Capítulo 02
A RAZÃO DE AMAR
Novela de João Marinho
Escrita por
João Marinho
Personagens deste capítulo
Afonso Valadares. Madalena Correia
Branca Valadares. Olímpio Vasconcelos
Eduardo Valadares. Otávio Correia
Fausto Valadares. Tereza Valadares
Herculano Raul Fernandes
Horácio Duarte Venâncio Correia
Jagunço Jacinto Vera Fernandes
Joaquim Valadares Vilma Duarte
Joana Washington
CENA 01/ PRAÇA/ EXT./ MANHÃ
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Herculano aperta o gatilho quatro vezes. O Coronel Afonso pausa o discurso e não consegue mais falar. Cai nos braços de Branca.
Close no Coronel agonizando nos braços de Branca. Ele fecha.
Close em Fausto com a mão no braço esquerdo cobrindo o ferimento causado pelo tiro.
BRANCA – Ele tá morrendo! (Desesperada) Chame Horácio, filho! (Para Eduardo) Vai ficar tudo bem, meu amor (para Coronel Afonso)
Horácio Duarte, o médico da família, aproxima-se do casal, enquanto o Coronel continua a agonizar e a sangrar muito, fechando os olhos lentamente até ficar inconsciente.
HORÁCIO – Temos que levá-lo pra o hospital (para Branca). Ele tá sangrando muito e não vai resistir se não levarmos ele logo para o Hospital Joaquim Valadares.
A ambulância surge para levar o Coronel Afonso ao hospital. Ele continua inconsciente.
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CENA 02/ PRAÇA/ EXT./ MANHÃ
Jagunço Jacinto e quatro outros jagunços estavam de tocaia, olhando para todo os lados a procura do autor dos disparos que atingira o Prefeito Afonso. Apontam as pistolas para cima e atiram para afastar as pessoas que ainda se aglomeravam no local.
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CENA 03/ HOSPITAL JOAQUIM VALADARES/ CORREDOR/ MANHÃ
Os enfermeiros correm, com a maca em que o prefeito está, para a sala de cirurgia.
Close nas expressões de desespero dos enfermeiros.
Close na expressão de desespero de Branca, abraçada ao filho.
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CENA 04/ HOTEL CASSINO/ QUARTO 12/ INT./ MANHÃ
Venâncio, Raul e Herculano brindam uma terça de vinho para comemorar o acontecido.
VENÂNCIO – Bom trabalho, meu caro! (Sorridente) Excelente trabalho!
RAUL – Eu não te disse que o homem era eficiente!
VENÂNCIO – Os meu jagunço são um bando de incompetente. (bebendo o vinho) Não acertam nem uma mosca.
HERCULANO – Estou disposto a ajudar o senhor em tudo que precisar!
VENÂNCIO – Finalmente o Coronel Afonso estará fora de meus caminho! (Sentindo-se aliviado) Aquele ali pode até não morrer, mas acordar ele não vai nunca!
HERCULANO – Eu disse que eu nunca errei um tiro (sorrindo e fumando um charuto) Tá pra nascer uma pessoa que é páreo pra mim.
VENÂNCIO – Tá pra nascer uma pessoa que ouse me enfrentar!
RAUL – O senhor volta quando lá pra fazenda?
VENÂNCIO – Hoje. (embebedando) Precisava descansar a minha mente! Madalena tá desconfiada que eu tenho uma amante
RAUL – Na minha casa não existe esse problema. Eu e a minha mulher somos um fiel ao outro!
VENÂNCIO – Eu e Madalena andamos nos aturando. Amor mesmo não existe mais!
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CENA 05/ PALMEIRÃO DO BREJO/ TARDE
Planos da cidade. A praça movimentada. Pessoas comentando o acontecido com o prefeito. Fachada do hospital.
CENA 06/ HOSPITAL/ SALA DE RECEPÇÃO/ INT./ TARDE
Branca; Eduardo; Fausto, com o braço enfaixado por conta do tiro, e Tereza esperam por notícias do Coronel.
Horácio sai da sala de cirurgia preocupado.
HORÁCIO – (para os quatro) A cirurgia foi um pouco delicada, mas conseguimos retirar as três balas (tentando ficar calmo). As próximas horas serão primordiais para observamos como ele vai reagir. (Com semblante triste) Não vou negar que as chances dele sobreviver são mínimas.
Branca, abraçada ao filho, cai nos prantos.
BRANCA – Meu marido não vai morrer! (Chorando) Meu coração diz que ele não vai morrer. E quem fez isso com ele vai pagar!
HORÁCIO – Ele pode ficar nesse estado que se encontra hoje por dias, semanas, meses, anos.
FAUSTO – Eu sei quem é o autor do atentado! Tenho certeza de que foi Venâncio Correia. Só ele pode ter feito isso.
HORÁCIO – Eu só peço que vocês rezem pelo Coronel!
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CENA 07/ HOSPITAL/ QUARTO 25/ INT./ DIA
O Coronel está deitado na cama, de olhos fechados.
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CENA 08/ DELEGACIA/ INT./ TARDE
O delegado Olímpio, sentado, pensativo, enquanto toma uma xícara de café.
OLÍMPIO – Palmeirão do Brejo não tem um dia de paz! (p/si) A rivalidade entre os Alves Correia e os Gomes Valadares está cada vez mais intensa e eu tenho certeza de quem dedo dos Alves Correia nesse atentado. (Levanta-se) Essa guerra nunca terá fim, meu Deus do Céu?!
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CENA 09/ PALMEIRÃO DO BREJO/ NOITE
Planos da cidade. A igreja iluminada. Crianças brincando na praça. Carros passando pela cidade.
Tocar a música “linda flor”, interpretada por Gal Costa.
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CENA 10/ HOTEL CASSINO/ RESTAURANTE/ INT./ NOITE
Cel. Venâncio e Madalena, de mãos dadas, entram e sentam-se à mesa.
MADALENA – Quero que a noite seja muito especial para nós dois! (Sorrindo)
VENÂNCIO – Os maus entendidos serão desfeitos e que nós vamos viver felizes, sem que ninguém atrapalhe o nosso casamento.
O garçom vai à mesa
GARÇOM – Desejam algo, senhores? (Com o cardápio em mãos)
MADAME – Quero uma taça de vinho!
VENÂNCIO – Duas, que eu também quero. A ocasião é muito importante, pois estamos prestes a completar 20 anos de casados! Também queríamos carne de sol ao molho de cerveja, farofa de cuscuz
O garçom anota os pedidos e sai de cena.
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CENA 11/ FAZENDA VALADARES/ QUARTO DO CORONEL/ INT./ NOITE
Branca e Eduardo estão deitados, abraçados, na cama.
BRANCA – Tudo isso vai passar, meu filho.
EDUARDO – Meu pai não pode morrer (chorando)
BRANCA – Infelizmente, esse é preço que se paga por carregar um sobrenome tão importante nas costas (beijando a testa de Eduardo). Num futuro não tão, você vai saber o peso do sobrenome Valadares. Mas o que eu posso prometer é que tudo vai ficar bem e seu pai vai morrer. Prometo que não vai!
EDUARDO – Eu não sei se quero seguir os passos de painho
BRANCA – Você tá muito muito novo pra pensar nisso. Vamos dormir que o dia foi longo
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CENA 12/ MANSÃO DA FAMÍLIA FERNANDES/ SALA DE JANTAR/ INT./ NOITE
Raul, Vera e Letícia, sentados à mesa, saboreiam a deliciosa janta
VERA – Jantar em família. Há quanto tempo tínhamos!
RAUL – Eu sempre ocupado com o meu trabalho e você com sua mãe doente
VERA – Mas hoje quem não está tão bem sou eu. Uma dor de cabeça e uma fraqueza. Não sei nem se vou conseguir terminar de comer.
RAUL – Deve ter sido alguma coisa que você deve ter comido e te fez mal!
LETÍCIA – Estou com muito sono. Não quero mais comer!
VERA – Eu também vou subir. A minha cabeça está quase explodindo!
Eles se levantam. Vera põe a mão na cabeça e não consegue se manter em pé, caindo sentada na cadeira.
RAUL – O que você tá sentindo, meu amor? (preocupado) Fique com a sua mãe aqui, que eu chamar o médico. (Raul vai ao telefone de parede e liga para o médico da família) Alô, Dr. Washington, a minha mulher está passando mal (ao telefone)
WASHINGTON (off) – Espere um pouco, que eu já estou indo aí!
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CENA 13/ MANSÃO DE FAUSTO/ QUARTO/ INT./ NOITE
Fausto e Tereza, deitados, conversam.
FAUSTO – Amanhã, tenho muito trabalho. Até Afonso se recuperar a minha rotina vai ser puxada!
TEREZA – Ainda acho que é muito cedo pra você voltar a trabalhar, ainda mais agora.
FAUSTO – Se eu não assumir a prefeitura, que vai assumir é o desgraçado do Coronel Venâncio. Eu não quero dá esse gosto a ele!
TEREZA – Não quero me intrometer nas suas decisões. Faça o que acha correto!
FAUSTO – Vamos dormir, que amanhã o dia parece que será mais longo que foi hoje.
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CENA 14/ FAZENDA CORREIA/ EXT./ MADRUGADA
Coronel Venâncio e Madalena saem do carro e ficam um tempo namorando.
VENÂNCIO – Hoje o dia foi bem agitado, mas terminamos da melhor forma possível.
MADALENA – Eu te amo! (Deu um selinho)
VENÂNCIO – Eu te amo também, meu benzinho!
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CENA 15/ FAZENDA CORREIA/ QUARTO/ INT./ MADRUGADA
Otávio vê, pela janela, os pais e comemora, dando pulos na cama, a conciliação de Venâncio e Madalena. Pingos de chuva começam a cair. Ele fecha a janela. Em seguida, deita na cama e se enrola no cobertor.
MADALENA (off) – A casa tá um escuro e um silêncio já devem todos estarem dormindo
VENÂNCIO (off) – Pra tá esse silêncio, Otávio já deve tá dormindo mesmo mesmo!
Os dois entram no quarto e veem Otávio de olhos fechados.
MADALENA – Filho, tá dormindo?
Otávio abre os olhos e boceja. Em seguida, se levanta e corre para abraçar os pais.
OTÁVIO – Como é bom ter a família junta novamente.
MADALENA – Criança é muito dramática mesmo! (Riu)
VENÂNCIO – Vou tomar um banho e dormir, que hoje o dia foi agitado e amanhã promete ser mais ainda.
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CENA 16/ MANSÃO DA FAMÍLIA FERNANDES/ QUARTO/ INT./ MADRUGADA
Dr. Washington termina de examinar Vera.
WASHINGTON (para Vera) – Nós vamos fazer os exames mais apropriado amanhã, mas tudo indica que você está grávida.
RAUL – Grávida? (Questionou, surpreso e emocionado) Que maravilha! Espero que dessa vez venha menino. Sempre quis ser pai de um menino!
VERA – Tem certeza, doutor? (Séria)
RAUL – Não está feliz, meu amor? (Estranhando a reação de Vera)
VERA – Claro que tô. Eu só não esperava engravidar agora!
WASHINGTON – Só os exames vão poder confirmar! Amanhã cedo eu já vou estar no meu consultório (Pega a maleta). Agora, eu já vou. Desculpe por ter vindo tão tarde!
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CENA 17/ PALMEIRÃO DO BREJO/ MANHÃ
Planos da cidade. Jornal do dia sendo impresso. Pessoas indo na igreja se confessar. Carteiro entregando os jornais, cartas e encomendas nas casas das pessoas. Fachada da Mansão de Fausto.
Tocar durante a cena o instrumental “Lamento Nordestino”.
CENA 18/ MANSÃO DE FAUSTO/ SALA/ INT./ MANHÃ
Fausto, enquanto toma uma xícara de café, lê o jornal e vê a manchete:
“Coronel Venâncio Alves Correia, prefeito em exercício, presta homenagem ao Coronel Afonso Gomes Valadares e pede para que a sociedade palmeironense reze pela sua recuperação. Disse que Deus há de tirá-lo desta situação. E que, enquanto estiver ocupando o cargo de prefeito, vai fazer o possível para achar os culpados do atentado”
Fausto cospe o café de tão indignado que fica com a manchete do jornal.
FAUSTO – O infeliz ainda teve a desfaçatez de colocar uma nota no jornal prestando apoio à família Valadares (jogou a xícara no chão, que se desfez em pedaços). Aquele desgraçado acha que está enganando quem com essa conversa fiada?! Ele não o gosto da vitória, nem que eu precise matá-lo.
CENA 19/ MANSÃO DE FAUSTO/ SALA/ INT./ MANHÃ
Continuação imediata da última cena do bloco anterior. Fausto se levanta e, num gesto de fúria, começa a jogar tudo que vê pela frente na parede. Tereza desce as escadas.
TEREZA – O que foi que aconteceu, Fausto?
FAUSTO – O Coronel Venâncio já se ocupou de assumir o cargo de prefeito. Ele pensa que me engana com essa história!
TEREZA – Ele aproveitou a ausência do prefeito e de você pra assumir o cargo. E está no direito de fazer isso.
FAUSTO – Esse filho da puta pensa que está no direito de fazer isso, mas ele não por esperar. Eu acabo com a festa dele! (Caminha até a porta, mas sente uma pontada no peito) Ai!
TEREZA (Tentando segurar Fausto) – Eu te pedi tanto para não fazer esforço, se estressar. Você não está em condição de fazer nada. Deixa essa maldita prefeitura de lado um pouco e vá descansar, cuidar da sua saúde. Você sofreu um atentado ontem (o beijou na boca).
FAUSTO – Acho que você tem razão. Mas aquele filho da puta não vai me escapar.
Corta para:
CENA 20/ FAZENDA CORREIA/ QUARTO/ INT./ MANHÃ
Coronel Venâncio está vestindo sua roupa para o primeiro compromisso como o prefeito provisório da cidade. Enquanto isso, ele percebe, ao acessar o cofre, que este está aberto. Estranhando, ele questiona.
VENÂNCIO – Madalena, alguém mexeu aqui no guarda roupa? O cofre está aberto!
MADALENA – Não faço a menor ideia de quem tenha sido. Eu nem sei a senha deste cofre.
VENÂNCIO – Faz bem em não saber mesmo. Aqui não tem nada que te interessa!
MADALENA – Não sei o que tanto você guarda neste cofre e nem quero saber.
Madalena sai do quarto
VENÂNCIO (p/si) – Alguém está sabendo da minha relação com Vera. Quem será este alguém? Eu não posso mais me encontrar com Vera. Tem alguém nos seguindo ou tem alguém infiltrado aqui na fazenda. Eu vou descobrir.
Coronel Venâncio sai do quarto intrigado.
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CENA 21/ CLÍNICA/ CONSULTÓRIO MÉDICO/ INT./ MANHÃ
Estão na sala do consultório Dr. Washington, Raul e Vera. O médico examina Vera.
WASHINGTON – Por essa consulta já posso concluir o que você tem.
VERA – E aí, doutor? Estou grávida?
A câmera foca na expressão apreensiva de Vera.
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CENA 22/ RUAS DA CIDADE/ CARRUAGEM/ INT./ MANHÃ
Coronel Venâncio e Herculano, dentro da carruagem, conversam, enquanto o cocheiro os tratam de levar à prefeitura.
CEL. VENÂNCIO – Preciso de mais um serviço teu. Alguém está me seguindo ou tem alguém está infiltrado na minha casa. Eu preciso descobrir quem é essa pessoa. Ele ou ela está com algo meu muito valioso.
HERCULANO – Pode ficar tranquilo, que eu vou descobrir quem está fazendo algum mal para o senhor.
CEL. VENÂNCIO – Quando descobrir, pode meter bala!
HERCULANO – Farei com prazer!
O cocheiro estaciona a carruagem próximo à prefeitura.
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CENA 23/ HOSPITAL/ CONSULTÓRIO MÉDICO/ INT./ MANHÃ
O médico Horácio Duarte entra no consultório, enquanto Branca já está a sua espera.
HORÁCIO – Bom dia, desculpe a demora!
BRANCA (Em pé) – Bom dia, se é que posso dizer que estou tendo um bom dia. Mas de qualquer forma, bom dia!
HORÁCIO(Senta-se) – Sente-se, por favor!
Branca senta-se.
BRANCA – Não sei se você percebeu, mas eu gosto da verdade sem muitos rodeios. Diante disso, eu vou ser bem direta. Qual a situação de meu marido?
HORÁCIO – De ontem para hoje, ele não teve nenhuma evolução. E eu vou ser bem sincero. Peço para que não crie nenhuma expectativa. Ele pode ficar naquela situação para sempre!
BRANCA (com lágrimas nós olhos) – Eu vou apegar a minha Santa Cecília.
HORÁCIO – Sou formado há 30 anos e nunca vi um caso como o dele se reverter, mas respeito a sua fé e peço para que reze mesmo!
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CENA 24/ CLÍNICA/ SALA DE CONSULTA/ INT./ MANHÃ
Vera, inquieta, com o silêncio do médico, questiona mais uma vez.
VERA – Responde, Doutor. Eu estou ou não estou grávida?
WASHINGTON – Você está grávida!
VERA (assustada) – Não acredito!
Inserir um Flashback da cena 8 do capítulo 1:
Vera e Coronel Venâncio vai à porta receber o champanhe
VERA – Eu te amo
Eles bebem e se despem para mais uma noite de amor
Fim do insert.
RAUL (olha, desconfiado, para Vera) – Por que eu a surpresa? Eu não entendendo sua reação.
VERA – Não foi nada. Só emoção mesmo!
WASHINGTON – Eu tenho três filhos e cada um foi uma emoção diferente.
Corta para:
CENA 25/ PALMEIRÃO DO BREJO/ TARDE
Planos da cidade. Mulheres indo à igreja. Pássaros comendo na praça. Fachada da prefeitura.
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CENA 26/ PREFEITURA/ GABINETE DO PREFEITO/ INT./ TARDE
Venâncio e Herculano bebem, enquanto conversam.
VENÂNCIO – Hoje é dia de comemoração!
HERCULANO – O poder da cidade agora está nas tuas mãos!
VENÂNCIO – Mais um brinde à nossa vitória!
Eles brindam uma nova taça de vinho.
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CENA 27/ HOSPITAL/ QUARTO/ INT./ TATDE
O espírito do Coronel Joaquim aparece para o Coronel Afonso.
JOAQUIM – Vai, meu filho, reage! Está cidade precisa muito de você.
O Coronel Afonso continua sem reagir.
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CENA 28/ DELEGACIA/ INT./ TARDE
O jornal da manhã está na mesa do delegado, que observa a declaração do Coronel Venâncio sobre o ocorrido com o Coronel Afonso e reflete
OLÍMPIO – Não tenho mais dúvidas de quem foi o mandante do atentado contra o prefeito Afonso.
POLICIAL 1 – Essa briga dos Alves Correia e dos Gomes Valadares parece que nunca terá fim.
OLÍMPIO – Quando eu vim morar aqui já era assim. Teve um tempo que quase toda semana morria um. Mas eu tenho esperança de que um dia eu que vou dar fim a essa guerra.
POLICIAL 1 – Se eu fosse o senhor não teria tanta confiança assim. Essa gente é muito poderosa.
OLÍMPIO – O pior é que você tem toda razão.
Delegado Olímpio se levanta e sai.
Corta para:
CENA 29/ PALMEIRÃO DO BREJO/ NOITE
Planos da cidade. Carros percorrendo as ruas. Fachada da Fazenda Valadares.
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CENA 30/ MANSÃO DE FAUSTO/ QUARTO DE QUITÉRIA/ INT./ NOITE
Quitéria, de joelhos, reza uma prece para Santa Cecilia.
QUITÉRIA – Minha santinha, ajude o meu filho a sair desta situação. Ele ainda tem muito a conquistar e esta cidade precisa muito dele.
Branca e Eduardo, da entrada do quarto, observam a devoção de Quitéria e se emocionam.
Corta para:
CENA 31/ MANSÃO DA FAMÍLIA DUARTE/ SALA/ INT./ NOITE
Horácio chega em casa, cansado de mais um dia exausto de trabalho. Vilma o recebe com abraço.
VILMA – Nossa, achei que você não vinha mais para casa!
HORÁCIO – Trabalho, meu bem, trabalho! Ontem o dia foi de plantão exaustivo. O Coronel ainda corre risco de vida.
VILMA – Estou rezando muito por ele.
Horácio pega o retrato de seu filho Pedro.
HORÁCIO – Eu não consigo escutar um tiro que me lembro daquele fatídico dia em que nosso filho pegou aquela maldita arma. Sempre me senti culpado pela aquela tragédia (emocionado)
VILMA – É sempre traumática situações como essas para nós. Foi uma tragédia muito impactante muito impactante na nossa.
HORÁCIO – Eu fiz uma promessa de que não quero mais ter arma na minha casa.
VILMA – Eu não gosto nem de lembrar daquele dia.
Olga desce as escadas e abraça o pai.
OLGA – Estava com saudades, pai!
HORÁCIO – Também estava com saudades, minha filha.
Os três caminham para a sala de jantar.
Corta para:
CENA 32/ PALMEIRÃO DO BREJO/ MANHÃ
Uma semana depois.
Planos da cidade. Carros pelas ruas. Carteiro entregando jornais e correspondências nas casas. Fachada da igreja.
CENA 33/ IGREJA/ INT./ MANHÃ
Tereza reza e faz preces a sua santa, em silêncio. Ela observa Coronel Venâncio e Vera entrando na igreja.
Focar da cara de espanto de Tereza ao ver o casal entrando na igreja.
TEREZA (Resmunga) – Não acredito! O Coronel Venâncio se engraçando com aquela professora que se diz defensora da moral e dos bons costumes, esposa de Raul. Que horror, que blasfêmia! O que tanto eles conversam (cobre o rosto com o véu e se aproxima do local onde o Coronel Venâncio e Vera estão sentados, sem que eles percebam).
Corta para Coronel Venâncio e Vera.
VERA (nervosa)– Há dias que eu não durmo direito.
VENÂNCIO (firme) – Nós não podemos mais nós encontrar.
VERA (Enraivecida) – Você é igual a todos os homens. Faz promessas de amor e depois finge que não aconteceu nada. Estou farta dessa situação.
VENÂNCIO – Estou fazendo isso para o meu bem, para o seu bem e para o bem de minha de família.
VERA – Sempre a mesma história! Preservar a família. Se quisesse mesmo preservar a sua família não teria me engravidado.
VENÂNCIO (Surpreso) – O que?
Corta para Tereza.
TEREZA (resmungando) – Que horror! Uma mulher casada grávida de outro.
VENÂNCIO (off) – eu não vou assumir. Quem garante que esse filho é meu?
VERA (off) – Pulha, Patife, Paspalho!
TEREZA (resmungando) – Vou embora, antes que me vejam aqui.
Tereza sai.
Corta para Coronel Venâncio e Vera.
VENÂNCIO (enojado) – Eu não fui e nem vou ser o último homem com quem você vai se relacionar. Engana o marido, com certeza deve me enganar também. Deve ser uma rameira, Quenga.
VERA (Enraivecida) – Olha como você fala comigo!
VENÂNCIO – Você quer quanto para sumir com seu marido e seus filhos?
VERA – Não quero nada seu.
VENÂNCIO – A única coisa que eu posso fazer é desejar que você seja feliz ao lado de Raul e de seus filhos.
VERA – E pode ter certeza de que eu vou ser feliz ao lado de meu marido e dos meus filhos.
VENÂNCIO – A nossa história de amor acaba por aqui.
VERA – Vivemos momentos felizes juntos, noites românticas para terminarmos assim.
VENÂNCIO – Melhor assim (Ele se levanta). Eu tenho que ir agora. Eu saio primeiro e depois você sai para ninguém desconfiar.
Vera concorda com a cabeça. Coronel Venâncio sai.
Tocar a partir deste ponto a música “Pétala”, de Djavan.
VERA (Chorando) – Como eu pude s deixar enganar desse jeito.
Corta para:
CENA 34/ MANSÃO DE FAUSTO/ SALA/ INT./ MANHÃ
Tereza entra em casa, enquanto Fausto lê o jornal e toma café, sentado no sofá.
A música toca até este ponto.
FAUSTO – Já foi a igreja?
TEREZA - Fui me apegar um pouco com Deus. Mas acabei descobrindo uma coisa que eu acho que você vai gostar. É sobre o seu maior rival.
FAUSTO – O que foi que você descobriu sobre Venâncio?
Tereza senta no sofá.
TEREZA (sorridente) – Venâncio tem uma amante.
FAUSTO (sorridente) – Interessante.
TEREZA – A amante dele é Vera e ela está grávida. O pai provavelmente é ele.
FAUSTO (Feliz) – Isso não poderia ter vindo em um momento melhor! (Ele se levanta do sofá) Venâncio Alves Correia, você não perde por esperar (p/si)
TEREZA – O que é que você vai fazer? Você ainda está se recuperando do atentado
FAUSTO – Ele acha que venceu essas guerra. Eu vou na prefeitura agora. Ele deve está lá.
Fausto sai.
Corta para:
CENA 35/ PREFEITURA/ GABINETE DO PREFEITO/ INT./ MANHÃ
Coronel Venâncio assina alguns documentos. Fausto entra.
FAUSTO – Já pode sair do cargo.
VENÂNCIO – E quem disse que eu vou sair daqui? E quem o senhor acha que é para invadir a minha sala desse jeito?
FAUSTO – Não recomendo muito me desafiar. Todos que me desafiaram até hoje se arrependeram profundamente.
Tocar música de tensão “o inesperado/”, da novela “Lado a Lado”
VENÂNCIO – Não tenho medo de suas ameaças. Até porque eu acabei com seu irmão e não seria tão difícil acabar com você também.
FAUSTO – Você pensa que acabou com meu irmão, mas ele não morreu. E eu, enquanto ele estiver em coma e impossibilitado de assumir qualquer compromisso público, sou eu que tenho que vou assumir tudo que era do meu irmão.
VENÂNCIO – Isso é verdade, mas você ainda, pelo que eu estou vendo, está impossibilitado de assumir a prefeitura. Por lei, eu que sou o prefeito agora e até Afonso assumir. Mas como eu sei que ele não vai assumir mais. Eu que ficarei no cargo até o fim do mandato.
FAUSTO – Acho melhor eu ir direto ao ponto. Ou você sai da prefeitura ou eu espalho para toda a cidade que você tem uma amante. Imagina só na capa do jornal a primeira página. “Coronel Venâncio Alves Correia é amante da esposa de seu melhor amigo”. Aceita a proposta?
Focar na cara de espanto e raiva do Coronel Venâncio.
Congelamento preto e branco emoldurado como um retrato.
Obrigado pelo seu comentário!