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Garotos de Aluguel - Episódio 02



Garotos de Aluguel - Episódio 02: Encontro


" 400 reais por 2h não precisa de coragem. Tenho certeza que você transou com desconhecidos sem ganhar nada em troca." Relato de um garoto de programa.


Cena 01: Quarto de hotel/Int./noite


Retorno imediato da última cena do episódio anterior.


O homem aponta uma arma para os garotos de programa.
HOMEM - Então, decidam, quem vai morrer?
GUILHERME - O quê é que você tá falando? Baixa essa arma!
HOMEM - Vamos lá, o que eu quero é simples: Vocês escolhem entre si, quem deve morrer, já os outros dois saem vivos dessa!
LÉO - Você não iria fazer isso! Seria preso. O hotel possuí câmeras por toda parte, alguém escutaria o barulho do tiro, isso é burrice!
HOMEM - Atrevido! Olha só, começou a perder pontos comigo. Isso é um erro. Um erro mortal. Mas respondendo, o hotel é meu! A suíte principal é só minha, costumo receber meus convidados aqui. Felizmente, nem todos saem vivos dessa! Mas os outros dois, bem, depois de uma suruba deliciosa na cama, ganham bem. Muito bem. E saem vivos!
GUILHERME - Eu tô fora! Não preciso disso! Tenho dinheiro. Tô indo! Guilherme ameaça sair da cama, o homem aponta a arma em sua direção.
HOMEM - Quieto, porra! - GRITA (T) - Cês tão achando que isso é uma brincadeirinha de principiante? Não, não é. Muitos já morreram aqui, nessa cama. Escolham. Ou morre um, ou morrem todos.
RODOLFO - Eu não posso morrer, eu tenho uma família que depende de mim!
LÉO - Eu também não! Tenho um filho que nasceu a pouco tempo, quero ver ele crescer!
GUILHERME - Eu não preciso disso aqui, eu tenho minha grana. Sou rico. Isso aqui é só por esporte!
HOMEM - Então, tá! Já que ninguém quer morrer, o que eu não acho estranho, afinal ninguém quer; só que preciso de uma morte pra deixar meu tesão aflorado! Se ajoelhem! Eu vou decidir. Escolherei um de vocês.

Foco nos olhos dos três rapazes. Aflitos. Medo no ar.
Eles se ajoelham e fecham os olhos. Segundos de silêncio.
Ouve-se um barulho de tiro. Ecoando por todo o quarto.
Foco no semblante do homem, ele rir. Rir incansavelmente, sem cessar.
Um a um, Guilherme, Léo e Rodolfo abrem os olhos. O homem não atirou em ninguém, porém em um vaso próximo.
HOMEM - Eu não sou tão louco! Até parece, mas eu não sou! Eu gosto de fazer ameaças. Na verdade, esse é o meu maior fetiche. Gosto de ver os olhos aflitos, de medo… dos meus amantes, meus garotos. E vi.
GUILHERME - Cê é um velho maluco, isso sim!
Guilherme tenta partir pra cima do tal homem, Rodolfo o segura pelo braço.
RODOLFO - Pera! Calma! Você já conseguiu o que queria, nos causar medo, mas, escuta, vai querer sexo ou não?
HOMEM - Claro que quero! Vamos! Já brinquei bastante. Agora quero que vocês me divirtam ainda mais. Vamos me dêem mais tesão!
O homem começa a tirar a roupa.
Close no olhar dos três garotos de programa, passado o susto.


Cena 02: Hotel/ Ramal de entrada/ Int./Noite


Os garotos saem do hotel, eles se olham. Depois de um tempo se entreolhando, sérios, começam a rir.
GUILHERME - Velho imbecil!
RODOLFO - Eu quase caguei nas calças! Não vou mentir.
LÉO - Parece engraçado agora, depois do susto. Mas na hora, a vontade que eu tinha era chorar e pedir clemência!
GUILHERME - É cada fetiche esquisito, mano! Certo dia, uma moça pediu pra que eu cagasse em cima dela, acredita?
LÉO - Nem me fala! Muitas histórias! O importante é que ele pagou e pagou muito bem.
RODOLFO - Menos mal. (T) Bora beber uma cervejinha?
GUILHERME - Eu topo!

LÉO - Acho melhor não, eu tenho que voltar pra casa. Tenho um filho pequeno, minha mulher já deve estar preocupada.
GUILHERME - Relaxa. É só uma cerveja. A gente merece, vai?! Principalmente depois do susto que a gente tomou hoje.
LÉO - Quer saber… Bora sim, é só uma cervejinha! Close nos três, andando.



Cena 03: Bar/Int./Noite


Close na cerveja sendo distribuída nos copos. GUILHERME - Um brinde! Um brinde ao pós-susto! Eles brindam.
LÉO - Nossa vida passou literalmente diante das nossas mãos.
RODOLFO - De fato. Pequena pausa.
GUILHERME - A quanto tempo vocês estão nessa vida?
RODOLFO - Bem, eu tô nessa desde que meu pai foi baleado e morto na minha frente. Eu era o mais velho de três irmãos. Minha mãe possui uma doença respiratória grave, não consegue respirar sem ajuda de aparelhos. São crises e mais crises. Sem a ajuda dela, tive que me virar pra sustentar minha família, procurei trabalho, e procurei muito, mas não consegui, emprego tá difícil nesse Brasil. Sem opção, busquei o caminho mais fácil de conseguir dinheiro. Minha mãe não sabe de nada, tenho certeza que se soubesse não queria nenhum tipo de ajuda. Pra todo o efeito, trabalho numa hambúrgueria, fachada, claro. Queria muito sair dessa vida. Muito. Mas não consigo mais.
Virou fácil. Essa é a minha realidade de hoje: Garoto de programa.
LÉO - Poxa! Já eu, bem, fui garoto de programa, comecei aos 16 anos, não por necessidade, mas por curiosidade. Fumava maconha também e tinha uma vida dupla. Trabalhava e estudava. A noite fazia programa. Depois de um tempo, acabei deixando a prostituição e prestei vestibular em direito. Passei.
Me formei. Casei. Tive um filho lindo. Tudo estava muito bem, mas acontece que faltava algo, sabe? Algo que pulsava dentro de mim, percebi então que eu me vicie no sexo sujo, pago. E mesmo não precisando do dinheiro, e tendo nojo do que eu faço, acabei totalmente ligado à esse mundo, que não sai mais de mim. Está entranhado como sujeira fétida. Bem, essa é a minha história.
GUILHERME - Cada história mais inacreditável que a outra!
LÉO - E você, como acabou nessa vida?

GUILHERME - Minha família é rica! Essa cerveja aqui que estamos tomando inclusive, foi fabricada na indústria do meu pai, que um dia será minha. Não preciso da grana da prostituição. Como disse lá pro velho, faço por esporte. Ser mauricinho, mano, é muito chato! Eu gosto de aventura. Gosto de correr riscos. E acho que ser garoto de programa me proporciona isso. Por isso faço o que faço.
Os três se olham.
RODOLFO - Garotos de aluguel unidos por um fetiche maluco!
LÉO - Melhor, unidos por uma quase morte, que seria provocada por um maluco.
GUILHERME - Um louco safado, porque hein… deu um trabalho danado pra gente.
Os três caem na gargalhada. Rodolfo olha para o relógio.
RODOLFO - Está muito tarde! Eu já vou indo.
LÉO - Eu também já vou! Meu filho e minha esposa me esperam.
GUILHERME - Tô indo também… (T) Cara, não sei o porquê, talvez intuição, mas sinto que a gente ainda vai se ver por aí. Bem, foi um prazer conhecer vocês e de alguma forma me sentir acolhido, já que é tão difícil esconder de todo mundo o quê a gente faz. Na verdade, tenho medo de ser quem eu sou, devido ao preconceito que existe.
LÉO - Sim, somos humanos como qualquer outro, e o fato de nos vendermos não significa que deixamos de fazer parte da sociedade. Foi um prazer conhecer vocês.
RODOLFO - isso mesmo! Enquanto a sociedade tiver preconceito com o que fazemos, estaremos escondidos, sendo pessoas que não somos. Bom, foi legal dividir minha vida com vocês! Prazer. E, ah, tenho certeza que a gente vai se esbarrar por aí, sim, talvez até em outro fetiche maluco.
GUILHERME - Vira essa boca pra lá! Então é isso, até mais! Eles se despedem e saem do bar.
Cada um segue um caminho diferente.
Do alto, a Cam mostra de cima, ambos caminhando em direção opostas. Caminhos opostos, mas uma mesma realidade.

Cena 04: Casa de Léo/Int./Noite

Léo entra devagarzinho, pra não acordar Dina.
Quando tenta subir as escadas em direção ao quarto, é surpreendido por Dina.
LÉO - Que susto, amor! Ainda acordada?
DINA - Você não tem vergonha de mentir pra mãe do seu filho desse jeito?
LÉO - O quê é que você tá falando?
DINA - Você saiu cedo do escritório, e mais: não tinha papelada nenhuma pra resolver. Seja sincero comigo, você voltou… voltou a se prostituir, é isso?

Close no rosto assustado de Léo. Congela.

Continua no próximo episódio…






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