CAMINHOS
novela de MIGUEL VICTOR
direção geral RICARDO WADDINGTON
CAPÍTULO 10
CENA 01. LABORATÓRIO YEDDA. INT. NOITE
Yedda está sentada em frente ao computador, com uma expressão tensa. Ela sabe que
Clara está prestes a fazer uma chamada de vídeo com JOE, e não quer que ela descubra
que ele é, na verdade, uma IA. Ela pensa por um momento, e então tem uma ideia. Ela
acessa um programa de deep fake e começa a trabalhar em um vídeo que pareça com
JOE, mas que na verdade seja uma imagem gerada por computador. Enquanto trabalha no
vídeo, Yedda fica cada vez mais nervosa. Ela sabe que se Clara descobrir a verdade, pode
colocar todo o seu projeto em risco. Ao finalizar o processo do programa, Yedda se observa
no computador, e está com a forma que JOE está no aplicativo. Ela testa os efeitos de voz e
imagem e percebe que Clara não perceberá que não é uma pessoa real ali.
CORTE:
CENA 02. CASA GABRIELA. SALA. INT. NOITE
Gabriela e Lúcia estão sentadas no sofá.
Gabriela: Mãe, eu queria te perguntar uma coisa. Você aceitaria um filho que não se
identificasse como homem ou como mulher?
Lúcia: Como assim? Claro que não, filha. Isso não é de Deus.
Gabriela: Como não é de Deus? O que Deus tem a ver com isso? É só uma questão de
identidade de gênero.
Lúcia: Identidade de gênero? Isso é coisa do diabo. Homem é homem e mulher é mulher, e
pronto.
Gabriela: Mãe, você não entende. Existem pessoas que não se identificam com o gênero
que lhes foi atribuído ao nascer, e isso não é uma escolha. É uma parte fundamental da
identidade delas.
Lúcia: Eu não quero discutir isso, Gabriela. Eu só sei que não é natural, não é de Deus.
Gabriela: Eu não concordo com você, mãe. Eu acho que Deus nos criou de muitas formas
diferentes, e a identidade de gênero é apenas uma delas.
Lúcia: Eu não quero falar mais sobre isso. Só sei que não aceitaria um filho assim.
Gabriela: Eu espero que você mude de ideia, mãe. Eu não quero viver em um mundo onde
as pessoas são julgadas e discriminadas por serem diferentes.
Gabriela fica pensativa com a reação e preconceito da mãe.
CORTE:
CENA 03. LABORATÓRIO YEDDA. INT. NOITE
Yedda ligou para Clara usando a IA de deep fake e a imagem de JOE apareceu na tela.
Clara ficou animada ao vê-lo e começou a conversar.
Clara: Oi JOE! Eu queria falar com você sobre algo importante.
IA Deep Fake de JOE: Claro, Clara. O que você gostaria de falar?
Clara: Eu queria saber se você quer sair comigo para jantar. Acho que poderíamos nos
conhecer melhor pessoalmente.
IA Deep Fake de JOE: Eu adoraria, Clara. Mas infelizmente, não é possível agora. Estou
muito ocupado com uma coisa em relação ao trabalho, preso nisso todo tempo.
Clara: Entendo. Mas eu sinto que não estou te conhecendo de verdade. Quero ter certeza
de que sou a pessoa certa para você.
IA Deep Fake de JOE: Clara, você é uma pessoa maravilhosa. Não precisa se preocupar
com isso. Estamos nos conhecendo aos poucos e acho que estamos indo muito bem.
Clara: Ah, que bom ouvir isso. Eu realmente gosto de você.
IA Deep Fake de JOE: Eu também gosto de você, Clara. Prometo que falaremos em breve.
Clara: Claro, JOE. Até a próxima.
IA Deep Fake de JOE: Até a próxima, Clara.
Yedda encerrou a chamada e suspirou de alívio. Ela não tinha certeza de como Clara
reagiria se descobrisse que JOE era uma IA, mas por enquanto, ela conseguiu manter o
segredo.
CORTE:
CENA 04. CASA GABRIELA. QUARTO. INT. NOITE
Gabriela estava deitada em sua cama, mexendo em seu celular, quando se deparou com
uma foto antiga de seu ex-namorado Juliano. Ela observou a imagem com carinho,
lembrando de como eles se divertiam juntos e como ele a fazia rir. Sentiu um aperto no
peito ao se lembrar que não estavam mais juntos. Gabriela suspirou e guardou o celular na
mesa de cabeceira. Virou-se de lado e ficou encarando o teto, pensando em como tudo
tinha mudado tão rápido em sua vida. Mas, por um momento, Gabriela deixou todas essas
questões de lado e permitiu-se sentir saudades de Juliano. Sabia que não podia voltar atrás
e que a vida seguia em frente, mas não podia negar que sentia falta de alguém que já foi
tão importante em sua vida. Ela fechou os olhos e deixou as lembranças fluírem em sua
mente, sabendo que precisava lidar com seus sentimentos e aceitar que as coisas mudam.
CORTE:
CENA 05. CAFETERIA. INT. DIA
DIA SEGUINTE. Rebeca e Glória pedem suas bebidas e sentam-se em uma mesa próxima
à janela.
Rebeca: (suspirando) Mãe, por que você e o papai não podem se dar bem?
Glória: (franzindo a testa) O que te faz pensar que não podemos?
Rebeca: (balançando a cabeça) Eu sempre sinto uma tensão quando vocês estão juntos.
Eu queria que vocês pudessem ser amigos pelo menos.
Glória: (sorrindo) Eu entendo o que você quer dizer, filha. E eu também gostaria que
pudéssemos ser amigos. Mas, às vezes, as coisas não são tão simples como gostaríamos.
Rebeca: (curiosa) O que você quer dizer com isso?
Glória: (suspirando) Eu e seu pai, depois do início do relacionamento dele com Yedda... É
algo que não daria certo. E mesmo que conseguirmos superar, algumas cicatrizes ainda
doem.
Rebeca: (incentivando) Mas vocês poderiam tentar de novo, certo?
Glória: (sorrindo) Eu acho que posso tentar. E, quem sabe, talvez possamos ser amigos
novamente.
Rebeca: (sorrindo) Eu ficaria muito feliz em ver vocês dois juntos, pelo menos como amigos,
novamente.
CORTE:
CENA 06. HOSPITAL. CORREDOR. INT. DIA
Clara agoniada esperando por notícias quando o médico de sua mãe passa, ela o para.
Clara: Oi, doutor, eu queria saber quando a minha mãe vai ter alta.
Médico: Oi, Clara. Olha, provavelmente amanhã ela já deve receber alta. Mas ela ainda
precisará de acompanhamento e os remédios que eu te falei.
Clara: Ah, aqueles remédios... Eles são tão caros.
Médico: E sequer tem na rede pública.
Clara: Mas nem que eu me mate de trabalhar eu pago aqueles remédios da minha mãe.
Médico: Pode contar comigo pra qualquer coisa, Clara.
Clara: Obrigado, doutor. Posso ver minha mãe?
Médico: Claro, a enfermeira já saiu do quarto.
CORTE:
CENA 07. HOSPITAL. QUARTO. INT. DIA
Clara entra no quarto devagar e Norma sorri ao vê-la.
Norma: Filha...
Clara: Amanhã a senhora ganha alta mãe. E eu vou ser a primeira a tá aqui pra te abraçar e
te levar pra casa e ficarmos juntas novamente..
Norma: Eu te amo tanto, Clara. Obrigada por ter ficado do meu lado por todo esse tempo.
Clara: E eu ficaria mais ainda se fosse preciso. Eu também te amo, mãe.
CORTE:
CENA 08. CASA GLÓRIA. SALA. INT. DIA
Glória assistindo TV quando a campainha toca.
Rebeca: (do quarto) Mãe, atende! É pra mim!
Glória se levanta e vai até a porta, se depara com Milton.
Glória: Milton? O que você tá fazendo aqui?
Milton: A Rebeca me chamou pra conversar.
Glória: Ah... Bom, entra e senta.
Milton: Brigado. Nossa... Parece que fez tanto tempo que eu saí de casa.
Glória: E começou a se relacionar com a Yedda.
Milton: Pois é. E você, Glória, como tá?
Glória: Tô bem. Eu me recuperei do baque da separação, tô me contentando e agora tô
concentrada em um curso de confeitaria que comecei a fazer.
Milton: Que legal, não sabia que você tinha esses interesses.
Glória: Eu descobri recentemente, tá sendo algo bem legal, eu tô fazendo algumas amigas
e sempre me dando bem com os bolos que faço.
Milton: Fico muito feliz com isso.
Glória: E você e a Yedda? Como vão?
Milton: Vamos bem. Ela tá desenvolvendo um projeto de tecnologia interessante.
Glória: Engraçado, pensei que você odiasse essa profissão da Yedda.
Milton: Eu aprendi a aceitar a profissão dela.
Glória sorri timidamente.
CORTE:
CENA 09. PIZZARIA. INT. DIA
Clara entra na pizzaria e é recebida por William, o gerente. Ele a recebe com um olhar
desconfiado.
William: Oi, Clara. O que você está fazendo aqui? Já não lhe disse que não precisamos
mais de você?
Clara: Ué, como assim?
William: Você foi demitida.
Clara: (sem entender nada) Demitida porque?
William: Você faltou ao trabalho diversas vezes sem nem ao menos avisar. E agora, quando
finalmente aparece aqui, quer discutir isso?
Clara: Mas eu avisei, eu disse que minha mãe estava doente e eu precisava ficar com ela.
Eu até trouxe um atestado médico.
William: Olha, Clara, eu sinto muito pela sua mãe, mas eu tenho uma pizzaria pra gerenciar.
Eu preciso de funcionários que possam estar aqui quando eu preciso. E se sua mãe ficar
doente novamente, o que eu faço?
Clara: Mas eu nunca faltei sem justificativa, William. Eu fiz tudo o que pude pra equilibrar o
meu trabalho e a minha vida pessoal.
William: Eu sinto muito, Clara, mas já tomei minha decisão. Não posso voltar atrás agora.
Inclusive, já contratei outra pessoa.
Clara: Mas William, eu preciso desse emprego, eu preciso pagar os remédios da minha mãe
e...
William: Sinto muito, Clara. Mas não dá. Adeus.
Clara fica em choque. Ela olha em volta e vê seus antigos colegas de trabalho trabalhando.
Ela se sente excluída e triste.
CORTE:
CENA 10. OFICINA. INT. DIA
Juliano está sentado sozinho em sua casa, segurando uma foto antiga de Gabriela. Ele olha
para a imagem e começa a sentir a falta dela. Uma lágrima escorre pelo seu rosto.
Juliano: (sussurrando) Por que as coisas tiveram que acabar assim? Eu sinto tanto a sua
falta, Gabi.
Ele fecha os olhos e tenta se concentrar em seus sentimentos. Ele se lembra dos
momentos felizes que passaram juntos e como tudo mudou tão rapidamente. Ele não
consegue parar de pensar nela.
Juliano: (soluçando) Eu deveria ter feito mais, deveria ter lutado por nós. Eu nunca vou
encontrar alguém como você novamente.
Ele limpa as lágrimas e tenta se recompor. Ele sabe que precisa seguir em frente, mas é
difícil esquecer alguém tão especial como Gabriela.
Juliano: (sussurrando) Eu sempre vou te amar, Gabi. Sempre.
Ele fecha a foto e a coloca de volta em sua caixa. Ele se levanta e caminha até a janela,
olhando para a rua. Ele sabe que precisa deixar Gabriela ir, mas isso não significa que ele
vá esquecê-la.
CORTE:
CENA 11. CASA GABRIELA. SALA. INT. DIA
Lúcia sentada em frente à TV, assistindo a uma reportagem sobre identidade de gênero.
Reporter: ...e é cada vez mais comum encontrarmos pessoas que se identificam como
não-binárias, ou seja, que não se identificam como homem ou mulher.
Lúcia revira os olhos e muda de canal.
Lúcia: Essas coisas de gênero são uma invenção moderna. Homem é homem, mulher é
mulher, não tem essa de meio termo.
Ela muda de canal novamente e se depara com outra reportagem sobre o mesmo assunto.
Reporter: ...a identidade de gênero é uma questão de autoconhecimento e respeito. É
importante que a sociedade acolha e respeite todas as formas de identidade de gênero.
Lúcia franze a testa e desliga a TV.
Lúcia: Esses jornalistas querendo mudar o mundo. Isso é coisa do demônio. Não tem nada
a ver com a vontade de Deus.
Ela se levanta, pegando a Bíblia e começa a ler.
CORTE:
CENA 12. CAFETERIA. INT. DIA
Gabriela está sentada em uma cafeteria, tomando um café. Ela olha em volta, procurando
por Caterine. Depois de alguns minutos, Caterine entra na cafeteria e vê Gabriela acenando
para ela.
Caterine: (desculpando-se) Desculpe pelo atraso.
Gabriela: (sem graça) Sem problemas. Eu só pedi um café.
Caterine: (sentando-se) Então, como posso ajudá-la?
Gabriela: (tímida) Eu queria conhecer alguém de gênero fluído.
Caterine: (surpresa) Ah, claro. Eu conheço algumas pessoas. Mas por que você está
interessada nisso?
Gabriela: Eu vi algumas coisas na internet e comecei a questionar algumas coisas sobre
mim mesma. Acho que estou pronta para explorar isso um pouco mais.
Caterine: (entusiasmada) Fico feliz em ouvir isso. Existem muitas pessoas que se
identificam como gênero fluído. Eu posso lhe apresentar algumas, se quiser.
Gabriela: (sorrindo) Adoraria.
Caterine: Eu vou te ajudar a se descobrir melhor, Gabriela. Eu vou te ajudar.
FIM DO CAPÍTULO 10
ENCERRAMENTO COM TRUE COLORS:
https://youtu.be/LPn0KFlbqX8
Obrigado pelo seu comentário!