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Na Boca Do Povo - Capítulo 09


 

Capítulo 09

Cena 01 – Mansão Martins de Andrade [Interna/Manhã]

(O dia amanhece e aos poucos a cidade de São Paulo ganha força em seu ritmo frenético. No bairro do Morumbi onde a mansão de Demétrio estava localizada, as ruas estavam tranquilas. Os empregados começam a ocupar seus respectivos postos na Mansão. Eva estranha pelo horário que Demétrio ainda não tenha decido para tomar o café da manhã).

EVA: (Sobe a escada da mansão carregando uma bandeja com café da manhã. Em seguida, ela abre a porta do quarto distraída) Bom dia, senhor Demétrio! Me desculpe incomodá-lo, mas como não desceu para tomar o seu café, tomei a liberdade de... Meu Deus! (Eva grita ao avistar o corpo de Demétrio caído ao lado da cama e derruba a bandeja).

(Completamente fora de si e aos gritos, Eva atravessa o corredor da mansão correndo, desce a escada e pega o telefone).

EVA: A-a-a-alô? Seu Ângelo? O Senhor Demétrio... Ele está morto, ele morreu! (Diz aos gritos).

 

Cena 02 – Delegacia [Externa/Manhã]

(Do lado de fora da delegacia, Francesca e Zeca deixam o recinto após passarem a noite detidos).

FRANCESCA: Que bela porqueria! (Diz se limpando ao sair).

ZECA: Ah, a liberdade! (Comemora por ter sido liberado).

FRANCESCA: Isso daí está muito errado, sabia maledetto?

ZECA: Que foi agora, do que você está falando carcamana?

FRANCESCA: Não está certo, como que la polizia te deixou sair? Era pra te deixar trancado e jogar a chave fora, bode velho.

ZECA: Quer saber? Eu vou embora, antes que eu seja preso de novo por ter que te esganar. Sua doida! (Zeca vai embora e deixa Francesca falando sozinha).

FRANCESCA: Espera bode velho, você não vai me deixar parlando sola! (Francesca corre atrás de Zeca para continuar brigando).

 

Cena 03 – Apartamento de Glória [Interna/Manhã]

Música da cena: Me Leva – Alice Caymmi

(Imagens aéreas de São Paulo são apresentadas, do alto podemos ver vários prédios de diferentes estilos, até que surge o modesto onde Glória mora com os filhos).

GLÓRIA: Como assim, você preparou só isso? (Questionou ao ver Judith colocando a mesa, onde é servido ovo frito e café preto).

JUDITH: Pra ser feliz, Dona Glória! Sua geladeira tá igual galinheiro, só tem pé de galinha e ovo.

FERNANDA: Não reclame, mamãe. Dê graças a Deus que temos algo para comer!

(O telefone começa a tocar. Judith coloca o bule de café em cima da mesa, vai até a sala de estar, pega o telefone e atende).

JUDITH: (Volta para a sala de jantar com o telefone na mão) É o Senhor Ângelo Vasconcelos!

GLÓRIA: O advogado do meu irmão? O que será que ele quer?

FERNANDA: Deve ser alguma coisa sobre a revista, me dá o telefone, eu vou atender. (Fernanda pega o telefone e atende). Alô? Oi Ângelo, como vai? Milagre você ligando aqui pra casa... Como disse? Espera, eu não entendi.

(Glória e Judith estranham o comportamento de Fernanda enquanto fala ao telefone).

THIERRY: Ovo frito de novo? (Diz ao se sentar e observar o que está servido na mesa).

GLÓRIA: O que foi, Fernanda? O que esse advogado queria? (Pergunta ao perceber que Fernanda desligou o telefone).

JUDITH: Não deve ser notícia boa, ela ficou branca que nem papel.

FERNANDA: Ele ligou para dizer que o tio Demétrio morreu! O tio Demétrio está morto... (Diz em estado de choque).

GLÓRIA: (Leva as duas mãos a boca, horrorizada).

 

Cena 04 – Apartamento de Evandro [Interna/Tarde]

Música da cena: Sampa – Caetano Veloso

(A tarde chega com um clima completamente cinzento e a chuva se aproxima. Eu seu apartamento, Demétrio comemora as notícias da TV).

EVANDRO: (Abre um espumante) Eu preciso brindar a nova fase que está prestes a começar! Ao seu dinheiro que agora passará para a minha esposa e que a metade consequentemente será minha. É meu caro Demétrio, o mundo é dos espertos! Tomara que você esteja queimando no inferno.

(Evandro aproxima a garrafa a TV enquanto jornalistas falam sobre a morte do empresário e finge brindar, para em seguida beber um gole de champanhe na própria garrafa).

 

Cena 05 – Praia do Patacho, Porto de Pedras [Interna/Tarde]

(Luiza Helena amarra seu barco no porto e aos poucos retira alguns cestos com frutos do mar. Quando estava prestes a sair, acabou por encontrar uma pessoa que não esperava).

LUIZA HELENA: (Coloca os cestos na areia) Você aqui? Espero que tenha mudado de ideia e tenha vindo me falar o paradeiro de minha irmã.

TAMARA: É exatamente isso, eu pensei bem, a minha mãe me fez refleti e eu vou falar a verdade. Eu sei onde a Betinha está agora!

LUIZA HELENA: Pois então pode começar a abrir o bico, eu quero saber onde a minha irmã está e é agora!

TAMARA: (Começa a passar as informações para Luiza Helena que a ouve atentamente).

 

Cena 06 – Mansão Martins de Andrade [Interna/Tarde]

(Trajando preto, Fernanda, Thierry e Glória caminham pela sala de estar da mansão de Demétrio. Ângelo, Suzana e outros funcionários já estão no local a espera do corpo para começar o velório).

ÂNGELO: Os meus mais sinceros pêsames a família. (Diz ao se aproximar).

FERNANDA: Obrigada! (Responde com os olhos avermelhados e inchados).

GLÓRIA: (Observa a casa como se estivesse procurando algo) Onde ele está?

ÂNGELO: A funerária não deve demorar, a autópsia também não demorou muito em virtude dos fatos.

FERNANDA: Do que você está falando? Vocês já sabem do que o meu tio morreu?

GLÓRIA: Ele estava escondendo algo, minha filha. Era notório!

ÂNGELO: Sua mãe tem razão, Fernanda. O seu tio estava doente, mas optou por não revelar a família, no fundo ele não queria preocupar ninguém e nem que sentissem pena dele. Há algum tempo ele foi diagnosticado com um quadro severo de leucemia já em estado bem avançado e sem muitas chances. Além disso, ele se recusou a fazer o tratamento até ontem...

THIERRY: Até ontem? (Questiona).

ÂNGELO: Ao que tudo indica, ele ingeriu uma grande quantidade de medicamentos ontem a noite e isso provocou uma espécie de pane no organismo dele, como ele estava sozinho, era impossível receber socorro. Os médicos encontraram uma grande quantidade de medicamentos no organismo dele.

GLÓRIA: Leucemia? (Repete). Eu sabia que algo de errado estava acontecendo, eu questionei e ele não quis me contar, ele não quis se abrir comigo.

SUZANA: (Se aproxima para comunicar algo) A segurança acaba de interfonar, a funerária já chegou com o corpo. Vou recebe-los, com licença!

ÂNGELO: Tem toda.

(Os funcionários preparam a sala de estar para iniciar o velório, o corpo de Demétrio é posicionado em um grande e luxuoso caixão).

EVA: (Secando as lágrimas com um lenço, de longe, Eva encara Glória).

 

 

Cena 07 – Chesca’s, Restaurante Italiano [Externa/Noite]

(Depois de fugir do local onde costumava ficar, Lola perambulou por ruas e ruas com fome e sem rumo, começou a se sentir mal).

LOLA: (Fica com a visão embaçada e tenta se segurar pelas paredes, até que perde os sentidos e desfalece numa calçada).

(Do interior do restaurante, Francesca e Enrico percebem que alguém caiu na calçada e correm para ajudar).

FRANCESCA: Uma donna, ela desmaiou bambino!

ENRICO: (Olha para Lola e a reconhece) É ela, mamma! É a mulher que me salvou na outra noite, eu te contei, lembra?

FRANCESCA: Claro bambino, io me lembro. Temos que ajuda-la!

ENRICO: Vamos chamar uma ambulância?

FRANCESCA: Primeiro vamos levá-la para a saleta, vamos ver se ela reage. Daí decidimos se chamamos uma ambulaza ou non!

(Enrico e alguns funcionários carregam Lola para o interior do restaurante e Francesca vai logo atrás).

 

Cena 08 – Ruas de São Paulo [Externa/Noite]

(Maria Rita estava no ponto onde as garotas de programas ficavam à espera de clientes. Enquanto andava de um lado para o outro, ela reparou na forma estranha como uma das meninas se comportava).

ISABELLE TORNADO: (Divide a quantia em dinheiro que está com ela, parte ela esconde na bolsa e a outra no sutiã).

MARIA RITA: (Vai até ela para alertá-la) Eu estava ali de longe te observando, sei que não tenho nada a ver com isso, mas eu vou te dar um conselho. Eu vi o que você fez, é melhor não tentar passar a perna no Caruso, ele é muito esperto e fica muito violento quando fica irritado!

ISABELLE TSUNAMI: Agradecida pelo conselho, mas eu sou Isabelle Tsunami e não sou brinquedo, ele que venha... eu promovo destruição, querida.

CARUSO: (Se aproxima) Quantas vezes eu vou ter que dizer que a minha esquina não é um bar para as amiguinhas se reunirem e ficarem conversando? Aqui é local de faturar.

MARIA RITA: Pode deixar, Caruso. Nós já estamos indo...

CARUSO: Espera! Cadê o faturamento de ontem? Eu quero a minha parte agora.

MARIA RITA: (Abre a bolsa, retira o dinheiro e entrega para Caruso) Aqui está, toma.

CARUSO: (Pega o dinheiro e confere) Ok, sua parte está certa. Cuide em faturar mais essa semana, você está muito caidinha. E o seu, tsunami?

ISABELLE TSUNAMI: (Abre a bolsa, retira o dinheiro e também entrega para Caruso).

CARUSO: (Pega o dinheiro e confere) O que é isso? (Pergunta após contar o dinheiro).

ISABELLE TSUNAMI: Como assim o que é isso? É a sua parte do meu faturamento da semana passada.

CARUSO: (Agarra Isabelle pelo pescoço e começa a enforca-la) Tá me tirando de otário, sua vagaba? Tá achando que eu nasci ontem? Se você acha que vai me passar a perna, antes disso eu vou te arrebentar, você me entendeu?

ISABELLE TSUNAMI: (Com a pele avermelhada pela falta de ar, Isabelle tenta se desvencilhar de Caruso, mas não consegue).

MARIA RITA: (Se aproxima e começa a morder Caruso para que Isabelle não morra).

CARUSO: (Grita e solta Isabelle) Ai, sua vagabunda!

MARIA RITA: (Grita com Isabelle) Foge menina, foge...

ISABELLE TSUNAMI: (Cambaleando, foge correndo).

CARUSO: O que você pensa que está fazendo, perdeu a noção do perigo?

MARIA RITA: Ela é só uma menina, Caruso. Tenha piedade dela, ninguém merece morrer de uma forma tão brutal como essa.

CARUSO: Dessa vez eu vou deixar passar, com o susto que ela tomou, eu duvido muito que ela volte a tentar me roubar.

MARIA RITA: É melhor assim, você não vai se arrepender. Agora eu vou voltar para a batalhar e faturar bastante, você vai ver. (Maria Rita dá as costas e dá alguns passos).

CARUSO: Ô Rita! (Chama).

MARIA: (Vira-se ao ouvir o chamado e se aproxima de Caruso) Sim?

CARUSO: (Dá um soco no rosto de Maria Rita que cai no chão) Isso é para você aprender a não se meter mais onde não foi chamada. Aqui sou eu quem manda no pedaço, entendeu?

MARIA RITA: (No chão e com a mão no rosto por conta da dor, Maria Rita balança a cabeça sinalizando que entendeu o recado de Caruso).

CARUSO: Agora levanta daí, lava esse rosto e bota uma maquiagem. Carro velho não fatura! (Diz e vai embora em seguida).

 

Cena 09 – Mansão Martins de Andrade [Interna/Noite]

(Com a casa já movimentada em virtude do velório de Demétrio, Durant e Rafael vão até a mansão prestar as condolências).

RAFAEL: (Abraça Fernanda) Eu vim assim que eu soube, sinto muito!

FERNANDA: (Chora nos braços de Rafael) O meu tio, Rafa... O meu tio...

DURANT: Meus pêsames, eu espero que Deus conforte o coração de todos vocês.

GLÓRIA: Muito obrigada, Durant! Sem dúvida esse é um dos momentos mais difíceis e dolorosos para toda a nossa família.

DURANT: Tenho certeza de que seu irmão era uma excelente pessoa e gostaria que todos ficassem bem.

GLÓRIA: Nós iremos ficar, tenho certeza que vamos.

 

Cena 10 – Casa Abandonada, Porto de Pedras [Interna/Noite]

(Deitada num colchonete, Betinha navega em seu celular quando é surpreendida).

 

ROBEVAL: (Arromba a porta completamente bêbado).

BETINHA: O que é isso, o que você está fazendo aqui? (Pergunta assustada).

ROBEVAL: Teu homem chegou, princesa! (Diz ao fechar a porta com força).

BETINHA: Vá embora daqui, eu vou gritar se você não sair...

ROBEVAL: Pode gritar o quanto você quiser, ninguém vai te ouvir... Aqui somos só você e eu agora!

BETINHA: (Tenta correr e sair pela porta dos fundos, mas Robeval a impede).

ROBEVAL: Você não sair daqui, pelo menos não antes de ser minha! (Robeval rasga a blusa de Betinha).

BETINHA: (Grita e tenta se livrar das garras de Robeval, porém não consegue).

 

Cena 11 – Mansão Martins de Andrade [Interna/Noite]

(Na mansão, Glória se olha refletida no espelho do banheiro com o rosto ainda molhado. Tentou acordar de um pesadelo com água fria, porém caiu em si e percebeu que realmente o seu irmão tinha morrido e que ela estava ali).

GLÓRIA: Você precisa reagir, Glória! Desde quando você é assim sentimentalista? (Pergunta ao próprio reflexo ao se encarar no espelho).

(Glória seca o rosto com uma toalha branca e tenta se recompor. Arruma um pouco o cabelo e se prepara para voltar a sala de estar. Ao destrancar a porta, ela dá de cara com Eva).

GLÓRIA: (Leva a mão ao peito) Que susto, criatura! Quer me matar?

EVA: Não quis assustá-la, senhora!

GLÓRIA: Tudo bem, me deixe passar agora. Vou voltar para a sala.

EVA: (Permanece parada frente a porta, impedindo que Glória passe).

GLÓRIA: Que foi, ficou maluca? Eu disse que quero passar, Eva...

EVA: A senhora não me engana!

GLÓRIA: (Estranha o comentário de Eva) Do que você está falando?

EVA: A senhora odiava o seu irmão. Diversas vezes disse que queria vê-lo morto. Eu vi quando a senhora chegou aqui ontem à tarde.

GLÓRIA: (Finalmente compreende aonde Eva pretende chegar com suas acusações) Você está querendo insinuar que eu matei o meu próprio irmão?

EVA: E porquê não? A senhora repetiu tantas vezes.

GLÓRIA: Escuta Eva, eu vou relevar esse absurdo que você está dizendo. Sei que você era praticamente a sombra do meu irmão e está abalada com a morte dele, naturalmente todos estamos, mas eu não vou aceitar que volte a insinuar que eu matei o meu irmão, entendeu? Eu estive aqui sim, mas para uma visita de cortesia, afinal ele é o meu irmão e essa casa pertenceu aos meus pais. Agora com licença! (Empurra Eva e passa por ela).

EVA: (Observa Glória caminhar pelo corredor em direção à sala de estar e pensa em voz alta) A mim você não me engana, víbora!

 

Cena 12 – Casa Abandonada, Porto de Pedras [Interna/Noite]

(Com o endereço anotado num pedaço de papel onde a irmã está escondida, Luiza Helena resolve ir até a casa abandonada).

LUIZA HELENA: (Anda pela rua que Tamara indicou e procura a casa que ela mencionou) A casa que a Tamara falou deve tá por... Espera, que gritos são esses? É a voz da Betinha!

(Luiza Helena corre para a casa após ouvir os gritos de Betinha).

BETINHA: (Continua se desvencilhar de Robeval, que a agarra e tenta beijá-la) Socorro!

LUIZA HELENA: (Abre a porta e encontra Robeval tentando estuprar Betinha, então para salvar a irmã, ela avança em cima dele) Solta ela, seu desgraçado!

ROBEVAL: (Empurra Betinha, vira-se e olha pra Luiza Helena) Chegou a gostosona, vou me divertir com as duas!

(Robeval agarra Luiza Helena pelo pescoço e tenta se aproveitar dela).

LUIZA HELENA: (Tenta tirar as mãos de Robeval do seu pescoço).

(Desnorteada e se sentindo suja, Betinha tenta se recompor no chão, quando percebe que agora sua irmã está sendo atacada, olha para os lados como se tivesse buscando algo que ela pudesse usar para tirar Robeval de cima de Luiza Helena).

LUIZA HELENA: (Começa a perder o ar conforme Robeval a enforca, deixando-a na ponta dos pés) Me solta...

ROBEVAL: (Cheira Luiza Helena) Tá cheirosa, gostosa!

BETINHA: (Acerta a cabeça de Robeval com uma barra de ferro) Solta ela, seu porco imundo!

(Robeval cai no chão com os olhos abertos e logo uma poça de sangue se forma ao redor de seu corpo).

LUIZA HELENA: (Tentando recuperar o folêgo perdido, Luiza Helena encara Betinha e olha para o corpo de Robeval caído no chão) Será que ele morreu?

BETINHA: (Se desespera ao perceber que matou Robeval).

 

A imagem foca na expressão de Betinha aterrorizada. A cena congela e vira uma capa de revista.



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