CAPÍTULO 12
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Restante do Capítulo 18 + Capítulo 19 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Noemi e Tani chorosas.
TANI— O que será de nós agora, minha amiga? Será que Deus nos condenou à morte?!
NOEMI— Não, não à morte. Se fosse assim, os raios teriam acertado direto nas nossas cabeças. Isso, Tani, é uma prova de fogo... (pequena pausa e ela começa a chorar mais) Mas uma prova dura demais!...
Mesmo também consternada, Tani abraça Noemi em uma tentativa de consolo. Noemi desaba a chorar.
NOEMI— O que vai ser da minha família, Tani?! O que vai ser dos meus filhos?!
TANI— Calma, minha amiga, calma... Vamos ter fé. Precisamos ter fé nesses momentos...
NOEMI— Eu sei... Eu sei...
CENA 2: INT. CASA DE IAGO – SALA – DIA
Sentada e com o rosto escondido nas mãos, Maya chora compulsivamente. Iago abraça sua cabeça, tentando consolá-la. Tamires em volta, olhando preocupada.
IAGO— Oh, meu amor, não chore... Quem dera eu pudesse tirar de você tamanho amargor que lhe aflige...
MAYA— Isso... tinha de acontecer... logo agora!...
TAMIRES— Agora?... O que tem agora, Maya?
Maya tira o rosto molhado e vermelho das mãos e olha para a amiga e para o marido.
IAGO— Diga, meu amor. Por que disse “logo agora”?
MAYA— Porque logo agora... que eu... que eu... que eu--
Ela parece querer recomeçar a chorar.
MAYA— Que eu estou grávida!...
Surpreso, Iago arregala os olhos. Tamires fica chocada.
CENA 3: INT. TEMPLO – QUARTO DAS SACERDOTISAS – DIA
Um grande, confortável e luxuoso quarto. Nele, duas camas com certa distância entre si, assentos acolchoados, mesas com frutas e bebidas, tecidos finos e ouro por todo o aposento. Rute está chegando quando Orfa entra e a alcança.
ORFA— Já coloquei as meninas para dormir. Estavam muito cansadas.
RUTE— Não é? O sol ainda nem tocou os picos dos montes e elas já desabaram...
ORFA— (ri deitando em sua cama) Vou te dizer que estou pensando seriamente em imitá-las.
RUTE— Pena que o sacerdócio nos exige bem acordadas até mais tarde...
ORFA— Rute... “Pena”? Se Myra ou Faruk te ouvem...
Rute se joga em sua cama expirando exausta.
RUTE— Não se preocupe, eu me cuido.
Orfa dá de ombros. Enquanto ela desfruta de sua cama aconchegante, Rute fica pensativa. Pouco depois, ela quebra o silêncio.
RUTE— Aquela menina que se destaca nas provas, a Aylla...
Orfa se espreguiça.
ORFA— O que tem a Aylla?
RUTE— Você sabe de que região do reino ela veio? Quem são seus pais...
Ainda deitada, Orfa se ajeita e olha para Rute.
ORFA— Um servo de Faruk a comprou de um mercador aqui mesmo, na cidade. Ao que parece, ela seria levada, junto a várias crianças, para outras cidades de Moabe e seria vendida como serva.
RUTE— Ou escrava.
ORFA— Ou escrava, é... Essa menina teve uma sorte imensurável. Certamente é abençoada por Aserá.
RUTE— Sorte tem o reino de conseguir uma joia como essa para ser sacrificada aos deuses.
ORFA— Sorte dos deuses... Precisamos ser imparciais na seleção, mas Rute, vou te confessar que acredito já termos a vencedora.
RUTE— (encarando o nada) Tantas habilidades, tanta inteligência, tantos predicados... Com a Aylla, os deuses têm que se dar por satisfeitos.
Orfa a olha com uma leve estranheza.
ORFA— É uma honra para ela. Não é?
RUTE— Sim... Claro que é.
Orfa continua olhando a amiga...
CENA 4: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Elimeleque, Yuri, Malom e Quiliom retornam e entram. Noemi e Tani, tristonhas, os olham.
NOEMI— E então?...
ELIMELEQUE— É a mesma coisa, em todo lugar...
Elimeleque respira fundo.
ELIMELEQUE— Aquilo que falei antes, sobre sairmos de Belém... vai ter de acontecer.
Yuri e Tani o olham surpresos.
TANI— Sair de Belém? Como assim?! Que história é essa, Noemi?!
YURI— Mas meu amigo... Logo você, um homem de fé!... Você precisa ficar para que juntos possamos lutar material e espiritualmente e recuperar a prosperidade de Belém!
ELIMELEQUE— Eu sinto muito, Yuri, mas... o povo teve sua chance. Não posso deixar que minha família padeça pelos pecados dos outros. Como chefe de família eu preciso fazer algo pelos meus. (para Noemi) Meu amor, por favor, arrume todas as coisas. Partiremos antes do sol nascer.
NOEMI— Tudo bem, eu vou arrumar. Mas antes preciso de um ar.
TANI— Noemi...
Noemi levanta, passa por todos e sai. Logo após, Tani a segue. Por fim, todos saem da casa.
CENA 5: INT. CASA DE IAGO – SALA – DIA
Iago está com os olhos arregalados para Maya.
IAGO— Eu... Eu vou ser pai?! Eu vou ser pai!
Felicíssimo, ele pula de alegria.
IAGO— Eu vou ser pai! PAI!!!
Iago abraça Maya e a beija.
TAMIRES— Você tem certeza de que está grávida, Maya?
MAYA— (chorosa) Há várias luas minhas regras não descem e... estou começando a ter enjoos...
TAMIRES— Isso é maravilhoso. Minhas felicitações a vocês!
MAYA— Agradeço, Tamires, mas não acho que há motivos para comemorações ou alegria...
IAGO— Meu amor! Como pode dizer isso?! Desde que nos casamos tentamos ter um filho, e nada! E quando finalmente alcançamos o sonho de nossas vidas... você diz que não há motivo para se comemorar?!
MAYA— (chorando) Sim, Iago! Essa é a pior hora em que isso poderia acontecer! Como essa criança se desenvolverá em meu ventre se não terei comida para sustenta-la?!
Tamires entende e respira fundo.
TAMIRES— Precisamos mesmo fazer alguma coisa... Eu já tenho uma ideia.
IAGO— (ansioso) Que ideia, Tamires?!
Tamires abre a boca, mas hesita.
TAMIRES— Você saberá. Mas preciso contar primeiro para uma outra pessoa.
IAGO— Por que isso? Que pessoa, Tamires?!
TAMIRES— É melhor assim. No tempo certo vocês entenderão.
Iago a olha por um tempo. Então volta o olhar ameno para a esposa, chorosa. Tamires pensativa em sua ideia.
CENA 6: EXT. BELÉM – PRAÇA – CREPÚSCULO
Noemi, Elimeleque, Tani, Yuri, Malom e Quiliom chegam à praça, repleta de belemitas aflitos, desesperados, abatidos, revoltados... Estão em pé, sentados, jogados no chão... Entre esses, Segismundo.
Com olhares que vão de tristeza a seriedade, os seis passam por eles, indo na direção do Ancião, do outro lado da praça.
OS SEIS— Shalom.
ANCIÃO— Shalom...
ELIMELEQUE— O que eles estão fazendo aqui na praça?
ANCIÃO— A maioria está revoltada com Deus. O culpam pelo que aconteceu.
Elimeleque vira de volta para o povo e o observa. Alguns conversam entre si falando rispidamente, apontando para o alto... Elimeleque não se aguenta, dá alguns passos para frente e abre a boca.
ELIMELEQUE— EEEI!!!
Todos param o que estão fazendo e olham para Elimeleque, irritado.
ELIMELEQUE— Povo iníquo! Como podem querer culpar Deus, nosso Senhor, pelo que aconteceu?! Como podem se revoltar contra Ele, uma vez que são revoltosos há muito tempo?! Desrespeitam, não cumprem, traem a confiança, pisam na aliança, e quando recebem o que merecem querem agir assim?!
SEGISMUNDO— Cale a boca!
Enquanto outras respostas mais baixas são ouvidas, Tamires chega na praça e, reconhecendo o grupo de Noemi, se aproxima observando.
ELIMELEQUE— Segismundo... Eu não quero conflito, ainda mais com a situação em que estamos. Mas vocês todos deviam é se arrepender! Cair sobre o chão, rasgar suas vestes e orar a Deus!
SEGISMUNDO— Então por que você mesmo não faz isso?! Ou se acha superior a nós todos?!
ELIMELEQUE— Pode ter certeza de que farei isso sim! Vou rogar a Deus assim como venho fazendo há muito tempo! Porém, não vou mais ficar nessa cidade. Vou embora, para que minha família não pereça e possa ser salva.
Vários ali ficam surpresos e os murmúrios se espalham. Um homem questiona Elimeleque.
HOMEM— Você vai abandonar Belém quando ela mais precisa de você, um dos mais prósperos?!
ELIMELEQUE— Minha esposa Noemi, eu... Nós alertamos vocês. Mas não posso deixar que ela e meus filhos paguem por pecados que eu sei que eles não cometeram.
O povo volta a falar entre si e se dispersa. Segismundo encara Elimeleque, até que dá meia volta e vai embora. Passa por Tamires, que o acompanha com o olhar. Ela olha para Elimeleque de novo e, por fim, resolve ir por onde foi Segismundo.
Elimeleque olha para o Ancião.
ELIMELEQUE— Shalom...
ANCIÃO— Shalom.
Elimeleque e Noemi, de mãos dadas, saem na frente, seguidos de Tani, Yuri, Malom e Quiliom.
CENA 7: EXT. BELÉM – BECO – CREPÚSCULO
Segismundo vem caminhando. De repente, Tamires sai de outro beco e o surpreende.
SEGISMUNDO— Que isso, mulher?! Quer me matar?!
TAMIRES— Não tenha medo... Não vou lhe fazer mal algum.
SEGISMUNDO— Rum, nem poderia...
TAMIRES— Mas tem algo que eu posso fazer, e muito bem.
SEGISMUNDO— Ah, já entendi... Não sabia que havia de vocês aqui em Belém--
TAMIRES— (interrompendo) Está enganado, não sou nenhuma prostituta! Eu me referia a outra coisa, bem diferente, e muito mais importante nesse momento.
SEGISMUNDO— Do que você está falando, mulher?!
TAMIRES— Eu tenho a solução para sobrevivermos durante essa fome que acaba de chegar.
SEGISMUNDO— Ah, é mesmo...
TAMIRES— Sim.
SEGISMUNDO— Então diga...
Tamires sorri para ele.
SEGISMUNDO— Vamos, mulher, diga.
TAMIRES— A minha solução, que é o melhor que podemos fazer nesse momento, é criar um grupo de homens fortes e vigorosos, para que possamos apanhar qualquer resto que tenha sobrevivido a esses malditos raios. Ainda que estejam em posse de alguém.
SEGISMUNDO— Roubar.
TAMIRES— “Sobreviver” é a palavra.
SEGISMUNDO— Mas é óbvio que agora as pessoas começarão a roubar umas das outras, eu também vou.
TAMIRES— Sim, mas fazer isso em grupo é mais seguro. O povo está sensível... Ao ouvir falar desse grupo, terão medo. E sua fragilidade pode nos dar ainda mais vantagem. E caso surjam justiceiros que passem a nos caçar, se preciso for soltamos os menos valiosos para ser abocanhados e fugimos vivos.
Segismundo pensa enquanto ouve. Por fim, dado o seu semblante, parece interessado.
SEGISMUNDO— É uma boa ideia...
TAMIRES— Não, Segismundo. Ela é ótima! Até porque é nossa única saída se não quisermos desfalecer como estivéssemos no deserto.
SEGISMUNDO— Mas me diz uma coisa, mulher: por que veio me dizer tudo isso? Por que apresentar essa ideia a mim?
TAMIRES— Eu vi você se manifestar na praça há pouco. Combatendo as sandices do Elimeleque, se opondo a essas pessoas que acham que porque tem mais, são superiores a nós. Foi pouco, mas me identifiquei com suas ideias que me ficaram subentendidas. E, além de tudo, é óbvio que eu, sendo mulher, não posso fazer o que te propus. Porém--
SEGISMUNDO— (interrompendo) Agora vem o motivo.
TAMIRES— Sendo eu a autora da ideia, quero minha parte. Vou lucrar nessa história, também. Quero parte da comida e de qualquer coisa que nosso grupo conseguir. Os tempos difíceis estão apenas começando...
SEGISMUNDO— É justo.
TAMIRES— Comece a pensar em homens que poderíamos recrutar. Fortes, ágeis, que tenham familiaridade com a espada, de preferência com ideias contrárias às da turma de Elimeleque e que sejam de confiança absoluta. Eu já tenho um nome que praticamente se encaixa nisso tudo: Iago, marido de minha amiga com quem moro. E ele agora tem um motivo além para se juntar a nós. Mas trataremos dele depois.
SEGISMUNDO— Certo. Pensarei a respeito, mas já podemos considerar um confirmado: meu leal amigo Gael. Tenho certeza que aderirá à causa.
TAMIRES— Ótimo! Agora vá. Comece o quanto antes a formar nosso grupo.
CENA 8: INT. TEMPLO – QUARTO DAS SACERDOTISAS – NOITE
Sentada de frente ao espelho, Rute se encara. Ela começa a tirar os apetrechos: do cabelo, os colares, os brincos, os anéis... Em seguida fica acariciando o cabelo. Então olha para Orfa, perto dali, já dormindo.
Momentos depois, já com vestido de dormir, Rute deita em sua cama e se ajeita.
FADE OUT:
FADE IN:
Um pouco de tempo passou e Rute, deitada, se mexe desconfortável. Vira para o outro lado, mas não está à vontade.
FADE OUT:
FADE IN:
CENA 9: FLASHBACK: EXT. PLANÍCIE DESÉRTICA – DIA
Estamos nas lembranças de Rute, de volta ao dia da batalha contra os amorreus. Os servos carregam o corpo da menina sacrificada. Seu olhar vazio, o sangue escorrendo na mesa de pedra, os moabitas vitoriosos comemorando...
CENA 10: INT. TEMPLO – QUARTO DAS SACERDOTISAS – NOITE
Incomodada, Rute vira para o outro lado, respira fundo e fecha os olhos tentando dormir.
CENA 11: EXT. BELÉM – BECO – NOITE
SEGISMUNDO— Antes que eu vá... Você ouviu Elimeleque dizer que vai embora de Belém com sua família antes que o dia de amanhã nasça. Podemos pegar o que deixarem pra trás.
TAMIRES— Não acho que eles deixarão alguma coisa. A fome vai ser gravíssima, qualquer grão fará diferença. Se alguma coisa sobrou naquela casa, estará partindo com eles. Vale lembrar que Elimeleque é um dos homens mais prósperos da cidade.
SEGISMUNDO— Você está querendo dizer o que eu acho que quer dizer?...
Tamires olha para os lados certificando-se de que ninguém vai ouvir.
TAMIRES— Nosso grupo pode alcançar a família de Elimeleque no deserto e tomar tudo.
SEGISMUNDO— Você parece sentir algo a mais por eles, algo diferente. Eu vejo no seu olhar... um ódio... E só pode ser pela mulher, a Noemi.
Pela expressão de Tamires, ele está certo.
TAMIRES— Noemi, uma sardenta, um ser desprezível, inferior, alcançou tudo que eu mais almejava quando eu almejava! (tremendo de raiva) Aquela coisa... devia estar nas cavernas com os leprosos!
Tamires cospe no chão e Segismundo permanece observando-a.
TAMIRES— Faça o serviço completo!
SEGISMUNDO— Matar a todos...
TAMIRES— Se você quiser não correr riscos, e quiser que o terror de nosso grupo se espalhe por aí e assim possamos sobreviver com um mínimo de dignidade, então terá que abandonar essa vidinha de belemita comum e virar um nômade. Pela prosperidade! Quando a crise passar, porque um dia ela vai passar, podemos nos estabelecer em outro lugar e recomeçar.
SEGISMUNDO— Pensando bem, você tem toda a razão.
TAMIRES— Portanto, é bom tratar de matar toda a família.
SEGISMUNDO— Certo.
TAMIRES— E que, de preferência, ela veja seu marido e seus filhos morrendo na sua frente. E só depois morra. Agonizando... lentamente...
Segismundo faz que sim devagar.
TAMIRES— Eu posso contar com você, Segismundo?
SEGISMUNDO— Sim.
TAMIRES— E chega de me chamar de “mulher”, eu não sou qualquer uma. Meu nome é Tamires. Tamires, para ficar claro.
SEGISMUNDO— Entendido, Tamires. Aqui nasce o nosso grupo.
Tamires e Segismundo apertam as mãos. Ela sorri satisfeita.
CENA 12: INT. CASA DE NOEMI – SALA – NOITE
Noemi, Elimeleque, Tani, Yuri, Malom e Quiliom entram em casa. Caminham tristes, abatidos. Noemi para e olha para todos os lados da sala.
NOEMI— Foi uma vida inteira aqui... Esses cantos, esses lugares... A cidade, tudo... Eu entendo as razões, Elimeleque, mas não será nada fácil pra mim abandonar tudo e ir pra um lugar qualquer, sem expectativa alguma...
ELIMELEQUE— A expectativa é uma vida sem a escassez de alimentos, meu amor.
NOEMI— E o que será do Malom e do Quiliom?...
Malom e Quiliom não sabem o que dizer. Elimeleque se aproxima da esposa e pega suas mãos.
ELIMELEQUE— Nós vamos recomeçar. Juntos.
NOEMI— Será, Elimeleque? Deus permitiu essa fome. Será mesmo que indo para outro lugar conseguiremos algo? Estaremos realmente livres dessa condenação?
ELIMELEQUE— Não sei... Não sei, meu amor. Mas nós precisamos tentar.
Tani se aproxima dos dois.
TANI— Eu não quero que vão, mas se irem, eu cuidarei de tudo, até que as coisas normalizem e vocês possam voltar. E creio que Yuri também.
YURI— Claro, sem dúvidas.
NOEMI— Venham conosco. Vamos juntos, então.
TANI— Noemi... Vocês são meus amigos, você é minha melhor amiga, mas eu não posso. Eu não quero, não concordo com isso... Sinto muito.
NOEMI— Eu entendo...
YURI— Eu preciso cuidar da minha família. E além disso não seria nada bom viajar com filho pequeno. Mas seja lá para onde forem, eu vou visita-los.
NOEMI— Serão sempre bem-vindos.
YURI— (Sorri) Mas agora preciso ver como eles estão. Voltarei antes de vocês irem, para despedirmos. Shalom.
TODOS— Shalom.
Quiliom abre a porta e Yuri sai.
NOEMI— Tani, você me ajuda a arrumar as coisas?
TANI— Claro, vamos...
Noemi e Tani sobem a escada.
ELIMELEQUE— Eu vou preparar as ovelhas.
Elimeleque sai da casa e ficam ali apenas Malom e Quiliom.
MALOM— É, meu irmão, parece que não tem jeito, mesmo...
QUILIOM— Adeus, Belém...
CENA 13: INT. CASA DE IAGO – SALA – NOITE
Maya e Iago estão sentados, ela deitada no ombro do marido e chorando amargamente.
MAYA— Anos e anos de prosperidade nessa terra... (soluça) Tanto tempo em que isso poderia acontecer... (funga) Mas acontece justo quando eu alcanço a graça de ser mãe!... (chora)
IAGO— Oh, minha vida, eu vou dar um jeito. Se preciso for, irei até outros reinos atrás de comida. Farei o que for preciso pra cuidar de você.
A porta se abre e Tamires entra.
TAMIRES— Shalom.
IAGO— Tamires, e quanto àquela sua ideia, hein? Não vai falar nada sobre isso?— Tamires se aproxima para consolar Maya.
TAMIRES— Não se preocupem, não se aflijam. As coisas já estão se encaminhando. Muito em breve, minha amiga, não haverá mais razão para choro.
Tamires acaricia Maya e Iago a encara sem dizer anda.
CENA 14: INT. CASA DE NOEMI – SALA – NOITE
A noite avança.
Na sala, Elimeleque, Malom e Quiliom desmontam alguns móveis e objetos. É quando alguém bate na porta.
MALOM— Quem será?
Elimeleque vai até à porta e a abre; é o Ancião.
ANCIÃO— Shalom, Elimeleque.
ELIMELEQUE— Ancião? Shalom. Que boa surpresa, vamos entrando...
O Ancião entra e Elimeleque fecha a porta.
ANCIÃO— Com licença. Eu pretendia falar lá mesmo, na praça, mas não quis parecer contra você e a favor desses rebeldes. Porém peço que não seja verdade que vocês vão embora de Belém. Logo os mais abençoados, os mais prósperos, os mais próximos dos mandamentos de Deus! Uma família tão querida!
ELIMELEQUE— Agradeço os elogios, Ancião, mas infelizmente é verdade. Já não existe prosperidade, e eu estou apenas cuidando da minha família.
ANCIÃO— Deus permitiu essa fome como consequência dos atos do povo. É um castigo para os hebreus. Ir para outro lugar não resolverá de nada, vocês serão hebreus do mesmo jeito! Dificilmente encontrarão prosperidade.
ELIMELEQUE— Senhor Ancião, eu peço perdão, mas não concordo com isso. Não é justo. Já que sempre fomos retos e obedientes, não merecemos passar por isso juntos aos transgressores. Já tomei minha decisão. Vamos embora de Belém antes da alvorada.
O Ancião não concorda...
CENA 15: EXT. BELÉM – BECOS – NOITE
Segismundo, seguido por GAEL (42 anos, alto e olhos claros), caminha furtivamente pelos becos.
GAEL— Um grupo de saqueadores?
SEGISMUNDO— Vamos precisar ser mais que isso, Gael. A cidade está um caos, o povo está desesperado, sem rumo... É necessária uma reação rápida de nossa parte, se quisermos sobreviver. Eles vão demorar a reagir, e quando isso finalmente acontecer, já será tarde.
Eles continuam andando de beco em beco.
GAEL— Entendo. Conheço vários homens com potencial para aceitar a proposta.
Segismundo para em um cruzamento, olha escondido para os dois lados e continua a andar com Gael.
SEGISMUNDO— Eu estarei à frente do grupo, liderarei os homens. E você, Gael, será meu imediato. Pois além de amigo, você é um homem leal, mais que qualquer um.
GAEL— E qual será a nossa identificação? Um grupo como esse precisa de um nome que grude na boca do povo, que os faça arrepiar só de ouvir.
SEGISMUNDO— Vamos abandonar a cidade, não teremos lugar fixo. Dormiremos ao relento, e quando tivermos sorte, em uma caverna. O mais óbvio, o mais aterrorizante aos ouvidos desses camponeses imbecis e ignorantes, é Caravana da Morte!
Os dois param de andar. Apesar da penumbra, Segismundo vê Gael aprovar com a cabeça. Segismundo sorri empolgado. IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!