Capítulo 11
- No capítulo anterior:
CAROLINA: É ele... Não pode ser, é uma assombração, esse miserável saiu do inferno para me atormentar.
BEATRIZ: (Percebe que Beto está olhando fixamente para a mulher no carro) Você ficou impressionado, não é? Vamos, o sinal vai abrir... Deixa essa doida ir embora e vamos pra casa.
BETO: Vamos! (Segue Beatriz e os dois terminam de atravessar a rua).
CAROLINA: (Grita) Não, espera... Onde você vai? Cadu... Cadu!
(Os carros começam a buzinar logo atrás do carro de Carolina, pois o sinal acabara de abrir para que os carros seguissem seu percurso).
CAROLINA: É ele... Está vivo, eu tenho certeza de que era ele! (Arranca com o carro rapidamente).
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CAROLINA: (Esbofeteia Alberto) Quando você pretendia me contar que não matou o meu marido, desgraçado?
ALBERTO: Ficou louca? Como ousa levantar essas suas patas para me agredir sua cadela?
CAROLINA: Não se faça de desentendido, você ouviu o que eu falei. Eu vi o Cadu hoje, ele está vivo, andando pela cidade como se nada tivesse acontecido. O que eu não entendi é porque ele não apareceu para nos denunciar.
ALBERTO: Eu não sei do que está falando, o meu irmão está morto, você bem sabe.
CAROLINA: Será que sei mesmo? Você nunca me provou que matou o Cadu! Acho bom você me falar a verdade, não quero ser pega de surpresa e ir parar na cadeia. Você tem certeza que matou realmente o seu irmão?
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BEATRIZ: Beto? O que faz aqui?
BETO: Eu só vim saber se você estava bem, não sei, mas eu senti necessidade de te ver de novo.
BEATRIZ: Me ver? Mas nós passamos o dia juntos, aposto que você já deve tá enjoado de ver essa minha cara que está ficando redonda junto com a barriga.
BETO: Na verdade parece que quanto mais eu te vejo, mas eu preciso ficar perto de você.
BEATRIZ: Eu... Eu... (Fica sem jeito).
BETO: Esse perfume, eu lembro desse perfume! (Fecha os olhos e respira fundo).
BEATRIZ: Ah, é uma colônia que eu uso desde a adolescência, contém uma essência de...
BETO: (Interrompe antes que ela conclua) Essência de lavanda, não é?
BEATRIZ: Como você sabe? Olha, eu...
BETO: (Aproxima-se de Beatriz e a beija).
- Fique agora com o capítulo de hoje!
Cena 01 – Casa de Luiza [Interna/Noite]
(Beatriz e Beto se afastam após o beijo).
BEATRIZ: O que você fez?
BETO: Me perdoe, foi inevitável, de repente me veio esse impulso. Não deveria ter feito isso...
BEATRIZ: Eu acho melhor irmos dormir, já está tarde, nós estamos cansados e nem estamos nos dando conta disso.
BETO: Tem razão, eu vou para o meu quarto, boa noite!
BEATRIZ: Boa noite, durma bem!
BETO: (Vai para o seu quarto, logo em seguida Beatriz fecha a porta).
BEATRIZ: (Encosta-se de costas para a porta fechada de seu quarto) O que foi isso? Porque eu estou assim?
(No quarto de Beto)
BETO: (Lembra-se do beijo) Será que ela também gostou ou será que ficou chateada comigo? Que estranha sensação de querer ficar perto dela...
Cena 02 – Praça do Derby [Externa/Manhã]
(O dia amanhece, imagens áereas de Recife são apresentadas sequenciadas de pessoas circulando na rua até chegar na Praça do Derby, onde Coruja perambula com fome).
Música da Cena: A Gente Samba – Gabriel Nandes
MOTORISTA: (Grita) Correntes, última chamada... Vamos partir em 10 minutos!
(Algumas pessoas despacham a bagagem num compartimento que fica no porta-malas).
CORUJA: (Observa as pessoas se despedindo na praça com rumo para vários destinos diferentes, incluindo de outros estados).
Cena 03 – Cobertura Montenegro [Interna/Manhã]
(O quarto de Carolina ainda está na penumbra em virtude das cortinas estarem barrando a luz, enquanto ela tem mais um de seus pesadelos).
CAROLINA: Não, tirem daqui... Eu não quero essa criança, eu não quero ter esse filho, eu não quero! (Delira enquanto ouve o choro de bebê).
(Do corredor, Doralice e Rangel ouvem os gritos de Carolina).
DORALICE: Ouviu? A surucucu influencer tá gritando de novo, ela sempre tem pesadelos, né? Coisa de gente que não tem a consciência tranquila.
RANGEL: (Cobre a boca para não fazer barulho) Surucucu influencer? De onde você tira essas coisas, Dora?
DORALICE: Dessa minha cabecinha criativa aqui, pois se eu quisesse ser influencer, eu seria muito melhor que essa daí...
RANGEL: Você influencer? Desce dessa nuvem, minha amiga... Eu vou acordar a “surucucu influencer” de mais um de seus pesadelos.
(No quarto de Carolina)
Música da cena: Garganta – Antônio Villeroy
RANGEL: (Abre as cortinas bruscamente, fazendo propositalmente com que Carolina acorde).
CAROLINA: (Acorda assustada e senta-se na cama) Rangel, você me assustou.
RANGEL: A senhora estava tendo um pesadelo, estava gritando, por isso se assustou.
CAROLINA: Que horas são?
RANGEL: Já passa das dez, senhora. Quer que eu traga seu café?
CAROLINA: Não, eu quero que você desapareça do meu quarto, que essa sua carinha mequetrefe uma hora dessa da manhã me tira do sério, vamos... Xispa! (Ordena).
RANGEL: Pois não, senhora! (Sai do quarto, enquanto murmura baixinho). Surucucu!
Cena 04 – Aeroporto Internacional de São Paulo [Interna/Manhã]
(O comandante da aeronave anuncia através do interfone que dentro de instantes o avião pousará em seu destino, enquanto Luciana segue distraída em seus pensamentos).
LUCIANA: Será que eu fiz mesmo a coisa certa em voltar? Agora eu estou tão insegura, sinto um aperto aqui no peito. Me ajuda meu Deus, me ilumina, que não será fácil conseguir o perdão de quem eu tanto magoei! (Fala consigo mesma em pensamento).
Cena 05 – Casa de Luiza [Interna/Manhã]
(Beto chega até a sala da casa de Luiza e encontra com Beatriz lhe esperando).
BETO: Bom dia!
BEATRIZ: Até que enfim você saiu desse quarto, já estava pensando em ir lá, bater na sua porta.
BETO: Bom, eu também acho que precisamos conversar sobre o que aconteceu ontem...
BEATRIZ: Beto! (Interrompe). Vamos conversar sim, mas não agora. Agora temos um compromisso, vamos almoçar fora!
BETO: Vamos?
(Beto e Beatriz caminham pelas ruas da cidade).
BEATRIZ: É engraçado o quanto eu evitei voltar a esse lugar, mas surpreendentemente quando estou aqui, me sinto tão bem, em paz.
BETO: Essa cidade é realmente muito tranquila, ar puro e gente hospitaleira. Sua tia cria você desde sempre? Você nunca falou sobre os seus pais...
BEATRIZ: É um assunto complexo, precisei de muito tempo para aprender a lidar com ele. Diferente do que muitos pensam, eu não sou órfã.
BETO: Não?
BEATRIZ: Eu não conheci o meu pai, ele morreu antes do meu nascimento.
BETO: E a sua mãe?
BEATRIZ: Eu sei muito pouco sobre ela, a única coisa que a minha tia me contou é que ela me abandonou com poucos meses e desapareceu no mundo. Nunca mais tivemos notícias dela, nenhuma carta ou telefonema, parece que foi engolida pela terra.
BETO: E você gostaria de encontra-la?
BEATRIZ: Bem, não mais. Quando eu mais precisei de uma mãe, ela não estava lá... Hoje eu não preciso mais dela, a minha única mãe foi a minha tia que me criou e me deu tudo. Eu não tenho interesse de conhecê-la!
BETO: E se de repente ela aparecesse na sua frente?
BEATRIZ: É melhor para nós duas que isso não aconteça, afinal são quase trinta anos de ressentimento, não seria benéfico para ambas, enfim... Chegamos! (Diz ao pararem diante uma casa humilde).
BETO: Quem mora nessa casa?
BEATRIZ: Minha amiga Clarissa e o avô dela, o Benedito. Como hoje é sábado, o avô dela tá na feira e ela não trabalha, daí ela nos convidou para almoçar e eu aceitei. (Bate palma).
(Após um breve instante, Clarissa abre a porta).
CLARISSA: Bem vindos, entrem! (Diz ao abrir a porta para que os dois entrem).
Cena 06 – Mercearia de Laurinha [Interna/Manhã]
(Laurinha observa a filha perdida em seus pensamentos no balcão da mercearia).
LAURINHA: Você anda tão distraída ultimamente... (diz enquanto organiza alguns produtos no balcão).
EULÁLIA: É impressão sua, mamãe... Coisa da sua cabeça!
LAURINHA: Sei... Conhecendo você do jeito que eu conheço, se não fosse esse seu gênio que afasta pretendentes, eu diria que você está apaixonada.
Música da cena: Quem Me Dera – Márcia Fellipe e Jerry Smith
EULÁLIA: Apaixonada? Eu? Mas de onde a senhora tirou uma insanidade dessa? Eu já disse uma vez e vou repetir, eu não vou me apaixonar é nunca... No dia que isso acontecer, eu quero ser atingida por um raio!
LAURINHA: Não diga besteira menina, as palavras tem poder. Tenha cuidado!
EULÁLIA: Bom, agora que a senhora chegou, eu vou para o meu quarto fazer umas orações, com licença! (Deixa a mercearia).
LAURINHA: Essa daí pensa que eu nasci ontem, que uma mãe não conhece os filhos... Tá apaixonada sim, mas por quem será? (Fala sozinha).
Cena 07 – Cabaré de Dona Cissa [Interna/Manhã]
Música da cena: Amor de Que – Pabllo Vittar
(Serena ensaia sua apresentação no poledance, enquanto Cissa assiste o ensaio).
DONA CISSA: Bravo! (Aplaude).
SERENA: Você está aí, eu nem te vi. (Diz ao descer do topo da barra de ferro).
DONA CISSA: Eu fico olhando você aí dançando e lembro dos velhos tempos, eu adorava dançar... Saudade dos tempos que não voltam mais.
SERENA: Você fala como se fosse velha. Está aí, toda enxuta, continua linda. Nunca pensou em largar essa vida? Casar, ter filhos, uma família...
DONA CISSA: Eu? Eu aceitei o meu destino... Fui expulsa de casa logo cedo, era muito jovem, não tive muitas oportunidades na vida e vim parar nessa vida errante. Depois o tempo foi passando e eu fui me divertindo e quando percebi, já era tarde demais. Eu acho que não me acostumaria mais a vida pacata, de ficar em casa, cozinhando, lavando e passando. Eu sinto que a vida precisa ser vivida como se cada momento fosse o último.
SERENA: Então você acha que nenhuma de nós consegue largar essa vida? Que uma mulher marcada pelo destino de ser quenga não consegue mais ser feliz?
DONA CISSA: Claro que não! E quem disse que eu não sou feliz? Eu sou muito feliz, do meu jeito, mas sou... Quanto a parte de deixar de ser quenga, é possível sim... Inclusive eu conheço uma que era uma verdadeira alpinista social e se deu muito bem, nunca mais tive notícias dela!
Cena 08 – Cobertura Montenegro [Interna/Manhã]
(Carolina desce a escada arrumada para sair, pausa em alguns momentos para tirar fotos e depois continua a descer).
DORALICE: (Observa a patroa fingindo que está limpando alguns porta-retratos da sala de estar).
CAROLINA: Doralice!
DORALICE: Falou comigo, senhora?
CAROLINA: Não, sua ratazana de esgoto... Eu falei com a Princesa Diana, não percebeu como estou assustada vendo fantasma?
DORALICE: Credo Dona Carolina, não diz uma coisa dessa que Deus castiga!
CAROLINA: Eu vou sair, se alguém me ligar, você diz que não sabe onde fui e nem a que horas vou voltar. Será que essa sua cabecinha inútil consegue processar duas coisas ao mesmo tempo ou você só consegue fazer uma tarefa por vez?
DORALICE: Claro que sim senhora, se alguém ligar perguntando, eu digo que não sei para onde foi e nem a que horas volta.
CAROLINA: Perfeito! Gostei de ver, se continuar assim, eu vou te dar um aumento...
DORALICE: Jura Dona Carolina?
CAROLINA: Claro que juro, vou te dar um aumento, mas de trabalho para você deixar de ser fuxiqueira, sua copeira de quinta. Tchau! (Sai do apartamento e bate a porta).
DORALICE: Essa daí já tá com a vaga no butantã garantida, tinhosa... (Começa a imitar Carolina andando). Não sei como consegue se equilibrar nesses saltos tão altos enquanto tira foto, se fosse eu, já tinha caído dessa escada e quebrado os dentes, oh Deus, só queriar poder ser rica um pouquinho pra poder ter mordomia e ser madame, ah se eu pudesse...
Cena 09 – Praça do Coreto [Externa/Tarde]
(Um ônibus se aproxima da praça e estaciona. Os passageiros logo começam a descer, em seguida o motorista abre o porta-malas e é surpreendido, pois Coruja sai do interior rapidamente).
MOTORISTA: Mas que raio é isso menino? Ficou doido?
CORUJA: (Corre rapidamente ao sair do porta-malas, despistando a todos).
Cena 10 – Casa de Benedito [Interna/Tarde]
(Após encerrarem as vendas na feira, Benedito volta para casa. Ao adentrar em sua residência, coloca algumas sacolas no chão para fechar a porta e ao ver Beto sentado sozinho no sofá da sala, pois fica aterrorizado ao perceber que o espírito de Orlando também está ali).
BETO: Boa tarde, Seu Benedito! (Cumprimenta).
BENEDITO: Sangue de cristo tem poder, misericórdia! (Diz ao olhar para Orlando).
ORLANDO: Agora eu tenho certeza, você consegue me ver, não é? Não adianta fingir, dessa vez você não me escapa.
A câmera foca no rosto de Benedito completamente aterrorizado, a cena congela e o capítulo encerra com o a tela azul da cor do céu.
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