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VENTO NORTE: Capítulo 01 (A GRANDE ESTRÉIA)



Cena 01/ Ruas cariocas/ Dia. 

Tour pelas ruas e praias do Rio de Janeiro
Com a forte e potente voz de um velho narrador da rádio local, que diz as seguintes palavras, enquanto a câmera vagueia pelas ruas daquele bonito lugar, com as pessoas caminhando ao redor da praia. Algumas pessoas na areia, deitadas sobre toalhas, outras no mar, se refrescando.


Narrador: "Não é o trabalho, mas o saber trabalhar, que é o segredo do êxito no trabalho. Saber trabalhar quer dizer: Não fazer um esforço inútil, persistir no esforço até o fim e saber reconstruir uma orientação quando se verificou que ela era, ou se tornou errada." É com essas poucas palavras de Fernando Pessoa, que damos início a rádio R9 de hoje. Fiquem agora com O Passarinho do Relógio de Aracy de Almeida


Cena 02/ Barra da Tijuca/ Dia.

(a música continua) 
Tour completa pela Barra. A imagem se locomove sem rumo. Mostrando as pessoas vivendo, os pássaros voando sem direção. As bonitas casas que lá estão situadas

Cena 03/ Residência Trajano Ferraço/ Exterior/ Dia

A câmera se dirige até uma charmosa residência. Close na fachada


corta/p o interior

Cena 04/ Residência Trajano Ferraço/ Sala de estar/ Dia. 

(sem música) 

Celso está sentado no sofá, lendo o jornal. Seu rosto não fica visível devido ao jornal. No jornal está sublinhado a data em que estamos, 29 de Janeiro de 1943

Regina aparece, saindo do corredor em direção ao espelho que há na sala, se aprontando para sair. Ao se olhar no espelho, ela ajeita o cabelo
Regina enquanto se apronta diz à Celso:

Regina: Eu não irei demorar, enquanto estiver fora, não tire os olhos de Carlos e Melissa.

Celso abaixa o jornal e diz:

Celso: Não se preocupe! 

Celso se levanta e beija Regina

Celso: Mande lembranças minhas à Dona Vera. 

Regina dá um sorriso e gesticula com a cabeça dizendo sim, Celso volta a se sentar, ele pega o jornal e continuar a ler, Regina sai pela porta.

Cena 05/ Bordel Le Blanc/ Centro/ Dia.

Close na sala da casa noturna.
As meninas estão tirando uma fotografia. Com uma máquina fotográfica da época.


Close em Valéria se dirigindo até o caixa, após a foto e dizendo em voz alta para as meninas:

Valéria: Eu quero uma cópia dessa fotografia! Irei pendurá-la em meu espelho! Sempre que me aprontar ao espelho, irei recordar dessa noite! depois de anos, finalmente poderei voltar a beber um martini seco. 

Laura se aproxima e diz

Laura: Também pudera mamãe, ontem atingimos o ápice de lucros do ano. Creio que há uns três anos, nós não faturávamos tanto. 

Valéria se dirige até Diva e diz:

Valéria: Com essa menina aqui, o lucro é certo! Todos a cortejaram ontem à noite. E você filha, disse que ela não daria certo pela inexperiência. Eu disse, as mais inexperientes, são as que mais rendem! Tenho olho critico!

Diva sorri envergonhada.

Valéria: Você também filha, é muito inexperiente, mas até que se deu bem essa noite, apesar de eu ter feito várias oposições à sua estreia.

Laura: Mamãe, já conversamos sobre isso. Eu quero lhe judar! 

Valéria se dirige até Laura, toca em seus cabelos e diz:

Valéria: Eu não queria que você fosse da vida. Eu sonhava em vê-la professora, formada, com um diploma, lecionando. 

O rosto de Valéria se fecha.

Cena 06/ Rua da residência Fontes/ Dia.

Close inicialmente na rua e em Regina caminhando. Aparece a casa de Vera. Close na residência.


 Ela se dirige até a casa da mãe, abre o portão e entra 

Corta p/ o interior.

Cena 07/ Residência Fontes/ Sala de Estar/ Dia.

Regina ao entrar diz:

Regina: Mamãe?

Regina escuta soluços e tossidos vindos em direção ao quarto de Vera,
Vera que está deitada em sua cama, (close em Regina, Vera não aparece), diz:

Vera: (forçando um pouco a voz para Regina poder ouvi-la) Estou em meu quarto filha!

Regina se dirige até o corredor, que leva ao quarto.

Cena 08/ Residência Fontes/ Suíte principal/ Dia.

Regina entra no quarto e se dirige até a mãe, sentando-se na beirada da cama. 

Regina: Mamãe, como a senhora amanheceu hoje? E papai, e vovó? 

Vera: Eu amanheci um pouco melhor, graças a Deus! Seu pai foi até a farmácia e de lá partiria para o escrito. Creio que ele deva vir almoçar logo mais, enquanto dona Eleonora foi até a feira e também disse que iria visitar uma amiga, a dona Estela, recorda dela? Aquela que teve o panari e quase teve a mão amputada ano passado? 

Regina: Em hipótese alguma, poderia esquecer, mamãe, principalmente daquele escândalo que essa senhora provocou no hospital, quando um dos médicos, acredito que ainda iniciante, sugeriu a amputação de sua mão, esse escândalo foi comentado na cidade por meses.

Vera ri junto a filha.

Regina: Mamãe, hoje eu não pude lhe trazer nenhum agrado, as encomendas do mercado ainda não chegaram. Celso não comenta muito, mas eu sinto que os negócios, não andam muito bem! Eu estou um pouco preocupada.

Vera: Filha, há épocas boas, produtivas e há épocas não tão boas, com poucas vendas. A crise aumentou muito do ano passado para esse, isso por que ainda estamos no começo do ano. E do jeito que estamos... Não gosto nem de pensar que muitas famílias podem não ter uma fonte de renda nos próximos meses, alguns comércios estão sendo obrigados a fechar, como o do senhor Nicolau, nosso vizinho, ele está passando por dificuldades financeiras graves. A mulher teve que começar a trabalhar para fora para eles terem uma estabilidade. Mas não se preocupe! Celso vai saber contornar toda essa situação, vocês já passaram por outras crises antes!

Regina: A senhora tem razão mamãe, mas olha eu aqui, perturbando a senhora com meus problemas, minhas suposições. 

Vera: Eu gosto de saber como você está filha, jamais deixe de me manter informada sobre o que se passa com você!

Regina: Bom mamãe, a senhora gostaria de um chá? Eu posso prepará-lo! De ervas, com uma pitada de mel, como a senhora gosta!

Vera: Eu adoraria, Regina. Essa manhã, sua avó preparou uns biscoitinhos de goiaba, (hum), de dar água na boca! 

Vera se levanta da cama com a ajuda de Regina.

Regina: Mamãe, a senhora deveria repousar! 

Vera: Não me trate como se eu fosse uma inválida! Eu só tive uma tontura nesses últimos dias, mas estou bem!

Regina: A senhora está doente mamãe, deveria descansar, eu trago o chá para a senhora! 

Vera: Já disse que eu estou bem, menina!

Regina faz uma cara frustrada e balança a cabeça, como se estivesse gesticulando um não.

Cena 09/ Residência Trajano Ferraço/ Quarto de Carlos/ Dia.

Carlos está lendo um gibi deitado em sua cama, Melissa entra em seus aposentos.

Melissa: Carlos, quer brincar comigo?  

Carlos: Não, estou lendo.  

Melissa: Tudo bem, papai vai gostar de saber quem quebrou os dois vasos prediletos de mamãe, no terraço, enquanto jogava bola, semana passada. 

Carlos: (com raiva) Está certo, vamos brincar, mas eu escolho a brincadeira!

Melissa: (debochada) Como quiser, Carlos. Tudo para não ir dormir com as costas quentes, não é irmão? 

Close em Carlos olhando para Melissa com raiva.

Cena 10/ Residência Fontes/ Cozinha/ Dia.

Regina está preparando um chá no fogão, enquanto Vera observa sentada.

Vera: Você não quer que eu lhe ajude, filha?

Regina: Descanse mamãe, a senhora não deveria nem estar fora de sua cama! 

Vera: O que eu tenho é um resfriado, uma virose, você e seu pai com essa superproteção... Agora estou privada até de mexer em minhas panelas... 

Regina: Mamãe, nós só queremos lhe ver bem!

Vera: Querem é me tratar como invalida! Depois que eu me for, não adianta espernear! Se despeça dos bolinhos, das tortas, das guloseimas, daquela lasanha de carne (hum). 

Regina: Ah mamãe, a senhora sempre com seus dramas! A senhora poderia ter sido uma respeitável escritora de grandes tragédias! E é por isso que papai e eu queremos que a senhora repouse, para a senhora se recuperar.  

Vera: (gesticulando com a cabeça) Ah. E me diga Regina, como estão Carlos e Melissa? Ele deve estar um rapagão, e ela deve estar uma mocinha, cada dia mais linda! Faz algum tempo que eles não aparecem por aqui, avise-os que estou esperando ansiosamente por uma visita!

Regina: Claro mamãe, Carlos está sentindo muita saudade daquele seu pudim de leite. E Melissa de suas cantigas.

Regina e Vera começam a rir juntas, Regina tira a chaleira do fogão e coloca sobre a mesa.

Regina: (servindo Vera), gostaria de um pouco de mel mamãe? 

Vera: Não, está excelente assim!

Vera bebe o chá.

Vera: Está uma delícia! Esse chá é composto por várias ervas, não? Reconheci pelo sabor, gengibre, sálvia e maracujá! 

Regina: Eu também adicionei uma folha de hortelã!

Vera: Por favor filha, pegue os biscoitos (aponta para o armário) eles estão naquela prateleira. 

Regina se dirige até o armário e pega o prato com biscoitos fresquinhos. Ela coloca sobre a mesa. Regina e Vera bebem chá juntas. Close nas duas enquanto uma sonoplastia de fundo começa a tocar.

Instrumental: 


Cena 11/ Residência Trajano Ferraço/ externa/ Dia. 

Carlos está apoiando a cabeça com o braço no muro de casa, enquanto Melissa está escondida no velho galpão que a residência possui

Carlos: (diz em voz alta) 8, 9, 10... Ai vou eu!

Carlos sai para procurá-la. Carlos se distrai e se afasta do ponto, Melissa sai de seu esconderijo sem o irmão ver e consegue bater. Ele ao se virar com o som dos passos dela, fica frustrado.

Melissa: (abaixando o braço, em tom de vitória) Ganhei pela segunda vez consecutiva! 

Carlos: Nâo valeu! Você se escondeu no galpão! Não estava nas regras se esconder dentro de casa! 

Melissa: Valeu sim, você perdeu mais uma vez! É um fracassado!

Close em Carlos, fazendo uma expressão frustrada. Vicente está passando pela rua e avista Carlos, que também o avista, Vicente faz um sinal

Carlos: Eu não quero mais brincar! 

Melissa: Se você quiser ir dormir com o lombo doendo, eu posso agora chamar o papai! 

Melissa exalta um pouco a voz, mas de modo que não faça Celso ouvi-la. Ela chama o pai.

Carlos: Espere! Se você me deixar sair, eu te presenteio com um gibi, você pode escolher. 

Melissa: Muito pouco, eu quero dois gibis, esse é o acordo!

Carlos: Você é uma interesseira, mas tudo bem, acordo fechado! 

Melissa faz um sorrisinho debochado enquanto Carlos olha com raiva para a irmã. Melissa e Carlos apertam as mãos.

Cena 12/ Rua/ Dia. 

Carlos se dirige até Vicente

Carlos: (surpreso) O que aconteceu? 

Vicente: Gostaria de apedrejar a janela daquela velha rabugenta da dona Cleonice comigo?

Carlos: (indeciso) Tá quase na hora do almoço, eu não... 

Vicente interrompe Carlos.

Vicente: Aquela mulher diz que você é remelento e... (faz uma cara frustrada), eu estava passando em frente a casa dela e avistei a neta dela, fui cumprimenta-la, e quando ela viu a Cecília conversando comigo, ela brigou com a menina e disse que eu sou piolhento e tenho cabelo de esfregão, também disse que a neta dela não pode andar com alguém como eu.

Carlos: Então eu topo sim! Com os nossos ninguém tasca! 

Os meninos sorriem e dão aperto de mão à soquinhos.

Cena 13/ Rua da Casa de Dona Cleonice/ Dia.

Close em Carlos e Vicente se dirigindo até a casa da velha senhora. Aparece a casa da senhora, close na fachada.


Eles observam para ver se a rua está com pouco movimento, os dois se olham debochadamente. Eles pegam algumas pedras no chão e começam a atirar na janela da casa 

Carlos: Hahaha, bruxa maldita! 

Vicente: (correndo) Vamos, Carlos. Vamos! 

Carlos e Vicente saem correndo.

Dona Cleonice é uma velha senhora com muitas rugas em seu rosto, de aspecto amargo, com 70 e poucos anos que está usando um vestido amarelo.
Ela sai de sua residência para ver o que está acontecendo após ouvir os barulhos das pedras em sua janela. A velha senhora resmunga enquanto observa sua janela quebrada.

Cleonice: (espantada) Ah, vândalos, marginais!

Close em Dona Cleonice furiosa.

Cena 14/ Feira/ Dia.

Eleonora está escolhendo algumas verduras em uma barraca, quando avista duas conhecidas;
Jurema é uma mulher cheinha, na faixa dos 70 anos, simpática que está usando um vestido florido.
Berenice é uma senhora mais magra, que possui uns 68 anos, um pouco antipática e azeda, está usando um vestido preto.

Eleonora: (faz sinal com as mãos) Jurema, Berenice!

Jurema: (dá dois beijos no rosto de Eleonora, que retribui) Eleonora, Quanto tempo!

Berenice: (também dá dois beijos em Eleonora, que retribui) Mais de um ano que nós não nos víamos, temos que marcar alguma coisa, um jantarzinho, com um bom vinho branco, uma comidinha caseira para recordarmos os tempos do colégio! 

Eleonora: Basta marcar, querida! Vai ser um prazer recordarmos aqueles tempos, não estávamos nem no século 20 ainda. (ri)

Jurema: Não diga isso! Eu ainda aparento ser uma mocinha!

Eleonora, Jurema e Berenice começam a rir juntas

Berenice: Ah, Eleonora, você está sabendo que a guerra pode afetar o país? Esses dias eu andei lendo no jornal! 

Jurema: Uma conhecida minha também está preocupada, não quer que o marido seja escolhido para ir lutar na guerra.

Eleonora: Eu também tenho essa preocupação, meu coração de mãe não suportaria perder o Alberto... É uma barbaridade, homens tão jovens, que não se conhecem o bastante para se odiarem, estão lá, lutando em prol de homens que se conhecem e que se odeiam, mas que não possuem coragem e decência para guerrearem entre si...

Eleonora, Jurema e Berenice ficam reflexivas, Close nas três senhoras.

Cena 15/ Escritório de advocacia/ Sala de Alberto/ Dia.

Alberto está sentado à mesa, distraído e preocupado. Ele se levanta, pega sua maleta e a sacola da farmácia e sai pela porta. 

Cena 16/ Escritório de advocacia/ Centro do escritório/ Dia.

Alberto comunica à secretária que irá para casa mais cedo.
Viviana é uma linda moça, loira, de olhos azuis e carismática, que está usando um vestido rosa e uma maquiagem leve.

Alberto: Viviana, minha esposa teve um mal estar noite passada e não está bem, estou de saída e não pretendo retornar. Se alguém ligar, diga para que retorne amanhã e anote, caso deixe recado. 

Viviana: Sim senhor! 

Alberto se retira, close em Viviana.

Abertura: 


Vinheta de intervalo:


Cena 17/ Residência Flores Viana/ Sala de estar/ Dia.

Gustavo entra pela porta com um buquê de rosas vermelhas e coloca seu chapéu no gancho ao lado da porta

Gustavo: (com a voz exaltada) Querida, estou em casa!

Rosália, que está de avental, se dirige do corredor até a sala. Ela se surpreende com as flores.

Gustavo: (entrega as rosas) São para você, meu amor!

Rosália: São tão lindas!

Gustavo dá um beijo em Rosália.

Rosália: O almoço ainda não está pronto, mas se quiser, posso preparar uma bebida.

Gustavo: Eu aceito um whiskey, obrigado. 

Rosália prepara o whisky de Gustavo, no mini bar que eles possuem na sala. Ela entrega para o marido o copo com a bebida. 

Gustavo: (bebendo o whisky) Quer que eu lhe ajude no almoço? 

Rosália: Não é necessário, já estou quase terminando. 

Gustavo: Eu faço questão! (brincando) sou um excelente cortador de cebolas!

Rosália ri.

Rosália: Bom... Só restou refogar as batatas...

Gustavo: Não se preocupe, eu refogo uma batatinha ao molho com uma pitada de vinho (hum), fica muito saboroso! 

Rosália ri. Ele coloca os braços nos ombros de Rosália, a abraçando, e juntos, partem em direção ao corredor, que leva à cozinha.

Cena 18/ Residência Fontes/ Sala de estar/ Dia.

Regina e Vera estão conversando sentadas ao sofá.

Regina: Mamãe, daqui alguns dias, estreará nos cinemas aquele filme que a senhora estava interessada em assistir, Samba em Berlim, se a senhora quiser, posso ir lhe fazendo companhia! 

Vera: Não é preciso Regina! Seu pai irá me acompanhando! 

Eleonora abre a porta, com algumas sacolas e se depara com a neta e Vera na sala.

Eleonora: Regina, minha querida! 

Regina parte em direção à avó para cumprimentá-la. A avó coloca as sacolas na mesinha que tem ao lado da porta.

Regina:(abraça Eleonora) Vovó, como tem passado?

Eleonora: Estou muito bem filha, graças a Deus! Mas venha querida (coloca os braços nos ombros de Regina), me conte, como você está? E Celso? E meus bisnetos? 

Regina: Todos estão muito bem vovó, e lhe mandaram beijos e abraços! Para as duas e também, à papai! 

Regina olha para seu relógio de pulso e diz:

Regina: Já está tarde! Preciso partir. Tenho que aprontar o almoço... 

Eleonora: Mas já filha? Espere seu pai, para lhe dar um beijo! Ele não tarda a chegar, Alberto sempre vem para o almoço!

Vera: Sim filha, seu pai não demora a chegar! 

Regina: Está certo, eu o esperarei! 

Eleonora: Mas me conte, Regina, Carlos ainda tem o sonho de se formar engenheiro? 

O som das vozes vai desaparecendo, elas apenas vão gesticulando e uma sonoplastia de fundo começa a tocar.

Instrumental:


Cena 19/ Residência Trajano Ferraço/ Quarto de Melissa/ Dia.

Melissa está lendo um gibi, deitada em sua cama, quando Celso bate na porta e entra.

Celso: Filha? Sabe onde seu irmão está? 

Melissa: Carlos saiu com Vicente, papai.  

Celso: Está certo, quando Carlos retornar, diga que desejo conversar com ele. 

Melissa: Algum problema papai? 

Celso: O diretor da escola acaba de telefonar. Parece que ele não foi a aula ontem. 

Melissa faz uma expressão surpresa, Celso se retira do quarto da filha, e ela continuar a ler.

Cena 20/ Residência Flores Viana/ Sala de estar/ Dia. 

Rosália e Gustavo estão sentados no sofá, bebendo uma taça de vinho.

Gustavo: Eu disse amor, batata refogada ao molho como a minha, jamais existiu!

Rosália e Gustavo começam a rir, ele olha para seu relógio de pulso e diz:

Gustavo: (se levanta) Eu preciso ir, até passei um pouco da hora. 

Rosália: (se levanta) Está certo, tome cuidado com essas estradas e não trabalhe tanto!

Gustavo: Não se preocupe querida! 

Rosália e Gustavo se beijam, Gustavo se dirige até a porta, ele pega o chapéu que está pendurado ao lado, enquanto Rosália fica inquieta, quando Gustavo abre a porta e parte em direção a rua, Rosália diz com a voz um pouco exaltada:

Rosália: Gustavo!

Gustavo se vira e se dirige até a amada.

Gustavo: O que aconteceu? 

Rosália: Não, nada, bobagem.

Gustavo: Você tem certeza? 

Rosália: Não se preocupe!

Gustavo fica um pouco preocupado, ele beija Rosália, Gustavo se dirige novamente até a porta e sai. Rosália coloca a mão no peito e fica inquieta, close no rosto dela.

Cena 21/ Residência Fontes/ Sala de estar/ Dia. 

Regina, Vera e Eleonora estão conversando sentadas ao sofá.

Eleonora: Mais cedo, ao ir até a feira, encontrei duas conhecidas, vocês não conhecem! Conversamos sobre muitos assuntos, entre eles a guerra... Vocês já imaginaram se Alberto e Celso são obrigados a servir? 

Regina: Não gosto nem de pensar nisso, vovó. Fico tremula ao saber que Celso e papai podem... Ah...

Vera: Mas vamos manter a fé! 

Regina e Eleonora concordam em silêncio, gesticulando a cabeça, Alberto chega em casa.

Regina: Papai!

Alberto: (dá um beijo na testa de Regina) Como você está, meu amor? E meus netos? Você os trouxe? 

Regina: Não papai, ficaram em casa com Celso. 

Alberto: Você precisa trazer essas crianças mais vezes! Quase nunca os vejo! 

Regina: Eu prometo traze-los logo! 

Alberto coloca os braços no ombro de Regina e a leva até o sofá. 

Cena 22/ Residência Trajano Ferraço/ Externa/ Dia. 

Carlos e Vicente estão na rua, em frente à casa

Carlos: Eu preciso entrar.

Vicente: Eu também preciso ir, mamãe fez ensopado de camarão para o almoço. 

Carlos e Vicente se despedem com um aperto de mãos, Carlos abre o portão e entra em sua casa. Close em Carlos.

cena 23/ Dentro do automóvel/ Dia. 

Gustavo está dirigindo. Até que se ouve tiros, ele não compreende o que está a ocorrer.

Corta p/ rua.

Cena 24/ Rua/ Dia. 

Dois homens encapuzados passam correndo, distribuindo tiros durante uma perseguição policial. As pessoas que estão dentro de seus automóveis começam a sair desesperadas.

Corta p/ o interior do automóvel de Gustavo.

Cena 25/ Dentro do automóvel/ Dia.

Gustavo fica sem reação com os tiros que ouve. Até que seu carro é alvejado.

Gustavo: (grita) Meu Deus!
 
Gustavo sai do automóvel.

Corta p/ rua.

Cena 26/ Rua/ Dia.

Close em Gustavo saindo de seu carro, Gustavo na porta de seu carro, é baleados duas vezes. O primeiro tiro é no braço enquanto o segundo é no peito, ele cai em câmera lenta.

Cena 27/ Residência Flores Viana/ Dia.

Rosália está inquieta em sua janela. Ela coloca a mão no peito e começa a respirar fundo.

Cena 28/ Rua/ Dia.

Close em Gustavo baleado, começa uma sonoplastia de fundo.

Instrumental: 


Os olhos de Gustavo se fecham.

Cena 29/ Residência Fontes/ Sala de Estar/ Dia.

Regina, Vera, Alberto e Eleonora estão sentados ao sofá.

Regina: Eu preciso ir, já está muito tarde, eu não aprontei o almoço e Celso é um desastre na cozinha! 

Todos se levantam, Alberto dá um beijo no rosto de Regina.

Alberto: Traga os meninos da próxima vez, quero vê-los!

Regina: Não se preocupe!

Regina: (beijando Vera) Tchau mamãe, se cuide. Nada de fazer esforços! Repouse!

Vera: Nâo fique preocupada! E que Deus lhe acompanhe! 

Regina: (beijando Eleonora) Adeus vovó! 

Eleonora: Se cuide filha! 

Regina gesticula com a cabeça simulando um sim.

Regina: Até logo! 

Enquanto Regina se dirige até a porta, Vera sente uma tontura e desmaia, todos ficam apavorados.

Eleonora: Valha-me Deus

Alberto pega Regina no colo e a coloca no sofá.

Regina: (gritando) Mamãe, mamãe, mamãe!

Alberto: Vera, Vera, pelo amor de Deus! Acorde, por favor, Acorde! 

Foco em Regina pegando a mão de Vera, desesperada. Começa uma sonoplastia de fundo.

Instrumental:


A imagem fica em preto e branco, como se fosse um filme dos anos 40. Gancho em Regina desolada pelo desmaio da mãe.


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