CAPÍTULO 18
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Capítulo 28 + Parte do Capítulo 29 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: EXT. BELÉM – CASA – DIA
Uma aglomeração de pessoas na frente de uma casa. Tani está chegando ali. O acesso para dentro da casa é restrito. Ao se aproximar da porta, o Ancião sai lá de dentro.
TANI— Senhor, o que aconteceu? O que houve aqui?!
ANCIÃO— Um massacre. Todos mortos. Levaram tudo.
TANI— Meu Deus...
ANCIÃO— Obra desse grupo que estão chamando de Caravana da Morte... A situação não pode continuar assim. Precisamos de soldados, homens valorosos guardando os portões da cidade! Vou enviar imediatamente um mensageiro a Hebrom.
TANI— Até lá, estaremos correndo risco...
Meio atordoado, o Ancião olha para os lados, de volta para a casa e para Tani.
ANCIÃO— A fome é grave, mas isso aí é... desproporcional, desumano... Quem seria capaz de fazer tamanha monstruosidade?...
O Ancião sai. Tani fica ali, aflita.
CENA 2: EXT. TEMPLO – JARDIM – DIA
Rute e Orfa acompanham as candidatas, espalhadas pelo jardim, cumprindo mais uma atividade. Logo Aylla se aproxima de Rute com um papiro e uma pena.
RUTE— Terminou, Aylla?
AYLLA— Sim, senhora Rute. Aqui estão os nomes de todas as espécies do jardim. Aproveitei para colocar atrás as espécie de borboletas que mais voam por aqui. Elas são tão lindas...
Rute sorri orgulhosa e olha para Orfa, que observa com um leve sorriso. Rute pega o papiro e a pena.
RUTE— Parabéns, Aylla.
AYLLA — Senhora Rute...
RUTE— Oi, Aylla.
AYLLA— A senhora sabia que existe uma espécie de pássaros que se casam e vivem a vida todinha juntos?
RUTE— Uau, e que pássaro é esse?
AYLLA— Se eu não estou enganada é cisne. Eu li na biblioteca do templo.
RUTE— Você é uma menina muito inteligente e esforçada. Meus parabéns. Por hoje está liberada.
AYLLA— Obrigada, senhora Rute. Até mais, senhora Orfa.
Rute sorri, faz um carinho no queixo de Aylla e a menina sai.
ORFA— Rute...
RUTE— O quê?
ORFA— Você precisa cortá-la, Rute. Precisa trata-la da forma que ela tem que ser tratada.
Uma menina levanta a mão chamando e Orfa vai até ela. Nesse momento, Aylla volta ali, animada.
AYLLA— Senhora Rute! A senhora pode se sentar comigo hoje na hora da refeição?
RUTE— Ahn, bom... não. Sinto muito, Aylla, mas não devemos ficar muito próximas. As outras meninas poderiam desconfiar que eu estou te favorecendo...
AYLLA— (tristinha) Tudo bem... Até mais, senhora Rute.
Rute faz que sim e observa, com pesar, Aylla se afastar.
CENA 3: INT. HOSPEDARIA – CORREDOR – DIA
Neb, furtivo, caminha pelo corredor. Passa pelas portas dos quartos como se fosse aprontar alguma. Alguém vem de encontro e ele rapidamente se ajeita, disfarça como se tivesse andando à toa, sorri e, após a pessoa se distanciar, ele continua todo cuidadoso. Ele então para na porta de um dos quartos, confere se ninguém está vendo e entra. É o quarto de Salmon e Raabe.
CENA 4: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE SALMON E RAABE – DIA
Neb entra e dá uma visão geral do quarto. Não parece estar sendo usado como dormitório, mas como depósito. Então ele começa a revirar as coisas e encher os bolsos de objetos pequenos que lhe agradam. Sempre cuidando a porta, até que, por estar eufórico demais, se esquece de olhar. De repente, a porta se abre.
BOAZ— Mãe, a senho-- Neb?!
Neb paralisa ao ser flagrado com as mãos cheias de coisas.
BOAZ— O que está fazendo aqui?!
NEB— Eu... eu... estou atrás de um rato! Eu o encontrei lá embaixo e o bicho veio subindo as escadas e correu direto para esse quarto. É de vocês?! Que coisa, eu nem percebi...
BOAZ— (desconfiado) Como o rato entrou se a porta estava fechada?
Neb bate palma uma vez.
NEB— Aí é que está, primo! A porta parecia fechada, mas não estava. Na certa vocês se enganaram na hora de fechar.
BOAZ— Não é nosso quarto, é dos meus pais. Viemos falar com minha mãe.
Para continuar seu disfarce, Neb volta a revirar as coisas.
NEB— Preciso achar esse bicho...
Boaz e Josias o observam com estranheza.
NEB— Você não me escapa, sua peste! Nunca mais vai perturbar o quarto dos nossos amigos! Onde está-- (apontando para os rapazes) ALI!!! LÁ!!!
Josias se assusta e Neb corre para a porta.
NEB— Ele está fugindo! Eu te pego!!!
Neb sai para o corredor supostamente perseguindo o bicho.
BOAZ— Você viu algum rato passar?
JOSIAS— Nem vulto.
Boaz extremamente desconfiado.
CENA 5: INT. CASA DE SEGISMUNDO – SALA – DIA
Alguns homens limpam o sangue de suas espadas, entre eles MONTANHA (40 anos, músculos gigantes) e BESTA LOUCA (35 anos, olhar sanguinário). Na mesa, os objetos roubados e um pouco de comida e vinho que encontraram. Gael faz a repartição sob os olhares de Segismundo. Tamires vem da rua e entra ali.
TAMIRES— Acabei de passar por lá, está lotado de gente.
SEGISMUNDO— Quanto mais, melhor. Que o nosso terror se espalhe por toda Belém.
TAMIRES— Segismundo, acho que devo te lembrar de Noemi... Quantas luas já fazem que eles partiram, hein?
SEGISMUNDO— Eu também tenho um assunto para resolver com aquela família: minha vingança! Mas será mesmo que vale a pena, Tamires? Olha para isso aí. Estamos prosperando, sem se distanciar muito da cidade. Nós nem sabemos para onde aqueles malditos foram, e talvez não valha a pena se desgastar tentando descobrir...
Tamires fica contrariada, então pensa... até que parece ter uma ideia.
TAMIRES— Segismundo, eu tenho algo para lhe contar.
SEGISMUNDO— Algo para me contar? Pois conte!
TAMIRES— Eu não queria dizer antes porque ainda estávamos nos conhecendo, mas... Não quero que você mate-os e pegue tudo o que eles tem só porque odeio Noemi ou porque eles tem muito. Elimeleque e sua mulherzinha tem mais do que sabemos. Eles guardam um grande tesouro. Uma pedra extremamente valiosa.
Segismundo franze o cenho e se aproxima dela.
SEGISMUNDO— Do que você está falando?
TAMIRES— Já houve um tempo em que Noemi e eu éramos grandes amigas. Tudo mudou quando ela roubou o meu namorado, Elimeleque, e se casou com ele. Mas antes de isso acontecer, ela me contou e me mostrou a pedra preciosa que ganhara do pai. Certamente eles ainda a tem, pois Noemi guarda como lembrança de seu pai. Você não imagina, Segismundo, o tamanho da riqueza que teríamos se pegássemos aquela pedra. Não precisaríamos roubar mais nada, mais ninguém! Iríamos embora daqui e recomeçaríamos nossas vidas em outro lugar! E morreríamos de velhos, cercados de ouro, luxo, banquetes! Todos aqui nessa sala teriam uma fortuna, pois aquela pedra... vale muito! Muito!!!
Segismundo parece interessado. Todos ali escutam atentos.
SEGISMUNDO— Isso é realmente verdade? Você viu essa pedra?
TAMIRES— Com esses olhos aqui... E ela é tão linda quanto é valiosa. Pensem bem. Pense bem, Segismundo. Acredito que vale o desgaste, sim.
Tamires sorri e sai. Segismundo fica pensativo, talvez imaginando as coisas grandiosas que teria. Gael se aproxima dele.
GAEL— Segismundo, está pensando em ir?
SEGISMUNDO— Tem alguma dúvida, Gael?
Gael olha para os homens ali e se aproxima mais de Segismundo.
GAEL— (sussurrando) Se for mesmo verdade, quando pegarmos a pedra podemos descartar vários para que nosso fortuna aumente.
SEGISMUNDO— Sim, sim, mas isso é para outra hora.
GAEL— Inclusive descartar Tamires, Segismundo.
SEGISMUNDO— Tamires?
GAEL— Sim. Diga-me, qual é a real importância dela para o nosso grupo?
SEGISMUNDO— Ela ainda apresenta boas ideias. A própria Caravana foi sua criação. E você não ouviu o que ela acabou de nos revelar?
GAEL— Sim, mas ainda penso se é verídico.
SEGISMUNDO— Quando chegar o dia em que ela não servir para mais nada, então nos livraremos dela.
Sério, Gael faz que sim. Os homens ali conversam animados sobre o tesouro.
CENA 6: EXT. TEMPLO – VARANDA – DIA
Na varanda, um dos pontos mais altos do templo, Rute e Orfa, de pé, observam a cidade. Movimentação de gente, músicas, cores para todos os lados. Dali do alto, a visão da cidade é bela.
ORFA— A cidade já começou o aniversário do rei.
RUTE— Você está bem animada.
ORFA— Claro, Rute. Finalmente terei tempo de sair pelas ruas da cidade como não faço há muitas luas! Sempre gosto dessa época. Traz uma... uma energia diferente para a cidade.
Elas continuam a observar as movimentações das ruas.
CENA 7: EXT. DESERTO – DIA
Elimeleque e sua família caminham pela relva.
MALOM— (apontando) Olhem!
Todos olham e veem, não muito longe dali, o morro onde está a cidade capital de Moabe.
ELIMELEQUE— Só mais um pouco, agora.
Continuam a caminhar.
CENA 8: INT. CASA DE IAGO – SALA – DIA
Iago, Maya e Tamires, reunidos ali, comem algumas frutas.
IAGO— É, Tamires, parece que esse seu plano, seja lá qual for, deu muito certo. Afinal, estamos comendo todos os dias...
TAMIRES— Obrigada.
MAYA— Por que você não diz de uma vez o que está fazendo para conseguir isso tudo?
TAMIRES— Prefiro não falar ainda. Apenas considerem a comida como o meu pagamento por estar morando aqui com vocês.
MAYA— É muito estranho, Tamires, você aparecendo com comida em casa e não contando como conseguiu... Dá até para imaginar coisas estranhas.
TAMIRES— Se está insinuando que estou me prostituindo, Maya, está muito enganada.
IAGO— Que se prostituindo o quê... Nem mesmo há prostituas em Belém. Tamires pode pensar que sim, mas não sou bobo, não.
TAMIRES— Ué, Iago, o que você quer dizer com isso?
IAGO— Estou ouvindo sobre os ataques na região, todos já sabem.
TAMIRES— É verdade. Muitas pessoas já estão fazendo isso.
IAGO— Não, não, Tamires. Pessoas, não. Existe um grupo específico, e muito perigoso, cujos membros circulam por aí montados à cavalo e com os rostos cobertos. Atacam inocentes, agridem, matam e tomam tudo que encontram. E me lembro bem da sua pergunta na outra noite, aqui mesmo na sala. Diga-me, Tamires, você tem algo a ver com isso tudo?
Tamires fica um pouco desconcertada.
TAMIRES— E se tiver?
Maya e Iago se mexem, se entreolham e voltam a olhar para ela.
TAMIRES— No tempo certo vocês saberão de tudo.
CENA 9: INT. HOSPEDARIA – DIA
Salmon e Raabe bebem sentados. Boaz e Josias chegam ali vindo da escadaria.
BOAZ— Ah, estão aí...
Os dois se aproximam da mesa.
RAABE— Estava nos procurando, meu filho?
BOAZ— Sim, mas agora o motivo já mudou.
SALMON— Pois fale...
Boaz confere se Neb não está por ali.
BOAZ— Eu estava procurando vocês pra perguntar se viram um objeto meu quando demos de cara com Neb lá no quarto onde ainda estão as coisas grandes da casa.
SALMON— Neb estava lá?
BOAZ— Sim. Josias viu, estava comigo. Neb disse que estava atrás de um rato que entrara lá ao fugir dele.
RAABE— Que coisa esquisita...
BOAZ— Sim. Nós não vimos nenhum rato, mas logo ele saiu correndo de lá, dizendo que o rato havia voltado para o corredor.
SALMON— Eu percebi que meu sobrinho é meio estranho, um pouco desengonçado, mas essa história do rato pode ser verdade.
RAABE— Apesar disso, não é muito agradável alguém entrando em um quarto onde estão as nossas coisas.
SALMON— Sim, sim. Vamos falar com ele depois.
CENA 10: EXT. TEMPLO – JARDIM – DIA
Rute caminha pelo jardim quando nota Aylla escorada em um canteiro de flores e chorando. Rute logo corre até ela.
RUTE— Aylla?! Aylla... O que foi, o que aconteceu, Aylla?!
Aylla continua a chorar.
RUTE— Aylla, me perdoe! Me perdoe pela forma como te tratei! Eu não queria te magoar, me perdoe, Aylla!
Aylla olha para ela.
AYLLA— (chorando) Eu não estou chorando por aquilo, senhora Rute...
RUTE— Não?! Então o que aconteceu, Aylla?!
AYLLA— Depois daquilo eu fui dormir... Mas foi péssimo porque eu tive um sonho...
RUTE— Um pesadelo...
AYLLA— Não... Não era um pesadelo... Eu sonhei com os meus pais, senhora Rute... (soluça) Sonhei que eles vinham me buscar... e me levar para morar com eles...
Rute mal sabe como reagir.
AYLLA— E eles diziam que iam me levar para passear, para comer tudo que eu quisesse na rua do comércio...
RUTE— Esse sonho é bonito, Aylla... Por que você ficou assim?
AYLLA— A sensação durante o sonho foi maravilhosa, senhora... Mas foi horrível quando eu acordei. Não era... Não era de verdade...
Rute, sem saber o que dizer, abraça a menina.
AYLLA— Onde estarão os meus pais, senhora Rute?...
Rute fecha os olhos e as lágrimas caem.
CENA 11: EXT. MOABE – CAMPOS – DIA
A cidade está em festa.
Do lado de fora, dois guardas com lanças nas laterais do portão e mais dois no centro. Eles observam as quatro pessoas que se aproximam: Elimeleque puxando o cavalo, Malom e Quiliom caminhando e Noemi sentada na carroça. Pouco tempo depois, a família chega aos portões, e um dos guardas centrais se aproxima deles com a mão na espada.
Malom e Quiliom olham a cidade edificada no monte com admiração.
NOEMI— Nunca vi nada parecido.
SOLDADO 1— (aproximando) Alto lá.
Elimeleque para e faz sinal para os filhos pararem. O soldado chega até eles e olha firmemente para cada um.
SOLDADO 1— Quem são vocês?
Elimeleque respira fundo. O soldado o encara, aguardando resposta.
ELIMELEQUE— Olá, senhor. Eu sou Elimeleque. Meus filhos Malom e Quiliom e minha esposa Noemi. Nós somos hebreus, da terra de Judá, habitantes de Belém.
O soldado arqueia levemente uma das sobrancelhas e dá um pequeno sorriso.
SOLDADO 1— Hebreus, han?... Eu posso saber o que é que antigos inimigos de Moabe estão fazendo em Moabe?
ELIMELEQUE— Nossa vinda é de paz, senhor. Nossa terra foi assolada por uma grave fome e por isso procuramos abrigo em Moabe.
SOLDADO 1— Ora, ora... Como são as coisas, não? Procurando salvação com o inimigo. Por que daríamos abrigo a antigos adversários? Todos sabem das histórias... Moisés e seu exército destruíram nossas cidades.
ELIMELEQUE— Já faz muito tempo, senhor.
SOLDADO 1— Não para nós.
QUILIOM— O seu rei provocou Moisés.
ELIMELEQUE— Quiliom...
SOLDADO 1— E eu lá perguntei alguma coisa a você, hebreu?! Estou falando com o seu pai.
Noemi faz sinal para Quiliom se conter.
SOLDADO 1— (para Elimeleque) Não me interessa nem um pouco se Moisés foi no tempo de nossos avós, nem se a sua terra está padecendo ou não, deem--
SOLDADO 2— (interrompendo; aproximando) O que está acontecendo aqui?
O soldado 2 chega ali.
SOLDADO 1— Hebreus! Hebreus querendo entrar na cidade!
SOLDADO 2— E qual é o problema?
SOLDADO 1— Como “qual é o problema”?! Não ouviu o que eu disse?! Hebreus! Nossos inimigos!
SOLDADO 2— Há quanto tempo nossos países não se enfrentam?
SOLDADO 1— Só porque passaram por cima de nós e se estabeleceram do outro lado do Jordão não quer dizer que--
SOLDADO 2— (interrompendo) Ainda que nos odeiem, que risco uma pobre família pode trazer ao reino?
SOLDADO 1— E se forem espiões amorreus?
SOLDADO 2— Os amorreus foram dizimados, e não faz muito tempo. Os que sobreviveram não tiveram condições para sequer porem-se de pé. Deixe que entrem. A cidade está em festa, é aniversário do rei. Sabe como o soberano fica receptivo nessa época.
A contragosto, o soldado 1 faz sinal para que eles avancem e então os soldados abrem o portão. A família se entreolha contente.
SOLDADO 1— Salvos pelo aniversário do rei.
Elimeleque puxa o cavalo com a carroça e os quatro entram na cidade.
CENA 12: EXT. MOABE – ENTRADA – RUA – DIA
Eles olham para tudo admirados, deslumbrados. Pessoas passam alegres, grupos se apresentam nas ruas, e enfeites de todas as cores em todos os cantos.
Eles param e Noemi desce da carroça. Olham à frente, para a subida do monte onde o restante da cidade foi levantada. E para tudo ao redor... Grandiosidade!
NOEMI— Para onde vamos?
ELIMELEQUE— Vamos procurar a hospedaria da cidade.
Eles avançam.
CENA 13: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
No alto do monte, no grande palácio de Moabe, a festa é agitada na sala do trono. Os nobres comem, bebem, jogam... Dançarinas para todos os lados e músicos ditam o ritmo das comemorações. Ao fundo, sentado em seu trono, o rei Zylom observa, achando graça, o Sumo Sacerdote Faruk fazendo uma grande reverência aos pés do trono.
FARUK— Ó, grande rei Zylom! O magnífico dos magníficos! O senhor dos senhores! O grande e único regente de toda a terra de Moabe!
ZYLOM— É um tanto divertido ver você assim, Faruk, fazendo essas grandes reverências, já que não tem de fazer isso com ninguém, a não ser com o seu rei.
FARUK— É uma honra para mim, meu senhor.
ZYLOM— Afinal, Sumo Sacerdote, o banho dos meus pés já está pronto?
FARUK— Oh, sim, meu soberano! Meu rei arrisca dizer quem encontrou e reuniu os ingredientes de seu banho?
ZYLOM— Você?
FARUK— Seria um prazer, meu senhor, mas não fui eu. Foi uma das candidatas à próxima oferenda aos deuses. Seu nome é Aylla.
ZYLOM— Aylla... Que nome magnífico!... Faruk, traga imediatamente essa Aylla até aqui. Quero que ela mesmo lave os meus pés.
FARUK— Vou busca-la agora mesmo, meu soberano. Não haverá honra maior para essa menina. (reverenciando) Com sua licença.
O rei faz sinal com a mão e Faruk sai apressado.
CENA 14: EXT. MOABE – RUA – DIA
Conforme avançam pela cidade, mais pessoas, cores, movimentos... Malom e Quiliom sorriem encantados, e Elimeleque percebe.
ELIMELEQUE— Eu sei que tudo isso é novo, mas tomem cuidado. Estamos em um reino pagão, que adora deuses e homens.
MALOM— Não se preocupe, meu pai.
NOEMI— Precisamos pedir informação para alguém...
Quiliom observa um grupo de pessoas conversando animadas em frente à uma loja.
QUILIOM— Ali... Estão alegres, certamente não se importarão de nos ajudar.
Mas Elimeleque olha para a loja ao lado, onde há uma MULHER (50 anos) com semblante de desânimo.
ELIMELEQUE— Talvez seja melhor perguntar para quem não está muito alegre.
Elimeleque, seguido dos outros, se aproxima da loja, que vende peças de barro.
ELIMELEQUE— Olá, com licença... Será que você pode nos informar onde fica a hospedaria da cidade?
MULHER— (desanimada) É só seguir reto por aí que se chega lá.
MALOM— Está tudo bem com você?
MULHER— Comigo sim.
QUILIOM— O que você quer dizer?
Ela respira fundo, olha para os lados e se aproxima deles.
MULHER— De onde vocês são?
ELIMELEQUE— De Israel, somos hebreus.
Por alguns segundos o semblante da mulher muda e seus olhos arregalam um pouco. Um brilho surge no olhar e ela se anima. De repente os puxa para dentro de sua loja.
CENA 15: INT. LOJA – DIA
Ela os leva para trás de uma prateleira, fora da vista de quem está na rua.
MULHER— Hebreus! Hebreus! Vocês são hebreus! Finalmente! Finalmente esse dia chegou!
Ela toca o rosto de Noemi, Malom e Quiliom e o cabelo de Elimeleque.
MULHER— É verdade?! Vocês são de verdade mesmo?
NOEMI— E por que não seríamos?
QUILIOM— Minhas pernas estão doendo e já criei um galo aqui atrás na cabeça de tanto deitar em pedra. Então sou bem real sim.
MULHER— O rapaz havia me perguntado se está tudo bem... Bom, a verdade é que... Que ninguém me ouça, mas eu não sinto a menor alegria nessa festa em comemoração ao rei, que nunca dá as caras nas ruas, que não se importa com o seu povo. Se Moabe está próspera, é porque o comércio daqui é muito competente. Mas ajuda do rei praticamente não existe! Ele investe apenas na aparência da cidade.
ELIMELEQUE— Nós notamos.
MULHER— Bom, mas que grosseria a minha, deixe-me me apresentar a vocês. Meu nome é Leila.
Todos apertam a mão de Leila.
LEILA— Por favor, não vão para a hospedaria, fiquem aqui. Eu tenho pouso para vocês todos.
Elimeleque e Noemi ficam levemente desconfiados, e se olham.
CENA 16: INT. TEMPLO – VARANDA – DIA
Rute e Orfa continuam a observar, do alto, a movimentação da cidade. É quando Faruk chega ali, surpreendendo-as e assustando Rute. Um desconforto por parte dessa, mas ela tenta disfarçar.
FARUK— Sacerdotisas.
ORFA— Senhor?...
FARUK— O rei solicitou imediatamente a presença daquela menina, a Aylla, na sala do trono. O soberano quer que ela banhe os seus pés.
RUTE— Perdão... Como é?
FARUK— Zylom se impressionou com a eficiência da menina, e quer que a própria lave os seus pés. Uma grande honra para Aylla!
Rute não gostou de ouvir aquilo. Fica pensando.
FARUK— Onde ela está?
ORFA— Eu o levarei até ela, senhor.
FARUK— Ótimo. Vamos rápido.
Faruk volta. Orfa olha para Rute.
ORFA— Vamos?
RUTE— Pode ir. Não quero ver isso.
Obrigado pelo seu comentário!