CENA 01: CASA DE OMAR/SALA/INT./TARDE
Lica ainda em choque.
LICA – Meu Deus, isso não pode estar acontecendo!
Ela encara o corpo de Omar, com asco.
LICA – Verme maldito! Você só me traz problemas!
Lica se levanta. Meio desnorteada, anda de um lado para o outro, sem saber o que fazer.
Então, algo a chama a atenção.
Ela olha atentamente para a porta da cozinha, de onde se vê o fogão.
LICA – (SORRI) E por que não?
CENA 02: CASA DE OMAR/COZINHA/INT./TARDE
Lica entra na cozinha e pega uma tesoura culinária no caminho até o fogão. Sem perder tempo, faz um corte na mangueira de gás. Ela abandona a tesoura em qualquer lugar e vai embora.
Da porta da cozinha, vemos Lica sair rapidamente pela porta da frente, correndo sem olhar para trás.
CENA 03: DELEGACIA/CELA/INT./TARDE
Palmira se surpreende ao ver o delegado abrir a porta da cela. Ela se alegra ao ver Conrado e corre para abraçá-lo.
PALMIRA – Charles Bento!
CONRADO – Ô, mainha!
Conrado beija o rosto de Palmira. O delegado apenas observa a cena.
DELEGADO – Seu filho pagou a fiança. Considere-se uma mulher livre.
PALMIRA – (DEBOCHADA) Acho que eu ia passar o resto de meus dias nesse ninho de porco? Quem tem padrinho não morre pagão.
DELEGADO – Saiba que só está sendo solta por causa dessa lei medíocre do Brasil.
PALMIRA – Se engane não! Use outro tipo de argumento. Brasil é um país de primeiro mundo, com leis fortes. O que acontece é que minha prisão foi arbitrária.
DELEGADO – A senhora me desacata e ainda tem coragem de dizer que sua prisão foi arbitrária.
PALMIRA – Sim! E digo mais: só não lhe processo pois sou uma mulher que arrota money, meu amor!
CONRADO – Mainha, acho melhor irmos embora.
PALMIRA – Vamos mesmo, pois esse lugar fede a vaselina e nunca mais quero voltar a comer essa merda desse doce de banana.
DELEGADO – Bem que a senhora comeu bastante doce.
PALMIRA – Claro, gatão. Era isso ou comer os ratos da sarjeta! Porque a comida que vocês servem parece lavagem para porcos. (GRITA E SE CHACOALHA) Ô a bisteca, ah!
Conrado pega Palmira pelo braço e vai embora com ela.
CENA 04: COLÉGIO/QUADRA/INT./TARDE
Com a guia de mão, Adson caminha em direção à arquibancada. Ali estava Edu, sentado, pensativo.
ADSON – Professor. Eu te procurei o dia todo, mas não lhe encontrei. Me disseram que estava aqui.
Edu, triste, apenas o olha. Adson se aproxima cada vez mais.
ADSON – Queria me despedir, mas também saber se aconteceu alguma coisa. Nunca ficou tanto tempo sem falar comigo. Eu fiz alguma coisa?
Edu com os olhos marejados.
ADSON – Por favor, fala comigo. Se eu fiz alguma coisa, me diz!
EDU – (RÍSPIDO) Vá embora!
ADSON – Ei, sou eu, Adson! Por que está falando assim comigo?
Mesmo chorando, Edu tenta se manter firme.
EDU – A partir de hoje, só me procure como professor. Peço que só se aproxime de mim se tiver dúvidas relacionadas à minha matéria.
ADSON – (TRISTE) Eu nunca pensei que você me trataria dessa forma.
EDU – Está mais do que na hora de colocarmos os pingos nos is. Está havendo uma grande confusão entre nós.
ADSON – Está certo. Vou respeitar sua vontade.
Trilha Sonora: True Colors – Cyndi Lauper
Adson se vira e volta por onde veio.
Sozinho em cena, Edu chora.
EDU – (P/SI) Precisamos nos afastar, Adson. Para o nosso próprio bem.
CENA 05: MANSÃO FORTUNA/SALA DE ESTAR/INT./TARDE
Iza e Penélope se surpreendem ao ver Conrado chegando com Palmira.
PALMIRA – (SORRI, RADIANTE) Boa tarde, bagaça! Vocês não sabem o prazer que é estar de volta!
Iza e Penélope reviram os olhos.
PALMIRA – Animação, meninas! Palmirão do Pop está de volta pra hitar com vocês!
IZA – Era bom demais pra ser verdade!
PENÉLOPE – E eu achando que você iria apodrecer na cadeia.
Palmira cai na gargalhada.
PALMIRA – Mas que recepção calorosa. Até me emocionei, sabe.
CONRADO – Ai, gente! Não vão começar, né?
PALMIRA – Cale a boca, Charles Bento!
IZA – Não manda meu marido calar a boca!
PENÉLOPE – Seu marido?
IZA – Ah, não? E ele é marido de quem, então?
PENÉLOPE – Queridinha, você sabe que isso só aconteceu por causa de dinheiro.
IZA – Independentemente. Quem carrega o sobrenome Fortuna sou eu.
PENÉLOPE – Pois é. E saiba que ele ficará lindo na sua lápide, sua safada!
IZA – Eu vou meter a mão na cara da tua amante, Conrado!
PALMIRA – (SORRI) Ai, eu me divirto muito com as brigas dessas ciscadeiras!
Conrado apenas observa tudo aquilo.
CENA 06: PETRÓPOLIS/RUA/EXT./TARDE
Pereira disfarçado, sentado num bar na beira da estrada. Tenso, sempre alerta.
PEREIRA – (IRRITADO) Maldita vida! Cada dia tenho que me esconder num lugar diferente!
De repente, algo o chama a atenção.
Do outro lado da rua, Alzirão se dirigindo a um prédio, com uma sacola de mercado na mão.
PEREIRA – (INCRÉDULO) Não pode ser! Ela tá viva?!
Ele se levanta e encara Alzirão. Distraída, ela não o percebe.
PEREIRA – (IRRITADO) Sapatão dos infernos! Por sua culpa tive que abandonar minha família! Mas agora mesmo vou resolver essa situação!
Pereira leva a mão à sua cintura. É possível ver o contorno de um revólver marcando a camisa naquela região.
CENA 07: MANSÃO FORTUNA/ESCRITÓRIO/INT./TARDE
Conrado sentado na poltrona, pensativo. Segundos depois, Iza entra. Os dois se surpreendem ao verem um ao outro.
IZA – Me desculpe, não sabia que estava aqui.
CONRADO – Se desculpe não. Não é tu que vive dizendo que a casa e´tua também?
Iza apenas o olha.
IZA – Melhor eu me retirar. Estou um pouco cansada para brigar.
Imediatamente, Conrado se levanta e corre até ela.
CONRADO – Pode ficar, eu saio.
IZA – Eu insisto.
Os dois se encaram por algum tempo.
CONRADO – Aqui é o lugar onde eu passo um tempo quando eu tô meio pra baixo.
IZA – Parece que temos algo em comum. Esse é o único lugar da mansão que me traz um pouco de paz.
CONRADO – Esse silêncio conforta.
IZA – Nem de longe parece um pedaço de uma casa que vive em pé de guerra.
CONRADO – Se conhecesse Moinhos, você veria o que é paz! Sabe, tenho saudade de minha terrinha. Eu era tão feliz!
IZA – Daí você veio pro Rio de Janeiro e se casou comigo.
Iza solta uma risada. Conrado fica meio desconfortável.
CONRADO – Não foi isso que eu quis dizer.
IZA – Eu sei que eu estraguei sua felicidade. Deve ser muito difícil amar uma e estar casada com outra.
CONRADO – Nada disso é culpa tua.
Sem reação, Iza apenas observa Conrado se aproximar.
CONRADO – Quem diria que um dia estaríamos numa prosa como adultos civilizados.
Os dois sorriem um para o outro.
Trilha Sonora: Perdóname – Camilo Blanes
IZA – O que foi?
CONRADO – Nunca tinha parado pra prestar atenção na tua beleza.
Tímida, Iza abaixa a cabeça. Com os dedos, Conrado levanta seu rosto e, em seguda, a beija. O beijo, intenso, é interrompido por Iza depois de algum tempo.
IZA – O que foi isso?
CONRADO – Eu não sei o que deu em mim. Me perdoa!
Iza o encara e, em seguida, abandona o escritório correndo.
CENA 08: MORRO DO ALEMÃO/RUA/EXT./NOITE
Uma senhora desce do ônibus. Aparentando seus 65 anos, com uma expressão cansada, a mulher caminha pela calçada em direção à casa de Omar.
CENA 09: CASA DE OMAR/SALA/INT./NOITE
A senhora entra em casa e estranha ao encontrar tudo no escuro. Ela se demonstra incomodada com um forte cheiro.
SENHORA – Será que Omar saiu e deixou o gás aberto?
Ela põe a bolsa no chão, tapa o nariz com a própria blusa e caminha pela sala. De repente, ela tropeça em algo e cai. Mesmo com a escuridão, ela consegue reconhecer o corpo de Omar.
SENHORA – Omar… Omar, meu filho!
Ela fica nervosa ao não vê-lo reagir, e ainda mais ao sentir o sangue na sua cabeça. No desespero, ela se levanta e se dirige ao interruptor de luz.
CENA 10: MORRO DO ALEMÃO/RUA/EXT./NOITE
Tudo tranquilo, até que, de repente, a casa de Omar é engolida por uma grande explosão.
CENA 11: HOSPITAL/CANTINA/INT./NOITE
Helena sentada em uma mesa, impaciente.
Algum tempo depois, um médico chega e se senta à mesa, de frente para ela.
HELENA – Boa noite, doutor Roberto.
ROBERTO – Desculpe a demora, doutora Helena. Estava no meio de um procedimento.
Ao fundo, nota-se Palmira chegando. Ao perceber Helena e Roberto, Palmira estaciona e parece prestar atenção neles.
ROBERTO – Confesso que fiquei um pouco encabulado com seu convite. Nunca fomos tão próximos assim.
HELENA – Eu serei bem direta: tive acesso ao laudo da morte de Perfeito Fortuna e averiguei uma série de incompatibilidades no laudo.
Roberto fica nervoso. Helena o encara, séria.
ROBERTO – Eu não sei do que está falando, doutora Helena. Com licença…
Roberto faz menção de se levantar, mas “congela” com o que Helena diz.
HELENA – Se o senhor sair daqui, eu armo um escândalo. Não tenho nada a perder.
Lentamente, Roberto volta a se sentar.
ROBERTO – (TENSO) O que quer de mim?
HELENA – Nada além da verdade. Pelo que li no laudo, a causa mortis de Perfeito Fortuna foi uma obstrução no fluxo sanguíneo. Só que, horas antes, o senhor mesmo havia feito um exame que atestou tudo se encaminhando para a melhora do seu quadro e que não havia nada de errado com seu fluxo sanguíneo.
ROBERTO – Doutora, a senhora sabe que quadros clínicos podem mudar drasticamente.
HELENA – (IRRITADA) Não me tire como burra! Lembre-se que também sou médica! E, pela minha experiência, uma obstrução no fluxo sanguíneo no estado em que Perfeito se encontrava só poderia se dar em decorrência de uma embolia gasosa.
Roberto assustado com Helena.
HELENA – O senhor sabe muito bem onde quero chegar.
Roberto concorda com a cabeça.
HELENA – Uma injeção de ar nas veias poderia perfeitamente causar uma embolia gasosa. (T) Bom, podemos resolver isso pelo método fácil, mas se o senhor quiser podemos usar de outros meios, como, por exemplo, uma perícia. O que o senhor prefere?
ROBERTO – Eu não posso dizer nada! Se escondi a verdade, foi por medo!
HELENA – Então, o senhor acaba de assumir que minhas suspeitas eram verdadeiras: Perfeito Fortuna foi assassinado!
Roberto e Helena se encaram.
CONTINUA…
Obrigado pelo seu comentário!