CAPÍTULO 39
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Restante do Capítulo 55 + Início do Capítulo 56 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: INT. HOSPEDARIA – NOITE
Neb entra animado na hospedaria. Logo Tamires o vê e se aproxima; os guardas sempre atrás dela.
TAMIRES — Neb! Que bom que você veio...
NEB — Não recusaria--
TAMIRES — (interrompendo) Um convite meu?!
NEB — Um convite para jantar.
Ela diminui um pouco o ânimo e ele, percebendo, engole em seco.
NEB — E um convite seu. Claro, Tamires... Não poderia recusar...
TAMIRES — Ah, que ótimo, Neb!
NEB — E então? Vamos comer?
TAMIRES — Antes... eu quero te mostrar uma coisa.
NEB — Mostrar? Antes de comermos?
TAMIRES — Sim, vamos, não demoraremos.
Ela o puxa na direção da escada. Ao perceber os guardas, para.
TAMIRES — Lá vocês não podem ir.
GUARDA 1 — Nós iremos.
GUARDA 2 — Não adianta insistir.
Ela tenta conter sua raiva. Então vai.
CENA 2: INT. HOSPEDARIA – CORREDOR – NOITE
Os quatro caminham até o quarto de Tamires. Chegando, ela abre a porta e olha para os guardas.
TAMIRES — Agora vão ter que ficar aqui.
Os dois se entreolham, sabem que é verdade. Tamires sorri.
TAMIRES — Entre, Neb.
Neb entra. Tamires olha para os dois.
TAMIRES — Vão ficar aqui fora, sozinhos? Coitadinhos...
Eles a encaram.
TAMIRES — Se sentirem frio, se aconcheguem um no outro... Vão ficar bem quentinhos.
Ela ri, entra e bate a porta.
CENA 3: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE TAMIRES – NOITE
Escorada na porta, Tamires olha para cima.
TAMIRES — AAAAAHHH!!!
NEB — Ei, Tamires... O que é isso?...
TAMIRES — Não dá, eu não vou aguentar esses dois me fazendo as vezes de cauda!
Tamires entra de vez no quarto. Neb a observa.
TAMIRES — Me desculpe, Neb... Perdão. É que é muito inconveniente, é péssimo não ter liberdade, não poder fazer nada sem aqueles dois idiotas me vigiando! Mas enfim, mas enfim! Não chamei você aqui para ouvir minhas lamentações.
NEB — Ia me mostrar algo?
TAMIRES — (sorrindo) Uhum...
Tamires vai até um canto e pega um vaso tampado.
TAMIRES — Sabe o que tem aqui?
NEB — Água? Vinho?...
TAMIRES — Vinho. Exclusivo da vila de onde vim e onde fiquei quase todos esses anos. É sensacional, você vai adorar. Pegue esse copo aí...
Neb pega o copo e Tamires o serve. Quando ele vai beber, ela segura sua mão.
TAMIRES — Sinta o aroma antes...
Ele franze o cenho, mas cheira.
TAMIRES — Sentiu?
Neb finge que sentiu.
NEB — Sim, parece ótimo...
TAMIRES — Agora vai, experimente.
Neb então toma e saboreia.
NEB — Bom. Muito bom, mesmo. Um tanto diferente do vinho comum.
TAMIRES — (sorrindo) Que bom que gostou, Neb.
Tamires então tropeça nele intencionalmente, que a segura em seus braços.
TAMIRES — Ai, me desculpe... Como sou desastrada...
Ela encara os olhos dele... E ele, inesperadamente, encara os dela. Um clima no ar... De repente Tamires avança e beija Neb. De início, apenas ela, mas, passada a surpresa, Neb fecha os olhos e se entrega a beijar também. Então ela se ajeita e o abraça forte.
TAMIRES — Me sinta, Neb... Sinta o meu corpo todo... Sinta-o... totalmente entregue ao seu...
Neb, ainda tentando entrar no ritmo afoito de Tamires, a segura.
TAMIRES — Me sinta, me toque, me pegue!...
Atendendo-a, ele usa suas mãos e pega, toca o corpo dela. De repente, Neb a levanta de uma vez e ela grita de susto. Tamires fica dependurada nele, os braços abraçando o pescoço e as pernas presas em cada lado do tronco.
TAMIRES — (irradiante) Isso é mesmo verdade?! Você, eu... juntos?!
Neb parece pensar. Apressada, Tamires olha para o vinho e, dependurada, fala para ele ir até o copo.
TAMIRES — Vamos, Neb, o vinho, o vinho, vamos, beba!
NEB — Por q--
TAMIRES — Beba! Será melhor para nós!
Neb, ainda com Tamires dependurada nele, bebe mais. Sorri para ela.
TAMIRES — Depois de tanto tempo, o sonho se realizou!
Mais animado, Neb a aperta ainda mais forte e eles se beijam afoitamente. Tamires grita a cada bom susto em que Neb a levanta, a gira, a aperta...
Logo, eles caem na cama desajeitadamente.
CENA 4: INT. HOSPEDARIA – CORREDOR – NOITE
No lado de fora do quarto, os dois guardas respiram fundo ao ouvirem os gritos e risadas de Tamires.
CENA 5: EXT. BELÉM – TRIGAL – DIA
No dia seguinte, os trabalhos nos trigais continua com ânimo.
No campo de Boaz, ele, Josias e Tani se mantém sempre atentos ao trabalho.
CENA 6: INT. BELÉM – TEMPLO – DIA
Mais cinco homens da Caravana são presos e levados para ali, onde está o Ancião.
ANCIÃO — Coloque todos nas celas.
COMANDANTE — O senhor quer que os envie logo a Hebrom?
ANCIÃO — Ainda não. Vamos esperar termos vários para leva-los de uma só vez. Assim, também economizamos no custo do transporte.
COMANDANTE — Entendido.
Os homens são levados para as celas.
CENA 7: EXT. DESERTO – DIA
Noemi e Rute continuam sua jornada pelas diferentes paisagens de Israel...
CENA 8: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
Escondidas atrás de uma prateleira, Leila, Aylla e Myra, essa com roupas comuns, conversam baixo. Myra acaba de contar tudo a elas.
AYLLA — (aflita) Coitada da senhora Orfa...
LEILA — Myra... O que podemos fazer para ajudá-la?
MYRA — Olhem... A única coisa que podem fazer é orar a Deus.
Leila e Aylla percebem.
MYRA — Aos deuses, eu quero dizer. Ou ao seu Deus, enfim... Orem. Peçam.
LEILA — Muito obrigada pela consideração de vir até aqui nos avisar, Myra.
MYRA — Imagine. Já vou indo.
Leila faz que sim, pronta para acompanha-la, mas Myra não vai... Parece admirar a loja, parece não querer ir...
Por fim respira fundo, faz uma reverência com a cabeça, cobre o rosto com o capuz e sai.
CENA 9: EXT. DESERTO – DIA
Os dias se passam.
E vão passando...
E continuam a passar...
Noemi e Rute cruzam as imensidões de Israel...
Abrigam-se de uma verdadeira tempestade de areia em uma caverna pequena...
Sem desanimar, elas continuam, cada vez mais perto de Belém.
CENA 10: INT. VILA – CASA DE SEGISMUNDO – SALA – DIA
Segismundo está reunido com os mais íntimos da Caravana. Apenas Gael, Iago, Besta Louca, Montanha e uns poucos outros estão ali. As portas e janelas estão fechadas, e a única iluminação vem das chamas.
SEGISMUNDO — Está tudo desmoronando! Todos os dias recebo uma notícia ruim diferente! Em um dia, é um morto por esse traidor do qual ninguém consegue sequer uma pista! No outro, os malditos Guardiões capturando nossos homens!
Os homens, sentindo a gravidade, apenas escutam.
SEGISMUNDO — O cerco está se fechando... e não fazemos nada para reagir!
Gael respira fundo.
GAEL — Eu tenho uma ideia.
Quase desesperado, Segismundo olha para ele.
SEGISMUNDO — Diga!
GAEL — Envie um mensageiro a Tamires, em Belém.
Segismundo o encara.
CENA 11: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE TAMIRES – DIA
Tamires entra com o mensageiro membro da Caravana, porém disfarçado de mensageiro comum, deixando os guardas lá fora. Fecha a porta e o puxa para mais distante dali.
TAMIRES — Chamei você porque não quero que aqueles dois ouçam a mensagem. Agora diga.
O mensageiro fala tudo em tom baixo.
CENA 12: EXT. BELÉM – TEMPLO – ENTRADA – DIA
Com os guardas atrás dela, Tamires conta tudo para o Ancião.
ANCIÃO — Muito obrigado, Tamires. Confesso... que não esperava receber uma informação como essa de você.
Tamires sorri.
ANCIÃO — Mais uma vez obrigado por fazer algo bom. Isso contará em seu julgamento.
TAMIRES — Foi um prazer ajudar, senhor.
CENA 13: EXT. DESERTO – DIA
Os Guardiões marcham com vigor. Chegam a um conjunto de formações rochosas, um labirinto natural. O líder daquele pelotão faz sinal e eles param.
LÍDER — Segundo as informações dadas por Tamires, eles estão aqui.
GUARDIÃO — Ainda penso se deveríamos ter confiado nela.
LÍDER — O Ancião confiou e o Comandante ordenou. Nós apenas cumprimos nosso dever.
De repente, do alto das grandes rochas, vários homens surgem! Todos arqueiros, todos da Caravana; e atiram. Vários Guardiões começam a ser atingidos. Flechas certeiras em seus peitos e cabeças.
LÍDER — É uma armadilha!!! Se escondam!!!
Alguns se abaixam, outros procuram algo para se esconder... As flechas não param de chover. É um massacre... Cada Guardião atingido enquanto corre. Os homens da Caravana atiram sem parar. Besta Louca sorri a cada Guardião que cai morto por uma flecha sua. O líder desvia, corre, se abaixa, mas por fim é atingido na perna. Olha para os arqueiros lá em cima, e outra flecha acerta seu ombro. Ele cai.
Todos os homens estão mortos.
O líder, único sobrevivente, respira com dificuldade e sentindo muita dor. Alguém se aproxima, caminhando tranquilamente. Ele olha, mas vê apenas os pés calçados. Não é um dos arqueiros. Até que aquela pessoa chega ali e para. É Segismundo. O líder o olha nos olhos.
SEGISMUNDO — O seu grupo estava me tirando as noites de sono... Não tirará mais.
O homem tosse com dificuldade. Segismundo saca sua espada.
SEGISMUNDO — É isso que acontece com todo aquele que ousa parar a Caravana da Morte.
Então Segismundo enfia a espada no peito do líder, que expira... e morre.
Os outros da Caravana chegam ali. Besta Louca olha para o massacre com um brilho no olhar. Segismundo limpa sua espada, guarda-a, arruma sua postura e sai tranquilamente, de cabeça levantada.
CENA 14: INT. BELÉM – TEMPLO – CELA – DIA
O Ancião e o Comandante conversam no lado de fora da cela de Tamires.
ANCIÃO — (aflito) Um massacre!... Todo aquele grupo dos Guardiões está morto!
TAMIRES — (fingindo) Mas como?! Eu não sabia, senhor!
O Ancião agarra as grades.
ANCIÃO — Sabia! Você sabia! Diga, Tamires!
TAMIRES — Eu juro, senhor! Eu juro que não sabia que se tratava de uma armadilha! Não poderia jamais imaginar! O que lhe contei foi o que fiquei sabendo! Foi o que me passaram pelo mensageiro! Eu apenas... apenas passei a vocês...
COMANDANTE — Talvez ela esteja falando a verdade, senhor.
Transtornado, o Ancião encara o nada... Então sai dali, seguido pelo Comandante. Tamires, em sua cela, quebra o disfarce e sorri satisfeita.
TAMIRES — Achei foi pouco!
Os presos das outras celas comemoram.
CENA 15: EXT. BELÉM – TRIGAL – DIA
Tani e Josias se aproximam da tenda onde está Boaz analisando relatórios. Ele olha para eles.
BOAZ — Que semblantes são esses?
JOSIAS — Não soube?
BOAZ — Soube do quê?...
TANI — Dezenas dos Guardiões foram mortos. Uma armadilha.
BOAZ — Aquela missão com base na informação de Tamires?
TANI — Sim, informação daquela cobra do deserto. Não deveriam ter confiado nela. Com certeza ela sabia.
BOAZ — Meu Deus...
Então Josias nota, longe dali, Diana passando. Seus olhos dilatam enquanto ele a acompanha com o olhar... Na certa, seu coração se aperta.
CENA 16: EXT. DESERTO – DIA
Apesar de bastante cansadas, Noemi e Rute continuam sua caminhada. Rute segura Noemi ao seu lado, dando-lhe apoio, pois sua sogra está um tanto fraca.
RUTE — Aguente firme, senhora... Já devemos estar perto de Belém...
Elas continuam.
RUTE — A senhora sabe por onde é? Lembra-se do caminho?
Noemi olha para frente.
NOEMI — (apontando) Por ali.
Mas ela então aponta outro lado.
NOEMI — Não, por lá...
Confusa, ela aponta um terceiro lado.
NOEMI — Rute, eu não sei... Não consigo...
RUTE — Tudo bem, senhora, vamos dar um jeito... Segue firme--
De repente Noemi desaba no chão e Rute se assusta.
RUTE — Noemi!
Rute tenta levantá-la, mas não consegue. Noemi está inconsciente.
RUTE — Senhora Noemi! Senhora, por favor!
Desesperada, Rute confere a respiração da sogra. Olha para os lados... nota, perto dali, algumas árvores.
RUTE — Senhora, espere aqui... Eu já volto!...
Rute sai correndo naquela direção e Noemi fica ali desmaiada.
Alcançando as árvores, Rute para. Ajeita o cabelo e analisa os galhos. Então começa a parti-los...
Com vários pedaços reunidos, ela começa a quebrar, limpar, emendar uns aos outros com uma corda que trouxe... E sempre de olho em Noemi.
Por fim, ela termina sua obra: uma maca grosseira e improvisada, mas funcional. Aplica força testando-a.
RUTE — Ótimo.
Rute volta correndo até Noemi, ainda desmaiada.
RUTE — Senhora... Senhora! Eu trouxe um transporte... Vamos...
Com bastante dificuldade, Rute vira Noemi até ela ficar em cima da maca. Ajeita-a ali e coloca seus pés sobre uma madeira para não deslizar da maca.
Noemi abre os olhos com dificuldade...
NOEMI — Rute...
RUTE — (sorrindo) Senhora!... A senhora desmaiou... Eu fiz essa maca para carrega-la, agora não precisa mais caminhar.
Noemi tenta entender onde está, mas devido à falta de forças, desiste.
RUTE — Apenas fique acordada, tudo bem? Fique acordada conversando comigo, e eu a levarei até Belém.
Rute então passa uma corda em um lado de sua obra e começa a ir, puxando a maca com Noemi pela corda. O lado dos pés vai sendo arrastado na areia, de forma que a maca fique nem em pé, nem deitada, mas inclinada. Rute se esforça para puxar.
RUTE — Senhor!... Me dê forças... para chegar em Belém...
O tempo passa...
Devido ao esforço, Rute avança muito mais devagar. Noemi, na maca, fecha e abre os olhos.
RUTE — Não durma, senhora... Olhe para o céu... Aprecie o azul do céu... Aprecie a criação de Deus...
Noemi olha para o alto, mas não por muito tempo.
RUTE — (esforçando-se para puxar a maca) Pense em Belém, senhora Noemi... Pense em quando chegarmos... As pessoas te recebendo... Imagine o semblante de felicidade... A alegria... Imagine, senhora...
Noemi tenta ficar acordada, mas não fala nada. Rute nem sabe se ela ainda está consciente.
Algum tempo depois, Rute nota que o sol está abaixando.
RUTE — Precisamos encontrar um abrigo...
Ela está muito cansada e não há abrigo algum por ali. Continua a avançar, mas também não conhece o caminho.
RUTE — (sussurrando) Estou perdida... Não faço ideia... de que direção tomar...
Ainda assim, ela continua.
RUTE — Senhor, mostre-me o caminho...
Rute prossegue com extrema dificuldade e o sol a cada momento se esconde mais no horizonte. Noemi, na maca, já adormeceu, mas Rute não sabe.
RUTE — Mantenha a fé, senhora!... Deus há de nos guiar!... Estamos perto... Estamos chegando em Belém... A senhora está quase em casa... Estamos quase em casa, senhora Noemi... Mantenha os olhos abertos, aprecie sua terra natal...
Pouco depois, o vento do deserto vem contra Rute e a areia a impede de enxergar direito. Mal consegue andar, mas ainda assim continua.
O tempo passa...
E o crepúsculo cai sobre aquela terra.
Rute agora caminha puxando a maca quase inconsciente também. Não vê o caminho à frente, e seus olhos se esforçam para não se fecharem.
RUTE — Precisamos... chegar... Precisamos... Senhora Noemi... Falta pouco... Belém... é logo ali...
Devido à sua condição, Rute acaba pisando no rabo de uma cobra, que imediatamente morde sua perna. Rute assusta minimamente e olha, mas a cobra já a soltou e foi embora. Ela franze o cenho de dor, mas não diz nada... Mal entende o que está acontecendo... Apenas segura a corda e puxa a maca.
RUTE — Vamos, senhora Noemi... Precisamos ir... Estamos chegando...
Ela está cada vez mais e mais fraca.
RUTE — Deus... nos ajudará... Não durma...
Rute fecha os olhos de vez e ainda caminha alguns passos assim.
RUTE — Não durma... Senhora Noemi... Estamos chegando...
Seus braços fraquejam e ela solta a corda, fazendo a maca cair de vez no chão. Nela, Noemi continua adormecida. Rute, de olhos fechados, mas ainda de pé, murmura.
RUTE — Estamos perto... Senhora...
Então ela desaba e cai desacordada.
As duas ficam ali caídas e adormecidas em meio à escuridão do deserto.
FADE OUT:
FADE IN:
Os olhos de Noemi se abrem. Por alguns instantes encaram o teto.
Então eles se mexem tentando identificar o local. Noemi vira a cabeça com dificuldade. É um quarto...
Limpa os olhos, se ajeita na cama... e olha com mais atenção: é um quarto comum, mas bem limpo. A luz da manhã e o ar fresco entram pelas portas e janelas bem abertas. Cantos de pássaros e vozes vêm lá de fora.
Noemi franze o cenho, estranhando... Está totalmente confusa.
RUTE (O.S.) — Acho que ela acordou...
De repente Rute vem lá de fora e olha para Noemi. Atrás dela entra um casal de idosos simpáticos.
NOEMI — Rute?...
RUTE — (se aproximando) Senhora Noemi!... Que bom que acordou...
NOEMI — Onde estamos?
O casal se aproxima. Noemi os olha confusa.
MULHER — Noemi... Não se preocupe, fique tranquila. Eu me chamo Marília, e esse é meu marido Eloã.
ELOÃ — (sorrindo) É um prazer conhecê-la.
Ainda confusa, Noemi faz que sim.
MARÍLIA — Você está em nossa aldeia. Próxima à sua cidade, Belém.
NOEMI — Aldeia? Nunca soube de nenhuma aldeia próxima a Belém.
ELOÃ — A moça, sua nora, estava nos contando que você saiu de lá há 10 anos... Nossa aldeia foi fundada anos depois, por causa da fome.
Noemi entende.
NOEMI — E como viemos parar aqui?
ELOÃ — Foram encontradas essa manhã, aqui perto, pelo nosso vizinho quando ele ia ordenhar as cabras.
MARÍLIA — Ele disse que estavam caídas e pediu nossa ajuda para trazê-las. Trouxemos vocês para cá, pois a casa dele está com visitas...
Noemi faz que sim, pensativa.
NOEMI — Eu só me lembro de estar na maca... Rute me carregava... Depois tudo escureceu.
RUTE — Eu fiquei exausta, e ainda fui mordida por uma cobra...
Rute mostra a marca na canela.
NOEMI — (preocupada) Cobra?!... Rute...
RUTE — Não se preocupe, eu estou bem. Se os sintomas fossem se manifestar, eu já estaria sentindo. Ou a cobra não era venenosa... ou Deus me livrou. Mais uma vez.
MARÍLIA — De qualquer forma, Deus a livrou.
ELOÃ — Livrou as duas. Cruzou os nossos caminhos para que não morressem.
NOEMI — Você está bem, Rute?
RUTE — Estou sim, senhora. Acordei primeiro, desjejuei...
MARÍLIA — Se estiver se sentindo melhor, Noemi, levante-se e vá desjejuar também.
NOEMI — Obrigada.
Eles fazem que sim.
NOEMI — Qual é a distância daqui até Belém?
ELOÃ — Menos de um dia de caminhada. Mas podem se recuperar antes de seguirem viagem.
MARÍLIA — Fiquem aqui o tempo que quiserem.
Rute sorri bastante.
NOEMI — O que foi, Rute?
RUTE — É que... eu estou pensando... Há quantos dias vínhamos caminhando? Quantos desafios no deserto... E Deus nos guardando com Sua mão poderosa...
NOEMI — (colocando as pernas para fora da cama) Você está tentando ser otimista. A mão de Deus só tem me apertado.
Os três ficam um tanto constrangidos, mas nada dizem sobre isso.
RUTE — A senhora não prefere descansar mais um pouco? Talvez seja melhor... Depois vamos conhecer a aldeia. É um lugar muito bonito, a senhora vai gostar.
NOEMI — Não quero mais descansar, já estive muito tempo desacordada. Vou me levantar, me lavar e, se Marília e Eloã permitirem, desjejuar. Estou faminta...
O casal de idosos sorri, e IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!