CAPÍTULO 05
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Capítulo 06 + Capítulo 07 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: EXT. BELÉM – RUA – NOITE
Tani e Noemi vem caminhando, já próximas à casa dessa.
NOEMI— (sorrindo) Muito obrigado, viu Tani, por me fazer companhia hoje.
TANI— Achou que minha companhia sairia de graça, menina? 50 moedas de prata, pode ir passando.
Noemi ri e Tani também em seguida.
TANI— Não há de quê, Noemi. É sempre bom fazer novas amizades. No que eu puder ajudar na união de você e Elimeleque, farei com muito gosto!
NOEMI— Obrigada...
TANI— Mas se posso dar uma sugestão... Acho que você deveria ir ao passeio mesmo que Elimeleque não consiga realiza o tal desafio.
NOEMI— Ah, Tani, me desculpe, mas... onde ficaria minha palavra? Se o Elimeleque quer sair comigo, então que se esforce e demonstre isso na prática.
TANI— Às vezes você quase consegue derrubar minha ideia de que está completamente apaixonada por ele. Mas é só “quase”, mesmo.
NOEMI— Ah, você é quem está dizendo--
TANI— (interrompendo) Não adianta negar, minha amiga Noemi, eu vejo em seus olhos. (pequena pausa, Noemi um pouco constrangida) Mas não se preocupe. O coração de Elimeleque é todo seu, e por isso sei que ele vai fazer tudo que estiver ao seu alcance pra cumprir o desafio e ter o passeio com você.
Elas chegam à porta da casa de Noemi.
NOEMI— Bom desafio pra ele...
Tani ri e abraça Noemi.
TANI— Shalom.
NOEMI— Shalom, Tani.
Tani sorri e vai embora. Noemi a observa alguns segundos e entra em casa.
CENA 2: INT. CASA DE NOEMI – SALA – NOITE
Noemi dá de cara com Nina e Zaira, ansiosas, postas à mesa.
NOEMI— Shalom.
Noemi fecha a porta e as duas levantam-se animadas.
ZAIRA— E então, Noemi? Como foi o jantar com o rapaz galante?
NOEMI— Foi... bom. Descobri que ele se chama Elimeleque...
NINA— Sim, minha filha, mas deve ter tido algo mais, algo... especial...
NOEMI— Especial? Não, não... Foi normal.
NINA— Normal?...
ZAIRA— Noemi, por favor... O rapaz é um galante, senhora Nina, deve ter tratado sua filha muitíssimo bem.
NOEMI— E o papai? Onde está?
NINA— Seu pai... foi dar uma volta...
NOEMI— A essa hora?
ZAIRA— Ele... Ah, Noemi, sim, sim, mas não tente desviar do assunto, não. Conte-nos mais sobre esse jantar.
Noemi se larga em uma das cadeiras.
NOEMI— O que mais querem saber?...
ZAIRA— Não sei, você é quem estava lá. Você sabe o que nos contar.
NOEMI— Bom, eu... deixe-me ver... Ele me ofereceu um presente.
NINA— Que presente?!
NOEMI— Uma flauta, algo assim... um instrumento de música.
ZAIRA— E onde está a flauta?
NOEMI— Eu recusei.
ZAIRA— Você re/ O quê?!
NOEMI— E o que eu podia fazer? Não sei tocar flauta.
NINA— Não interessa, minha filha... O que importa é a intenção! Elimeleque certamente adquiriu a flauta de coração. Ainda que não saiba tocar, você deveria ter aceitado, mostrado a ele que—
NOEMI— (interrompendo) Mostrado a ele o quê, mãe?! Que os sentimentos dele são correspondidos? A senhora em algum momento me perguntou se eu realmente o correspondo?
ZAIRA— Se soubesse como está claro...
NOEMI— Mas eu não disse, disse?! Não. E se querem saber mais, ele também me convidou para um passeio amanhã à noite. Porém eu disse que vou apenas, e tão somente apenas se ele convencer o senhor Rishon a comprar um de seus produtos.
NINA— Você fez o quê?!
ZAIRA— Menina... Ao invés de facilitar a vida do rapaz você está é complicando-a!
NOEMI— Elimeleque que se vire...
NINA— Que ele não desista com tantas condições, desafios, obstáculos... Você sabe na pele que a vida não é fácil pra que possamos nos dar ao luxo de ter caprichos!
O semblante de Noemi assume de uma vez a raiva. Devagar ela põe-se de pé, encarando a mãe.
NOEMI— (furiosamente contida) Não é porque sou uma sardenta malvista por quase todo mundo que sou obrigada a aceitar o primeiro que cai na minha frente!
No mesmo instante Noemi vira as costas e sobe a escada pisando duro.
NINA— Filha!...
Noemi a ignora e some.
NINA— (aflita) Ai, Zaira...
CENA 3: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE ELIMELEQUE – NOITE
Confuso e assustado, Neb encara Tamires.
NEB— Resposta? Mas que resposta eu deveria--
TAMIRES— (interrompendo) Que aceita me pedir em namoro, oras. Ou... que não, mas essa não é uma opção agradável.
NEB— Mas moça, eu/
TAMIRES— (interrompendo) Tamires! Eu me chamo Tamires. E você?
NEB— Neb...
TAMIRES— (encantada) Neb. Que lindo...
NEB— Muito bem, Tamires. Eu não posso pedi-la em namoro, eu--
TAMIRES— (interrompendo) Por que não?!
NEB— É tudo repentino! Eu mal a conheço!...
TAMIRES— Ah, meu querido, você já me conhece o suficiente, sim. Há anos não pisa em Belém, mas já me viu mais do que qualquer um aqui.
NEB— Não entendo...
TAMIRES— Você me viu nua, Neb! Acorda! Aqui, na sua frente. Agora tem que se casar comigo.
NEB— Casar?! Não estávamos no namoro?!...
TAMIRES— Escuta, eu também posso fazer um escândalo aqui. O que será que pensarão de um forasteiro que forçou uma inocente moça a entrar em seu quarto e ficar nua na sua frente?...
NEB— Isso é mentira!
Tamires sorri.
TAMIRES— É mesmo?... Mas não se preocupe, eu não farei nada disso. Ao menos por enquanto...
Tamires começa a rodeá-lo devagar.
TAMIRES— Você vale muito a pena para ser perdido em um joguete como esse, um recurso de último caso. Eu entendo o seu lado, e por isso vou lhe dar o tempo necessário.
Ela para de frente para ele.
TAMIRES— Poderá pensar com calma, Neb. Eu deixo.
Ela então beija a bochecha do rapaz e volta a olhá-lo nos olhos, bem próximos. Em seguida ela enche seu rosto de mais beijos.
CENA 4: INT. CASA DE NOEMI – QUARTO DE NOEMI – NOITE
Sobre o peitoril da janela, uma vasilha com água. Noemi enche as mãos e lava o rosto. Quando as gotas param de pingar, ela encara seu reflexo no líquido. Então começa a chorar encarando a cidade.
A porta se abre devagar. É Nina, que, aflita, entra com cautela.
NINA— Filha... Posso entrar?
Ao perceber a mãe, Noemi disfarça as lágrimas com mais água no rosto.
NOEMI— Se for pra reforçar a sua ideia de agora pouco e se é pra ser sincera, é melhor que não entre.
NINA— Não, Noemi, não é pra nada disso...
Nina entra e encosta a porta.
NINA— Eu vim me desculpar com você.
Noemi seca o rosto e vira para sua mãe.
NOEMI— Estou ouvindo...
Nina se aproxima.
NINA— Filha, eu peço desculpas se me fiz entender mal. (começa a chorar) Eu te acho linda, desde que era apenas uma coisinha desse tamanhinho nos meus braços...
Noemi recomeça a chorar, dessa vez sem esconder.
NINA— Não existe justificativa para as pessoas falarem mal de você ou fazerem brincadeiras maldosas... As suas sardas são naturais! E ainda haverá de nascer o dia em que elas não serão apenas consideradas normais, mas uma beleza além! Um diferencial, um charme. Talvez Elimeleque simplesmente te enxergou com os olhos do amanhã, te viu como deve ser vista, como verdadeiramente é!
Chorando, Noemi abraça Nina. Por alguns segundos ambas choram. E então se soltam devagar.
NOEMI— Eu te perdoo, mãe, eu te perdoo... Mas você tinha razão. Eu realmente gosto do Elimeleque... Talvez eu tenha me fechado um pouco depois do que o Iago me fez, criado uma resistência... Poderia ser pior não fosse a Promessa feita naquela tarde.
Nina limpa as lágrimas do rosto da filha.
NOEMI— Eu prometo que eu vou mudar... Vou continuar com o desafio porque já está proposto, mas prometo não dificultar mais as investidas de Elimeleque. O que tiver de acontecer, acontecerá... E se a Promessa tiver que ser cumprida por meio dessa união, então assim será.
Nina sorri e abraça a filha.
NINA— Eu te amo tanto, minha filha...
NOEMI— Eu também te amo, mãe...
Nina solta a filha e elas sorriem.
NINA— Agora vem... Sei que já comeu na hospedaria, mas experimente o doce de tâmaras que a Zaira fez...
NOEMI— Tudo bem...
Nina e Noemi saem reconciliadas.
CENA 5: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE ELIMELEQUE – NOITE
Sentado em sua cama, Elimeleque parece ouvir Neb falar enquanto anda pelo quarto. Porém Elimeleque pode também estar perdido em pensamentos.
NEB— ... do jeito que chegou me empurrou, e dizia que tinha que me mostrar algo, e foi simplesmente abaixando as vestes, da forma mais vulgar que você pode imaginar, primo! Ela simplesmente ficou nua na minha frente! Da cintura pra cima não vestia nada!
Elimeleque não reage e Neb percebe e para.
NEB— Primo! Elimeleque!!!
Elimeleque volta a si.
ELIMELEQUE— Oi! Eu, han... E então ela... tirou a roupa na sua frente?
NEB— Você parece não entender a gravidade da situação, Elimeleque. Eu me senti dentro dos causos babilônicos que o Ebede conta ao redor das fogueiras!
ELIMELEQUE— (ainda mentalmente distante) Claro que é grave, primo. Tenha cuidado. Mas agora... eu vou meditar um pouco antes de dormir, tudo bem? Amanhã terei um grande desafio. Shalom.
Elimeleque deita de barriga para cima.
NEB— Rum.
CENA 6: INT. CASA DE NOEMI – SALA – NOITE
Sentadas à mesa, Noemi, Nina e Zaira comem o doce de tâmaras.
ZAIRA— É de fato um grande desafio. Pelo que eu soube, o senhor Rishon usa seu ouro e prata pra comprar apenas comida, e vez ou outra uma veste nova. Mesmo assim é tudo minuciosamente controlado.
NINA— Se Elimeleque conseguir convencê-lo, se tornará o maior comerciante da região. Quem não vai querer comprar produtos que atraíram a atenção até mesmo de Rishon?!
Elas riem. É quando a porta se abre e Absalom, meio sem graça e usando a capa com o rosto descoberto, entra.
ABSALOM— Shalom.
TODAS— Shalom.
ABSALOM— Do que estavam falando?...
ZAIRA— Noemi disse ao rapaz, Elimeleque, que o acompanhará em um passeio apenas se ele fizer uma venda para o senhor Rishon.
ABSALOM— Venda para Rishon?! Ainda que ele consiga tal feito, outra saída com o comerciante, Noemi?...
NINA— A jovem Tani certamente os acompanhará, Absalom. Assim como fez hoje.
ABSALOM— Rum... Dos males, o menos pior.
NOEMI— Onde você estava, pai? E por que a capa?
ABSALOM— Eu?! Ah... Eu fui visitar meus amigos, Noemi. Você sabe que tenho muitos por aí, ahn... a capa é pra me proteger do sereno.
NOEMI— É que eu nunca vi o senhor usando...
ABSALOM— Nunca viu?... Quem sabe notaria se prestasse mais atenção ao seu velho pai e menos aos viajantes, comerciantes...
NOEMI— (levantando) Ai, meu pai, seu ciumento...
Noemi abraça Absalom, que retribui.
ABSALOM— Agora vou dormir. Tenham uma boa noite. Nina, te espero lá.
ZAIRA— Shalom, senhor Absalom.
Absalom sobe a escada. Nina e Zaira olham para Noemi e dão de ombros.
CENA 7: EXT. BELÉM – PRAÇA – MANHÃ
É bem cedo e há poucas pessoas circulando. Escorado em uma coluna, Elimeleque reflete. Noemi, sorridente, se aproxima por trás dele.
NOEMI— Shalom, senhor comerciante!...
Elimeleque olha, seus olhos brilham.
ELIMELEQUE— Noemi... Chegou cedo.
NOEMI— É a empolgação! Será muito divertido ver você dobrar o senhor Rishon.
ELIMELEQUE— Então já julga a minha vitória.
NOEMI— Vocês não são tão procurados? Estou apenas seguindo as narrativas que pregam.
ELIMELEQUE— “Rishon”... Então esse é o nome do desafio.
Noemi ri.
NOEMI— Pois você tem um dia para cumpri-lo. Acha pouco?
ELIMELEQUE— Pois eu te digo que não precisarei da metade desse tempo.
NOEMI— Hummm... Está confiante, hein...
ELIMELEQUE— Estou apenas inspirado. Sei muito bem pelo quê eu farei isso. Com um propósito forte em mente, não há desafio que prevaleça.
NOEMI— Além de tudo, vejo aqui traços de um poeta... Quero ver isso em prática!
ELIMELEQUE— Pois bem! Onde está o velho Rishon?
NOEMI— (sorrindo) Venha comigo.
Elimeleque determinado.
CENA 8: EXT. BELÉM – RUA – MANHÃ
Noemi guia Elimeleque pelas ruas ainda vazias.
NOEMI— É por aqui.
Eles andam mais um pouco, até que Noemi para a uma certa distância de uma casa com menos decoração que as restantes.
ELIMELEQUE— Por que parou?...
NOEMI— É aquela, a casa do senhor Rishon. Logo ele sairá para resolver seus negócios e você poderá tentar.
ELIMELEQUE— “Tentar”, não. Cumprir.
Noemi, empolgada, ri e olha para a casa de Rishon. Elimeleque, agora fora do campo de visão da garota, muda o semblante, aparentando uma certa preocupação.
CENA 9: INT. HOSPEDARIA – MANHÃ
Os mercadores da caravana desjejuam postos à mesa farta de comida. Ebede ri alto de algo que Neb acabou de lhe contar.
EBEDE— É mesmo um tolo esse Elimeleque! (gargalha) Quem diria que um dos mais promissores rapazes de minha caravana se prestaria a tais humilhações!
Ebede continua rindo.
TANI— Ele está amando, Ebede.
Ebede ri novamente.
EBEDE— Você está apenas reforçando o que eu disse, Tani: Elimeleque é um completo tolo! (ri) Preso nas amarras do amor... Toda essa trabalheira por causa de mulher, perder um dia de trabalho pra isso!... Eu lamento muito por ele... E o pior é que ainda corre o risco de não conseguir cumprir o desafio e perder a amada!
Ebede gargalha.
EBEDE— Agora chega de fofocas, porque temos mais o que fazer! Está na hora de irmos! Vocês todos, comendo rápido! Porque o dia mui longo é!
CENA 10: INT. CASA DE TAMIRES – COZINHA – MANHÃ
Tamires oferece a Maya algo de comer.
TAMIRES— Quer?
MAYA— Não. Na verdade eu quero é entender direito esse negócio com o Neb. Como assim você se mostrou?
TAMIRES— Me mostrei, Maya, me mostrei! Foi isso!...
MAYA— Do jeito que fala parece até uma meretriz...
TAMIRES— Que meretriz o quê, Maya! Fiz por amor, pela atração forte que existe entre ele e eu. Ao invés de passar pelas intermináveis e entediantes etapas que todos insistem em passar, eu as pulei, peguei um atalho e cheguei no mesmo lugar que teria chegado, só que com muito menos tempo. Praticidade, Maya. Para quê dificultar se nós dois sabemos o que queremos?
MAYA— Então você “chegou”? Deu certo?
TAMIRES— Claro que deu! Neb sempre foi interessado em mim, desde que me viu aquele dia na praça. No momento em que pôde me ver despida, então... quase perdeu as estribeiras.
MAYA— Então estão namorando?!
TAMIRES— Não... porque ele, apesar de toda sua atração por mim, prefere... me pedir em namoro em uma ocasião mais... adequada.
MAYA— Ocasião mais adequada... Sei.
TAMIRES— Sim, Maya, é isso mesmo. Ele se importa com essas coisas, é cuidadoso... um moço incrível.
MAYA— Entendo. Nem comigo e o Iago foi assim, “pulando etapas”...
Maya ri, não parece acreditar no que Tamires lhe contou. Tamires a olha, quase como que buscando aprovação.
CENA 11: EXT. BELÉM – RUA – MANHÃ
RISHON abre a porta de sua casa.
NOEMI— Finalmente! Eis aí o senhor Rishon.
Noemi e Elimeleque o observam sair para a rua e pegar uma direção.
NOEMI— Vamos.
Os dois caminham sem perder Rishon de vista. Logo o velho homem faz um gesto grosseiro para um mercador que o intercepta no caminho.
NOEMI— Está vendo como ele ama vocês mercadores?
ELIMELEQUE— Fique aqui, Noemi. Eu vou lá.
Elimeleque olha para Noemi e começa a acelerar o passo.
NOEMI— Elimeleque, espere!...
Ele volta. Noemi pega suas mãos.
NOEMI— Boa venda.
Elimeleque sorri e parte. Noemi continua caminhando, observando o rapaz se aproximar de Rishon mais à frente.
ELIMELEQUE— Senhor!... Senhor, licença! Licença, por favor...
Rishon desconfia.
RISHON— Não quero nada!
ELIMELEQUE— Por favor, senhor, não me entenda mal, quero apenas uma informação!...
Rishon parece aceitar, mas continua caminhando.
RISHON— Que informação?
ELIMELEQUE— O senhor sabe me dizer pra que lado fica a hospedaria da cidade?
Sempre sem parar, Rishon finalmente olha para o rosto de Elimeleque, e de volta para frente.
RISHON— Eu estou indo para lá agora mesmo.
ELIMELEQUE— Pois que ótimo! Podemos ir juntos, então!
Elimeleque e Rishon caminham lado a lado. Mais atrás Noemi os segue tensa.
ELIMELEQUE— Sabe, nas minhas viagens por todas as tribos de Israel, adquiri coisas excelentes, objetos peculiares e outros mais simples, porém de incrível e inimaginável serventia. Acredito que o senhor iria gostar. Tenho óleos perfumados, também.
RISHON— Por que eu iria querer isso?
ELIMELEQUE— Pra estar sempre apresentado, como alguém da aparência do senhor precisa estar.
RISHON— Bobeira. Não quero estar mais agradável aos olhos das pessoas, quero é que elas se afastem, que mantenham distância.
ELIMELEQUE— Então eu posso lhe dar uma das peculiaridades de que falei! Um óleo com o efeito contrário. Sua fragrância é terrível, é feito das piores podridões que existem!
RISHON— Até que não seria má ideia... Não fosse eu que também teria que aguentar o maldito cheiro todo o tempo.
ELIMELEQUE— Tem toda razão, senhor! Então que tal lã de carneiro? Para os narizes! Basta uma bolotinha em cada um e pronto! Não sentirá mais cheiro algum!
RISHON— Não, não, seria penoso respirar.
ELIMELEQUE— Podemos banhá-lo em óleos perfumados! Assim, enquanto todos sentem o cheiro podre, o senhor se mantém pleno com o aroma agradável!
RISHON— Diga-me uma coisa, meu jovem, por que está tão interessado em me presentear? É só por eu o levar até à hospedaria?
Elimeleque fica sem graça.
ELIMELEQUE— Bom... É que... não seria bem um presente, não no sentido que as pessoas costumam usar... Estaria mais para uma troca.
RISHON— Troca? O que você quer em troca?
ELIMELEQUE— Eu lhe dou os objetos que falei e o senhor... me dá... moedas.
Rishon para de andar de uma vez e, raivoso, encara Elimeleque.
RISHON— O quê?! Está tentando me vender?!
De longe, Noemi assiste a cena interessadíssima. Elimeleque fica muito constrangido por ser descoberto daquela forma.
Em Rishon furioso, IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!