sim, e você?
OS DOIS TROCAM DOIS BEIJINHOS, SE CUMPRIMENTANDO.
HELENA — Nós agora estamos sempre nos encontrando. Engraçado.
JULIANO OLHA PARA A FACHADA DO GRAND BISTRÔ. HELENA RI. ELE TAMBÉM.
HELENA — Cabeça a minha. Você é o dono, é claro que estaria aqui.
JULIANO — É. Eu sempre tô por aqui mesmo. Quer dizer, nem sempre, mas na maioria das vezes sim.
HELENA CONCORDA. ESTÁ TÍMIDA. JULIANO SORRI.
JULIANO — E você?
HELENA — Eu tava indo pra casa. Você sabe que o apartamento do meu irmão tá logo ali na frente, né.
JULIANO — É verdade. Eu tenho que aparecer lá pra um café. Mas pensando bem... Eu tenho uma ideia até melhor.
HELENA — Ideia?
JULIANO — Quero tomar um café com o seu irmão, um chopp, claro, mas... Helena, posso te fazer um convite?
HELENA — Um convite? Como assim, um convite?
JULIANO — Quero conhecer melhor a irmã de um grande amigo meu. Afinal, eu só tinha ouvido falar de você. O que é muito bizarro, porque eu conheço o seu irmão a tanto tempo.
HELENA — Ah, Juliano... Eu aceito.
HELENA DÁ UM SORRISO. JULIANO SORRI MEIO BOBO.
JULIANO — Pode ser hoje? Eu faço um jantar pra gente aqui no bistrô mesmo. E nem precisa se preocupar, porque o movimento hoje é bem baixo. Pode ser?
HELENA PENSA UM INSTANTE. SORRI.
HELENA — Convite aceito.
JULIANO — Às 8?
HELENA — Às 8!
OS DOIS SORRIEM UM PARA O OUTRO. NELES.
CORTA PARA
CENA 08. MANSÃO BACELAR. SALA. INTERIOR. DIA
INGRID VEM ANDANDO NA FRENTE. GABY ATRÁS, REVOLTADA.
GABY — Eu não posso acreditar que a senhora tem esse nível de preconceito. Eu tô chocada!
INGRID — Chocada com o que, hein, Gabriela? (Séria) Ou agora vai me dizer que esses pretinhos, que vivem de cota em universidade, tem o mesmo nível que nós? Que você, minha filha!
GABY — A senhora só pode tá delirando/
INGRID — (Tom) Delírio? Delirando tá você, Gaby! Essa gente é perigosa, Gabriela! Essa gente tá por aí assaltando, traficando, fazendo as maiores calamidades desse país!
GABY CHOCADA OLHANDO PARA A MÃE.
INGRID — E você é uma Bacelar! É filha de uma das melhores famílias desse país. Se envolvendo com gente desse nível/
GABY — Nível? A senhora tá falando de nível? E que nível você tem pra falar do Bruno, ou de qualquer pessoa?
INGRID — Bruno? É esse o nome do pretinho?
GABY OLHA COM RAIVA PARA INGRID.
GABY — A senhora me dá nojo.
INGRID — (Ri) O quê? Nojo? Ah, você tem nojo da sua mãe?
GABY — Olha o que você tá falando. Isso tudo é tão absurdo. Tão baixo... Sinceramente? Eu prefiro ficar quieta, se não, eu vou vomitar no seu chão tão digno, Ingrid Bacelar!
GABY SOBE AS ESCADAS CORRENDO. INGRID FECHA A CARA.
INGRID — Imagina se eu vou deixar a minha família se misturar com esse tipo de gente. Preto... Nem gente isso é! Raça nojenta!
FECHA NELA.
FADE OUT/
FADE IN/
CENA 09. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA
MÚSICA: "Spending My Time" – Roxette
A CIDADE ANOITECENDO. TRÂNSITO FICANDO MAIS ACIRRADO NA HORA DO RUSH. AVENIDAS MOVIMENTADAS EM FIM DE TARDE. AS PRAIAS ESVAZIANDO AOS POUCOS, SURFISTAS APROVEITAM O FIM DO DIA NAS ONDAS. ÚLTIMOS TAKES NO BAIRRO DA URCA.
EM UMA DAS AVENIDAS, O CARRO DE JÚLIA VAI ACELERANDO. ELA NA DIREÇÃO, ÓCULOS ESCUROS. SENTINDO O VENTO NO ROSTO.
CORTA PARA
CENA 10. GALPÃO. FRENTE. EXTERIOR. DIA
JÚLIA EM FRENTE AO GALPÃO ONDE ESTÁ SENDO REFORMADO PARA SEU ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. ELA ANALISA A REFORMA, FALA COM ALGUNS ENVOLVIDOS NA OBRA. DÁ ALGUNS PITACOS NA FACHADA. ELA SORRI, SATISFEITA PARA A REFORMA. MÚSICA OFF.
CORTA PARA JÚLIA PRÓXIMA DO CARRO, AO CELULAR.
JÚLIA — (Cel.) Tô, pai. Tô aqui no galpão, vim dar uma olhada e ver como tá tudo. Ai, pai, tá ficando tudo tão lindo. Eu tô tão ansiosa. Da próxima vez, o senhor vem comigo. Não tem desculpa!
CORTA PARA
CENA 11. MANSÃO ASSUNÇÃO. JARDIM. EXTERIOR. DIA
FELIPE PRÓXIMO DO CARRO, TERMINANDO A LAVAGEM. NEM PERCEBE QUE DAVI VEM SE APROXIMANDO DALI, AO VER FELIPE NO CELULAR, O ESPREITA.
FELIPE — (Cel.) Prometo que da próxima vez, eu vou com você. Mas Júlia, você não acha que esse galpão é muito longe do flat, minha filha?
DAVI, EM SEGUNDO PLANO, BEM PRÓXIMO ESCUTANDO A CONVERSA.
DAVI — Flat...
FELIPE — (Cel.) O flat é aqui na Barra, o galpão na Urca. É, eu sei que no Rio, nada é tão longe, filha. Mas com esse trânsito. (Ri) É verdade, pega a Atlântica e tá logo lá. Então tá certo, filha. Escuta, Júlia, me passa o endereço certinho, pra eu pedir pro Carlinhos, segurança daqui quando sair, passar aí e deixar um brinquedo que comprei pro meu neto.
FELIPE AO CELULAR. DAVI ATENTO, OUVINDO O ENDEREÇO.
CORTA PARA
CENA 12. CASA DE BRUNO. SALA. INTERIOR. NOITE
BRUNO CHEGA DA RUA. VÊ A CASA SILENCIOSA, BREU TOTAL. ELE OLHA EM TORNO, LIGA AS LUZES E VAI PARA O INTERIOR DA CASA.
CORTA PARA
CENA 13. CASA DE BRUNO. COZINHA. INTERIOR. NOITE
BRUNO ENTRA NA COZINHA E VÊ TEREZA CAÍDA NO CHÃO. EXPRESSÃO DE PAVOR.
BRUNO — (Tom) Mãe!
BRUNO CORRE PARA ACUDIR TEREZA. ELE A PEGA NO COLO. EM TEREZA DESACORDADA.
CORTA RAPIDAMENTE PARA
CENA 14. HOSPITAL. CONSULTÓRIO MÉDICO. INTERIOR. NOITE
O MÉDICO ATENDE TEREZA. ELA E BRUNO, SENTADOS DE FRENTE PARA ELE. BRUNO MUITO NERVOSO.
BRUNO — Então, doutor. O que a minha mãe teve afinal?
MÉDICO — Bruno, entenda que a sua mãe vem de um estado grave com a doença dela. Tem se agravado nos últimos tempos. E, infelizmente, hoje, no estágio que o câncer tá instalado, é muito complicado fazer uma cirurgia.
TEREZA — Eu nunca quis fazer, doutor/
BRUNO — (Por cima) De teimosa, doutor. Mas então, como nós vamos fazer?
MÉDICO — Desculpa, Bruno, mas não tem muito o que fazer.
TEREZA — Como assim, doutor? Eu vou morrer, é isso? É isso o que o senhor tá querendo dizer?
CLOSES ALTERNADOS. EM TEREZA.
CORTA PARA
CENA 15. GRAND BISTRÔ. SALÃO. INTERIOR. NOITE
MÚSICA: “Não Me Deixe Só” – Vanessa da Mata
MOVIMENTO FRACO, POUCAS MESAS COM ALGUMAS POUCAS PESSOAS, UNS CASAIS. CLIMA AGRADÁVEL. GARÇONS CIRCULANDO PELO SALÃO, SERVINDO. JULIANO PRÓXIMO DO BALCÃO DA RECEPÇÃO. OLHA IMPACIENTE O RELÓGIO DE PULSO. INSTANTES. HELENA CHEGA NO BISTRÔ, LINDA, VESTIDO À ALTURA DO JOELHO, CABELOS SOLTOS, BEM MAQUIADA. JULIANO SORRI PARA ELA, QUE RETRIBUI. ELE SE APROXIMA.
JULIANO — Achei que não viesse mais.
JULIANO E HELENA SE CUMPRIMENTAM COM UM BEIJO NO ROSTO.
HELENA — Eu não faltaria nesse jantar por nada.
ELA O ENCARA, SORRIDENTE, APAIXONADA.
CORTA PARA
CENA 16. HOSPITAL. CONSULTÓRIO MÉDICO. INTERIOR. NOITE
Continuação imediata da cena 14.
TEREZA CHORA NOS BRAÇOS DE BRUNO. O MÉDICO SENSIBILIZADO.
MÉDICO — O tratamento é muito doloroso, é exaustivo. As sessões de quimioterapia, radioterapia costumam ser muito severas. Pra quem faz o tratamento, e pra família.
BRUNO — Eu quero que possa ser feito tudo pra salvar a minha mãe.
TEREZA — Eu não quero morrer. (Chora) Eu não quero deixar o meu filho sozinho. Eu só tenho ele, doutor. Eu só tenho o meu Bruno.
BRUNO — Mãe, calma!
TEREZA TEM UMA CRISE DE CHORO. BRUNO A AMPARANDO.
MÉDICO — Dona Tereza, o que é preciso agora é ter fé. Fé é muito importante nesse momento. É um alento.
BRUNO — Mãezinha, a gente vai fazer de tudo pra sair dessa, tá bom? Não se desespera, dona Tereza. Mostra aquela mulher guerreira que a senhora sempre foi.
TEREZA — Eu tô desesperada, filho. Eu não quero morrer/
BRUNO — (Por cima) Ei, você não vai morrer! Ouviu bem? Não vai!
OS DOIS SE ABRAÇAM, MUITO COMOVIDOS. EM BRUNO, PREOCUPADO COM A MÃE.
CORTA PARA
CENA 17. GRAND BISTRÔ. SALÃO. INTERIOR. NOITE
MOVIMENTO MENOR, MÚSICA AO FUNDO, DANDO UM CLIMA PARA O JANTAR. HELENA E JULIANO EM UMA DAS MESAS, ELES COMEM, ENQUANTO CONVERSAM.
JULIANO — Confesso que fiquei muito feliz por ter aceito o meu convite. Eu queria realmente te conhecer melhor.
HELENA — (Sorri) Ah, é? Eu também queria te conhecer melhor... Quero conhecer.
MÚSICA: “Heaven” – Kylie Juliano
JULIANO PEGA NA MÃO DE HELENA SOBRE A MESA.
JULIANO — É incrível como esse tempo todo, você ali, a garota do lado, irmã de um dos meus melhores amigos, e eu nunca te vi. Nunca nos cruzamos.
HELENA — Eu sempre fiquei muito presa em casa. O velho machismo, sabe? Os meninos saem, circulam, andam com os amigos, e as meninas em casa, quietas. Lá em casa, era muito assim. Depois que eu fiquei mais velha, fui pra São Paulo. Estudei lá, morei com uma tia. E só agora eu voltei pro Rio, pra concluir o curso. Pra trabalhar, afinal, na cidade onde eu nasci. Nada me dá mais prazer que trabalhar onde eu nasci, fui criada. Amo essa cidade.
JULIANO A ENCARA, COMEÇA A RIR. HELENA COLOCA A MÃO NO ROSTO, CONSTRANGIDA.
HELENA — Eu falo demais, né?
JULIANO — Não! Eu só tô rindo de como o destino é engraçado.
OS DOIS FICAM EM SILÊNCIO. JULIANO TOCANDO NA MÃO DE HELENA. CLIMA ROMÂNTICO ENTRE ELES.
HELENA — O jantar tava uma delícia, parabéns!
JULIANO — Obrigado. Mérito também dos meninos da cozinha. Eles são a alma desse bistrô. Eu só levo a fama.
OS DOIS RIEM. JULIANO FAZ SINAL PARA UM GARÇOM.
JULIANO — Marquinhos, traz pra gente aquela Cheesecake com frutas amarelas?
GARÇOM — Pra já, chefe!
O GARÇOM SAI. HELENA ENCARANDO JULIANO.
HELENA — Acertou. Cheesecake é uma das minhas sobremesas favoritas. Só não como mais do que posso pra não virar um balão.
JULIANO — Ficaria linda do mesmo jeito.
HELENA SORRI PARA ELE. JULIANO RETRIBUINDO.
CORTA PARA
CENA 18. FLAT DE JÚLIA. SALA. INTERIOR. NOITE
MÚSICA OFF. JÚLIA SENTADA NO SOFÁ, ESTÁ NO NOTEBOOK. CAMPAINHA TOCA. ELA OLHA, SURPRESA PARA A PORTA. LEVANTA E ATENDE. CÂM REVELA DAVI, EM SUA FRENTE. ELE VISIVELMENTE EMBRIAGADO.
JÚLIA — (Surpresa) Davi?! Oque você tá fazendo aqui? Como você me encontrou?
DAVI — Júlia... Eu vim pedir... Implorar pra você. Fica comigo!
CLOSES ALTERNADOS. DAVI IMPLORANDO. EM JÚLIA COMPLETAMENTE ATORDOADA.
CORTA PARA
FIM DO CAPÍTULO 08
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