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VILAREJO - Capítulo 13 [Capítulo Especial]



Capítulo 13

Cena 01 - Porto de Pelotas [Interna/Manhã]

Música da cena: Coleção - André Leonno

[Surgem as ruas de São José dos Vilarejos e logo seus moradores começaram a ficar em polvorosos. Uma grande comitiva de charretes e carruagens começaram a cruzar as principais ruas da cidade. Tratava-se de Ana Catarina que retornava a sua cidade Natal.]


JOANA: [Corre até a porta da mercearia ao perceber a movimentação] - Veja, mamãe, deve ser a condessa!


CÂNDIDA: [Vai até o lado externo da mercearia após ouvir o que a filha acabara de dizer] - Certamente deve ser. Com tanta carruagem assim, há de ser como uma rainha!


[A carruagem onde Ana Catarina está passa em frente à mercearia.]


ANA CATARINA: [Puxa a cortina da janela e olha para fora, tentando identificar mudanças na cidade. Por um momento, ela sorri nostálgica].


Cena 02 - Casarão D’ávilla (Senzala) [Interna/Manhã]

[Com a transição de cenas, surge a área externa do engenho da família D’ávilla. Na senzala, os escravos comentavam sobre a chegada da nova moradora da cidade.]


IDALINA: [Suspira] - Pois eu bem que queria morar na fazenda da condessa. Ouvi dizer que lá os pretos não são escravos. Falam bem e se vestem como fidalgos. Certamente eu ia ser uma princesa!


ZEFERINO: - Vassuncê não nasceu pra ser princesa, nasceu pra ser escrava e trabalhar até a morte. Desça desse pedestal! [Responde ironizando].


ROSAURA: - Naturalmente essa mulher deve ser muito fina e também muito distinta. Não iria querer tanto escravo ignorante como nós. Por isso tem outra forma de pensar. Com isso, só nos resta o sonho de sermos como eles!


ZEFERINO: [Gargalha] - Sabe quando nós pretos seremos como os brancos? Nunca! Vassuncê nunca que irá ver um branco ir parar no tronco e ser açoitado até a morte, com direito a salmoura e ficar sem comida. Não sonhe, que vassuncê vai perceber que está num pesadelo, que é acá e agora. [Completa].


IDALINA: - Pois se aparecer a oportunidade dela nos levar para a fazenda dela. Eu bem que quero. Já pensou, Rosaura? Nós duas forras? Ah, eu iria ser a mulher mais feliz do mundo.


ROSAURA: [Se aproxima da janela e olha para o lado externo da propriedade] - Quero muito conhecer essa mulher. Já ouvi falarem dela pelos cantos, que fiquei curiosa a respeito dela. Quem será essa tal condessa? Como será que ela é? [Pensa em voz alta].



Cena 03 - São José dos Vilarejos (Centro) [Externa/Manhã]

[Enquanto isso, em uma praça no centro da cidade, um capitão do mato havia acabado de capturar um escravo que tinha fugido e como forma de lhe aplicar um corretivo, o prendeu no tronco e o estava chicoteando.]


SEBASTIÃO: [Grita de dor ao levar as chibatadas].


CAPITÃO DO MATO: - Calado infeliz. Quanto mais vosmecê gritar, mas eu hei de pesar a mão! [Diz enquanto continua chicoteando o escravo].


[Nesse exato momento, a carruagem que levava Ana Catarina se aproximou do local e a movimentação logo chamou sua atenção.]


ANA CATARINA: [Olha pela janela e logo percebe o que está acontecendo] - Pare a carruagem. Pare agora mesmo! [Ordena aos gritos].


[O motorista rapidamente desce e dá a volta apressado, abrindo a porta da carruagem logo em seguida, para que Ana Catarina saia.]


ANA CATARINA: [Desce da carruagem furiosa, erguendo o vestido para andar mais depressa] - Solte-o agora mesmo. Não se atreva a dar mais nenhuma chibatada nesse escravo ou vai se arrepender, está ouvindo? Vai se arrepender! [Grita].


CAPITÃO DO MATO: [Surpreende-se com a postura daquela desconhecida e a encara] - E quem diabos é vassuncê? Posso saber de onde saiu? [Questiona irritado].


ANA CATARINA: - O único diabo aqui que estou vendo é vosmecê. Se não soltar esse homem agora mesmo, você vai para o inferno em um pequeno estalar de dedos. Não me desafie!


CAPITÃO DO MATO: [Se aproxima de Ana Catarina furioso].


MOTORISTA: [Se aproxima do capitão do mato, como se fosse defender Ana Catarina].


CAPITÃO DO MATO: - Vassuncê não pode me dar ordens. Acaso é dona do escravo? Certamente não. Tão pouco deve ter marido que compre um negro fujão como esse daqui!


ANA CATARINA: [Sorri ironicamente e abre a bolsa em seguida] - Eu não preciso de marido para fazer nada. Será que isso aqui paga pelo seu escravo? [Responde jogando o dinheiro contra o capitão do mato].


CAPITÃO DO MATO: [Olha para o chão e recolhe uma grande quantia em dinheiro completamente extasiado] - Isso é mais do que esse negro vale. Vassuncê não quer nem olhar os dentes dele?


ANA CATARINA: [O encara com desprezo] - Quem te deu o direito de definir quanto vale ou não uma pessoa? Vosmecê é desprezível como muitos desse maldito lugar. Solte o escravo e fique com o troco. Naturalmente vai precisar, vosmecê cheira a podre. [Conclui retornando para a carruagem]. - Cuide de que o homem nos acompanhe! [Instrui o motorista, antes de entrar na carruagem].


Cena 04 - Mercearia da Paz [Interna/Manhã]

Música da cena: Vilarejo - Marisa Monte

[Logo em seguida, surge a fachada da mercearia de Cândida e Joana. Acompanhada de Tomásia, Laura entra no estabelecimento abanando-se com um leque rosado.]


LAURA: - Nossa, que calor está fazendo acá. Não sei como vosmecês estão aguentando. Estou em frangalhos!


JOANA: - Eu ainda estou muito emocionada com a cena que acabo de presenciar. Acho que nem nas histórias que li nos livros, poderia imaginar algo tão bonito.


LAURA: [Estranha a forma de falar de Joana] - Emocionada? De que história vosmecê está falando? Não estou entendendo!


CÂNDIDA: [Aproxima-se] - Naturalmente ela está falando da Condessa, ela acaba de chegar a cidade. Trouxe consigo uma grande comitiva de charretes e carruagens. Chegou em grande estilo, como uma verdadeira rainha!


LAURA: [Aproxima-se da porta, tentando ver algo] - Faz muito tempo? Conseguiram vê-la? Como ela é? Jovem, velha, bonita, feia?


CÂNDIDA: - Não deu para ver direito, só um pedacinho de nada. [Diz lamentando].


JOANA: - Certamente ela deve ser uma mulher muito bonita e elegante. Fico a imaginar como serão seus belos vestidos, da mais alta costura europeia. Um primor! [Suspira].


LAURA: - Pois eu aposto que ela é velha, feia e desdentada. Com uma grande verruga no nariz, como as bruxas dos contos. [Conclui com desdém].


Cena 05 - Cachoeira [Externa/Tarde]

[Imagens externas da cidade são apresentadas e logo surge como plano de fundo a cachoeira da cidade. Após tomar o seu banho como de costume, Açucena saiu da cachoeira utilizando roupas íntimas e logo começou a se vestir.]


AÇUCENA: [Começa a se vestir, quando ouve passos entre as árvores] - Quem está aí? [Perguntou, cobrindo-se com o vestido].


PEDRO: - Sou eu, não se assuste. Estava caçando, quando resolvi me aproximar para dar água ao meu cavalo. [Responde ao se aproximar, puxando o cavalo e carregando consigo uma carabina].


AÇUCENA: - Vosmecê é muito inconveniente, gadjó. Não sabe que é deselegante ficar espionando uma romí em trajes íntimos? Se estivesse no meu acampamento, meu povo iria te ensinar uma lição. Maldita seja a tua sorte! [Esbraveja, tentando não mostrar o próprio corpo].

Tradução: Gadjó = Homem não cigano

Tradução: Romí = Mulher cigana


PEDRO: - Também não precisa ficar aqui, eu não fiz de proposito. Como iria saber que vosmecê iria estar a tomar a fresca na cachoeira? [Questiona sem parar de olhar para a cigana].


AÇUCENA: - Não olhe para mim, ou farei um feitiço para que a luz dos seus olhos vá embora. Vire-se, eu vou me vestir! [Ordena].


PEDRO: - Vosmecê é sempre brava assim? [Pergunta sorridente ao se virar].


AÇUCENA: - Só quando encontro gadjós abusados como vosmecê. Esse povo da cidade acha que os ciganos são libertinos, falam mal de nós… Mas são vosmecês que agem como animais. [Responde enquanto põe o próprio vestido].


PEDRO: - Vosmecê já brigou tanto e nem ao menos sei seu nome. Como vosmecê se chama? [Pergunta, mas não é respondido]. - Vosmecê já pode falar, eu já disse que não fiz por mal. Não tinha como saber que estava tomando banho no rio. Moça? [Questiona novamente, mas ninguém o responde. Ao se virar lentamente, Pedro percebe que a cigana desapareceu] - Se foi e nem ao menos me disse o seu nome… Se de longe já era linda, de perto é ainda mais. [Fala consigo mesmo].


Cena 06 - Fazenda Santa Clara [Interna/Tarde]

[Miguel terminava de instruir os empregados da fazenda, quando Ana Catarina adentrou de surpresa na sala de estar acompanhada do motorista e do escravo.]


MIGUEL: - Condessa! Vosmecê já chegou e eu nem sequer pude ir lhe buscar. Mil perdões! [Diz surpreso ao reencontrar a velha amiga].


ANA CATARINA: - Não se preocupe, Miguel. Isso não tem importância… De certo, essa fazenda possui um escritório, não?


MIGUEL: - Sim, fica no fim do corredor, terceira porta à direita…


ANA CATARINA: [Interrompe o médico] - Excelente, me acompanhem! [Diz encaminhando-se para a direção orientada por Miguel].


[Sebastião e o motorista acompanham Ana Catarina sem pestanejar. Miguel, sem entender nada, vai logo após.]


ANA CATARINA: [Entra no escritório, vai até a escrivaninha e se acomoda na cadeira. Em seguida, pega uma caneta e a insere em um recipiente com tinta, começando a escrever em uma folha amarelada] - Qual é o seu nome, senhor?


SEBASTIÃO: [Olha para o motorista e Miguel sem entender nada, permanecendo em silêncio].


MIGUEL: - Creio que ela está falando com vosmecê, meu caro. [Responde olhando para Sebastião];


SEBASTIÃO: [Olha para os três ainda assustado, mas resolve responder em seguida] - Eu me chamo Sebastião, sinhá. Sebastião dos Santos, ao seu dispor. 


ANA CATARINA: [Sorri e continua escrevendo] - Perfeito, Sebastião. Me dê um minuto, sim? [Continua escrevendo e em seguida pinga um pouco de cera de vela e marca o papel, entregando-o para o escravo em seguida]. - Pronto, aqui está. Tome!


SEBASTIÃO: [Pega o documento sem entender nada] - Eu não entendo, não sei ler. O que é isso, sinhá?


ANA CATARINA: - Isso é uma carta de alforria, Sebastião. A partir de hoje, vosmecê é um homem livre. Pode ir e vir, comandar o seu destino, sem receber agressões de nenhum outro capitão do mato. A partir de hoje, vosmecê deixa de ser um escravo.


Música da cena: Ecoou um canto forte na senzala - Roberto Souza


SEBASTIÃO: [Emociona-se ao olhar para o papel].


MIGUEL: [Sorri ao entender o que estava acontecendo] - Meus parabéns, Sebastião. Meus parabéns! [Responde apertando a mão do ex-escravo].


SEBASTIÃO: - Eu nem sei como agradecer, sinhá… Não sei o que dizer na verdade!


ANA CATARINA: - Não precisa dizer nada, meu caro. Aliás, quero que espalhe as boas novas para o seu povo e para todos os seus companheiros. Novos tempos vão começar por essas bandas. Disso eu vou me encarregar! Aqui, vosmecê terá sempre uma aliada. Pode considerar minha fazenda como um quilombo! [Conclui].



Cena 07 - Banco D’ávilla [Interna/Tarde]

Música da cena: Vilarejo - Marisa Monte

[Com a transição de cenas, surgem algumas imagens da cidade de São José dos Vilarejos. Em seguida, surge a fachada do banco.]


CARLOTA: - Quer dizer que vosmecê viu a condessa? [Surpreende-se].


GRAÇA: - Não é que eu tenha visto muito bem, mas vi de relance. Chegou com uma grande comitiva, digna de uma verdadeira rainha. Já comentam por aí que ela é uma mulher muito rica. [Bebe um gole de café logo após falar].


CARLOTA: - Mas isso é excelente. Uma condessa desse porte em nosso vilarejo! Tenho que me apresentar, ela tem que conhecer o trabalho no banco e investir aqui. Naturalmente ela precisará deixar a fortuna dela muito bem guardada aqui no Brasil, para acelerar seus investimentos…


GRAÇA: - E é aí que vosmecê entra, não é mesmo? [Questiona ao interrompê-la].


CARLOTA: - De certo. Vosmecê quer casar seu filho com ela, eu quero que ela invista seus bens aqui. Todos saímos ganhando, ou não? Vai que consigo tirar proveito dela, dessa amizade.


GRAÇA: - Ah, vosmecê não muda. Sempre tirando proveito dos mais ingênuos.


CARLOTA: - Não seja irônica, Graça. Vosmecê não é tão pura para me julgar, ou já esqueceu que também sempre se aproveitou do seu finado irmão? [Responde de forma áspera].


GRAÇA: - Ah, meu finado irmão Juvenal. Nunca vou entender como ele desapareceu de forma tão misteriosa naquele combate. Mas Deus escreve certo por linhas tortas, hoje eu fiquei com toda a fortuna dele e…


CARLOTA: - Ficou não, lembre-se da sua querida sobrinha, Maria do Céu. [Conclui com ironia].



Cena 08 - Casa dos Lobato [Interna/Tarde]

Música da cena: Corre - Gabi Luthai

[Sozinha em seu quarto, Maria do Céu aproveitava para fazer o que mais gostava  para se distrair.]


MARIA DO CÉU: [Pinta em uma tela branca com tinta a óleo].


[Nesse momento, ouve-se o barulho da chave girar na porta e em seguida, abrir.]


TOMÁSIA: - Pintando de novo, sinhazinha? [Questiona ao entrar].


MARIA DO CÉU: - Vosmecê não entende que não é pra voltar aqui, não é? Vai acabar me matando antes do tempo!


TOMÁSIA: - Já disse que vassuncê não está doente. Afinal, se estivesse, porque não morreu ainda? Eu acho que Dona Graça não quer que a sinhazinha saia desse quarto, por isso te fez acreditar nisso.


MARIA DO CÉU: [Para de pintar e olha para a escrava] - Minha tia jamais faria uma monstruosidade dessas comigo. Ela sempre cuidou de mim desde quando o meu pai se foi. Sem que estou doente, sofro da mesma enfermidade da minha querida mãe. Tenho a saúde frágil, não posso ter contato com estranhos por causa dos germes, micróbios e outras bactérias. 


TOMÁSIA: - Não sei o que é isso daí que vassuncê tanto diz com essas palavras difíceis, mas eu posso provar que não está doente.


MARIA DO CÉU: - Ah, é? Desde quando, vosmecê não é médica! [Responde dando pouca importância, voltando a pintar].


TOMÁSIA: - Dúvida? Então saia comigo, vou te mostrar que se sair na rua, vassuncê vai continuar vivinha da Silva.


MARIA CÉU: - Sair, eu? [Responde ao parar de pintar novamente e com um ar pensativo].


Cena 09 - Fazenda Santa Clara [Interna/Noite]

Música da cena: Acreditar no Seu Amor - Liah Soares

[Com a transição de cenas, surge a fachada da fazenda Santa Clara, recém-comprada por Ana Catarina.]


ANA CATARINA: [Retorna para a sala de estar, acompanhada por Miguel].


MIGUEL: - E então, vosmecê ainda não disse o que me achou da casa. É do seu agrado?


ANA CATARINA: - Naturalmente. É uma casa muito boa, foi indelicado chegar de uma forma tão intempestiva como cheguei, sem sequer cumprimentá-lo direito. Muito obrigada, por tudo meu amigo.


MIGUEL: - Seria uma Ana Catarina diferente da que conheço. Sempre valente e lutando pelos ideais que acredita. Creio que deva estar cansada da viagem… Se quiser, posso pedir a criada para preparar algo e o jantar ficará pronto num instante.


ANA CATARINA: - A única coisa que eu desejo nesse momento, é me refrescar com um bom banho e cair na cama. Amanhã teremos muito o que falar, vosmecê precisa me contar tudo o que sabe sobre esse baile que estão preparando em homenagem a condessa. Quero que sonde como está a movimentação na cidade, principalmente dos meus inimigos.


MIGUEL: - Compreendo perfeitamente. Pode descansar então, cuidarei de tudo por aqui.


ANA CATARINA: - Eu agradeço. Não estou para mais ninguém hoje. Até amanhã, meu querido. [Retira-se].


MIGUEL: [Aproxima-se da porta para fechá-la, quando percebe duas pessoas chegarem] - Desculpe, posso ajudá-las?


GRAÇA: - De certo que não, vosmecê poderia chamar a sua dona? Somos Maria da Graça Lobato e Carlota Guerra D’ávilla, viúva de Gonçalo. Queremos cumprimentá-la e nos apresentarmos à condessa.


MIGUEL: [Sorri] - Bom, a condessa a quem julga ser minha dona e qual não é, já se recolheu. Ela está muito cansada da viagem e foi descansar!


CARLOTA: [Olha de cima a baixo para Miguel] - De fato, percebe-se que não é um escravo como estamos acostumadas a ver pelas bandas de acá. Veste-se muito bem, fala como um fidalgo, se vê que tem modos.


MIGUEL: - Vejo que vosmecê é uma excelente fisionomista. Bom, foi muito satisfatório conhecer as senhoras, mas imagino que entendam a atipicidade desse primeiro encontro e que devam retornar uma outra hora.


GRAÇA: - Acaso vosmecê, um negro, está nos expulsando? [Questiona indignada].


CARLOTA: - Graça, minha amiga. Não se aborreça, de certo teremos a oportunidade de encontrarmos a condessa no baile de máscaras que estamos organizando. O jovem rapaz está correto, é indelicado querer forçar uma visita nessas condições. Vamos embora!


GRAÇA: - Mas Carlota…


CARLOTA: [Interrompe] - Não discuta, Graça. Vamos embora, temos muito o que fazer. Vamos… Boa noite, dê lembranças a condessa! [Diz ao sair da casa, arrastando Graça consigo].


MIGUEL: - Burguesas inconvenientes! [Murmura ao fechar a porta].


Cena 10 - Ruas da Cidade [Interna/Manhã]

Música da cena: Corre - Gabi Luthai

[O dia amanhece ensolarado, logo surgem as ruas da cidade começando a ganhar movimento de pessoas. Nesse momento, somos conduzidos à fachada da casa da família Lobato.]


TOMÁSIA: [Abre a porta e entra no quarto de Maria do Céu].


MARIA CÉU: [Levanta-se da cama] - Vosmecê aqui, tão cedo?


TOMÁSIA: - Sim. Vamos aproveitar que vossa tia saiu para acertar algumas coisas de uma festa que está organizando, a megera da Laura foi visitar uma amiga e que o doidivana do seu primo Pedro, foi caçar. Vou te levar para dar uma volta na cidade!


MARIA CÉU: - Sair? Mas eu não posso sair, vosmecê está louca? Nem sequer tenho roupas para isso, não saio desse quarto há anos, desde quando descobri estar doente.


TOMÁSIA: - De certo já pensei nisso, sinhá. Vou buscar um dos vestidos da sua prima, eu ia engomar, mas aí…


MARIA CÉU: - Não! Se sair assim, alguém pode me reconhecer e se a minha tia souber que saí, pode brigar comigo e até mesmo me castigar. Tive uma ideia!


TOMÁSIA: [Sem entender] - Ideia?


[Corta para a cena do lado externo da casa. Tomásia caminha pelas ruas acompanhada de um rapaz. Na verdade, trata-se de Maria do Céu vestindo as roupas de seu primo Pedro.]


MARIA DO CÉU: [Olha para as ruas da cidade, completamente deslumbrada].


TOMÁSIA: [Sorri ao observar Maria do Céu sair de casa pela primeira vez em anos].


Cena 11 - Estação de Trem [Externa/Tarde]

[Sozinha, Joana foi até a estação de trem despachar uma carta com um pedido aos fornecedores, conforme sua mãe havia lhe orientado.]


JOANA: - Agradecida! [Disse ao receber a confirmação do funcionário da estação de trem, alegando que o envio seria realizado].


[Após sair do caixa, Joana caminhou pela estação e se direcionou até a saída local. Desceu alguns degraus e ao cruzar a calçada, esbarrou em um desconhecido.]


Música da cena: Carinhoso - Céu


JOANA: - Me desculpe, eu estava distrai… [Perde a fala ao olhar Vladimir nos olhos].


VLADIMIR: - A culpa foi minha, gají. Mil perdões… [Também para de falar ao encarar Joana].

Tradução: Gají = Mulher não cigana


JOANA: - Eu estava distraída, a culpa foi minha. Não há o que perdoar! [Responde encabulada].


CIGANO: - Vladimir, nós precisamos ir. Temos que trocar o cobre com os homens da capital. Vamos nos atrasar! [Diz ao se aproximar].


VLADIMIR: - Sim, eu estou lembrado, rom. Só estava me certificando que a gají estava sã e salva. Vamos, com licença! [Diz ao se curvar para Joana, despedindo-se].

Tradução: Rom = Homem cigano

Tradução: Gají = Mulher não cigana


VLADIMIR: [Caminha e em um certo momento, olha para trás].


JOANA: [Caminha na direção oposta e também olha para trás, conforme se afasta].


Cena 12 - Clube do Vilarejo [Interna/Noite]

Música da cena: Acreditar no Seu Amor - Liah Soares

[O pôr do sol chega e logo dá lugar ao anoitecer. As luzes da cidade de São José dos Vilarejos logo começam a se acender. Logo após surgem imagens da cidade e com a transição de cenas, a fachada do Clube da cidade.]


CARLOTA: - Devo admitir, tudo está um verdadeiro primor. [Disse ao chegar acompanhada por Antônio e Leonora].


ANTÔNIO: - Pra mim está mais do mesmo…


LEONORA: - Uma imitação muito barata dos saraus da corte!


CARLOTA: - Vosmecês reclamam de barriga cheia, vamos aproveitar o baile. Antônio, a sua noiva está ali, vamos cumprimentá-la. [Completa, indo ao encontro de Graça, Laura e Pedro, levando consigo Antônio e Leonora].


[Conforme as pessoas adentravam no salão, podíamos ver cada vez mais rostos conhecidos chegarem a festa.]


JOANA: - Veja, mamãe! O salão está lindo…


CÂNDIDA: - Vosmecê tem razão, filha. Graça deixou o salão do clube lindíssimo para receber a condessa. Espero que esse evento traga bons frutos para nossa cidade. Quem sabe na comitiva da condessa, algum nobre não se interessa por vosmecê, minha filha. Seria um estouro! [Diz ansiosa].


CARLOTA: - Muito boas noites, a todos! [Diz ao encontrar Graça, Laura e Pedro].


LAURA: - Boa noite, minha futura sogra.


GRAÇA: - Que tal a decoração? Espero que estejam gostando da festa.


CARLOTA: - Sim, está tudo muito bem arranjado. Naturalmente a condessa há de gostar.


LAURA: - Que cara é essa, meu amor? [Questiona ao se aproximar de Antônio, ficando ao seu lado].


ANTÔNIO: - Vosmecê sabe que eu não gosto desse tipo de eventos e convenções. Por mim, estaria em casa, lendo um bom livro.


LAURA: - Ora, meu amor. Estamos aqui porque somos excelentes anfitriões. Vosmecê sabe que essa condessa deve ser uma dessas aristocrátas metida a besta, de nariz em pé. Deve ser uma velha, chata e enrugada. Depois que ela chegar, podemos ir embora.


LEONORA: - Vejam, a comitiva da condessa está chegando! [Aponta para o alto da escada que dava acesso à entrada principal do salão].


[Todos se viram para apreciar a chegada da condessa.]


MIGUEL: - Senhoras e senhores, com vocês… A condessa de burgos!


Música da cena: Coleção - André Leonno

[Ana Catarina surge mascarada no alto da escada e ao descer, atrai o olhar de todas as pessoas presentes.]


PEDRO: - É minha irmã, vejo que estava redondamente enganada. A condessa é linda! Não acham? [Pergunta se aproximando de Laura e Antônio].


ANTÔNIO: [Observa Ana Catarina, completamente deslumbrado].


ANA CATARINA: [Afasta a máscara que cobria o rosto, sorri e acena para os presentes].


[A imagem congela focando em Ana Catarina parada diante de todos, surge um efeito de uma pintura envelhecida e o capítulo se encerra].


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