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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 03

 




Novela de Adélison Silva
 
Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
BEATRIZ
ELIETE
GENIVALDO
PAULO
RAIMUNDA
RAVENA
REBECA
CÁSSIA
MACIEL
JORGE


aCENA 01/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ DIA 

Apesar de nos acostumarmos a jogar com a vida, ela vem e troca o tabuleiro. E as peças que antes encaixavam perfeitamente perdem seu sentido, fazendo com que o jogo siga por um rumo completamente diferente. Assim era o destino de Jana. O que ela mais desejava havia acontecido: ela estava grávida. Aquele útero que muitas vezes ela considerou ser seco estava agora preenchido. Havia uma vida crescendo ali dentro. E agora, como seria?

 

CÁSSIA

(indecisa)

- Não sei se lhe dou os parabéns ou se lamento... O que cê vai fazer agora, hein nega? 

JANA

(confusa)

- Não sei não. Tô atordoada com tudo isso, viu... Cássia, meu sonho tá se realizando, mas ele veio como um pesadelo.

 

Jana coloca a mão na barriga, emocionada.

 

JANA

(com emoção)

- Tem um bebê crescendo aqui, ó, dentro de mim. Isso significa que vou ser mãe, né. Oh meu Deus, é melhor ainda, isso significa que já sou mãe. 

CÁSSIA

(preocupada)

- Essa é a parte boa, né meu bem? A parte difícil que essa criança não é filha de Paulo, né mesmo. 

JANA

(resoluta)

- Oxe, mas é claro que é. Tão filho dele quanto a criança que a gente iria adotar. A diferença é que essa eu vou gerar.

 

Jana sorri emocionada enquanto acaricia sua barriga. Depois olha pra Cássia com um pouco de preocupação.

 

JANA

- Que é mesmo, hein Cássia? Cê acha que Paulo não vai querer aceitar essa criança, é isso? 

CÁSSIA

(cautelosa)

- Olhe Jana, não acho nada, viu. O que acho é que cês têm que conversar entre cês dois. E tomar a decisão que for mais plausível nesse momento, né mesmo? 

JANA

(defensiva)

- Oxe, mas de que decisão cê tá falando? Não tem nada aqui pra decidir. Meu filho já tá aqui dentro, viu. Paulo não tem outra alternativa, ele tem que aceitar. 

CÁSSIA

- Oh minha linda, não é tão simples assim, né. Essa criança foi gerada através de um estupro. Paulo pode muito bem não aceitar. 

JANA

(irritada)

- Ó paí, que importa a forma que foi concebida?

(com alegria)

- Meu filho já tá crescendo aqui dentro de mim. E se Paulo realmente me ama, ele há de aceitar. 

CÁSSIA

(estendendo os braços para Jana)

 - Tá certo, então. Parabéns mainha!

 

As duas se abraçam emocionadas.

 

CENA 02/ INT/ BOUTIQUE DA RAVENA/ TARDE 

A boutique da Ravena era localizada em Ondina, em uma rua movimentada, a loja se destacava com sua fachada de tijolos aparentes, adornada por plantas trepadeiras que adicionavam um toque de natureza ao ambiente urbano. O interior era bem iluminado, com grandes janelas que permitiam a entrada de luz natural. As paredes eram pintadas em tons suaves, destacando as peças de roupa expostas nos cabides e prateleiras. E era dali que Ravena tirava toda sua renda. Laura está atrás do balcão da loja, mostrando algumas roupas para uma cliente, que analisa as peças com interesse.

 

LAURA

(entusiasmada)

- Essa calça tá de promoção e acho que ela vai cair muito bem em você. Se quiser experimentar tem um provador ali.

(entregando outra calça)

- Aproveita e já experimenta essa aqui que cê gostou também. Vou fazer um preço bacana se cê levar as duas. 

 

Enquanto Laura fala com a cliente, seu olhar se fixa em algo ao longe, do outro lado da rua. Ela percebe Maciel passando por ali e, instantaneamente, deixa a cliente sozinha na loja e corre em direção a ele. 


PLANO SEQUÊNCIA: 

CENA 03/ EXT/ RUA/ EM FRENTE A LOJA DA RAVENA/ TARDE 

Laura alcança Maciel e chama sua atenção.

 

LAURA

(aproximando)

- Maciel!

 

Maciel olha para Laura e sorri.

 

MACIEL

- E aí minha gata! Como cê tá? 

LAURA

(em tom de desapontamento)

- Cê sumiu, nunca mais tive notícias suas. 

MACIEL

- Tava meio encrencado aí com a polícia, viu. Tive que fugir por um tempo. 

LAURA

(com pesar)

- Eu quase morri, sabia? 

MACIEL

(surpreso)

- E foi? Mas quase morreu por quê? 

LAURA

- Cê esqueceu da nossa última conversa? 

MACIEL

(desentendido)

- Ah sim, aquele papo que cê tava grávida, né? Oxe, mas não tô vendo barriga nenhuma. 

LAURA

(resoluta)

- Porque eu tirei a criança. Não tive apoio do pai, né? Como eu poderia criar esse filho sozinha, me diga? 

MACIEL

(lamentando)

- Oh minha linda, na moral. Sei que vacilei contigo, viu. Sei que acabei virando as costas no momento que tu mais precisava. Mas entenda meu lado, filho agora só vai atrapalhar a minha vida. 

LAURA

(amargurada)

- Sei bem disso, né Maciel. Iria atrapalhar sua vida e a minha também. Eu só tenho dezessete anos rapaz, ainda tenho muita coisa pra viver. E foi por esse motivo que decidi tirar a criança. Mas poxa vida, eu queria cê ali do meu lado, me apoiando nesse momento difícil. 

MACIEL

(compreensivo)

- Te entendo perfeitamente, nega. Até iria te procurar pra gente conversar, tá sabendo? Mas tive uns problemas sérios aí com a polícia. Tive que ficar no cocó. 

LAURA

(curiosa)

- Cê ainda tá mexendo com aquelas coisas? 

MACIEL

- Tenho que tentar sobreviver, né? Mas agora tô zerado. Teve um trouxa aí que foi preso em meu lugar, posso respirar mais tranquilo. 

LAURA

(com ironia)

- Que bom pra você! Agora eu preciso voltar pra loja. Me dê seu número de telefone atual. Precisamos conversar melhor. 

MACIEL

- Pode crê! Meu número ainda é o mesmo, viu. 

LAURA

(exigindo)

- Tá certo, então. Mas ver se atende dessa vez, né? 

MACIEL

- Tranquilo.

 

MACIEL é um jovem de 20 anos, usuário e traficante de drogas. Usa de todos os meios lícitos e ilícitos para tentar se sustentar. Sua pele morena possui algumas marcas de acne e pequenas cicatrizes, evidenciando a falta de cuidados. Tem cabelos tingidos, curtos e desgrenhados, que geralmente são cobertos por um boné de aba reta virado para trás. Seus olhos são profundos, de cor castanho-escuro, com uma expressão de desconfiança e cautela constante, como se estivessem sempre observando o ambiente ao seu redor. Vive fugindo da policia por esse motivo nunca conseguiu assumir verdadeiramente Laura, por quem é apaixonado.

 

CORTA PARA: 

CENA 04/ INT/ LOJA DA RAVENA/ TARDE 

Ravena está de pé, com os braços cruzados, esperando Laura voltar. Assim que Laura entra na loja, Ravena a confronta.

 

RAVENA

(incisiva)

- A cliente ficou te procurando aqui com as calças que ela iria comprar na mão. O que foi, hein Laura? 

LAURA

- Era Maciel. 

RAVENA

- Eu sei, eu vi. É bom que cê saiba que um relacionamento abusivo começa assim, viu. Esse cara já cheira problema. E parece que cê não tá enxergando isso. 

LAURA

- Eu amo Maciel, Ravena. Já lhe disse isso. E se quer mesmo saber, tô pensando em dá mais uma chance a ele. 

RAVENA

(incrédula)

- Ave Maria, tô ouvindo isso não. 

LAURA

(ao ver uma cliente entrando na loja)

- Chegou uma cliente, vou lá atender.

 

Laura se aproxima da cliente, cumprimentando-a e começa a mostrar as roupas da loja. Ravena observa de longe e já pressentia que Laura está prestes a cometer um novo erro. 




 

CENA 05/ EXT/ RUA/TARDE 

Eliete e Raimunda caminham pela calçada, engajadas em uma conversa séria.

ELIETE

(Resoluta)

- Olha irmã Raimunda, vou dizer uma coisa pra senhora, viu. Uma coisa que a senhora já conhece, pois é uma mulher de caminhada. O pai da mentira é o encardido, o demônio, o capiroto. E isso que a senhora tá fazendo não é certo não. Onde já se viu, mentir para o pastor Moisés? Ele tem o direito de saber onde a filha tá. 

RAIMUNDA

- Mas não tô mentindo, não irmã Eliete. Tô é omitindo, é diferente. 

ELIETE

- Diferente em quê? Dá na mesma. 

RAIMUNDA

(refletindo)

- Acho que a senhora tá certa. Vou conversar com Moisés, quem sabe ele finalmente consiga convencer Laura a voltar pra casa... Mas, às vezes, sabe irmã? Tenho medo de contar a ele e as coisas piorarem ainda mais. A senhora conhece bem o meu marido, né. 

ELIETE

(afirmando)

- Um homem santo e temente a Deus. Ao contrário do meu marido, que nem sequer frequenta a igreja. Irmã Raimunda, observe bem o que diz a Palavra do Senhor. "Quem se nega a disciplinar seu filho não o ama; quem o ama não hesita em corrigi-lo." Se a senhora ama sua filha, precisa corrigi-la. Se for preciso, pegue ela pelo braço e a traga de volta da casa da pecadora donde tá morando. 

RAIMUNDA

(angustiada)

- Oh, meu Deus! Só posso tá pagando pelos pecados de algum antepassado pra sofrer tanto assim.

 

CENA 06/ EXT/ PLANO GERAL 

A tarde se despede em Salvador, pintando o céu com tons dourados. As ruas movimentadas ganham vida, enquanto na praia o sol se despede sobre as águas calmas. A noite se instala gradualmente, iluminando a cidade. No Pelourinho, ruas estreitas e prédios coloridos ganham destaque sob as luzes amareladas, acompanhadas por tambores e músicas tradicionais. O aroma da culinária baiana preenche o ar. Em Brotas, bares e clubes noturnos animam a cena, jovens se divertem em mesas de calçada, e a cidade ganha uma energia elétrica sob as luzes intensas.

 

CORTA PARA:

CENA 07/ INT/ CASA DA JANA/QUARTO/ NOITE 

Jana está no banheiro tomando o seu banho. E enquanto a água escorre pelo o seu corpo, ela fica lembrando de toda aquela situação que está vivendo. Lembra também das lágrimas derramadas enquanto se deitava no chão do banheiro, se sentindo completamente vazia, nas incontáveis vezes após um teste de gravidez negativo. Lembra também das repetidas vezes que teve que suportar injeções, hematomas e todo tipo de medicamentos que tomou para poder gerar seu filho. Ela sai do banheiro, se seca, veste sua camisola e para diante do espelho enquanto pentea o cabelo. Para por um instante e fica alisando a barriga. Agora é real, o filho que ela tanto sonhava já está crescendo ali dentro do seu útero. Paulo vai chegando todo animado e já lhe abraça por trás, dando um beijo em seu pescoço.

 

PAULO

- Boa noite meu amor!

 

Jana vira-se para Paulo e dá um beijo em sua boca.

 

JANA

- Oi meu bem! 

PAULO

(Entusiasmado)

- Adivinha de onde tô vindo? 

JANA

(sorrindo meio sem graça)

- Sei não. Donde que é? 

PAULO

(animado)

- Da vara da criança e do adolescente... Eles vão marcar a primeira visita da assistência social. Isso não é maravilhoso?

 

Jana passa a mão pela a cabeça, anda alguns passos para o lado e vira-se novamente para Paulo, preocupada.

 

JANA

- Precisamos conversar sobre tudo isso, Paulo. 

PAULO

(estranhando)

- Oxe, que não tô entendendo. Pensei que cê fosse dá pulos de alegria... Aconteceu alguma coisa? Cê desistiu da adoção é isso?

 

Jana olha fixamente no olho do marido dá um sorriso emocionado e responde.

 

JANA

- Agora não é mais necessária a adoção, viu.

(passando a mão na barriga)

- O nosso filho já tá a caminho.

 

Paulo respira fundo e olha para Jana com desconfiança.

 

PAULO

- Como assim? Não tô entendo. Mesmo contra a minha vontade cê fez a inseminação, foi isso?

 

Paulo começa a conversar com agressividade nas palavras e olhos lacrimejados.

 

PAULO

- Oh Jana, a gente já tinha concordado com a adoção? Não vou aceitar cê grávida de outro homem! Essa criança não será o meu filho, pois ele não terá os meus traços. Vai ser a sua mistura com a de outro homem, não vê? Isso é inadmissível, eu não aceito!... Eu não vou conseguir olhar pra essa criança e me ver pai dela. 

JANA

- Calma homem, não te aperrei! Me escute primeiro, deixe eu explicar o que tá acontecendo! 

PAULO

- O que cê tem pra explicar, Jana? Esse filho não é meu! 

JANA

- Essa criança foi gerada através daquele estupro, viu. Não tive culpa nenhuma.

(emocionada)

- Na desgraça Deus me agraciou. Vou ser mãe, Paulo.

 

Paulo para por um instante, olha para a barriga de Jana e fica abismado com tudo o que ouvia.

 

PAULO

- Cê tá querendo me dizer que na sua barriga tem um filho do marginal que te estuprou? Oh Jana... Cê tem que se livrar disso. Cê não pode ter esse filho. 

JANA

(boquiaberta)

- Oxente, como assim me livrar disso?... Paulo, não tô aqui falando que comprei algo errado no mercado e tenho que ir lá devolver, não. Tô falando de um ser humano que cresce aqui dentro de mim. Não posso simplesmente decidir “me livrar disso”. 

PAULO

- E o que cê sugere, então? Que a gente crie o filho de um marginal? 

JANA

(corrigindo)

- Não, claro que não. Tô sugerindo que a gente crie o meu filho. Não importa como ele foi gerado. Ele é um ser inocente, como posso condenar o coitadinho pelo o crime que o homem que o gerou cometeu?

 

Paulo passa a mão pela a cabeça e começa a andar de um lado para o outro dentro do quarto.

 

PAULO

- É brincadeira um negócio desse! Não posso acreditar nos absurdos que tô ouvindo. Cê agora quer que eu crie o filho de um bandido, é isso?

 

Jana olha fixamente para Paulo e fala baixinho com raiva.

 

JANA

- Sai do meu quarto, Paulo! 

PAULO

(sem entender)

- Quê? Disse o quê, não tendi? 

JANA

(ordenando com voz firme)

- Sai daqui! Eu quero ficar sozinha! 

 

Jana começa a chorar. Paulo fica a olhando por um instante, depois vai até a cama, pega o seu travesseiro e um edredom.

 

PAULO

(saindo)

- Acho bom mesmo, vou dormir no outro quarto, viu.

 

Jana deita-se na cama e fica ali encolhida, em posição fetal. 

 

CENA 08/ INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE ESTAR/ NOITE 

Rebeca, está brincando deitada no carpete. Ela pega um bloco de desenho e começa a rabiscar alguns desenhos coloridos, usando lápis de cor. Quando ouve o telefone fixo tocar. Rebeca, animada, coloca o bloco de desenho de lado e corre para a sala de estar.

 

REBECA

- Pode deixar que eu atendo!

 

Ela segura o telefone com empolgação enquanto conversa.

 

REBECA

- Alô!

 

LAURA

(off)

- Oi Rebeca, passe o telefone pra mainha.

 

Rebeca fica um pouco confusa, mas continua a conversa.

 

REBECA

- E quem gostaria de falar com ela, hein?

 

Laura revira os olhos, respira fundo e responde com ironia.

 

LAURA

- A Xuxa.

 

Rebeca fica surpresa com a resposta e expressa sua empolgação.

 

REBECA

- Oxente, mas é Xuxa? Ave Maria, Xuxa ligando aqui pra casa! Xuxa eu te amo, viu? Cê é minha fã, ordinária!

(estranhando)

- Mas venha cá... Como cê sabe o telefone de minha casa? 

LAURA

(sem paciência)

- Rebeca, deixe de ser abestalhada. Chame mainha logo, tenha gentileza. 

REBECA

(confusa)

- Não tô entendendo. E sua mãe é quem, Xuxa? 

LAURA

- A Raimunda, oh cara de carranca. 

REBECA

(surpresa)

- Cê é filha de mainha? Gente fiquei até vexada agora!... Então somos irmãs.

(pulando)

- Ó pai, nem credito. Sou irmã de Xuxa!

 

Laura se frustra com a confusão de Rebeca.

 

LAURA

- Valei-me meu Senhor do Bonfim. Dou conta não, viu! Sou a Laura, sua lesa. 

REBECA

- Oxe é tu Laura? Mas diga aí, porque cê tá ligando do telefone de Xuxa? 

LAURA

(depois de respirar fundo)

- Faça-me uma garapa, Rebeca! Chame mainha logo, vá. 

REBECA

- Oia, vou poder não. 

LAURA

- E porque não? 

REBECA

- Porque mainha e painho foram pra igreja. 

LAURA

(frustrada)

- Vá bem, então. Tchau! 

REBECA

- Tchau!... Laura, fale pra Xuxa mandar um beijo pra mim no programa dela! 

LAURA

- Pode deixar Rebeca, eu falo com ela. 

REBECA

- Obrigada maninha. 

 

CENA 09/ INT/ CASA DA RAVENA/ SALA/ NOITE 

Laura está sentada no sofá falando ao telefone. Depois que desliga, Ravena se aproxima e fica em pé ao seu lado.

 

RAVENA

- Não conseguiu falar com tua mãe? 

LAURA

- Não. Ela havia ido para o culto. Só tava lá aquela tapada de minha irmã. 

RAVENA

(sentando ao lado)

- Laura, eu quero levar um lero contigo.

 

Laura coloca o cabelo atrás da orelha e se ajeita no sofá, já prevendo do que se tratava.

 

LAURA

- Já até sei de que se trata. Vai pagar sapo porque fui lá conversar com Maciel, né mesmo? 

RAVENA

- Vou pagar sapo não. Vou apenas lhe dá um conselho. Cê lembra bem o que aconteceu entre você e esse rapaz, não lembra? É essa vida mesmo que cê quer, Laura? 

LAURA

- Ravena, tenho consciência que Maciel já fez muita besteira. Mas ele é um rapaz bom, tá entendendo? O problema que ele é igual piolho, só vai pela a cabeça dos outros. 

RAVENA

- Não Laura, cê parece que não enxerga. Esse garoto só quer destruir tua vida, só quer lhe usar e nada mais. Qual foi a primeira coisa que ele fez quando soube que cê tava grávida? Picou a mula, sumiu. E ele vai fazer isso sempre que a coisa apertar para o lado de vocês. Esse cara tá mais sujo que pau de galinheiro, e mesmo assim cê ainda insiste em querer algo com ele. 

LAURA

- Eu amo Maciel. A gente namora desde que... Que eu tinha o que?... Uns quatorzes anos, sabe. Mas antes ele não mexia com essas coisas, ele sempre cuidava de mim. 

RAVENA

- Oh minha linda, cê não precisa de homem nenhum pra cuidar de cê, não. Você sempre defendeu a causa da mulher independente e está aí, sedenta dos cuidados de um homem machista. 

LAURA

- Maciel não é machista. 

RAVENA

(com ironia)

- Não Laura, nenhum pouco! Imagina! 

LAURA

- Ravena, eu quero ser feliz. Poxa, acho que mereço, né. 

 

Ravena passa a mão pelo o rosto de Laura. 

 

 RAVENA

- Merece! Cê merece toda felicidade do mundo meu amor. Mas não é isso que esse cara vai lhe proporcionar não. Laura, tá escrito na testa dele que ele não presta. 

LAURA

- Bobagem, cê tá julgando o livro pela a capa.

(com brilho no olhar)

- A gente se ama, e tenho certeza que a gente vai conseguir ser feliz. Cê tá falando essas coisas por que cê não o conhece direito. Sabe Ravena, ver ele ali de novo, fez o meu coração bater mais forte. Fez eu lembrar de toda a nossa história, de tudo aquilo que a gente viveu junto. 

RAVENA

(Lamentando)

- Cê que sabe o que faz da sua vida Laura, não falo mais nada. 

 

 

CENA 10/ EXT/ PLANO GERAL 

Da escuridão para o amanhecer em Salvador: as luzes das ruas se apagam enquanto os primeiros raios de sol surgem. O tráfego aumenta, e a cidade se move com vida. O cenário muda para a praia, onde as ondas refletem o céu pastel. Pessoas começam a aparecer - correndo, caminhando - em perfeita harmonia com a tranquilidade da manhã.

 

CENA 11/ INT/ CASA DA JANA/ COZINHA/ DIA 

Jana está na cozinha fritando alguns ovos para colocar no pão, finalizando o café da manhã. Paulo chega e senta-se à mesa.

 

PAULO

(frio)

- Bom dia!

 

Jana estranha o fato de Paulo não ter lhe dado um beijo de bom dia. 

 

JANA

(irônica)

- Bom dia pra você também, né? 

PAULO

(colocando o café na xícara)

- E aí cê já decidiu o que vai fazer? 

JANA

- Oxente! Vou terminar de tomar o meu café, me arrumar e ir trabalhar como sempre faço. 

PAULO

- Você entendeu a minha pergunta, Jana. Temos que resolver esse problema. 

JANA

- Que problema, Paulo? Cê quer saber se vou matar ou não o meu filho? É isso? 

PAULO

- Você não vai matar, isso é apenas um feto nem desenvolveu ainda. 

JANA

- Mas vai desenvolver, se eu não interromper. 

PAULO

- Cê é cabeça dura, viu. Já tava tudo certo a gente iria adotar a nossa menininha, do jeitinho que cê desejava. Agora mudou tudo. 

JANA

- Mas não fui eu que escolhi essa situação, ela simplesmente aconteceu. Custa cê entender isso e ficar do meu lado, véi? 

PAULO

- Ficar do seu lado e criar o filho de um bandido? 

 

Jana para por um instante deixando o seu café de lado, e olha seriamente para Paulo. 

 

JANA

- Eu não consigo lhe entender. A gente já não iria adotar uma criança sem conhecer os pais biológicos dela?  Pra nós não interessava a forma que ela foi gerada, né mesmo. Pois a partir da adoção nós seriamos os pais dela. A única diferença que agora eu vou gerar o nosso filho. 

PAULO

(desconfiado)

- Jana na moral, cê... Cê foi mesmo estuprada? Seja sincera comigo. 

JANA

(confusa)

- Não entendi sua pergunta. 

PAULO

- Esquece, tô indo trabalhar.

 

Paulo tomou mais um gole do seu café, se levantou e foi saindo.

 

JANA

- Olhe Paulo, essas suas desconfianças chegam a ser ridícula, viu. 

PAULO

- Ridículo é eu ter que ver a mulher que amo grávida de outro homem. 

JANA

- Vá trabalhar logo Paulo, vá. E pensa bem na posição que cê tá me colocando, hein. 

 

CENA 12/ EXT/ PLANO GERAL

A CAM desliza pelo céu azul de Salvador, mostrando seus diversos bairros e a atmosfera vibrante da cidade. O foco muda para o bairro do Rio Vermelho, com suas fachadas coloridas, ruas movimentadas e ambiente descontraído. Vendedores de comida típica e a praia são destacados. O sol atinge o ápice no céu, levando à oficina de carros do Jorge, onde mecânicos trabalham em reparos. 

 

CENA 13/ EXT/ OFICINA DO JORGE/DIA 

A oficina é um espaço amplo e funcional, com várias ferramentas e carros estacionados. Um ambiente rústico, com piso de concreto manchado de graxa e prateleiras cheias de peças automotivas. Beatriz chega com seu carro e estaciona próximo à entrada da oficina. JORGE, ao avistar Beatriz de longe, se aproxima rapidamente. Ele é um homem bruto, de aproximadamente 29 anos, com cabelos escuros e curtos. Seus olhos castanhos são expressivos e brilhantes. Possui uma barba por fazer que confere um ar desleixado e masculino. Seu sorriso galanteador, mostrando um estilo mulherengo. Jorge veste um macacão sujo de graxa, típico de seu estilo prático e informal.

 

JORGE

- Bom dia! Diga aí madame, em que posso lhe ajudar?

 

Beatriz sai do carro e se dirige a Jorge. 

 

BEATRIZ

- Poderia dá uma olhada no meu carro? Toda vez que vou passar a marcha, ele arranha. 

JORGE

- Humm, isso pode ser problema no câmbio, viu. Muitos motoristas têm o hábito de não pisar na embreagem até o final na hora de trocar de marcha, né. Ou então dirigem com o pé repousado sobre ela. Isso pode fazer com que a marcha se desgaste mais rápido e comece a arranhar, tá me entendendo? 

BEATRIZ

- Olhe, acho que faço um pouco disso mesmo, viu.

 

Jorge, então, abre o capô do carro e começa a inspecionar o motor. Enquanto trabalha, Jorge não deixa de notar a beleza de Beatriz e a admirava de cima a baixo.

 

JORGE

- Uhlalá! Que motor excelente, hein mainha! 

 

No entanto, a atitude de Jorge não passa despercebida por Beatriz, que nunca foi de se deixar levar por flertes. Percebendo as insinuações de Jorge, Beatriz “acidentalmente” encosta no capô do carro, fazendo com que ele caísse sobre a mão de Jorge.

 

JORGE

(nervoso)

- Mas que porra! Quase arrancou o meu dedo, desgraça. 

BEATRIZ

(ríspida)

- Se o senhor tivesse prestando atenção no seu trabalho ao invés de ficar me olhando, talvez isso não tivesse acontecido, né mesmo. 

JORGE

- A senhora fez isso de proposto, não foi? 

BEATRIZ

- Tenha mais respeito quando tiver diante de uma mulher, meu senhor... E como fica o concerto do meu carro, hein? 

JORGE

- Vou ter que dá uma olhada direitinho, né. Mas já vou logo dizendo. Tô meio atolado de serviço aqui. Vai ter que deixar o carro aí, tá entendendo?

 

Beatriz respira fundo e aceita a condição.

 

BEATRIZ

- Tudo bem, já esperava por isso mesmo. Vou fazer quem nem Angélica, então, vou de taxi. Na volta me acerto com o senhor, vá bem?

(com ironia)

- Ah, e melhoras para o seu dedo.


CENA 14/ EXT/ PLANO GERAL 

A tarde se transforma em noite sobre Salvador. O pôr do sol colore o céu sobre a Baía de Todos os Santos, enquanto a cidade acende suas luzes. Bairros como Pelourinho e Rio Vermelho ganham tons quentes e brilho à beira-mar. A lua aparece e as luzes urbanas se acendem, iluminando mercados e ruas. A energia da cidade se mantém com música ao vivo e atividades noturnas. 

 

CENA 15/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ SALA DE ESTAR/ NOITE 

Genivaldo está sentado em uma poltrona lendo seu jornal, enquanto Giovana está na outra poltrona lendo um livro. Nesse momento, Eliete entra na sala eufórica, reclamando. 

 

ELIETE

- Olhe, vou dizer viu, Salvador tá virando uma verdadeira Sodoma e Gomorra. A qualquer momento vai chover fogo e enxofre sobre essa cidade. Mas antes disso pela a misericórdia de Deus eu vou ser arrebatada. Tenho fé, que meu Deus poderoso vai me livrar desse mundo amaldiçoado. 

GENIVALDO

- O que é, que essa mulher já chega em casa resmungando? 

GIOVANA

- Oh minha mãe, o que foi agora, hein? 

ELIETE

- O que foi?  É que essa cidade tá infestada de pecadores, não sabe. Em plena luz do dia, na hora que eu ainda tava indo pra a igreja. Ali mesmo, na Praça da Piedade, na frente de crianças e de famílias decentes. Estavam lá dois homens se pegando, de agarramento, coisa mais nojenta desse mundo. 

GIOVANA

- Francamente, mainha, o que a senhora tem a ver com a vida dos outros? 

ELIETE

- Não sou eu que tô dizendo minha filha, é a palavra de Deus. Um homem não pode deitar com outro homem como se fosse uma mulher, isso é abominável, coisa do demônio. 

GIOVANA

- Mas olhe, se eles se amam qual o problema em demonstrar isso em público? 

ELIETE

- Amor? Pela misericórdia de Jesus Cristo, minha filha. Isso não é amor não. É uma pouca vergonha, uma safadeza dos diabos. 

GENIVALDO

(sarcástico)

- Ah, claro, porque de amor cê entende, né Eliete? Sair por aí arrotando santidade e apontando o dedo para os outros. Isso pra você que é amor, né mesmo? 

ELIETE

- Eu sou uma serva do Senhor, e o que eu falo tá escrito em sua palavra. Eu não falo em meu nome não, Genivaldo. Falo  é em nome de Deus.

 

Eliete fala e apontava o dedo indicador para o alto.

 

GIOVANA

- Oh minha mãe, quando Deus fala para orar e vigiar, é pra vigiar a sua vida e não a dos outros, viu. 

ELIETE

- Cê não entende nada da palavra minha filha, porque cê não é crente. Mas um dia Deus há de me ouvir, e tenho fé que cê vai aceitar a salvação.

 

Jana vai chegando em meio a discussão de Eliete.  

 

JANA

(chegando)

- Boa noite família, benção painho! 

GENIVALDO

- Boa noite minha filha, que Deus lhe abençoe! 

GIOVANA

- E aí, Jana! 

ELIETE

- Uma boa noite pra você também, viu! Como sei que cê não veio aqui me ver, já tô indo tomar o meu banho. Com licença. 

 

Eliete sai da sala e Jana comenta, após a saída da madrasta: 

 

JANA

- Pelo menos agora ela resolveu ligar o seu desconfiômetro, né. 

GENIVALDO

- Te avexe não. 

GIOVANA

- Tá com uma carinha triste, Jana. Diga aí, aconteceu alguma coisa? 

GENIVALDO

- O que foi minha filha?

 

Jana respira, passou a mão pela a cabeça e se senta no sofá.

 

JANA

- Acho que eu e Paulo vamos ficar muito tempo juntos não, viu. 

GIOVANA

(preocupada)

- Vixe mana! Cês brigaram foi? 

JANA

- Paulo as vezes é muito egocêntrico, não sabe. Ele não consegue se por em meu lugar nenhum tiquinho. E muito menos ainda no lugar do meu filho.


Genivaldo e Giovana se olham estranhando na hora que Jana fala em seu filho.

 

GENIVALDO

(estranhando)

- Oxe, como assim seu filho? 

GIOVANA

- Cê tá grávida é Jana? Mas como assim, não tô entendendo? Cê não disse que Paulo é estéril? 

GENIVALDO

- Né isso não Giovana. Fale minha filha, o que aconteceu? 

JANA

- Tô grávida sim, painho... Mas o filho não é de Paulo, viu. Ele foi gerado naquele estupro que sofri.

 

Genivaldo e Giovana ficaram perplexos em saber que Jana estava grávida.

 

CENA 16/ EXT/ RUA/ NOITE 

O carro de Beatriz segue pela estrada até que ela percebe que o pneu havia furado. Ela desce do carro para verificar a situação.

 

BEATRIZ

- Droga, não acredito nisso! O pneu furou. Ainda bem que o estepe tá cheio. Vamos trabalhar, né?

 

Beatriz pega o estepe, o macaco, a chave de fenda e todas as ferramentas necessárias para a troca do pneu e começa a realizar o procedimento. Enquanto finalizava, Jorge passa de carro e a avista.

 

JORGE

(se aproximando)

- Algum problema aí madame?

 

Jorge desce do carro e se aproxima de Beatriz.

 

JORGE

- Mas moça, isso não é serviço pra mulher não.  Deixe, eu termino isso aí.

 

Beatriz, estava agachada, se levantou para falar com Jorge.

 

BEATRIZ

- É o que homem? Serviço de mulher? O que cê determina como serviço de mulher, me diga? Porque pelo o que sei não precisei usar os meus órgãos genitais para trocar o pneu. 

JORGE

- Cê é arretada, heim! Mas te acalme. Eu só quis dizer que é um serviço que precisa ter força, um serviço braçal. Pensei que a madame não fosse querer sujar as suas lindas mãos, né mesmo.

 

Jorge pega delicadamente nas mãos de Beatriz, ela puxa as mãos de Jorge. Enquanto conversa já vai arrumando as suas coisas em uma maleta e guardando no porta-malas do carro.

 

BEATRIZ

- Entendido. Desculpe se fui arrogante. No entanto, não sou uma madame dondoca cheia de frescuras. E não acredito em serviços específicos para homens e mulheres, mas sim em pessoas que não têm medo de trabalhar. 

JORGE

- Massa, falou bonito viu. E a marcha ainda arranhando? 

BEATRIZ

- Não. Devo admitir o senhor fez um excelente trabalho. Agora se me dê licença, preciso tomar o meu rumo. 

 

Jorge se afasta deixando Beatriz passar, ela já vai entrando em seu carro. Ele se aproxima e apoiou na Janela da porta que está aberta.

 

JORGE

- Poderia me passar o número do seu telefone. Vai que acontece alguma coisa com o carro, né mesmo.

 

Beatriz sorri, olhando diretamente nos olhos dele.

 

BEATRIZ

- Nesse caso, sou eu que terei que ligar. Não acha? E já peguei um cartãozinho da loja, qualquer coisa entro em contato.

(tirando os braços de Jorge do seu carro)

- Tenha uma excelente noite! 

JORGE

- Boa noite! E tenha cuidado na estrada.

 

Beatriz brinca, provocando-o levemente.

 

BEATRIZ

- Mulher no volante perigo constante, né isso? 

JORGE

- É barril, viu. Foi isso que eu disse, não.

 

Beatriz levanta uma sobrancelha, desafiando-o com um sorriso divertido.

 

BEATRIZ

- Não disse, mas pensou.  Passe bem!

 

Beatriz parte e Jorge fica a olhando. Ela já havia sacado as investidas dele. Mas ela não estava disposta a dá nenhuma colher de chá para o malandro. O que deixava Jorge ainda mais tentado.

 

CENA 17/ CASA DOS FERNANDES/ SALA DE ESTAR/ NOITE 

Jana conta para Genivaldo e Giovana tudo o que vinha passando.


JANA

(emocionada)

- É isso aí minha gente, foi isso que aconteceu.

 

Genivaldo e Giovana estão atentos, olhando para Jana com compreensão e preocupação.

 

GENIVALDO

- Oh meu amor, situação complicada essa sua, hein! 

GIOVANA

- Jana, cê tá pretendendo mesmo continuar com essa gravidez? 

JANA

- Claro que sim, né Giovana. Isso é pergunta que se faça? Estamos falando do meu filho. 

GIOVANA

(ponderando)

- Um filho que foi gerado através de um estupro, não pode esquecer disso. E não sei se cê sabe, mas a lei permite que você faça um aborto pelo o SUS, né? Cê já tem o boletim de ocorrência, o que vai facilitar. 

JANA

- Oxe Giovana, não fale besteira! Até parece que vou matar o meu filho. Ainda mais um filho que tanto desejei.

 

A expressão de Jana revela sua convicção em não considerar a possibilidade de interromper a gravidez. Nesse momento, Paulo chega na casa de seu sogro e já vai entrando, procurando por sua esposa.

 

PAULO

(chegando)

- Podemos conversar um instante Jana? 

GENIVALDO

- E aí Paulo, boa noite! 

PAULO

- O senhor me desculpe pela falta de educação. Tenha uma boa noite, uma boa noite pra você também, viu Giovana? 

GIOVANA

- Boa noite! 

PAULO

- Jana, poderia ter a gentileza de me acompanhar por um instante? 

GENIVALDO

- Vá lá minha filha, cês dois precisam conversar.

 

CORTA PARA MOMENTOS DEPOIS OS DOIS NO JARDIM: 

CENA 18/ EXT/ CASA DOS FERNANDES/ JARDIM/ NOITE 

Jana e Paulo caminham pelo o jardim enquanto conversam.

 

PAULO

(curioso)

- Cheguei em casa não te vi. Te liguei, você não atendeu. Veio pra cá, não me falou nada, Jana.  Cê não é de fazer isso.  É assim que vamos ficar, então? 

JANA

- O meu celular tá no silencioso, não vi sua ligação. Já iria te ligar pra dizer que tava aqui. 

PAULO

(duvidando)

- Será que iria mesmo? 

JANA

- Olhe Paulo, minha cabeça tá a mil com tudo isso, viu. Tenta me entender. 

PAULO

(amoroso)

- É claro que te entendo meu amor. Também fiquei muito triste com a nossa discussão hoje cedo. E não quero mais brigar contigo.

 

Jana para de andar e se coloca em frente a Paulo.

 

JANA

- Também não quero brigar com cê. Eu vim pra cá porque eu tava triste com a sua reação. Vim também contar pra painho e Giovana sobre a minha gravidez. Mas tudo o que quero meu amor é ficar numa boa contigo, não sabe.

 

Paulo puxa Jana para perto dele e a abraça, transmitindo um momento de carinho e reconciliação.

 

PAULO

(carinhoso)

- Vem cá! Estamos juntos nessa. Como sempre tivemos juntos esses anos todo.

 

Jana se emociona e beija carinhosamente o marido.

 

JANA

- Oh meu amor! Sabia que cê iria voltar atrás.

 

Paulo se afasta um pouco de Jana e tira algo do bolso.

 

PAULO

- Calma! Estamos juntos sim, e vamos tá juntos sempre.

(entregando um remédio)

- Eu trouxe isso aqui. 

JANA

(confusa)

- Oxente Paulo, que isso? 

PAULO

- Foi uma prima minha que me arrumou. A venda desse remédio aqui no Brasil é até proibida, mas ela disse que não tem problema. Cê ainda tá no inicio da gravidez, não terá efeito colateral.  Ela falou que no seu caso também pode procurar uma unidade de saúde, mas que isso poderia demorar muito.

 

Jana fica pasma ao ver a atitude de Paulo. Ela acreditava que ele fosse ficar ao seu lado e ajudá-la a criar o filho, mas não era isso que ele tinha em mente.

 

JANA

(incrédula)

- Fiquei até zonza aqui agora. Venha cá, deixa ver se entendi. Cê tá me dando remédio pra abortar meu filho, é isso? 

PAULO

- Eu vou estar sempre ao seu lado, Jana. Para o que der e vier. Mas não me peça para criar essa criança, pois isso eu não vou conseguir. Aqui está, e a escolha é sua: ou esse filho ou eu.

(pegando firme na mão de Jana)

- Vamos salvar o nosso casamento, meu amor. Livre-se dessa semente do mal que tá dentro de você.

 

A cena termina com Jana olhando para Paulo, atordoada e tomada pela decisão que precisa tomar.




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