CAPÍTULO 23
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Capítulo 36 + Parte do Capítulo 37 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: EXT. MOABE – MURALHA – NOITE
Elimeleque finaliza uma música com sua flauta. Sorrindo, Noemi bate palmas.
NOEMI— Incrível! Um grande músico o meu amor.
ELIMELEQUE— Minha inspiração é você.
NOEMI— Oh...
Noemi se inclina e eles trocam um beijo.
NOEMI— E pensar que esperei 25 anos por isso...
ELIMELEQUE— Antes tarde do que nunca...
NOEMI— Elimeleque, você devia ter comprado uma outra flauta antes... Eu nem sabia que você tocava tão bem...
ELIMELEQUE— Pra te falar a verdade nem eu lembrava que ainda conseguia tirar alguma coisa de uma flauta...
NOEMI— Agora quero música todos os dias.
ELIMELEQUE— E terá. Então, vamos?
NOEMI— E a mesa?...
ELIMELEQUE— Ah, não se preocupe, eles cuidarão de tudo. Estão sendo bem pagos.
NOEMI— Se é assim...
Os dois se levantam, se olham, se beijam mais uma vez... e vão embora abraçados e sorridentes.
CENA 2: INT. CASA DE LEILA – SALA – NOITE
Leila está concertando uma de suas peças de barro quando ouve vozes se aproximando pela loja. É Noemi e Elimeleque vindo enquanto falam e riem baixo. Abraçados, eles param ao chegarem ali e encontrarem Leila.
NOEMI— Leila?
LEILA— Noemi, Elimeleque... E o jantar, foi bom?
NOEMI— Maravilhoso!
ELIMELEQUE— Mais uma vez, muito obrigado, Leila!
NOEMI— É, Leila... Me fez andar o dia todo só pra me tirar do caminho de Elimeleque, ahn?!
LEILA— (rindo) Mas é claro, Noemi. Eu sabia que valeria a pena.
ELIMELEQUE— E valeu.
NOEMI— Bom, mas agora eu preciso descansar minhas pernas, preciso dormir... (olha rápido para Elimeleque) Estou exausta.
ELIMELEQUE— Precisamos.
LEILA— Certo...
NOEMI— Então... Shalom, Leila.
ELIMELEQUE— Shalom.
LEILA— Shalom... Tenham uma boa noite.
Eles sorriem e saem abraçados.
LEILA— (para si, olhando a peça de barro) Rum, dormir... Sei...
Leila ri.
CENA 3: INT. CASA DE LEILA – QUARTO – NOITE
Na entrada do quarto, Elimeleque olha para Noemi e a pega no colo. Ela ri e ele faz sinal para ela rir baixo. Então acaricia o rosto dela enquanto se aproxima da cama.
ELIMELEQUE— Como eu te amo, Noemi!...
NOEMI— Muito?...
ELIMELEQUE— Mais que minha própria vida!
Apaixonada, Noemi sorri e ele a beija com intensidade. Ao mesmo tempo acaricia seu cabelo e sobe na cama. Então seus lábios desgrudam quando ele a coloca deitada e fica por cima dela.
NOEMI— Eu também te amo! Muito!
Ela o puxa para si e eles se beijam ardentemente...
CENA 4: EXT. TEMPLO – PÁTIO – NOITE
Ainda escondida, Aylla observa Rute por trás. De seu banco, mesmo confusa, Orfa percebe o estado de Rute do outro lado e corre até lá.
ORFA— Rute!...
Orfa senta ao lado da amiga.
ORFA— Rute...
RUTE— (tentando se recompor) É tudo tão diferente, Orfa... Tão... Não sei...
ORFA— Eu sei, minha amiga, eu entendo... Penso a mesma coisa...
RUTE— Então conversaram sobre isso?
ORFA— Sobre o Deus dos hebreus? Sim...
De repente, um barulho ali atrás... Rute vira e vê a moita ainda se mexendo.
RUTE— Tem alguém ali.
Imediatamente Rute se levanta, dá a volta no canteiro e chega do outro lado da moita: Aylla, acuada, a olha com semblante de culpa.
AYLLA— Eu não escutei nada, senhora Rute. (pequena pausa) Só um pouquinho...
RUTE— (se aproximando) Aylla? O que está fazendo aqui?
Um tanto assustado e envergonhada, Aylla não diz nada.
RUTE— Aylla, fale a verdade, você ouviu tudo o que eu e aquele rapaz conversamos?
Aylla continua apenas a encarar Rute.
RUTE— Aylla...
AYLLA— Sim...
Rute respira fundo olhando para o céu. Limpa um olho e vira de volta para a menina.
RUTE— Venha comigo.
Rute sai. Orfa não entende, apenas as observa. Aylla, receosa, se levanta do chão e vai atrás de Rute timidamente.
CENA 5: INT. CASA DE LEILA – LOJA – NOITE
Malom e Quiliom vem da rua e entram na loja.
QUILIOM— Está vendo por que nunca me casei em Belém?! Elas são loucas, Malom! Totalmente instáveis! De um momento para o outro se dão a choros, a lamentos, te mandam embora de perto delas... É terrível!
MALOM— Rute também estava estranha, mas eu acho que, nesse caso, as entendo, meu irmão. Durante a vida toda elas conheceram apenas isso aí, adoração e servidão aos deuses. A cultura do nosso povo e o requerer de Deus são muito diferentes do que elas estão acostumadas.
CENA 6: INT. CASA DE LEILA – SALA – NOITE
Malom e Quiliom chegam ali na sala.
MALOM, QUILIOM— Shalom, Leila.
LEILA— Meninos... Shalom.
MALOM— E nossos pais, já chegaram?
LEILA— Ah, sim, já estão aí. Foram dormir...
MALOM— Certo.
QUILIOM— Nós também já vamos. Bom, eu, pelo menos.
MALOM— Eu vou aproveitar a viagem.
LEILA— Tenham uma boa noite, rapazes.
QUILIOM— O mesmo pra você.
MALOM, QUILIOM— Shalom.
Os dois saem.
CENA 7: INT. TEMPLO – CORREDOR – NOITE
Caminhando com discrição, Rute, Aylla e Orfa vem pelo corredor.
Rute confere um outro que cruza aquele e então vai, seguida das outras duas. Finalmente chegam à porta de seu quarto. Rapidamente Rute abre, entra e, após as duas passarem, ela fecha a porta e tranca.
CENA 8: INT. TEMPLO – QUARTO DAS SACERDOTISAS – NOITE
As três adentram o quarto.
AYLLA— Senhora Rute, me desculpe--
RUTE— (interrompendo) Espere, Aylla.
Rute vai até sua cama e se senta. Orfa vai para a frente de seu espelho tirar os apetrechos enquanto observa Rute de canto de olho. Aylla aguarda em pé.
AYLLA— A senhora vai me castigar?
Rute, ainda afetada por tudo, fica pensativa. Respira fundo, olha para os lados, esfrega o rosto com as mãos...
RUTE— Aylla, eu ia falar algumas coisas pra você acerca do seu comportamento... Acerca do comportamento de uma menina que quer ter a-- ter a... a honra de ser sacrificada aos deuses, mas... Eu já nem lembro o que eu ia falar.
Rute amolece e deixa seu corpo cair para trás, deitando na cama. Aylla então olha para o outro espelho, o de Rute, vai até lá, se senta de frente para ele e se observa parada.
Momentos depois, Rute, ainda deitada, olha para lá e nota Aylla se encarando. Ela senta e a observa por alguns segundos.
Então Rute põe-se de pé, vai até Aylla, ficando atrás dela, e observa a garota pelo espelho. Logo, Rute começa a acariciar o cabelo da menina. Acaricia por alguns bons segundos... Orfa, claramente não aprovando, apenas as observa discretamente. Rute então solta o cabelo e ajoelha ao lado do banco, encostando a lateral de seu rosto na lateral do rosto de Aylla, e observa a imagem das duas no espelho.
RUTE— (pensativa) “Bonita”...
Aylla não entende, mas continua olhando para o reflexo de ambas.
RUTE— Você é tão criança... Poderia um dia ser tão bonita...
AYLLA— Por que diz isso, senhora Rute?
Rute não responde de imediato... Se limita a observar o espelho. Finalmente quebra o silêncio.
RUTE— Eu estou muito feliz por você, Aylla.
Rute então abraça a garota e fecha seus olhos. Deles, logo escorrem lágrimas. Sendo abraçada, Aylla encara o nada, confusa.
AYLLA— Não entendo...
Rute solta Aylla e a olha diretamente no olho.
RUTE— Aylla... Por que você ouviu toda a conversa minha com o rapaz?
AYLLA— Bom, eu estava te procurando, senhora Rute. Então te encontrei no pátio conversando com o rapaz... Resolvi esperar ele ir embora para poder falar com a senhora. Por isso ouvi tudo... Sobre o Deus único que não requer morte de crianças...
Com a última frase, Rute fica claramente tocada... Passa o dedão na bochecha de Aylla.
AYLLA— Como que faz para conhecê-Lo, senhora? O Deus único... Nunca me ensinaram sobre Ele. Nunca ouvi ou li nada em lugar nenhum...
RUTE— Eu... Bom...
Encarando Aylla de perto, Rute balbucia, mexe a cabeça, mas não diz nada.
RUTE— Hora de você ir dormir, Aylla.
Rute se levanta e se afasta um pouco.
AYLLA— Já?...
RUTE— Vá para o seu quarto.
AYLLA— Está bem... Boa noite, senhora Rute.
RUTE— Boa noite.
Aylla vai até Orfa.
AYLLA— Boa noite, senhora Orfa.
ORFA— Boa noite.
Aylla atravessa o quarto na direção da porta.
RUTE— Certifique-se de que ninguém está te vendo sair daqui.
Aylla faz que sim, abre a porta, olha os dois lados do corredor e sai rapidamente. Rute senta na cadeira de frente para o espelho e se encara melancolicamente. Percebendo que Orfa está lhe observando, Rute olha para a amiga e recebe o olhar de desaprovação.
RUTE— O que foi?! Qual é o problema de dizer a uma criança que ela é tão bonita?
Orfa então vira para o próprio espelho.
ORFA— Hoje não vou te dizer nada sobre isso. Você sabe qual é a minha opinião. Também estou abalada com os conhecimentos novos... Nunca, jamais pensei que ficaria assim.
Rute parece se identificar. Então olha mais uma vez para o seu reflexo e se levanta. Vai até perto de Orfa.
RUTE— Somos amigas... Estamos passando pela mesma situação. Precisamos falar sobre isso.
Orfa faz que sim...
CENA 9: INT. CASA DE LEILA – SALA – DIA
Noemi, Elimeleque, Leila, Malom e Quiliom estão desjejuando à mesa.
ELIMELEQUE— Ficaram de tal jeito que mandaram vocês embora?
MALOM— Foi...
NOEMI— É natural que elas fiquem assim, afinal são servas de outros deuses. Isso não faz bem para elas.
MALOM— Mas eu tenho certeza que na Rute eu enxerguei um brilho diferente... É uma coisa inexplicável...
QUILIOM— Acho que posso dizer o mesmo de Orfa. Eu vejo nela um potencial para se converter.
NOEMI— Meus filhos, apenas não se iludam, pra depois não caírem em decepção... Essas mulheres são sacerdotisas do reino, servas do rei, e não mulheres qualquer, moradoras da cidade... Acham mesmo que elas largariam tudo, toda a vida delas para ficarem com vocês? Porque estou deduzindo que vocês não largarão suas vidas para irem ao templo pagão. Esses relacionamentos de vocês são impossíveis.
Por seus olhares, Leila parece acreditar na esperança dos rapazes.
LEILA— Bom, se as sacerdotisas ficaram assim ao saber do Deus de vocês, eu também quero! Quero saber mais e mais e mais sobre Ele!
NOEMI— Oh, Leila, quanto a isso, não se preocupe. Terei o maior prazer em contar tudo.
Leila sorri empolgada. Elimeleque observa os filhos, meio acuados.
CENA 10: EXT. BELÉM – RUA – DIA
O Ancião e Tani conversam com dois homens e uma mulher.
HOMEM 1— Eram muitos... Mais de 10... Ficamos bastante assustados quando os vimos...
MULHER— Nos escondemos atrás das árvores e os observamos...
HOMEM 2— Eles estavam atravessando o campo, de um lado para o outro... Mas nenhuma das direções era Belém.
ANCIÃO— Na certa estavam em mais um de seus ataques sórdidos.
HOMEM 1— Provavelmente, senhor.
ANCIÃO— E não conseguiram ver mais nada? Não há mais nenhum detalhe que perceberam?
HOMEM 2— Não, senhor.
MULHER— Mal vimos seus rostos... Não estavam pertos o suficiente. Mas precisávamos nos ocultar. Se nos vissem ali, provavelmente não estaríamos aqui agora.
ANCIÃO— Tudo bem. Eu agradeço. Shalom.
HOMEM 1, HOMEM 2, MULHER— Shalom.
Os três saem e o Ancião e Tani tomam outro rumo.
TANI— E a Caravana da Morte continua...
ANCIÃO— Não vejo a hora de os soldados chegarem...
TANI— Precisamos mesmo de segurança nessa cidade. Já não basta o esforço descomunal que estamos fazendo pra que ninguém morra de fome...
O Ancião faz que sim e eles continuam a caminhar.
CENA 11: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
Neb está ali contando as moedas em sua mão quando alguém pega seu ombro. Assustado, ele vira para trás e vê Boaz acompanhado de Josias.
BOAZ— Shalom, primo.
NEB— Boaz? Shalom...
BOAZ— Lindo dia, não é?
NEB— Sim, sim... Lindo... Não fosse a fome...
BOAZ— Não fosse a fome, sim... Neb, e então? Será que podemos ir ver as tais moças?
Neb então guarda as moedas em seu bolso.
NEB— Olha, Boaz, eu não sei se é uma boa hora pra isso... Olha a situação do povo.
JOSIAS— Ajudar as moças pode ser uma boa... Já faz as duas coisas.
NEB— As moças não terão cabeça pra isso. Nem ânimo algum. É melhor eu ir. Shalom.
Neb sai e deixa Boaz e Josias ali, observando-o se afastar.
JOSIAS— Talvez ele tenha razão...
BOAZ— Como eu farei isso, Josias, sem parecer um insensível?...
CENA 12: INT. TEMPLO – SANTUÁRIO – DIA
Rute e Orfa estão prostradas ao chão diante de uma estátua de Baal. Enquanto Orfa repete os versos de uma oração, Rute abre os olhos, desconcentrada. Então Orfa se levanta, e Rute fecha os olhos rapidamente e também se levanta. Com as palmas das mãos viradas para a estátua, elas falam.
ORFA— Salve, Baal!
RUTE— Salve, Baal!
ORFA, RUTE— O príncipe dos príncipes!
Terminado o ritual, elas abaixam as mãos. É quando o Sumo Sacerdote Faruk chega ali. Elas viram pra trás e o percebem. Rute engole em seco, desconfortável.
FARUK— Sacerdotisas...
RUTE— Como vai, Sumo Sacerdote?
ORFA— Acabamos de terminar nossa oração matinal.
FARUK— Que ótimo. Eu sabia que as encontraria aqui.
ORFA— O senhor tem algo a nos dizer?
FARUK— A lhes pedir.
Ele se aproxima delas.
RUTE— Diga, senhor, e o atenderemos.
FARUK— O sacrifício da menina está próximo, e vide os resultados alcançados, será mesmo Aylla.
Rute sente o baque, mas se esforça para não demonstrar reação alguma. Discretamente, Orfa olha para ela, que permanece fitando os olhos de Faruk.
FARUK— Eu quero ela pronta para ser sacrificada ao final das comemorações do aniversário do rei.
Rute franze o cenho.
RUTE— Senhor, perdão, mas isso nunca aconteceu antes. O rei solicitar um sacrifício em seu aniversário.
FARUK— Você tem razão, Rute, mas estamos falando do rei. E quando se trata disso, não se questiona e nem se discute.
Rute aperta os lábios.
RUTE— Mas... qual é o motivo do sacrifício?! O que o rei quer--
FARUK— (interrompendo, ríspido) Algum problema com isso, Rute?!
Rute o encara um tanto nervosa.
RUTE— Não, senhor.
FARUK— Ótimo! Preparem Aylla. Vamos sacrificá-la ainda nessa semana, a qualquer momento. Tenham um bom dia.
Pisando duro, Faruk vai embora do santuário. Assim que ele sai, Orfa vira para Rute, nervosa e trêmula.
ORFA— Rute! Você enlouqueceu?! Quer que o Sumo Sacerdote desconfie?!
RUTE— Isso é coisa dele, Orfa! É coisa de Faruk, não do rei!
ORFA— O que você está dizendo?!...
RUTE— Na certa ele está tramando sem o conhecimento do rei! Quer o sacrifício para ele, faz isso por ganância! Você sabe o que eu presenciei. Sequestra crianças, realiza sacrifícios às escondidas e agora quer matar Aylla para seu benefício!
Orfa sente a gravidade da situação.
RUTE— Eu preciso fazer alguma coisa, Orfa! Não posso deixar que Aylla seja sacrificada!
Rute desesperada...
CENA 13: EXT. MOABE – RUA – DIA
O dia avança.
Entre os moradores circulando a trabalho ou comemorando o aniversário real, duas figuras em vestes comuns e com suas cabeças ocultas por um capuz vem correndo lá de cima: Rute e Orfa, disfarçadas. Orfa para e Rute faz o mesmo.
RUTE— Achou?!
ORFA— Ali, acho que é aquela.
Orfa aponta a loja de Leila.
CENA 14: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
Leila, Noemi, Elimeleque, Malom e Quiliom conversam normalmente ali na loja quando as duas mulheres vêm da rua e entram repentinamente. Todos olham para elas com estranheza, e ambas descobrem a cabeça e revelam seus rostos. E os encaram... Malom e Quiliom se levantam surpresos.
MALOM— Rute?!
QUILIOM— Orfa?!
Rute então se atira ao pescoço de Malom em um abraço apertado. Leila está impressionada e Noemi e Elimeleque, confusos. Orfa então se aproxima de Quiliom, e ele, curioso, pega as mãos dela. Close no abraço desesperado de Rute em Malom.
CENA 15: INT. BELÉM – CASAS – DIA
Em diversas casas, o povo ora a Deus com fervor. Famílias unidas, amigos ligados pela mesma fé, por um mesmo objetivo...
CENA 16: EXT. BELÉM – ARREDORES – DIA
Ao redor do ponto onde foi plantada a semente de trigo, Salmon e Raabe oram ajoelhados e com as mãos para os céus. Por fim, eles abrem os olhos, olham para a terra sobre a semente e se olham. Sorriem esperançosos...
CENA 17: EXT. CAMPOS – DIA
Escondidos atrás e embaixo de um amontoado de árvores e vegetações, os homens da Caravana da Morte, Tamires e seus cavalos bebem água e arrumam as coisas.
SEGISMUNDO— Vamos, todo mundo bebendo bastante água. Muito trabalho pra hoje.
Segismundo se aproxima de Tamires, que bebe.
SEGISMUNDO— Tem certeza que quer ir conosco?
Tamires termina de virar seu odre.
TAMIRES— Absoluta. Preciso garantir que os melhores objetos fiquem comigo.
SEGISMUNDO— Rum, “ousada”, pra você, é pouco.
TAMIRES— Tenho consciência dos meus direitos, só isso.
SEGISMUNDO— Não se esqueça do pano para esconder seu rosto.
Tamires pega seu pano e o balança, mostrando-o. Segismundo faz que sim e vai arrumar suas coisas. Tamires então vira para o outro lado e se aproxima das folhas, encarando o horizonte distante por entre a vegetação. É quando ela nota, não muito longe dali, duas figuras andando tranquilamente: Maya e Iago. Tamires franze o cenho e afasta as folhas um pouco para vê-los.
TAMIRES— Segismundo. Segismundo! Venha aqui...
Segismundo chega ali.
TAMIRES— Veja, aqueles dois. Ele... O marido de minha amiga. É com eles que eu moro.
Segismundo olha e os nota.
TAMIRES— É dele que precisamos.
Segismundo então se afasta.
SEGISMUNDO— Já disse que isso é problema seu. Se faz questão, convença-o.
Segismundo sai novamente. Tamires volta a observá-los. Lá, o casal caminha em paz.
MAYA— É tão bom... andar assim, sentindo o vento... Traz uma paz tão grande...
IAGO— E ainda com tudo de bom que anda acontecendo na nossa vida... Mesmo com a miséria da cidade. Às vezes preciso me beliscar pra garantir que não estou sonhando... Vamos mesmo ser pais!
MAYA— (rindo) Vamos, meu amor!
Eles se beijam. É quando, do outro lado, um grupo de saqueadores se levanta de trás de um terreno alto e se aproxima correndo e empunhando espadas.
MAYA— Iago, o que é isso?!
Iago se assusta e se coloca na frente de Maya. Imediatamente saca sua própria espada.
SAQUEADOR— Olá...
Aqueles homens então param à frente dos dois, apontando suas espadas.
IAGO— Eu previ esse tipo de coisa, por isso trouxe a espada. Fique tranquila, querida.
Lá do seu lugar, Tamires fica aflita.
TAMIRES— Segismundo! Segismundo!!!
SEGISMUNDO— O que é, Tamires?!
TAMIRES— Saqueadores! Saqueadores estão atacando meus amigos! Veja!
Segismundo e os homens da Caravana então olham e notam os saqueadores encarando Iago com Maya atrás de si.
SEGISMUNDO— Ora, uma situação interessante para acompanharmos...
TAMIRES— “Interessante”?! Você está louco?! São meus amigos! Vão até lá, todos vocês! Rápido! Salvem os dois e acabem com aqueles malditos! Vamos!
SEGISMUNDO— E perder a chance de ver como seu amigo escapará dessa? Ou então simplesmente perder uma boa briga? Estamos seguros aqui. Vamos assistir!
TAMIRES— Segismundo!
Segismundo a ignora e Tamires olha angustiada para a situação. Aflita, Maya fica com as mãos na barriga. Iago, apontando sua espada, usa o outro braço para protege-la. E os saqueadores, a uns 5 metros à frente, permanecem com as espadas na direção de Iago. O chefe deles sorri, e IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!